Decore estes nomes: Luís Octávio Costa, Teresa Freitas, Daniel Cerejo, Wandson Lisboa e Manuel Pita. Ou deveríamos escrever: @kitato, @teresacfreitas, @dcerejo, @wandson e @sejkko. Estes são os nomes/utilizadores/alter egos dos cinco portugueses selecionados pelo The Huffington Post para a lista dos instagrammers mais criativos. Para sermos rigorosos, aqui não estão cinco portugueses, mas sim quatro portugueses e Wandson, brasileiro a viver no Porto. Quando questionado sobre a sua costela lusa, Wandson até rima: “o meu apelido é Lisboa e não é à toa.”
Poderá parecer exagerado considerá-los os melhores do mundo, mas a verdade é que o motivo que os levou ao The Huffington Post justifica a afirmação. Mas vamos por partes. A seleção foi feita em colaboração com a Huntgram, uma aplicação que funciona como uma espécie de curadoria do Instagram e que foi lançada em novembro do ano passado depois de dois argentinos, Lucas Warat e Agustin Gotlib, terem viajado por mais de 50 países para conhecer os autores das contas de Instagram mais originais. Uma odisseia que serviu de campanha para o lançamento da aplicação e na qual os argentinos vestiram a pele de Júlio, um raposo tímido, que registou o seu convívio com estes criativos através de imagens como esta, tirada em Serralves, no Porto.
Passemos às apresentações:
Wandson Lisboa, 28 anos, designer, Porto — @wandson
A primeira fotografia que Wandson Lisboa publicou no Instagram — há 228 semanas — adivinhava o futuro: num pequeno bloco de notas, desenhou-se dentro de um ecrã de iPhone. Desde então, e até chegar à altura em que a parede branca começa a ser companheira fiel nas imagens, passaram quase três anos. Os brinquedos, contudo, sempre estiveram por lá. “O facto curioso é que, quando eu era menor, odiava ganhar roupa. Quando ganhava um brinquedo, meu dia estava feito”, explica Wandson sobre a obsessão por Woody ou Buzz Lightyear, de Toy Story, ou mesmo por estas clássicas Lego heads.
A verdade é que, a contabilizar mais de 20 mil seguidores, não falta quem lhe queira oferecer brinquedos. Quanto a isso, Wandson brinca: “quem estiver lendo isso, por favor, a minha morada é…”. O olhar pueril com que dá novas funções a objetos, bonecos, frutas e até os próprios amigos traz-lhe muitas colaborações. A próxima será revelada esta quinta-feira, 26 de fevereiro, num videoclip criado com os D’Alva.
Teresa Freitas, 24 anos, estudante, Lisboa — @teresacfreitas
Esta estudante de Design de Comunicação e Novos Media na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa criou a sua linguagem atual há precisamente 18 semanas, altura em que a sua conta levou uma volta com esta imagem:
“Tirei uma fotografia ao mar num dia de chuva e não sabia o que lhe fazer. Uns dias depois tirei outra a uma chávena de café e também não me parecia suficiente. Até que alguém, numa conversa, me disse ‘estás a criar uma tempestade num copo de água’ e eu lembrei-me de juntar as duas.” Foi a partir daqui que começou a fazer montagens — ou a desenhar por cima das fotografias — que passaram a transmitir um ambiente mais idiossincrático e misterioso: “A minha galeria é de facto o mundo dos meus sonhos ou o meu país das maravilhas.”
Daniel Cerejo, 25 anos, jornalista, Porto — @dcerejo
Daniel resume bem como é que arranja assunto para as suas publicações: “Muitas vezes dou por mim a olhar para a ‘malta’ lá em casa e a pensar: ‘O que é que seria engraçado pôr o Super-Homem a fazer?’, ou ‘Caramba, o Batman é um durão, mas de certeza que adora bolachas, ficaria tentado se alguém desfilasse uma à frente dos seus olhos.’” E, de facto, aqui está a prova.
Nesta altura do campeonato já soma quase 20 mil seguidores, grande parte angariada depois do blogue berlinense iGnant ter partilhado uma das suas imagens. “A editora do iGnant tinha começado a seguir-me no dia anterior, mal eu sabia o que me ia acontecer a seguir.” Daniel usa apenas um iPhone e a aplicação de edição de fotografia VSCO Cam para melhorar as imagens.
Luís Octávio Costa, 39 anos, jornalista, Porto — @kitato
Pelas mãos de Luís, editor do P3, passam centenas de contas de Instagram por dia — devido ao hashtag #p3top. Tem logo na ponta da língua meia dúzia de nomes que podiam, facilmente, estar nesta lista dos mais criativos: @ritacordeiro, @mileu, @josecabaco, @nunoassis ou @gmateus. O seu nome de guerra no Instagram, @kitato, une uma alcunha de faculdade, “tato”, ao seu ídolo, o realizador Takeshi Kitano. Está no Instagram desde 2011 e já nem se recorda quando, onde ou como tirou a primeira foto. Passou por uma fase em que só fotografava círculos e durante um ano viveu amarrado a um filtro esverdeado que teimava em não o largar. Depois de se libertar passou a fotografar o que quer e hoje gosta de brincar com “gravidade e diagonais”: “Vivo neste mundo. Vejo tudo torto.” Nesta imagem, por exemplo, Luís pediu panos emprestados a uma amiga estilista, enrolou-a neles, incluiu Wandson Lisboa no cenário e convenceu-o a pular. O resultado é este, sem efeitos especiais.
Manuel Pita, cientista, Lisboa — @sejkko
Mal se entra na conta de Manuel, o número de seguidores impõe respeito: mais de 90 mil. Português de nacionalidade, cresceu na Venezuela e viveu na Escócia e nos Estados Unidos. Há cinco anos voltou a Portugal, mais precisamente para Lisboa. O Tejo, Sintra, mas sobretudo lugares na Madeira, estão por toda a galeria: “Foi na Madeira que, com seis anos, me perguntei como é que as árvores sabem o tempo certo para dar flores e frutas.” Esta ingenuidade justifica bem a escolha do nome: sejkko é derivado do japonês seikko, que significa “criança sincera” e “força da verdade”. Um dos elementos mais cativantes da sua conta é este urso em baixo. É a única máscara tridimensional da galeria e todas são criadas por Manuel. “A intenção é comunicar que dentro de todos nós há um lado cute. Podemos ser fortes e ao mesmo tempo vulneráveis e isso não tem mal.”