Maria de Belém Roseira e Rui Rio podem assumir em breve novas candidaturas presidenciais, somando-se aos nomes que já estão no terreno ou a posicionar-se, António Sampaio da Nóvoa, na área do PS, e Marcelo Rebelo de Sousa, na área do PSD.
Mas se a primeira põe em causa os planos do líder do PS, António Costa, que incentivou o ex-reitor a candidatar-se, o segundo é desejado pelo próprio líder do PSD, Pedro Passos Coelho, que não está interessado em dar o seu apoio a Marcelo. Os dois partidos vivem dias de agitação com manobras, num caso, de revolta interna contra aquilo que será a vontade de Costa e, no noutro, de manobras de uma parte do partido em afrontar o candidato mais mediático, Marcelo Rebelo de Sousa.
Rio concertado com Passos
Marques Mendes anunciou ao país que o ex-autarca do Porto avança antes do fim de julho, apoiantes de Rio dizem ao Observador que ele está decidido a ser candidato mas que ainda não está escolhido o timing. Certo, pelo que o Observador apurou, é que Rio já falou com a direção do PSD sobre este assunto, presidenciais, e os passos que der não serão nunca surpresa para Passos. “Rio tem falado com as pessoas necessárias”, garante fonte próxima do ex-autarca.
“Quando ouvi o Pinto Balsemão a apoiar Rio, deixei de ter dúvidas que haveria candidatura”, afirmou ao Observador um dirigente do PSD, referindo-se ao apoio do militante número 1, dado na semana passada.
Esta candidatura, por oposição à de Marcelo Rebelo de Sousa, tem o beneplácito de Passos que não quer apoiar o comentador da TVI e ex-líder do PSD. Por um lado, o perfil de Rio aproxima-se mais do idealizado por Passos – que gostava de figuras como Fernando Nogueira e Durão Barroso – e depois tem outra virtude, segundo o atual presidente social-democrata: pode reforçar nas pessoas a crença de que o putativo rival de Passos na liderança do PSD quer abraçar uma campanha presidencial porque confia que o primeiro-ministro será reeleito e, portanto, não se abrirá vaga no primeiro lugar do PSD.
A direção do PSD tem manifestado a vontade de que um apoio a um candidato presidencial só seja anunciado depois das eleições legislativas do outono. Com vários dirigentes, como Marco António Costa, a repetir esta regra, Marcelo Rebelo de Sousa acabou por assumir em público que só dirá alguma coisa sobre o assunto depois dessas eleições, apesar de andar a correr o país em jantares dos 40 anos do partido e de ser bem recebido pelas bases. Agora, as voltas podem ser trocadas. “Se Rio avança, Passos agora já acha bem porque assim pode ainda vir a fazer Marcelo desistir da candidatura”, explica ao Observador um apoiante de Passos, que não é simultaneamente fã da candidatura presidencial de Rio.
Em matéria de presidenciais, uma coisa é Passos e outra são os passistas. Rui Rio não é consensual na comissão permanente do PSD. O ex-autarca não convence toda a entourage do líder, onde se ouve que o autarca é um bluff e não tem visão do mundo para ser presidenciável.
A última vez que Rio disse alguma coisa sobre uma eventual candidatura foi em junho, ao DN. “Não vou confirmar, nem desmentir”, disse, criticando as “fontes anónimas e próximas” que falam sobre os planos que tem ou que não tem.
Maria de Belém: a possível candidata que divide os socialistas
Com as legislativas em equilíbrio, a direção socialista quer sacudir a água das presidenciais do capote para não causar embaraços nem divisões no partido numa altura em que todos são poucos para vencerem a coligação PSD/CDS. Carlos César foi o primeiro a sinalizar que o partido pode não apoiar ninguém e isso foi bem visto por aqueles que não querem que o partido apoie Sampaio da Nóvoa. Entre eles os apoiantes de Maria de Belém, que se perfilam nas fileiras dos seguristas.
A proto-candidata sorri quando lhe falam da possibilidade de entrar na corrida à Presidência da República e não descarta a ideia. Também não a admite em palavras suas, aliás, frisando que são outros que falam nela. Tem muitos apoios dentro do PS e tem sido convidada para várias iniciativas que lhe aumentam a vontade. No PS, já poucos duvidam que Maria de Belém não se candidate e justificam a posição com a ideia de que a recusa de encabeçar a lista socialista pelo Porto é um sinal que quer estar disponível. “É sinal que quer estar livre para outros voos”, confidencia ao Observador um dos apoiantes de Maria de Belém.
A favor da ex-presidente do partido jogam vários fatores entre eles o ser militante socialista e o calendário. Se Sampaio da Nóvoa tentou apressar os dias da direção do PS, Maria de Belém está, pelo menos por agora, disposta a cumprir as datas de António Costa e só assumir uma candidatura depois das eleições legislativas. Agrada a Costa a ideia de não ser por ali que vai ser obrigado a vir a terreno falar de presidenciais, o mesmo não acontece com Sampaio da Nóvoa que tentou, na entrevista que deu à Rádio Renascença, puxar o PS a apoiá-lo.
E terá sido por a disponibilidade de Maria de Belém – militante, mulher e ex-presidente do partido – ser cada vez mais forte que Carlos César – o dirigente que tinha elogiado Sampaio da Nóvoa – deu dez passos atrás nas intenções e admitiu a possibilidade de o PS não apoiar nenhum candidato às presidenciais. Costa foi mesmo aconselhado na semana passada a seguir este caminho: já que não admitiu um apoio declarado até agora, e numa altura em que começam a aparecer outras pessoas disponíveis, é melhor admitir que pode não apoiar ninguém para não ficar condicionado.
Fonte da direção socialista diz que a posição da direção em relação a Sampaio da Nóvoa se mantém, mas que a intenção de Carlos César foi mais institucional. Ou seja, como presidente do PS, não tendo o partido assumido um apoio declarado a um não militante, leia-se Sampaio da Nóvoa, e havendo a possibilidade de uma ex-presidente do partido se candidatar, César não poderia condicionar o apoio do PS a Nóvoa nem retirar o tapete a Maria de Belém.
Os estragos, à beira das legislativas, poderiam ser maiores. Ao assumir uma posição mais definitiva, Costa poderia causar desagrado numa parte significativa do partido, que quer empurrar Maria de Belém: “Não podia dar a ideia que estava a enxotar eventuais candidatos dentro do PS”, diz fonte socialista.
Ou seja, no Largo do Rato as eleições presidenciais não são um tabu, são uma espécie de erva daninha que não pode contaminar as legislativas e para isso, Costa deixa Nóvoa em suspenso e alguns socialistas que mostraram o apoio pendurados.
Sampaio da Nóvoa assumiu o namoro, ficou a falar sozinho
Mais do que o desespero de tentar o apoio do PS, há quem tenha visto as declarações de Sampaio da Nóvoa como a verdadeira admissão de que procura o apoio socialista. Porfírio Silva, secretário-nacional do partido, “gostou de ouvir”. No Facebook, deixou essa mensagem de forma a não tirar o PS totalmente de campo e dar o sinal de que a assunção do namoro foi recebida no correio do Rato. Foi só assim, escrito na partilha da notícia que relatava as palavras do candidato presidencial à entrevista da Rádio Renascença. Nas voltas das cartas, a resposta não sai para já.
Sampaio da Nóvoa ficou a falar sozinho sobre a sua aproximação ao PS. Os calendários não coincidem e as vontades no partido não são unânimes. Se na direção do partido se continua a dizer que “nada mudou” na estratégia das presidenciais, apesar das palavras de Carlos César, ou seja, que a candidatura de Sampaio da Nóvoa é bem vista, mas que presidenciais só se discutem depois das legislativas, também é verdade que o apoio declarado tardou a chegar e pode agora nem acontecer. Primeiro, Nóvoa tem de mostrar que pode sobreviver sozinho: “Ele tem de fazer o seu caminho, ainda é pouco conhecido”, diz um socialista repetindo o que outros têm dito e pensam.
Mas na entourage de Costa já há quem ponha outra hipótese: com uma indefinição socialista, com o aparecimento de outros candidatos e com o aquecer dos dias de campanha, Sampaio da Nóvoa pode ser forçado a desistir.