O percurso biográfico e criativo da artista Sarah Affonso (1899—1983) vai estar em foco numa exposição a inaugurar em 12 de setembro no Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado, em Lisboa.
“Sarah Affonso. Os dias das pequenas coisas”, com curadoria de Maria de Aires Silveira e Emília Ferreira, estará patente na Ala Capelo até 5 de janeiro de 2020, de acordo com o sítio ‘online’ do museu.
Esta é uma de duas exposições que celebram este ano os 120 anos do nascimento da artista modernista e recordam a sua vida e obra, realizadas no Museu do Chiado e na Fundação Calouste Gulbenkian, onde se encontra a mostra “Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho”, patente até 7 de outubro.
Embora reconhecida e inscrita na história da arte nacional, a artista Sarah Affonso permanece desconhecida do grande público, e reduzida à imagem de mulher de Almada Negreiros, salienta o museu num texto sobre esta parceria.
No Museu do Chiado, é abordada a formação artística de Sarah Affonso, “revelando uma criadora multifacetada, com obra que vai de uma multiplicidade de registos de desenho à pintura, passando pelo bordado e que se manifesta também de modo muito particular na relação com a paisagem, intervindo e criando, paisagística e pragmaticamente, o entorno da casa da família” em Bicesse, Cascais.
Última aluna de Columbano Bordalo Pinheiro, na Escola de Belas-Artes de Lisboa, Sarah Affonso partiu em 1924 para Paris, onde frequentou a Académie de la Grande Chaumière.
Na sua segunda estada parisiense, entre 1928 e 1929, expõe no Salon d’Automne, com boa receção crítica, e trabalha num atelier de modista, executando croquis de moda, prática à qual em Portugal dará continuidade na imprensa.
Ilustradora, na imprensa periódica e para diversos livros de escritores, como Fernanda de Castro, mantém ao longo de várias décadas atividade como pintora, com particular destaque para o retrato.
Reconhecida pelos pares e pela crítica, premiada com o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, em 1944, organizou várias exposições individuais nas décadas de 1920 e 1930.
Contudo, em 1978, cinco anos antes da sua morte, a crítica Sílvia Chicó, escrevendo para um catálogo de uma exposição que reunia retratos de Sarah Affonso de 1927 a 1947, referia a mostra como “uma importante contribuição para o conhecimento de uma obra, em grande parte ignorada pelo público”.
A especialista apontava que “toda a mostra que faça sair uma obra da obscuridade, se torna relevante, num país onde a história da arte do século XX é ainda mal conhecida, e onde Sarah Affonso tem um lugar preciso”, recorda o Museu do Chiado.
No Museu Calouste Gulbenkian, a exposição “Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho”, patente na Galeria da Coleção do Fundador, com curadoria de Ana Vasconcelos, é dedicada à particular relação da artista com a arte e a cultura popular daquela região, que tão fortemente a marcou desde os anos da sua infância e adolescência passados em Viana do Castelo.
A exposição do Museu do Chiado contará com a publicação de um livro, uma coedição com a Tinta da China, que reunirá vários ensaios inéditos sobre a vida e obra de Sarah Affonso, estabelecendo pontes entre as duas exposições, e reproduzindo a totalidade das obras da autora apresentadas nas duas exposições.
Haverá ainda uma programação dos serviços educativos específica para ambas as exposições, e em 24 de setembro realizar-se-á também um colóquio que enfatizará o diálogo entre os dois projetos expositivos, avançando com novos contributos sobre a vida e obra da artista.