Dezenas de milhares de membros de uma das minorias mais antigas do Iraque estão presos numa montanha no noroeste do país e o seu destino é quase certo: morte por desidratação, caso decidam ficar na montanha, ou morte pelas mãos dos jihadistas do ISIS que estão a cercar a montanha, caso decidam tentar fugir.
De acordo com o Guardian, que conta a história, pelo menos 40 mil membros da minoria curda Yazidi, a maioria dos quais mulheres e crianças, refugiaram-se em nove localizações na montanha Sinjar, uma cordilheira com quilómetros de altura que fica a sul da cidade com o mesmo nome, depois do ataque dos jihadistas no passado domingo.
Pelo menos 130 mil pessoas deslocaram-se para Dohuk, no norte do Curdistão iraquiano, ou para Irbil, onde as autoridades regionais têm estado a lidar, desde junho, com um dos maiores movimentos de deslocação de refugiados em décadas. A própria cidade de Sinjar já viu fugir 300 mil dos seus habitantes, após o ataque no passado domingo, mas cerca de 25 mil habitantes permaneceram. “Ninguém nos vem ajudar”, contou Khuldoon Atyas, um dos residentes, citado pelo jornal britânico.
A deslocação de refugiados “não se pode considerar um incidente pontual”, explicou Juliette Touma, porta-voz da Unicef. “Estamos quase de volta à estaca zero no que toca a mantimentos. Os números de pessoas que têm estado a passar a fronteira são enormes. E as tensões são imensas. Desidratação, fadiga, pessoas que andam durante dias seguidos… O impacto nas crianças também é muito físico, e já não estou a contar com o impacto psicológico”, acrescentou.
A montanha, que começou por servir de abrigo, depressa se tornou num calvário. Não há abrigos, a comida é escassa e não há qualquer fonte de água. Um homem que se encontrava escondido nas montanhas, e que se identificou apenas como Nafi’ee, explicou ao jornal que “a comida é escassa, bem como as munições e a água. Por vezes temos que partilhar com dez pessoas um pedaço de pão e andar dois quilómetros para termos água”.
A força aérea iraquiana já tentou levar água engarrafada mas calcula-se que pouca terá chegado às pessoas. Os militares curdos estão a tentar garantir um trajeto seguro para poder libertar os refugiados mas isso implica atravessar aldeias sunitas, cujos habitantes simpatizam com os terroristas, o que acaba por comprometer o sucesso da missão.