O último debate está à porta: Passos Coelho e António Costa estarão frente a frente esta quinta-feira, num debate promovido pelas três maiores rádios nacionais (TSF, Rádio Renascença e Antena 1), no duelo final antes da campanha começar e do dia D das legislativas. De um lado e outro, os assessores preparam os líderes: procuram as suas maiores fragilidades, preparam os últimos trunfos para levar os portugueses a votar em cada um. O Observador foi fazer o mesmo, mas ouvindo dois politólogos habituados aos debates, para saber o que pode mudar neste segundo confronto.

Primeiras conclusões: na rádio, poderão não se perceber algumas irritações, não se vão ver alguns rebolar de olhos ou alguns sorrisos sarcásticos. Nem tão pouco o ar mais ou menos nervoso. Vão perceber-se sobretudo as palavras. E é no conteúdo, mais do que na forma, que Passos Coelho e António Costa têm de mudar, segundo Marina Costa Lobo e António Costa Pinto. “Primeiro objetivo: ser mais esclarecedor”, concordam. Vamos aos conselhos que eles dão aos líderes?

Os conselhos a Passos Coelho

  • Dizer menos vezes José Sócrates – “Passos falou demais sobre Sócrates, e nada sobre o futuro”, diz Marina Costa Lobo. “As referências a José Sócrates serão com certeza reduzidas. É normal que tenham dito ao primeiro-ministro que falar do passado, sim, mas falar de José Sócrates de forma individualizada já foi estratégia desmontada pela sociedade”, diz Costa Pinto.
  • Menos siryzação do PS – Outro dos temas que deverá ser menos abordado, de acordo com Costa Pinto, será a colagem do PS ao Siryza. “Foi um tema interessante, mas a sociedade já percebeu que o PS não é o Syriza” sobretudo, acrescenta, depois dos debates e do próprio posicionamento de Catarina Martins do BE. “Não será um tema muito rentável”, diz.
  • Mais futuro, menos passado – “Falar mais do futuro e menos do passado”, é a conclusão de Marina Costa Lobo. Um conselho que vale para os dois candidatos. Já Costa Pinto acredita que Passos vai insistir na fórmula do primeiro confronto: “PS = bancarrota e António Costa próximo do passado”, fazendo a colagem ao anterior Governo PS, mas sem referir o nome do anterior primeiro-ministro.
  • Falar para quem pensa em não ir votar – “Passos terá de mobilizar mais abstencionistas”, acredita a politóloga. Isto porque, diz, apesar de uma bipolarização das eleições, “existe uma grande percentagem de portugueses desiludidos e insatisfeitos com a governação e a democracia bem como com a classe política, representada maioritariamente por estes dois partidos”.
  • Mais ataque, menos defesa – Uma das críticas apontadas ao líder do PSD é esta: tornou-se muito explicativo e, com isso, retraiu-se no ataque ao adversário. O politólogo acredita que “os temas podem ser os mesmos”, com uma insistência na ideia “incerteza vs. segurança”, mas que “Passos tentará não estar tão à defesa”.
  • Simplificar as medidas da Segurança Social – Dois dos pontos que Marina Costa Lobo quer ver mais debatidos são os da Europa e da Educação, que já entraram na agenda dos moderadores nas rádios, e menos “plafonamento” da Segurança Social. “Falou-se demais em plafonamento vertical e horizontal, temas que a maioria deconhece, e nada sobre Europa ou sobre Educação”, diz.
    Ora, neste ponto, Passos Coelho já mudou aliás a maneira como fala de plafonamento, esse “palavrão”, como disse. Desde o debate com Catarina Martins que começou a explicar o plafonamento ao contrário, literalmente. Ou seja, começou por explicar que o que a coligação pretende é que o Estado não pague pensões muito elevadas – o tecto às pensões: “Significa fixar um limite, elevado, a partir do qual o Estado não se responsabiliza pelo pagamento de pensões [por serem muito altas]”. Esta seria a consequência “positiva” aos olhos da sociedade do plafonamento, que na verdade se trata de dar a opção a estas pessoas (apenas para futuro) de descontarem uma parte para outros fundos (públicos de capitalização ou privados), deixando de descontar para a Segurança Social. Esta será uma técnica que deverá usar de novo.

Os conselhos para para António Costa

Para os dois politólogos, o líder socialista ganhou o primeiro debate pelo que terá de mudar menos, tanto na atitude como no conteúdo. Mas há pontos a melhorar:

  • Mais programa – “Costa não primou por exprimir uma visão para o futuro tão-pouco, embora tenha estado seguro e credível na apresentação das propostas”, diz Marina Costa Lobo, que defende que os dois candidatos têm de “falar mais do futuro e menos do passado”.
  • Mais seguro – Um dos pontos que os dois politólogos apontam é a necessidade de Costa mostrar um ar e conteúdo que dê mais segurança, porque “para ganhar [é preciso] a capacidade de projetar esperança e confiança no seu discurso para mobilizar um eleitorado distante”, diz Marina Costa Lobo. Um conselho válido para os dois.
  • Falar ao centro – Quanto a António Costa, se este quiser ganhar o debate, mas mais que isso, ganhar as eleições, terá de “ter um discurso centrista, pois em relação ao voto útil à esquerda as sondagens encarregam-se disso”, empurrando para o voto útil, tendo em conta o empate técnico até aqui verificado. “Agora a luta será ao centro”, acrescenta a especialista.
  • Demorar menos a explicar a TSU – Ora se Passos Coelho foi acusado de ser muito explicativo, António Costa ouviu a crítica de demorar bastante tempo a explicar a proposta de descida da TSU para trabalhadores e empregadores. “Os temas do PS para o debate têm de ser os mesmos. A TSU não é fácil de explicar aos portugueses e Costa vai demorar tempo a responder”, diz Costa Pinto.

Os dois líderes partidários protagonizaram o primeiro frente a frente há uma semana e de lá para cá algumas coisas mudaram. A candidatura de António Costa ganhou um novo alento depois do debate e do lado da coligação Passos Coelho e Paulo Portas andaram mais na rua, com alguns momentos que acabaram por ser explorados pelos socialistas.

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Contudo, na véspera do novo debate, houve um tema que foi requentado do anterior: a participação do PSD na chamada da troika. Foi um dos pontos quentes discutidos por Passos Coelho e António Costa nas televisões e que continuou na praça pública com declarações de Pedro Silva Pereira e mais recentemente com uma notícia do Público sobre a carta que Passos Coelho enviou a José Sócrates antes do resgate.

Mas há outro tema novo que pode bem entrar na conversa: o Novo Banco, agora que o Banco de Portugal adiou o processo de venda para 2016.

Falta pouco para o debate, o que não lhe faltam são ingredientes. O Observador acompanhará tudo em liveblog a partir das 9h00 (sendo que o duelo começa às 10h00 e segue até às 11h30).