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O meu feed de Facebook e Instagram está cheio de sugestões originais e pedagógicas para estimular intelectualmente o meu filho de dois anos e meio durante o isolamento social profilático. Da creche mandam ocasionalmente as atividades que estariam a fazer nesta altura do ano, para que os pais as repliquem com todo o amor e carinho e paciência na segurança do lar. Tenho amigos que fizeram horários coloridos para ter a certeza de que os filhos estão ali sempre no eixo Beethoven – Picasso – Cesário Verde — Ginasta Russo. Já nós, cá em casa, estamos só a tentar sobreviver a este pontapé na boca da rotina.

Até praticamente aos dois anos, o nosso filho não teve acesso a ecrãs. Nada de telemóvel, nada de desenhos animados. Daí para a frente, o consumo de Panda e Baby Shark e “O Preço Certo” (não perguntem, é uma obsessão do petiz) foi sempre pautado por regras. Mas desde que nos fechámos todos em casa que estas regras ficaram, vá, mais maleáveis. Pai e mãe estão ambos em teletrabalho, sem maneira de cumprir com os prazos de entrega e, simultaneamente, fazer com a criança uma cómoda de estilo manuelino em papel machê e guache comestível.

E aqui entra o sentimento de culpa, esse topping que dispensávamos neste sundae de angústia que têm sido as últimas semanas. Sim, o miúdo está a ser deixado em frente ao televisor mais do que nos é costume. Mas, como disse, estamos só a tentar sobreviver a uma rotina atípica. A solução passa pela “Patrulha Pata”, que tanto detesto – mas pode também passar por desenhos animados melhores. Com boas histórias, boa animação, bons sentimentos e bom humor. E pedagógicos, pronto. Aqui estão algumas sugestões disponíveis em Portugal, sejam em streaming, sejam nos canais mais tradicionais. E se precisar de mais um motivo para acalmar essa culpa, fique descansado: quase todas estas séries ganharam prémios Emmy e até Peabody. O intelecto do seu pequeno herdeiro está a salvo.

“Esme e Roy”

Canal Panda

“Esme & Roy” tem logo um pergaminho de peso: é dos mesmos criadores da “Rua Sésamo”, a Sesame Workshop. Por isso, o lado estético-fofinho, a pedagogia e até o humor estão assegurados. Onde esta série vai um pouco mais longe é na maneira como lida com as angústias e sentimentos exacerbados próprios da idade, mais conhecidos por birras. A maneira como abordam as crianças para respirarem fundo e sentirem a sua respiração é semelhante à aplicada nos adultos com questões de ansiedade. Podemos agora filosofar sobre que raio de mundo é este no qual uma criança de três ou quatro anos se sente ansiosa, mas prefiro focar-me na sinopse: Esme é uma menina e Roy é um monstro felpudo e amarelo e ambos são babysitters de monstros em Monsterdale. Em cada episódio, resolvem um problema do monstrinho que têm a seu encargo.

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“Onde Está o Wally”

Canal Panda

A coleção de livros é um clássico nostálgico dos anos 80 e 90, com famílias inteiras a tentar procurar o homem de óculos e camisola às riscas (e com aquele primo mais tolo que lhe desenhava um círculo em volta com uma Molin preta, arruinando o livro para toda a gente). Esta não é a primeira adaptação de Wally (ou Waldo, como é conhecido em inglês) a desenho animado, tendo havido uma primeira experiência em 1991. Mas é a primeira para um público pré-escolar, que tendo estreado há apenas um ano já arrecada vários prémios de televisão infantil. A série segue Wally e Wenda em missões pelo mundo, tentando tornar-se feiticeiros enquanto o rival Odlulu lhes dificulta a vida.

“Rua Sésamo”

Youtube

Um clássico de várias gerações e a melhor hipótese do seu filho regressar à creche a já saber o abecedário todo. A “Rua Sésamo” estreou originalmente em 1969 e chegou a Portugal 30 anos depois, em 1989. Tinha o Egas, o Becas e o Gualter do original, mas também tinha um Ferrão, o seu agripino e uma Alexandra Lencastre. A RTP Play não tem os episódios disponíveis (e não se percebe porque raio não passam na Memória), mas encontra vários episódios no Youtube, incluindo esse clássico geracional chamado “Tenho Orgulho Em Ser Uma Vaca”. Se o sotaque brasileiro não for um problema, a “Vila Sésamo” tem um canal oficial no Youtube bastante completo.

Curtas da Pixar

Youtube

Os estúdios que mudaram para sempre os tipos de conteúdos da Disney com êxitos como “Toy Story” ou “À Procura de Nemo” não têm só formatos de longa duração. Aliás, desde “Vida De Insecto”, o segundo filme da Pixar (lançado em 1998), que praticamente todas as estreias em sala são antecedidas por uma curta metragem. Mas nem são as únicas, já que a empresa usa este modelo de menor duração para testar tecnologia e fazer experiências cinematográficas. A maioria não tem diálogos e pode ser percebida por miúdos de todas as idades. Existe um canal oficial com algumas pérolas, mas de maneira geral encontra todas no Youtube.

Tumble Leaf

Amazon

Exceção feita à “Rua Sésamo”, é a série desta lista que mais vezes foi premiada com Emmy ou galardões da International Animated Association. É um original da Amazon que estreou originalmente em 2014, numa criação do animador Drew Hodges (com experiência na série de sketches “Saturday Night Live” e na sitcom “Community”). Usando a técnica de stop motion, ensina miúdos em idade pré-escolar noções básicas de ciência, recorrendo a exemplos relacionáveis. O cicerone é a raposa azul Fig, ajudada pela lagarta Stick e pelos outros residentes da ilha de Tumble Leaf.

“Os Daltons”

RTP Play

Ah, a nostalgia dos pais ajuda sempre para recomendar uma série aos miúdos que só querem ver os “Superwings”, certo? Arqui-inimigos históricos do cowboy Lucky Luke, os quatro irmãos Dalton sempre foram, aqui entre nós, a parte mais interessante dos livros de banda desenhada. Sempre organizados por altura inversamente proporcional ao seu QI, são protagonistas da sua própria série de animação desde 2010. Os falhanços continuam a ser épicos e o sentido de humor muito particular.

“Animais Quase Despidos”

RTP Play

Numa altura em que não podemos sair de casa, “Animais Quase Despidos” tem logo uma grande mais valia: leva-nos até um resort tropical, chamado Banana Cabana. É uma série sobretudo divertida e descomplexada, sobre um grupo de animais liderados pelo cão Howie que basicamente faz a vida negra aos hóspedes de um hotel. Já que este ano as viagens de finalistas foram canceladas, ficamos com este substituto.

“Nós, Os Ursos”

Cartoon Network

Não, os ursos não são os que vão passear para o paredão à pinha durante o isolamento. São três irmãos ursos adotivos: um Pardo, um Panda e um Polar. “We Bare Bears” (título original) é baseada numa webcomic premiada e de um ex-guionista de “Hora De Aventuras” (ver ponto abaixo), relata a tentativa deste trio viver entre humanos e apreender os seus hábitos e rotinas, nem sempre com sucesso. Enfim, uma metáfora jeitosa para quando nos voltarmos a encontrar todos lá fora e já não soubermos bem como fazer coisas sem ser em pijama.

“Hora De Aventuras”

Cartoon Network

É um daqueles casos de desenhos animados para um público assumidamente infantil (são um original da Cartoon Network de 2010) que acabam por se tornar um sucesso entre os mais velhos. Se encontrar um tipo de 32 anos com uma t-shirt de Finn (o humano) e Jake (o cão), não estranhe. O ponto de partida talvez seja deprimente qb nesta altura, já que Finn é a última pessoa no mundo, depois do fim da Grande Guerra dos Cogumelos. O resto são princesas, reis e vampiros num futuro pós-apocalíptico mas muito fofuxo.

“Snoopy No Espaço”

Apple TV+

Começo pelo ponto menos positivo: na plataforma da Apple em Portugal, esta série só está disponível dobrada em português do Brasil (ou legendada em português europeu na versão original). Se um Charlie Brown carioca não for um problema, pode seguir viagem até ao espaço sideral.  Tudo começa com uma visita de estudo dos Peanuts à sede da NASA que descamba, obviamente, com Snoopy e Woodstock a tornarem-se astronautas. Tem todo o charme dos Peanuts vintage, mas é uma série fresquinha estreada em Novembro de 2019.

“New Looney Tunes”

HBO

Em 2015, a Warner Brothers voltou aos seus personagens clássicos. Bugs Bunny, Daffy Duck, Coiote ou Piu Piu continuam por lá, com um traço ligeiramente diferente.  O sentido de humor também está no seu pleno, com uma lógica contemporânea mas mesmo assim a saber a carcaça com Tulicreme. Estreou chamando-se “Wabbit: A Looney Tunes Production”, mas depressa perceberam que o nome devia apelar mais ao desenhos animados de sempre e à segunda temporada alteraram a designação.

“Powerpuff Girls”

HBO

Outro clássico que continua a ser exibido, as Powerpuff Girls são um trio de irmãs super-heroínas criadas em laboratório. Blossom, Bubbles e Buttercup são tão queridas como brutas, num exemplo de girl power que tem envelhecido impecavelmente. As três têm de ajudar a cidade de Townsville e o seu presidente de câmara a lidar com uma trupe de vilões, que são geralmente o ponto forte da série. Como se não bastasse, ainda têm de gerir os problemas mais corriqueiros da sua infância, como o fazer xixi na cama ou ter medo do escuro.

“Dorothy E O Feiticeiro de Oz”

HBO

O filme de 1939 ainda mexe e chega agora às novas gerações. Estreada em 2017 e quase a chegar à terceira temporada, é baseada nos livros de L. Frank Baum (no que deu origem ao êxito de cinema e nos restantes). Nesta versão, Dorothy é nomeada Princesa da Cidade Esmeralda depois da derrota da Bruxa Malvada do Oeste. Porém, o perigo continua à espreita e a menina tem de contar com a ajuda da parelha clássica: o Leão, o Espantalho e o Homem de Lata.

“Pergunta aos StoryBots”

Netflix

Outra série amplamente premiada, sobretudo pelo seu lado didáctico. Baseada em personagens originalmente presentes num site educacional, é um exclusivo Netflix. Os StoryBots são um quinteto corajoso (Beep, Bing, Bang, Boop e Bo) que vive escondido num mundo para lá dos nossos ecrãs. Em cada episódio arriscam vir até ao mundo dos humanos pada responder a questões como “porque é o céu azul?”, “porque é que a noite acontece?”, “quantos tipos de animais existem?” ou a pergunta fundamental “de onde vêm as batatas fritas?”. Na versão original há vozes de algumas celebridades, como Jay Leno, John Legend ou Whoopy Goldberg. E acaba sempre com uma canção bem orelhuda.

“Era Uma Vez… A Vida”

Netflix

Numa altura em que muitos pais se debatem com como explicar o Covid-19 aos miúdos, a resposta pode estar nuns desenhos animados que já lá estavam na nossa infância. Criada em França em 1987, “Era Uma Vez… A Vida” debruça-se em cada episódio num órgão ou sistema diferente dentro do corpo humano – do sistema circulatório ao imunitário, passando pelo processo da digestão.  Existem igualmente as versões “Era Uma Vez…O Espaço” ou “Era Uma Vez… O Homem” (uma perspetiva mais histórica). Há vídeos no Youtube, mas encontra tudo direitinho no Netflix.