Horas antes de morrer, Boris Nemtsov, o líder da oposição russa, deu uma entrevista a uma rádio russa onde teceu duras críticas às “políticas loucas e agressivas” de Vladimir Putin que, acusou, estão na origem da do conflito ucraniano.

“[A crise teve origem quando] Putin começou esta política de guerra com a Ucrânia, que é inacreditavelmente agressiva e fatal para o nosso país e para tantas pessoas”, denunciou Nemtsov em entrevista à rádio Ekho Moskvyat.

Durante a presidência de Boris Ieltsin, Boris Nemtsov foi vice-primeiro-ministro. Como governador da cidade de Nizhny Novgorod ganhou a reputação de reformador económico. Quando Putin sucedeu a Ieltsin, Nemtsov tornou-se um importante político da oposição. Em 2003 deixou o parlamento russo e fundou uma série de partidos e organizações políticas. O último foi o Partido Republicano da Rússia.

As críticas ao regime de Kremlin começaram a subir de tom quando a crise na Crimeia rebentou. Na entrevista dada à rádio Ekho Mosvyat, apenas quatro horas antes de ser morto, Nemtsov acusou Putin de ter mentido desde o início.

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“Agora tudo é conhecido. No início, Putin mentiu, disse que não havia tropas [na Crimeia]. Depois disse que havia. Hoje, publiquei um vídeo do cerco ao edifício – apenas um vídeo – do Conselho Supremo da Crimeia, antes dos deputados chegarem e a começarem o chamado referendo de voto livre. O vídeo mostra como as forças especiais [dos serviços secretos russos] entraram. É impossível esconder isto…”, sublinhou Nemtsov.

No seu último tweet, publicado na sexta-feira, Boris Nemtsov fez um apelo à oposição russa para que se unisse numa marcha contra a guerra da Ucrânia que teria lugar este domingo. Nemtsov acreditava que só uma verdadeira transformação política poria fim à “loucura” de Putin, que está a destruir a economia do país. Uma mensagem que repetiu aos microfones da rádio.

“Nós acreditamos que para criar ordem no país e ultrapassar a crise, é essencial ter uma importante transformação política (…) É essencial que termos uma eleições honestas com partição, claro, da oposição e o fim da censura; [é também essencial] acabar com essa falsa propaganda absolutamente miserável, que tem simplesmente (…) consumido os cérebros dos russos”, acusou o malogrado líder da oposição russa.

De acordo com as autoridades russas, o corpo seminu de Boris Nemtsov foi encontrado a cerca de 200 metros do Kremlin, depois de ter sido atingido fatalmente quatro vezes.

Este sábado, as autoridades responsáveis pela investigação da morte do líder do Partido Republicano da Rússia, divulgaram um comunicado onde dizem estar a considerar vários cenários. O primeiro – e que as autoridades parecem mais inclinadas a seguir – é “que o assassinato foi uma provocação para destabilizar a situação política no país, onde a figura de Nemtsov se tornou numa espécie de vítima sacrificial para aqueles que não olham a meios para atingir os seus objetivos políticos”, pode ler-se no comunicado.

Também este sábado, o Presidente da Ucrânia afirmou que Boris Nemtsov lhe tinha dito há umas semanas que planeava revelar publicamente provas da ingerência militar russa na Ucrânia.

Pode ler a entrevista de Boris Nemtsov transcrita pelo The Telegraph aqui.