Concluída a peregrinação anual a Paredes de Coura, onde aconteceu um dos mais icónicos festivais de música em Portugal, entre os dias 14 e 17 de agosto, chegou o momento de o Observador refletir e debater sobre quais foram as atuações mais memoráveis e inesquecíveis da edição de 2024.
Apesar de não ter sido um cartaz recheado de novidades — grande parte dos artistas já havia passado por Portugal — foi mais um ano em que o evento, que acontece nas margens do Rio Tabuão, foi marcado por uma série de grandes concertos.
Nesta seleção, o Observador procurou destacar uma variedade de concertos que permanecerão na nossa memória. Antes de passar aos textos, deixamos algumas menções honrosas a bandas lendárias como Sleater-Kinney ou Jesus and Mary Chain, mas também a jovens talentos que nos impressionaram, como Wednesday, Sprints, ou os portugueses Marquise, que deram um dos melhores concertos do “Sobe à Vila”, o aquecimento do festival que ocorre durante as festas da vila de Paredes de Coura.
Scúru Fitchádo (Sobe à Vila, 12 de agosto)
Ainda o festival não havia começado oficialmente, e as pessoas que chegaram mais cedo a esta região minhota já estavam sendo brindadas com grandes concertos. Scúru Fitchádo (alter-ego musical de Marcus Veiga) ofereceu uma hora de música energética e efusiva que tanto serviu para soltar o corpo em passos de dança quanto para muito mosh.
A voz rouca do artista continua a ser veículo para algumas das melhores músicas feitas em Portugal, e este concerto foi mais uma prova disso, com o público completamente envolvido nesta mistura única de punk, heavy metal, funaná e hip-hop
A atuação foi marcada por gritos de “liberdade” e um momento em que Marcus partilhou a história do Sr. Vítor, de 89 anos que, durante o soundcheck, confessou ao músico que, em tempos, tinha sido fadista e sentia saudades de estar em cima de um palco a atuar. O artista acabou por lhe dedicar uma música
No final deste concerto, estávamos suados e de coração quente após esse momento de celebração. No entanto, questionamo-nos sobre duas coisas: se este festão não teria sido mais bem aproveitado em um dos palcos principais do festival e como Scúru Fitchádo continua a ter uma voz saudável após uma performance tão efusiva e crua.
André 3000 (14 de agosto)
Em qualquer outro ano, a presença de uma estrela como André 3000, membro fundador do influente grupo de hip-hop OutKast, garantiria uma das maiores enchentes do festival. No entanto, este não foi um concerto qualquer. No ano passado, o norte-americano afastou-se dos estilos musicais que mais rapidamente lhe associamos (como o rap ou o pop) e decidiu lançar um disco de spiritual jazz onde apenas toca flauta, intitulado “New Blue Sun”.
Esta curiosa incursão na carreira de André gerou grande antecipação e curiosidade pela atuação, levando a uma grande adesão ao seu concerto. O que vimos foi um dos mais “bizarros” concertos do festival, que dividiu a opinião dos presentes.
O artista entrou em palco sem grandes alaridos, pegou em uma de suas flautas e começou a tocar de costas para o público. Assim começou a primeira parte do concerto, marcada pela construção lenta de uma música de improvisação e sem grande estrutura, com André e sua banda compondo ao vivo, seguindo apenas os seus instintos.
“Neste preciso momento, neste palco, estamos a compor”, explicou. “Por isso, temos as nossas antenas no ar, sentimos este lindo espaço e fazemos música”, disse.
[Já saiu o terceiro episódio de “Um Rei na Boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no YouTube. Também pode ouvir aqui o primeiro e o segundo episódio]
Neste momento, tanto a banda quanto os membros da audiência marcaram uma posição. Estes eram os sons que o grupo iria explorar, para a satisfação ou não dos espectadores. Aqueles que não estavam interessados abandonaram o palco (ou ficaram no mesmo lugar, mas colocaram a conversa em dia).
Para quem teve a disponibilidade de se entregar à música da banda, foi possível experienciar uma bela viagem através dessa música onírica, que teve momentos que nos fizeram recordar artistas como Pharoah Sanders, acompanhada por belíssimos efeitos de luz
No entanto, acreditamos que essa arte seria mais adequada a um espaço fechado — onde o som faria justiça à música que estava sendo tocada — e onde não existissem pessoas debatendo, paralelamente, as contratações do Sporting, a doença renal dos avós ou a rapariga que começou a festejar porque recebeu uma cerveja de graça, mas só tinha um copo de café.
“Se fosse um concerto com um público a sério e não cheio de miúdos, ele teria levado uma pedrada”, ouvimos inclusive um membro do público dizer.
Sim, foi bizarro perceber que André 3000 não iria cantar “Hey Ya” ou “Ms. Jackson”, mas para quem teve a paciência de se entregar a esta experiência, pôde vivenciar um belíssimo concerto, concluído com um clímax musical intenso e visceral.
Sampha (14 de agosto)
Com as cores do pôr do sol ilustrando o cenário do palco e uma banda no palco, todos esses elementos ajudaram o londrino Sampha a destacar-se como um dos maiores talentos a passar por esta edição do Vodafone Paredes de Coura.
Rodeado de sintetizadores, percussões e as vozes dos membros de sua banda roçando o angelical, o artista, todo vestido de branco, brindou-nos com canções intensas, marcadas pela honestidade e sinceridade de sua lírica, mas também pela beleza melódica de seu teclado.
Com conselhos como “don’t go back to your first love”, em “Can’t Go Back”, e confissões como “no one knows me like the piano in my mother’s home”, em “(No One Knows Me) Like the Piano” — canção escrita sobre o período em que cuidava da mãe, que tinha cancro — as músicas de Sampha existem entre o R&B, a eletrónica e a soul, conferindo às suas atuações um caráter emocional, mas também uma vertente de festa e dança, sem esquecer de implementar na setlist “Father Time”, música de Kendrick Lamar que conta com a participação do londrino.
“Este é um lugar muito bonito. Sinto-me muito bem-vindo aqui”, disse-nos o artista, agradecendo pela resposta positiva do público, que tentou entregar seus melhores passos de dança como forma de homenagear a incrível e impressionante hora de música que tiveram pela frente. Sem dúvida, um dos melhores e mais marcantes concertos do festival.
Killer Mike (14 de agosto)
Depois de já o termos visto com Run the Jewels no Primavera Sound, no Porto, em 2015 e 2017, o rapper americano estreou-se a solo em Portugal, num momento em que vive uma das melhores fases de sua carreira, após ter ganho três Grammys neste ano pelo disco “Michael”, de 2023.
Acompanhado por um talentoso coro gospel (que teve oportunidade de brilhar a solo, com elementos cantando músicas como “I Wanna Dance With Somebody”, de Whitney Houston), o “tio mais fixe do hip-hop” apresentou várias músicas repletas de histórias de vida, todas com o objetivo de ensinar os ouvintes a não cometerem os mesmos erros de Mike e a aprenderem a ser melhores pessoas.
“Lembro-me de ler nas aulas sobre Portugal e Espanha, mas é impressionante como a arte me levou a este tipo de lugar”, disse. “Por isso, quero fazer arte que não seja só para mexer o rabo, mas também o cérebro. Meu objetivo é que tenhamos uma experiência enriquecedora e pensemos todos um pouco sobre o que ouvimos amanhã”, desejou a todos os ouvintes antes de começar a cantar “NRICH”.
Sempre com um sorriso no rosto e boa disposição, agradeceu por ter sido tão bem recebido em Portugal e convidou os fãs a irem a Atlanta “chillar” com ele.
Um dos momentos mais marcantes foi a apresentação da faixa “MOTHERLESS”, que dedicou não só à sua mãe (tendo partilhado a história das dificuldades que ela passou quando engravidou de Mike aos 16 anos), mas a todas as mães na audiência, referindo que tem saudades da mãe desde que ela morreu.
Apesar dos temas pesados abordados nas suas canções, a despedida foi feita com boa disposição e a faixa “HIGH & HOLY”. Membros da audiência ergueram os seus telemóveis com as lanternas e dançaram e cantaram até ao momento em que o “tio mais fixe do hip-hop” se despediu de todos, marcando assim o final de um dos melhores concertos do festival.
Model/Actriz (14 de agosto)
Depois do ambiente de igreja gospel do concerto de Killer Mike, chegamos ao concerto do quarteto norte-americano, às 3h da manhã, e deparamo-nos com um ambiente que nos deu vontade de tomar banho. O palco estava inundado por luzes vermelhas, sentia-se o cheiro a suor e a tensão no ar.
Ainda na ressaca do êxito do seu disco de estreia, “Dogsbody”, lançado no ano passado, os Model/Actriz mostraram porque fazem as coisas de forma diferente. Com um som que se situa num cruzamento entre o post punk e o noise rock, podíamos dizer que fomos surpreendidos pela forma como as guitarras, completamente transformadas pela distorção, parecem soar como um instrumento completamente diferente ou como a secção rítmica transbordam uma energia incansável. No entanto, preferimos destacar a postura e atitude do grupo.
Em várias entrevistas, o vocalista Cole Haden abordou a sua homossexualidade e abordou como o estilo musical que pratica não tem grande abertura para estas pessoas. Através da sua música, que aborda de uma forma visceral o seu estilo de vida (“With a body count, higher than a mosquito”, canta em “Mosquito”) e da energética teatralidade da sua performance, todos são “colocados em xeque” e não resta nada mais do que se entregarem a este maravilhoso concerto.
Cole entra em palco com uma saia e um chapéu repleto de brilhantes. Enquanto a banda cria uma parede de distorção e barulho, este desloca-se de um lado para o outro do palco colocando batom, com um olhar provocador como quem nos pergunta “o que é que vais fazer em relação a isto?”.
Quando a primeira faixa, “Donkey Show”, arranca verdadeiramente o concerto, o vocalista esperneia-se, salta e grita a letra enquanto a banda dá o seu melhor para furar todos os tímpanos da audiência. Este foi um dos poucos momentos em que Cole esteve no palco. Rapidamente, saltou para o meio do público e fez a grande totalidade entre os fãs, cantando com e para eles, agarrando as suas mãos e participando no mosh.
Se há memória que iremos levar deste Paredes de Coura, é o momento em que o artista apareceu, subitamente, à nossa frente na audiência enquanto cantava com um ar alucinado a cantar “Amaranth” enquanto agarrava nas mãos dos fãs.
Model/Actriz dá-nos esperança no futuro da música de guitarra, existem muitas mais possibilidades para inovar este género que às vezes parece tão estagnado. Os nova iorquinos tem a capacidade de desconstruir estilos e criar algo novo e fresco. E temos também a esperança que regressem rápido a Portugal para podermos voltar a viver aquele que foi um dos melhores concertos que assistimos em 2024.
Los Bitchos (15 de agosto)
Para os fãs de momentos de dança e de uma boa cumbia, o Palco Yorn foi uma paragem obrigatória devido ao concerto de Los Bitchos.
Com membros provenientes do Uruguai, Austrália, Londres e Suécia, este quarteto ofereceu um dos mais divertidos concertos desta edição do Paredes de Coura.
Com influências da cumbia, surf rock e rock turco, os Los Bitchos foram uma das maiores surpresas de todo o festival, usando a sua música exótica e energética para colocar todos os presentes no palco secundário a mexer o seu corpo.
Este grupo prova que o rock não precisa de ser um estilo aborrecido, também é possível colocar grupos de amigos a dançar e de contagiar uma pista de dança. A banda agradeceu pela enchente e entregue dos presentes – que chegaram a organizar um “comboio” para desfrutar da atuação – e certamente saíram do festival minhoto com muitos novos fãs.
L’Imperatrice (15 de agosto)
Depois do aquecimento com Los Bitchos, foi a altura dos franceses L’Imperatrice provar que continuam a ter o poder de transformar o anfiteatro natural de Paredes de Coura na maior danceteria a céu aberto do mundo.
A fasquia estava muito alta depois do concerto que a banda fez em 2022, quando receberam uma longuíssima ovação de todos os presentes. O público estava curioso para ver o que estes poderiam oferecer e os franceses estavam a par disto.
“Demos aqui o nosso melhor concerto”, confessou a vocalista, Flore Benguigui. “A faísca está muito alta, por isso espero que estejam prontos para ficar ainda mais loucos”, declarou.
Os L’Imperatrice são uma banda que divide opiniões. Os mais cínicos dirão que são um grupo desinspirado, demasiado colado às suas influências, e que é música pouco desafiante.
A verdade é que os franceses parecem pouco importados com estes rótulos, estando mais interessados em colocar o máximo de pessoas possíveis a dançar e a combater a apatia. Os seus instrumentais podem continuar muito colados às suas referências, como o disco ou ao french touch, mas estes também não escondem as suas influências, aliás, até as abraçam, como pode ser visto pela versão eletrizante que fizeram da “Aerodynamic” dos Daft Punk que levou muitos fãs à loucura.
É difícil comparar esta atuação com o concerto de 2022, até porque não houve a mesma resposta extasiante por parte dos fãs no final da atuação, mas podemos dizer confortavelmente que foi um dos melhores concertos desta edição do festival e, para quem quiser repetir a dose, o grupo vai regressar a Portugal a 2 de novembro para uma atuação no LAV – Lisboa ao Vivo.
Protomartyr (15 de agosto)
Um dos melhores concertos de rock desta edição foi protagonizado por esta banda de Detroit. Depois de uma longa pausa, durante a qual estiveram sem dar concertos, os Protomartyr, que no ano passado lançaram o seu sexto disco, Formal Growth in the Desert, mostraram ainda estar em excelente forma, apesar dos comentários da própria banda.
“Estamos um bocado enferrujados, mas estamos agradecidos. Se quiserem atirar tomates, estão à vontade”, disse o vocalista Joe Casey, para confusão do público que estava a desfrutar do concerto.
A música dos Protomartyr é diferente do restante punk e rock. Não existem grandes clímaxes, não há grandes personalidades carismáticas; o que temos é uma grande intensidade e ótimas canções que abordam uma grande variedade de temas, como a saúde mental e a gestão dos nossos próprios sentimentos – “There’s no use being sad about it // What’s the point of crying about it”, em “Pontiac 87” – ou os problemas dos governos fascistas, na excelente canção “Processed by the Boys”.
Para os fãs de música de guitarra e de um bom headbanging, este foi um dos pontos altos do festival e um momento inesquecível.
Slow J (15 de junho)
Se existiam dúvidas de que um artista de hip-hop português teria espaço como um dos principais artistas do cartaz do Paredes de Coura, estas foram completamente dissipadas pelo grande concerto de Slow J.
Ainda que não tivesse chegado ao nível dos grandiosos concertos que o rapper fez na MEO Arena, este foi um importante momento na história do festival e mais uma bela história do hip-hop tuga e da sua importância no cenário musical português.
Acompanhado pela sua banda, que contava ainda com uma guitarra portuguesa, João Batista Coelho usou toda a sua ginga e carisma para dominar o anfiteatro completamente lotado que se encontrava à sua frente – era impossível sequer pensar em tentar arranjar um lugar mais à frente no recinto, caso tivéssemos chegado mais tarde, dada a quantidade de pessoas que já estava preparada para ver o concerto.
Com um hip-hop emotivo, racional e vulnerável – “Às vezes dói, mas eu escondo”, em “Às Vezes” – o rapper deixou tudo em palco e foi correspondido com o mesmo nível de energia pelo público.
Ainda a apresentar Afro Fado, lançado em novembro do ano passado, o público continua a alinhar nesta experiência e aventura de Slow J, com as músicas onde o rapper aborda as suas raízes africanas e como navega essa herança. “Eu quero voltar p’á minha terra / Onde em casa me senti, nunca fui lá / Quero que a minha terra volte / E não entendo porque é que ela não volta”, canta em “Terra”.
Um dos melhores momentos do concerto foi quando interpretou a faixa “Também Sonhar”, que inclui um verso com a voz da falecida cantora Sara Tavares. Ouvir a sua voz a ecoar neste anfiteatro foi um momento arrepiante e que elevou o concerto a um momento inesquecível.
IDLES (16 de agosto)
Já vimos este espetáculo antes. Os ingleses IDLES tornaram-se uma presença repetida em Portugal (inclusive no Paredes de Coura, onde estiveram em 2022), onde encontraram uma audiência fiel que se entrega de corpo e alma à sua música todas as vezes.
Apesar de revelarem novas sonoridades e texturas nas novas músicas, inclusive as faixas de TANGK (disco lançado no presente ano), o público continua a perder a cabeça nas faixas mais explosivas de Joy as an Act of Resistance (2018), como “Danny Nedelko” ou “Never Fight a Man With a Perm”.
Apesar de se estar a tornar num concerto previsível, depois de já o termos visto tantas vezes e de se ter escorrido imensa tinta sobre este assunto, continua a ser impressionante a descarga de energia da banda, como partilham mensagens positivas de fraternidade (apelando para ajudar a levantar os companheiros que caíram no chão) e políticas (houve também gritos de apoio à Palestina, tal como se ouviram em muitos outros concertos deste festival) e a forma como a audiência tenta responder a esta energia com moshes descontrolados.
Foram um dos poucos destaques do terceiro dia do festival, repleto de concertos que desapontaram.
Slowdive (17 de agosto)
Também não é uma grande novidade a presença destes pioneiros do shoegaze nas margens do Rio Coura (já passaram por aqui em 2015 e 2018), mas os Slowdive revelaram estar em grande forma, impressionando com a apresentação de novas músicas (do álbum de 2023, everything is alive) e os velhos, mas fiéis clássicos, como “When the Sun Hits” ou “Souvlaki Space Station”.
Tal como é interessante que os velhos rituais do mosh e da Wall of Death continuem a marcar concertos como o dos IDLES, também é muito bonito observar como a música do grupo de Reading continua a apaixonar os fãs e ver todos os casais a abraçar-se enquanto desfrutam destas canções.
Os Slowdive vão ser sempre uma banda perfeita para assistir no meio deste belíssimo espaço natural e, enquanto estiverem interessados em apresentar excelentes canções como “Alison” ou “Sugar for the Pill”, nós vamos estar aqui com vontade de as ouvir… e se for abraçado a alguém especial, ainda melhor.
Fontaines D.C. (17 de agosto)
Foram uma das maiores apostas do festival, uma vez que ficaram encarregados de encerrar o palco principal. O sucesso desta missão dependerá de a quem perguntarem.
Há muito que a banda irlandesa é vista como uma coqueluche da nova vaga de bandas inglesas e como uma das que podem ter a capacidade para escrever uma nova página do rock britânico, por isso, todos os olhos estavam colocados no grupo com grande curiosidade.
Grande parte do set foi composta por faixas de Romance, o próximo disco do conjunto, que vai ser editado a 23 de agosto, e que inclui grandes canções como “Starbuster”, que encerrou o concerto, e do aclamado Skinty Fia, lançado em 2022, com faixas como “I Love You” ou “Jackie Down the Line”, que suscitaram reações bastante acaloradas por parte do público.
As canções dos Fontaines D.C. destacam-se pelas interessantes letras. São histórias sobre as suas vidas e existência enquanto irlandeses e o lugar que ocupam no Reino Unido e no resto do mundo. Foi interessante perceber como estas músicas se tornaram identificáveis para o resto da audiência, que parecia ouvir com mais atenção, em comparação, por exemplo, ao concerto dos IDLES, onde o público apenas se lançava sem grande pensamento para o centro do mosh (adotando um comportamento que, muitas vezes, quase parecia paradoxal àquilo que é pregado pelos próprios).
Pode ser estranho observar que o público teve uma reação menos visceral, até porque os próprios membros da banda não têm uma grande interação com o público, mas as ótimas e diretas canções fizeram deste um belíssimo concerto.
A despedida foi com um simples “cheers”, mas certamente será algo que ficará presente na memória de todos os que estiveram na audiência.
Destroy Boys (17 de agosto)
Depois do rock e punk dos Fontaines D.C., as guitarras continuaram a combater o silêncio e a dominar as colunas. A banda formada por Alexia Roditis e Violet Mayugba manteve a energia elevada com as suas músicas anti-sistema.
Apesar do cansaço do último dia e do horário (o concerto foi às 3h da manhã), os Destroy Boys, a última banda a atuar no Paredes de Coura, quiseram deixar a sua marca com uma atuação marcada pelas mensagens pró-Palestina e feministas, mas também com muito mosh e crowdsurf, que mal deixaram espaço para respirar, e muitas nódoas negras para recordar este concerto especial durante algum tempo.
Com grandes canções como “I Threw Glass at My Friend’s Eyes and Now I’m on Probation”, uma divertidíssima versão de “Should I Stay or Should I Go” dos The Clash, e gritos de “Free Palestine”, esta foi uma grande forma de encerrar o festival com chave de ouro, antes de Moullinex e GPU Panic serem responsáveis pelo fechar das portas.