O mandatário nacional de António Costa às primárias socialistas, Carlos César, criticou este sábado António José Seguro por comunicar como se os portugueses fossem um “auditório infantil” ou um “clube de fãs”, considerando que não resolve os problemas do país.

Carlos César falava aos jornalistas à margem da convenção “Mobilizar Portugal”, que decorre hoje durante todo o dia em Aveiro, considerando que o Governo ficou com expectativas de tranquilidade e de recuperação com os resultados das eleições europeias mas que agora “está muito intranquilo com a perspetiva de António Costa ser o candidato a primeiro-ministro pelo PS”.

“Eu tenho ouvido muitas vezes o António José Seguro falar e os seus apoiantes e fico um pouco entristecido nesta perspetiva: há uma tendência para comunicar com os portugueses como se os portugueses fossem o auditório infantil, como se fossem um clube de fãs que têm que estar sujeitos ao discurso vazio, inexpressivo, cheio de truques, dos comícios, das encenações tecno-mediáticas, do tiro o chapéu, ponho o chapéu, do toca um instrumento popular do folclore”, criticou.

Para o ex-presidente do Governo Regional dos Açores “tudo isso é muito engraçado” mas “nada disso resolve qualquer problema dos portugueses”. “O partido só pode sair mais forte do desfecho deste debate e desta confrontação eleitoral que é própria da democracia. O partido ficou muito enfraquecido com os resultados das eleições europeias”, reiterou.

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Carlos César reafirmou que os resultados das europeias deixaram a “sensação de que o PS podia morrer na praia”, defendendo ser preciso “uma liderança mais identificada com o sentir dos portugueses, mais mobilizadora, mais suscitadora de entusiasmos”. “E ao mesmo tempo da adesão de outras personalidades, de outros setores, que qualificam este PS que ficou debilitado com o resultado das europeias”, acrescentou.

Para o mandatário nacional de António Costa, com a escolha do atual presidente da Câmara de Lisboa, “o Governo pode contar com uma alternativa mais forte do que aquela que tem tido”.

A convenção organizada pela candidatura de António Costa para debater a agenda a dez anos da candidatura do autarca abriu com um discurso do deputado Pedro Nuno Santos, também presidente da federação do PS. No discurso de abertura, Pedro Nuno Santos referiu-se ao facto de António Costa querer resolver os problemas de fundo da economia, pois este dificilmente se resolveriam se só se falar de finanças públicas.

“A direita também quer transformar a economia e tem falado da reindustrialização, mas a forma como querem atingir esse objetivo é oposta à que queremos defender. A estratégia da direita de desvalorização interna, de compressão salarial não resolveu o problema da economia e agravou: três anos depois, as exportações de média e alta tecnologia baixaram e a nossa economia não se graduou”, criticou.

As palavras de Pedro Nuno vão diretas aos que têm acusado António Costa de não querer falar de consolidação orçamental na sequência das notícias da semana passada sobre a agenda a dez anos do autarca. Nessas notícias era relatado que o autarca não tinha colocado à discussão neste plano a dez anos as questões relacionadas com contas públicas, o que foi, de imediato aproveitado por António José Seguro.

“Só vale a pena modernizar a economia para com isso promover a coesão social e a visão de António Costa também tem aí novidade: não basta apenas a igualdade de oportunidades. Esse esforço para conseguir condições iguais de partida, continuará a ser objetivo, mas sabemos que não é suficiente porque as economias de mercado geram desigualdades e a sua correção tem de ser um esforço permanente”, concluiu.

De manhã, à chegada para a convenção, Costa tinha justificado a ausências das questões ligadas a contas públicas da agenda a dez anos. Em respostas aos jornalistas, o presidente da Câmara de Lisboa disse que para que exista consolidação das contas “de uma forma sustentada” é preciso “resolver os problemas estruturais do país” e que “um dos erros maiores que este Governo cometeu foi achar que o princípio e o fim dos problemas em Portugal eram a dívida e o défice”.

“É um erro pensar-se que nós resolveremos os problemas, designadamente da consolidação das finanças públicas, sem termos uma economia sã. E não teremos uma economia sã sem resolvermos os problemas estruturais. E também não se resolve a consolidação das finanças públicas sem critério. E o critério implica visão estratégica”, justificou.

Além de Pedro Nuno, falou também a coordenadora da agenda, Maria Manuel Leitão Marques, que referiu que esta agenda para o futuro é uma “agenda em construção” e não de um documento acabado que tudo vai resolver. “A Agenda não será uma varinha mágica, mas pretende lançar as bases para possíveis compromissos, para um compromisso de esperança num futuro melhor. Não é apenas para uma legislatura e precisa da continuidade de políticas”, sintetizou.

Os apoiantes de António Costa estão este sábado reunidos em Aveiro a debater vários tema que constarão do programa a dez anos que quer apresentar para sustentar a candidatura a candidato a primeiro-ministro pelo PS.  Depois deste documento apresentará ainda o projeto de curto-prazo onde prometeu falar de questões relacionadas com finanças públicas, mas também sobre a Europa.