Foi acusado de racismo, disse uma vez que os grevistas deviam ser fuzilados e, em tempos, até decidiu conduzir um Porsche, na Argentina, com uma matrícula com iniciais alusivas às Ilhas Falkland, que originou protestos no país. Jeremy Clarkson é um homem habituado à polémica no Reino Unido, mas, afinal, o que levou a BBC, na terça-feira, a suspendê-lo das funções do Top Gear foi uma cena de pancadaria — o apresentador terá agredido, a soco, um membro da equipa de produção do programa de automóveis.

E o incidente, que terá acontecido na passada semana, na cidade de Newcastle, no norte de Inglaterra, deveu-se ao facto de, após algumas horas de gravação para mais um episódio do programa, não ter sido disponibilizado um serviço de catering aos apresentadores — além de Clarkson, também Richard Hammond e James May servem de anfitriões no Top Gear, cujas audiências ao domingo à noite, no Reino Unido, costumam rondar os cinco milhões de telespetadores.

Ao deparar-se com a falta de comida, Jeremy Clarkson, de 54 anos, escreve o Daily Telegraph, terá confrontado o assistente de produção, Oisin Tymon, de 36. Ambos iniciaram uma discussão que terá culminado com o apresentador a esmurrar o produtor. “Acabou por dar-lhe um soco na cara. O Jeremy culpou-o por não ter organizado a comida. Passou-se e bateu-lhe”, noticiou o The Sun, ao citar uma fonte que não identificou e terá assistido ao episódio.

O apresentador ainda não reagiu oficialmente ao sucedido, embora tenha já dito ao The Sun, jornal inglês no qual é colunista, que “está tranquilo a beber uma cerveja” e “à espera que a poeira assente”. Jeremy Clarkson, em declarações ao The Telegraph, afirmou, ao sair da sua casa no norte de Londres, que ia “agora para o centro de emprego”, mas que pelo menos ia “poder ver o jogo do Chelsea”.

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A BBC, estação pública televisiva do Reino Unido, anunciou na terça-feira que, além de suspender Jeremy Clarkson das suas funções, interrompeu também as gravações para os últimos três episódios da atual temporada de Top Gear. No domingo à noite, portanto, o público britânico não assistirá ao habitual episódio do programa, no canal BBC2.

Algo que não pareceu preocupar tanto Clarkson, como os restantes apresentadores. Os três utilizaram as suas contas no Twitter para, no dia em que se soube da notícia, brincarem, antes e depois de a estação confirmar que, ao invés de Top Gear, emitirá antes o filme “Where Eagles Dare” — “O Desafio das Águias”, protagonizado por Clint Eastwood e datado de 1968. James May, aliás, até chegou a escrever: “Salvar o Clarkson? Salvem é as caixas de papelão vazias. São bem mais úteis.”

Além de instaurar um processo disciplinar a Jeremy Clarkson, a BBC já terá iniciado uma investigação ao incidente. O Daily Telegraph avança que o cenário mais provável é o despedimento do apresentador que, em 2014, confessou que a estação lhe fizera um último aviso: “A BBC disse-me que, se fizer mais um comentário ofensivo, onde quer que seja e em qualquer lugar, serei despedido. Até o anjo Gabriel teria dificuldades em sobreviver com isto a pairar-lhe sobre a cabeça.”

Em 2012, a estação pública comprou os direitos do Top Gear a Clarkson e, agora, já está a ser noticiado que a Sky, outro canal de televisão britânico, estará a tentar convencer os três apresentadores a mudarem de estação e a criarem um novo programa sobre automóveis. O mesmo jornal, aliás, adiantou que os contratos de Clarkson, May e Hammond com a BBC expiram já em maio. O Top Gear é emitido pela BBC desde 2002, sendo hoje vendido e transmitido para 214 países. O programa rende mais de 200 milhões de euros em publicidade à estação.