19 minutos de atraso. Tudo bem, é normal para quem fez pela primeira vez um fórum online com vários eleitores. “Problemas técnicos”, dizia Helena Coelho, a modelo e apresentadora convidada para fazer de mediadora do debate. Obama faz estes encontros com frequência, Seguro quis ser o primeiro a fazê-lo. Os problemas técnicos que percorreram toda a conversa foram os mesmos que levaram António José Seguro a ser apenas uma imagem durante largos minutos. “Não vejo António José Seguro”. E não viram durante algum tempo.

E o conteúdo? Da saúde à necessidade de renegociação da dívida, da Educação à reforma do IRC, mas falou-se muito de emigração: “A mobilidade é uma coisa boa”, disse.

Hangout com Seguro

A solução de António José Seguro para quatro ou cinco perguntas sobre saúde, emigração, apoio a empresas ou apoio com as verbas europeias foi sempre a mesma: “Temos de pôr a economia a crescer”. E como? Apoiar as empresas para combater o desemprego e promover a criação de empregos. Receita repetida ao longo da conversa que manteve com portugueses que aderiram à iniciativa.

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Seguro até começou por ironizar com os problemas técnicos e dizer que era preciso “mudar a cor deste país”. Mas depois foi seguindo a bitola de argumentos que tem esgrimido. Sobre emigração: “A mobilidade é ótima, para quando as pessoas têm as qualificações poderem escolher onde querem trabalhar”. Mas depois acrescenta, não fosse esta frase aproximar-se do que há meses disse o primeiro-ministro que acabou em polémica: “Outra coisa é quando as pessoas são obrigadas a sair”. E para essas Seguro diz não ter “uma varinha mágica”, mas que a “única solução” é “pôr a economia a crescer”.

Temas conhecidos

Os temas desta conversa eram conhecidos do líder do PS e candidato às eleições primárias até pelas profissões de cada um dos intervenientes. “Já sabe sobre o que vou falar, não vai ser uma novidade para ele”, começa por dizer Rui Reis, cientista e um dos convidados. Seguro sabia de antemão os temas do hangout com o grupo de portugueses que quis participar, mas não as perguntas, assegurou fonte da equipa de Seguro.

Ultrapassados os problemas técnicos, Seguro aparecia sorridente com um painel atrás a dizer “avaçamos juntos” e assim esteve durante hora e meia. E o que disse Seguro?

Hangout 2

No que ao investimento em ciência diz respeito, Seguro classificou a acção do Governo: “Tem sido um disparate o que este Governo tem destruído em termos de investimento científico”, até porque para o líder socialista, o Governo “encara como uma despesa e não como um investimento” as verbas aplicadas à ciência.

Depois prometeu separar a política dos negócios. A política “não pode ser uma porta giratória, uma vez no Parlamento outra vez num banco” porque é necessário acabar com “a promiscuidade entre vida pública e negócio”. Ao mesmo português, que vive em Macau, de onde falava, Seguro ainda garantiu aplicar as verbas do próximo quadro comunitário de apoio em projetos que “criem emprego”.

A iniciativa levou Seguro a falar de temas que têm saído caros a António Costa. O autarca de Lisboa foi o nome impronunciável desta conversa, mas o líder do PS, que de manhã tinha aproveitado o facto de Costa estar a ser criticado pelo facto de não falar em como pretende gerir as contas públicas, aproveitou o auditório favorável – não houve contraditório nas perguntas feitas durante o hangout e todos saíram satisfeitos com as respostas – para dizer que “precisamos de renegociar as condições de pagamento da nossa dívida. Temos de ter melhores condições, taxas de juro mais baixas e mais tempo”. Tudo porque é “preciso desviar recursos para a economia e para que os portugueses possam ter mais rendimento do que têm atualmente”.

Na conversa deu um salto aos temas preferidos dos socialistas: saúde e educação. Não falou de pensões, nem do futuro da segurança social, nada lhe foi perguntado sobre Europa ou como pretende efetivamente pôr a economia a crescer e manter as contas públicas dentro dos limites acordados com a Europa.

Na saúde, falou de questões pessoais. Lembrou o caso de uma senhora que conheceu e que demoraria dois a três meses a fazer análises depois de lhe ter sido diagnosticada uma doença grave. “O memorando exigia cortes na área da saúde – o que este Governo fez foi corte sem dobro e criou rutura em hospitais”. Seguro até nem se importava que tivesse havido aumento de impostos se esse aumento servisse para “aumentar a qualidade dos cuidados de saúde. O que está a acontecer é o contrário”.

Para  ilustrar as mudanças que quer impor na educação até falou do pai que “toda a vida teve uma única profissão: comerciante”. Ora, para Seguro, os tempos também mudaram e por isso é preciso que a intrução básica dos portugueses dê outras capacidades. No plano de Governo um “ministério da Educação que seja um ministério das políticas de educação e não um ministério da administração escolar”. A campanha para as eleições primárias do PS segue num fim de semana animado.

Se António José Seguro falou pela internet com várias pessoas (pode rever aqui), este sábado, António Costa promoveu uma convenção para debater as várias áreas a agenda a dez anos que quer propor.