Com a formação de um novo tipo de emigração nos últimos anos, mais qualificada, o Reino Unido assume-se hoje como o principal destino dos emigrantes portugueses, tendo chegado ao país em 2013 um total de 30.120 cidadãos portugueses. A França só chegou no último ano uma média de 8 mil portugueses, mas é este país que ainda continua a ser a casa da maioria dos portugueses que reside no estrangeiro, conclui um relatório apresentado pelo Governo esta terça-feira com dados recentes da emigração recolhidos juntos dos vários países de destino dos emigrantes portugueses.
O contraste entre o novo fluxo migratório e os países que ainda acolhem as maiores comunidades de emigrantes portugueses é notório, o que pode representar o primeiro passo no novo desenho das comunidades migratórias portuguesas do futuro. Apesar de França, assim como Angola e Moçambique, não terem disponibilizado ao Governo dados recentes dos emigrantes portugueses, residiam em França entre 2005 e 2010 cerca de 588 mil cidadãos portugueses, o que representa a terceira maior população emigrada daquele país (logo a seguir aos argelinos e aos marroquinos) e a maior casa dos emigrantes portugueses no mundo. No entanto, a média de entrada de emigrantes portugueses neste país nesse período tem sido de 8 mil pessoas por ano, o que não é muito se comparado com outros destinos.
O Reino Unido lidera nesta categoria, com uma entrada anual (em 2013) de 30.120 emigrantes portugueses, mas é apenas o oitavo país do mundo onde residem mais portugueses emigrados, tendo registado uma comunidade de 90 mil portugueses em 2012. A Suíça, por outro lado, é o país mais constante em termos de entrada de emigrantes portugueses no último ano e cidadãos residentes. Sendo um importante foco de emigração desde os finais da década de 80, é o segundo país para onde emigraram mais portugueses no ano passado (29.677) e acolhia, em 2012, uma comunidade portuguesa de 194.840 emigrantes. Os portugueses são o segundo grupo mais numeroso na Suíça, logo atrás dos vizinhos alemães.
A Alemanha recuperou o posto de um dos principais destinos de emigração, tendo registado em 2013 a entrada de 11 mil cidadãos portugueses. Espanha vem de seguida, com a entrada de um total de 6 mil cidadãos no último ano. Estes dados, contudo, podem pecar por defeito, uma vez que os dados enviados pelos países de acolhimento não são infalíveis, dada a livre circulação na Europa.
Em relação a Angola, o relatório elaborado pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, nota que há falta de dados recentes, mas estima que estejam a dirigir-se para aquela ex-colónia entre 10 a 12% do total de emigrantes portugueses. O Brasil, apesar de estar a perder importância do fenómeno migratório português, ainda recebeu no último ano 2.913 emigrantes portugueses e continuam a viver ali cerca de 138 mil portugueses emigrados. Ainda assim, o número de portugueses a residir no Brasil diminuiu cerca de um terço em dez anos.
TENDÊNCIA DE REDUÇÃO POPULACIONAL
Em 2010, Portugal era o país da União Europeia que tinha mais emigrantes em percentagem de população, 21%, nota o relatório, o que, a par de uma taxa de imigração inferior à média europeia, traça um cenário de risco de recessão populacional, com a população portuguesa emigrada a crescer a um ritmo mais acelerado do que a população portuguesa residente. Em 20 anos, entre 1990 e 2010, os emigrantes portugueses terão crescido 18%, ao passo que a população portuguesa residente terá crescido apenas 7%.
De acordo com dados do Banco Mundial, Portugal era nesse ano o 12º país do mundo com mais emigrantes em percentagem da população, sendo superado apenas por Estados como a Palestina, Albânia, Porto Rico, Bósnia e Herzegovina ou Moldávia. Da União Europeia, era mesmo o primeiro em taxa de emigração.
Numa tendência contrária, Portugal é hoje um dos países com a percentagem de imigrantes mais baixa da União Europeia – 8,6% se considerarmos os retornados nascidos nas ex-colónias, menos de 6% sem estes retornados – o que deixa o país em “risco de recessão populacional”, alerta o documento do Governo divulgado esta terça-feira.
Apesar de um ligeiro recuo da emigração com o rebentar da crise financeira de 2008, estima-se que tenham saído do país entre 2007 e 2012 uma média de 80 mil portugueses por ano, numa tendência crescente. 2012 foi o ano do pico, acreditando-se que terão emigrado nesse ano 95 mil pessoas. Números elevados que põem os primeiros anos da segunda década deste século ao nível de alguns anos da década de 60, a década de maior fluxo migratório da história recente: em 1965 emigraram 89 mil pessoas, no ano seguinte cerca de 120 mil e em 1967 perto de 92 mil.
Mas se entre 2008 e 2010 houve um ligeiro decréscimo na emigração, devido principalmente à crise e ao impacto que teve em Espanha, que, com a estagnação da construção civil, era o principal destino da emigração portuguesa, desde 2010 tem-se assistido a um rápido crescimento da emigração portuguesa, principalmente para o Reino Unido, Suíça e Alemanha, mas também para países europeus economicamente mais fortes como a Bélgica, Holanda e os países escandinavos.
A partir de 2010 a emigração portuguesa cresceu a pique, mudando a composição dos destinos e o perfil do emigrante, que passou a ser mais qualificado. O Reino Unido tornou-se, nesta lógica, o primeiro destino dos emigrantes portugueses, seguido da Suíça. A Alemanha, que estava em relativa estagnação voltou a entrar no top 3 e a Espanha, que foi durante muito tempo o primeiro destino, caiu para o quatro lugar.
Três conjuntos de países de destino da emigração portuguesa nos dias de hoje:
- Brasil, Canadá, EUA e, numa escala mais reduzida, Venezuela – já não são o que eram no que à emigração portuguesa diz respeito e a entrada de novos emigrantes não chega para compensar a mortalidade e eventuais movimentos de retorno e de reemigração.
- Alemanha, França e Luxemburgo – são países com grandes populações portuguesas emigradas envelhecidas, mas para onde houve uma retoma da emigração nos últimos anos, o que foi suficiente para inverter a tendência para a estabilização ou para a recessão populacional.
- Suíça, Reino Unido, Espanha e Angola – são atualmente alguns dos principais destinos da emigração portuguesa, especialmente entre jovens, e estão em crescimento.
A Suíça tem-se mantido constante como importante foco de emigração desde a segunda metade dos anos 80 principalmente, mas o Reino Unido é hoje o principal destino da emigração portuguesa (50% em 2013) e o principal destino dos emigrantes qualificados, sendo que 19% dos emigrantes portugueses no Reino Unido são licenciados.
Espanha é um caso peculiar, já que o número de portugueses residentes aumentou para mais do dobro entre 2000 e 2013 mas atravessa uma fase de declínio das novas entradas desde a crise de 2008 por causa do colapso dos setores da construção civil, para onde ia a maior parte da mão-de-obra portuguesa não qualificada. Angola, e também Moçambique, continua a ser hoje um importante destino de empresários portugueses, sendo o destino de entre 10 e 12% dos emigrantes portugueses.
DESTINO MAIS PROCURADO: CAMARÕES?
Por estranho que pareça, os Camarões, a par do Reino Unido, surgem como o país de destino mais procurado nos serviços de Atendimento ao público da Direção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas, nota o relatório do Governo.
“Relativamente aos Camarões deverá ter-se em atenção o facto de todas as propostas de trabalho apresentadas para confirmação da sua autenticidade junto do Alto Comissariado dos Camarões em Abuja, através da Embaixada de Portugal na Nigéria, se terem revelado falsas, desconhecendo-se a real dimensão dos candidatos burlados, dado que as ofertas são disponibilizadas na internet”, lê-se.
Com um total de 108 pedidos de informação no último ano, os Camarões são assim o país mais procurado para pedidos de informação, nomeadamente sobre a autenticidade das ofertas de trabalho, que acabam por revelar tratarem-se de burlas sobre alegados trabalhos na construção naquele país.
Tirando isto, o Reino Unido, com um total de 106 pedidos de informação, surge como o principal destino dos portugueses para emigrar, tratando-se neste caso de ofertas de trabalho verdadeiras e cujo alvo é maioritariamente a mão-de-obra qualificada.