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57 toques na bola, um penálti falhado e muitas lágrimas (de tristeza e alegria): o jogo de Ronaldo frente à Eslovénia visto à lupa

Ronaldo continua sem marcar mas Martínez e companheiros dizem que ajuda equipa na mesma. Como? Seguimos CR7 durante 120 minutos e isto foi o que vimos: 57 toques e infinitas emoções em Frankfurt.

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As lágrimas correram mundo e tiveram marca na carreira de Cristiano Ronaldo. Quando o capitão português fez aquela caminhada solitária até aos balneários do estádio Al Thumama, em Doha, depois da eliminação do Mundial-2022 às mãos de Marrocos, muitos acharam que a lenda de CR7 pela Seleção tinha tido um ponto final. Um triste ponto final. Saiu Fernando Santos, entrou Roberto Martínez, Ronaldo continuou e até foi reforçando o estatuto de indiscutível que parecia estar a perder. Não foi preciso dizer uma única palavra para todos sabermos que o objetivo era só um: estar no Campeonato da Europa.

Mas em que condições? E com que papel? Afinal de contas, depois do Mundial-2022, Ronaldo seguiu para a Arábia Saudita, num quase exílio futebolístico. Jogou, jogou e jogou. Marcou, marcou e marcou. Foi mesmo o melhor marcador do ano civil de 2023 à frente de Mbappé, Haaland ou Harry Kane mas mesmo assim restaram dúvidas. Estava Ronaldo pronto para assumir a titularidade e a liderança de sempre aos 39 anos num Europeu? Martínez não tinha dúvidas: “Ele está preparado para ajudar a equipa e dar tudo o que pode dar. Não há outro jogador no futebol mundial pode dar ao balneário o que o Cristiano pode”, disse o selecionador nacional a 7 de junho, seis dias antes de partir para a Alemanha.

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Também antes de partir, no dia 11 de junho, Ronaldo afastava o holofote e lançava a passadeira para um papel mais solidário com a equipa: “Quero ser um jogador que ajuda os outros, alguém que eles possam admirar, ver como um modelo e ser um bom profissional”. Foi precisamente na partilha de protagonismo que Ronaldo teve o único momento de maior destaque deste Euro, ao assistir Bruno Fernandes, na cara do golo, frente à Turquia. E perante esse momento, e apesar de ter saído a zeros, Martínez fez questão de lembrar várias vezes a importância que CR7 tem no jogo da equipa, mesmo sem marcar.

Mas que importância tem mesmo Ronaldo quando o golo não chega, como aconteceu mais uma vez? O Observador esteve de olhos postos no capitão durante todos os 120 minutos (e penáltis) do Portugal-Eslovénia e apontou tudo – ou quase tudo – o que havia a apontar sobre o número 7. Eis o jogo de Cristiano Ronaldo à lupa, nestes oitavos de final do Euro-2024, antes do duelo com a França.

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Ronaldo esteve sempre mais crítico de si do que dos colegas

Anadolu via Getty Images

A emoção nos olhos de um vagabundo (a princípio)

No primeiro jogo do Mundial-2022, Ronaldo não resistiu à emoção de estar a jogar – quem sabe – o último Campeonato do Mundo da carreira e chorou enquanto se ouvia A Portuguesa. Hoje não chorou – no hino –, mas esteve quase. O capitão português ficou de olhos vermelhos, a acusar a possibilidade de ser hoje o seu último jogo num Europeu. Não foi, mas a emoção estava lá. Tanto que, ainda antes do também emotivo minuto de silêncio em memória de Manuel Fernandes, Ronaldo foi ao banco lavar as mãos e a cara com a água de uma garrafa. Depois pegou na bola, beijou-a, pô-la no relvado e assim que Bruno Fernandes deu o pontapé de saída arrancou a toda a velocidade para o meio-campo contrário. Ninguém nunca imaginaria o que viria a seguir em mais de 130 minutos de jogo.

A emoção de Ronaldo no momento do hino

Mas olhemos para os primeiros. CR7 foi uma espécie de vagabundo até aos 10′. Nos primeiros cinco minutos foi caindo para a ala esquerda. Dos cinco aos dez, foi caindo mais para a direita, sem nunca a jogar como pivô, nunca fixo no meio. Mas também nunca atacou muito os espaços, tanto que, ao minuto 20, Roberto Martínez aproveitou uma bola morta para falar com Ronaldo: pelos gestos, pedia que atacasse mais a profundidade, que tentasse rasgar mais a linha defensiva. Cristiano acenou com a cabeça e levantou o polegar. Só que as corridas que foi fazendo foram sempre “falsas”. O capitão nunca atacou verdadeiramente o espaço – a defesa da Eslovénia também não deixava –, mas tentou várias vezes um primeiro sprint, para depois travar, deixar os defesas seguir e receber mais atrás. Apostou várias vezes nessa estratégia – correr a fundo e mudar de direção – o que o deixou por três vezes livre de marcação para cabecear, mas aí faltaram sempre meia dúzia de centímetros para ser feliz. Só aos 30 minutos Ronaldo tocou de cabeça na bola pela primeira vez.

As várias tentativas foram frustrando o capitão. Ao minuto 35, depois de vários cabeceamentos falhados por pouco, Cristiano tem o primeiro momento de maior frustração. Volta a não tocar de cabeça por pouco e abre os braços a gritar para os céus. Ainda assim, o destinatário da raiva, notava-se, era só um e apenas um: ele mesmo. Com os companheiros, Ronaldo esteve irrepreensível. Ao minuto 21, Nuno Mendes falha um passe que nem ia para ele e o capitão aplaudiu. O mesmo já na segunda parte, quando o relógio começava a apertar. Aplaudiu os colegas aos 74′, aos 81′ gritou mesmo um visível “Bora, vamos lá” com novo aplauso e aos 90′ e 94′ pediu sucessivamente o apoio do público. Isto enquanto foi ouvindo constantemente das bancadas eslovenas cânticos de “Messi, Messi, Messi” sempre que algo não corria bem.

57 toques, cinco remates e dois passes progressivos: os números

A atitude para com os companheiros nos primeiros 90 minutos foi de capitão, mas o desempenho futebolístico foi muito tímido na contribuição para a equipa, trunfo tão aclamado pelo Selecionador. Ronaldo ligou quatro jogadas de ataque, não foi pressionante na linha defensiva, baixou sempre muito tarde e teve apenas uma bola de golo em lance corrido, quase em cima do minuto 90. Nem mesmo as desmarcações que podiam abrir espaços para os companheiros aconteceram, como vimos CR7 fazer várias vezes frente à Turquia. Mas aqui justiça seja feita: os turcos não defendem tão baixo como os eslovenos e aí Ronaldo esteve mais acompanhado, ora por Bruno Fernandes, ora por Bernardo Silva. Diante da Eslovénia, foi um “vagabundo” na frente, muitas vezes sozinho e sempre completamente fechado.

Condições difíceis, que, juntando a uma noite desinspirada e quase de autoflagelação de Ronaldo, levaram a estes números, contabilizados pelo Observador na bancada do Deutsche-Bank Park.

57

Toques dados na bola no total

8

Passes para colegas. Quatro para o lado, dois para a frente, dois para trás, cinco ao primeiro toque

40

Toques dados na bola de pé direito. Deu ainda 14 de pé esquerdo, um de cabeça, um de peito, e um com a coxa direita

6

Receções de bola na ala, tendo recebido só uma vez ao meio e uma vez de costas para a baliza

Os números são números e as conclusões depende de quem as tira. Mas percebe-se que Ronaldo está mais confortável em vir buscar jogo às alas do que no meio. As justificações podem ser várias, como a ânsia de querer bola – que hoje muito se notou – ou a falta de espaço ao meio e de referências que lhe dessem apoio. Para além disto, há destaque negativo para o número de passes progressivos. CR fez um passe para a frente, mas não inventou nenhuma ocasião de golo. Não inventou, mas teve.

5

remates no total em 120 minutos

3

remates enquadrados

1

remate por cima

1

remate ao lado (bem ao lado)

Qual Ronaldo de 2012, foi de livre direto que CR7 tentou quase todos os remates. Um saiu por cima, outro Oblak defendeu por reflexo para a frente, outro ainda foi ao lado, numa escolha incompreensível para um livre quase lateral. Mas a melhor ocasião foi mesmo aquela em cima do minuto 90. Foi a única vez que Ronaldo conseguiu romper a linha defensiva em desmarcação depois de uma bola longa. Aproveitando, lá está, a subida da equipa da Eslovénia, que tentava carregar no final do jogo. Foi mais uma demonstração das dificuldades atuais de Cristiano contra equipas que defendem tão baixo e, principalmente, jogando sozinho, sem apoio na frente.

1

cruzamento, que saiu falhado

2

passes de calcanhar, esses sim, a lançar bem duas jogadas de contra-ataque

1

corte de um lance de potencial contra-ataque esloveno, junto à linha lateral

1

fora-de-jogo

E por falar em emoção, ela esteve para ficar. Os trinta minutos seguintes, seriam dos mais emotivos da carreira de Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro.

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Do inferno ao céu, da ânsia de bater o penálti, ao desespero de ter falhado, terminando no primeiro sorriso no jogo

Anadolu via Getty Images

No prolongamento foi números a zero, emoção ao máximo

Muitos números acima? Não se preocupe, agora são menos. Na primeira parte do prolongamento, Cristiano Ronaldo tocou na bola por duas (!) vezes: no pontapé de saída e no penálti que bateu. Na segunda parte do prolongamento foi mais ou menos o mesmo, tendo disputado apenas uma bola. O estado emocional não ajudou. O capitão tem estado muito ansioso e nota-se que isso abala a sua confiança, algo que não era habitual de ver. Assim que falhou o penálti ao minuto 105, Ronaldo ficou parado, a olhar para o banco de suplentes de Portugal, de olhar fixo.

Nunca mais foi o mesmo até ao apito de final da primeira parte, que soou instantes depois. Aí, Cristiano não aguentou e chorou. Foi confortado, primeiro pelos companheiros de Manchester, Diogo Dalot e Bruno Fernandes, e depois pelos outros companheiros de Manchester (o City), Rúben Dias e Bernardo Silva. Mas Ronaldo não estava lá. A palestra dada por Martínez – tanto ao intervalo do prolongamento, como antes dos penáltis – tiveram um capitão choroso e mais calado e pensativo do que o habitual, que pedia claramente uma saída por todos os motivos. Mas Ronaldo ficou e a nuvem só desapareceu na segunda oportunidade da marca dos 11 metros, aí já no desempate por grandes penalidades. CR atirou para o outro lado de Oblak mas desta vez o esloveno, adivinhando a intenção, não chegou. Mais do que festejar, Ronaldo dirigiu-se à bancada portuguesa, mesmo atrás da baliza e pediu desculpa. O público respondeu num uivo emocionado, de quem sentiu que o seu ídolo não estava bem e não queria aquele mea culpa.

Já longe, no meio-campo, Ronaldo nem começou por vibrar muito com cada defesa do herói Diogo Costa, quase como se ainda tivesse medo que a vitória escapasse e fosse ele o culpado, por antes não ter marcado enquanto havia jogo. Assim que Bernardo Silva marcou o penálti decisivo, o capitão caiu em si e foi como se lhe tivessem tirado uma tonelada das costas. O jogo acabou e já pode descansar, passámos. Mas há muitas conclusões a tirar: Cristiano precisa de fazer as pazes consigo mesmo. Continua a querer provar algo que o melhor jogador português da história e um dos melhores de sempre não precisa de provar. Precisa também de ajuda a derrubar essa muralha e todas as outras que se erguem quando os adversários se apresentam com blocos mais baixos como a Eslovénia. Alguém que lhe crie os espaços por arrastamento ou que receba a bola de arrastamentos dele. E ninguém melhor para o ajudar que o treinador: é preciso refletir se Ronaldo está bem e se — sozinho ou não — é a melhor opção neste tipo de jogos. Aqui o alerta é claramente para Roberto Martínez.

Por hoje, Ronaldo ganhou uma nova vida. Para ele, sim, o Europeu começou agora. 57 toques e infinitas emoções depois.

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