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Rui Oliveira/Observador

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Catarina Martins responde a Rui Rio: "Falam de tudo menos do país que querem"

A líder do BE esteve esta manhã reunida com cuidadores informais e fez exigências para o OE. À tarde, em Braga, embalada pela forte arruada, deixou críticas ao PSD e à dança de nomes ministeriáveis.

Artigo em atualização ao longo do dia 

Catarina Martins esteve esta tarde a liderar uma arruada do Bloco de Esquerda em Braga e contou com dois reforços de peso, que se estrearam na campanha: Marisa Matias e Luís Fazenda. Ao lado da líder e do cabeça-de-lista pelo distrito, José Maria Cardoso, os bloquistas fizeram-se ouvir numa arruada que contou com vários apoiantes onde se privilegiou o contacto popular, à semelhança do que aconteceu na segunda-feira na feira de Espinho.

A nota de grande destaque desta iniciativa acabou por ser a crítica que Catarina Martins deixou em resposta ao PSD e a Rui Rio, que nas últimas semanas já lançou dois nomes para um eventual governo: Joaquim Sarmento para as Finanças e Arlindo Cunha para a Agricultura. Discussões que não interessam ao país, defende a líder do BE. “Nós discutimos propostas para o país porque é isso que conta. O que às vezes acho estranho é que nalguns partidos, e estando tão próximos das eleições, ainda não se percebeu que programa querem. Às vezes fico algo perplexa por estarmos na última semana de campanha e haver partidos que falam de tudo menos do país que querem“, afirmou. A crítica vai diretamente para a caixa de entrada do PSD.

Catarina Martins tem optado por se manter à margem das polémicas que vão marcando o ritmo das campanhas dos restantes partidos. “Nós no BE estamos a apresentar programa e proposta para puxar pelo país”, explicou mais uma vez esta tarde, sublinhando que falar “do que realmente interessa às pessoas” é mais importante do que outras discussões.

Apesar desta postura, a coordenadora do Bloco de Esquerda respondeu ainda a um outro caso lateral à campanha. O presidente da Câmara Municipal do Porto criticou os bloquistas por terem publicado uma fotografia em que se vê Catarina Martins ao lado de menores de idade que usam t-shirts de apoio ao partido com o símbolo universal da canábis — a folha de marijuana. Rui Moreira acusou os BE de ser “esquerda/marijuana”.

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A publicação foi entretanto apagada mas a resposta só se dirigiu ao autarca portuense. “Estou muito preocupada com o facto de estar a mandar famílias para fora das suas casas quando não tem nenhuma outra resposta e era bom que Rui Moreira dissesse às famílias da cidade que precisam de uma casa qual é a resposta que lhes dá. Se calhar entreter-se a falar do Bloco de Esquerda sobre matérias que não têm a ver com a autarquia é uma forma de fugir às autoridades“.

A arruada prosseguiu depois Rua do Souto acima com Marisa Matias a ser quase tão solicitada como Catarina Martins para os beijinhos e abraços da praxe. Já nas eleições europeias, na mesma rua da cidade de Braga, a eurodeputada tinha tido uma das receções mais calorosas da campanha. Não é por acaso que os bloquistas ambicionam eleger dois deputados por este círculo. Uma ambição que deve ser oficializada esta noite no comício.

À boleia do estatuto do cuidador informal, BE já faz exigências para o próximo OE

Catarina Martins pediu mudanças já no próximo OE para aprofundar regulação do estatuto do cuidador informal. RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

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A sala do terceiro andar do número 80 do Largo de São Domingos, no Porto, serviu de localização alternativa para a primeira ação de campanha do Bloco de Esquerda esta terça-feira. A previsão meteorológica apontava para a possibilidade de chuva e a direção bloquista decidiu alterar o local, inicialmente previsto para o Passeio das Virtudes, ao ar livre. Uma alteração que acabou por conferir ao encontro com cuidadores informais um tom mais intimista.

Eram cerca de trinta os cuidadores informais que estavam presentes nesta iniciativa do BE. A ideia da ação era simples: os que quisessem partilhar a sua experiência, apontar falhas na legislação ou indicar possíveis soluções assumiam a palavra perante os restantes. Os relatos eram crus, muitos eram duros. “Tenho dois netos com paralisia cerebral, um com quatro anos e outro com sete. A minha mulher e eu cuidamos deles para que a nossa filha possa trabalhar“, contou Joaquim, que com 73 anos teme pela chegada do momento em que esta solução deixe de ser viável e recaia sobre a filha, que pode vir a ter de deixar de trabalhar para se ocupar dos filhos. Um problema que pode vir a agravar-se se o Estado não reconhecer estes cuidados como trabalho e acabar por prejudicar a sua carreira contributiva.

Bloco de Esquerda esteve reunido com cuidadores informais no centro do Porto. RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

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Uma situação que Conceição Bernardino, de 50 anos, também quis destacar. “Cuido da minha mãe há 16 anos, desde que tenho 34. Deixei o meu trabalho — trabalhava desde os 14 –, era técnica de contabilidade e estudava à noite. Tive de deixar tudo para tomar conta da minha mãe”, contou. A questão das contribuições para efeito de reforma preocupa-a: “Só tenho 18 anos de descontos. Quando a minha mãe já não estiver cá o que é que eu vou fazer? Não tenho medo de trabalhar, mas estou gasta”.

A questão da valorização dos cuidadores informais para efeitos de reforma não ficou resolvida com a criação do estatuto do cuidador informal. Essa foi, aliás, uma das notas de maior destaque deste encontro. Quase todos os cuidadores que tomaram a palavra tocaram neste assunto. “Somos profissionais em casa”, recordou uma das cuidadoras que não se identificou quando assumiu o microfone.

Além da questão do apagão na carreira contributiva, pediu-se mais formação, mais apoio para quem está nesta situação, o reconhecimento do direito ao descanso compensado por um reforço dos cuidados continuados  e uma real efetivação do estatuto. Se não passar do papel de pouco terá servido, como lembrou uma outra cuidadora que não se identificou antes de intervir. “Agradeço o esforço que o BE e os outros partidos fizeram mas este estatuto é uma mão cheia de nada“, atirou.

O estatuto do cuidador informal foi publicado em Diário da República no dia 6 de outubro mas tem vários pontos em que se remetem decisões para legislação posterior, a aprovar no prazo de 120 dias — ou seja, até 6 de janeiro de 2020. O receio dos cuidadores informais é que o próximo Governo não dê prioridade ao assunto e acabe por tornar o estatuto numa coisa “meramente formal”.

José Soeiro (BE) admitiu insuficiências do estatuto do cuidador informal. "Mas é mais uma ferramenta" RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

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José Soeiro, deputado do BE que lidou diretamente com o dossiê, reconheceu validade à maior parte das críticas que ouviu, lembrou que a versão final não é a defendida inicialmente pelo partido mas mostrou-se orgulhoso. “É mais uma ferramenta que temos para continuarmos esta luta“, afirmou.

Já a líder do BE pediu que se passasse das palavras aos atos já no próximo Orçamento do Estado. E identificou três prioridades: “Garantir no OE verbas que já estão no estatuto dos cuidadores informais”; “ir ao código do trabalho proteger todas as pessoas que queiram conciliar trabalho com o cuidado”; e mexer na “Segurança Social para proteger toda a gente que não tem a carreira contributiva”.

Esta parte final da intervenção foi interrompida por uma das cuidadores informais que perguntou a Catarina Martins se pretendiam acabar com os projetos piloto, que muitas vezes não têm continuidade e mantêm os cuidadores informais na mesma situação. “Nós não gostamos de projetos piloto”, respondeu-lhe antes de lembrar que muitas vezes são os mais pobres que recorrem a estas soluções. “Mas a pobreza não é um projeto piloto“, justificou para sublinhar a necessidade de tornar estas mudanças em leis definitivas.

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