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André Ventura sai de Santarém com um mandato para três anos e um resultado de 98,3%
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André Ventura sai de Santarém com um mandato para três anos e um resultado de 98,3%

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

André Ventura sai de Santarém com um mandato para três anos e um resultado de 98,3%

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A limpeza, a profissionalização e o poder que atrai. Como o Chega cresceu e quer fugir da radicalização

Depois de lambidas as feridas internas, Santarém pode marcar nova era no Chega, com partido a esforçar-se por passar imagem de maturidade, competência e credibilidade. Mas o caminho é longo e sinuoso.

“Correu bem, correu bem. Desta vez, acho que não vamos parar aos tesourinhos do Ricardo Araújo Pereira.” O desabafo de um destacado dirigente do Chega enquanto conversava com o Observador sintetiza bem o sinal que o Chega se esforçou por passar nesta sua 5.ª Convenção: dar uma imagem de amadurecimento e provar que o partido está verdadeiramente pronto para governar. Depois de três dias de reunião magna, o Chega fecha a porta do centro de exposições de Santarém com uma roupagem nova, um discurso intencionalmente mais moderado e apostado em despir-se de todas as excentricidades que o caracterizavam até aqui.

Sem intervenções histriónicas, com um tom que raramente superou o limite de decibéis e com subidas ao palco para intervenções de fundo sobre os problemas do país, o Chega esforçou-se coletivamente para provar que está mais temperado, mais limado e mais polido. Não que não tenha tido os seus momentos, como qualquer congresso e qualquer partido têm; não que não tenham existido discursos mais radicais, sobre imigração, sobre segurança ou sobre corrupção, por exemplo. Mas o plano era evitar, propositadamente, repetir os maus exemplos do passado.

O caminho foi longo. Dentro do partido, aliás, há quem tenha esperança que esta convenção seja o primeiro passo para a aceitação do Chega no panorama político nacional. Moderar as ideias está fora de questão, vão repetindo os dirigente do partido. Mas importa garantir que há espaço para a normalização — e houve decisões, nomeadamente a alteração da forma de eleição de delegados, que contribuíram (e muito) para que a imagem do partido saia mais limpa de Santarém.

A surpresa agradou a quem esteve na linha da frente da transformação. Os dirigentes, sabe o Observador, sentiram na pele a mudança e admitem que, apesar de garantirem que se trata de uma evolução natural dos tempos, o silêncio da oposição interna e o afastamento das linhas mais radicais do partido contribuíram para o embrulho.

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A juntar a isso, também o embalo trazido pelas sondagens, a aproximação ao poder e a normalização do partido, agora com uma representação parlamentar mais composta, ajudam a captar ‘novos’ talentos. Com eles, e com a quebra do estigma em relação ao rótulo “Chega”, vão aparecendo quadros mais capazes para enfrentar a nova fase de maturidade. “Muitos deles são descontentes com PSD e CDS que estão a chegar ao partido agora porque notaram essa evolução“, concede um dirigente partidário

A mudança que saiu melhor do que a encomenda

A oposição interna ia fazendo comichão à corrente da liderança, mas, na hora da verdade, ninguém avançou — e há quem argumente que foi por culpa das decisões tomadas nos últimos anos, desde suspensões a expulsões e afastamentos mais ou menos discretos. Seja como for, premeditado ou não, as alterações tiveram um peso relevante no processo de renovação do Chega.

O Conselho Nacional aprovou uma proposta para que o processo que elege as listas de delegados à Convenção deixasse de ser baseado no método de Hondt e passasse a funcionar por maioria. Por outras palavras: cada distrital só levou à reunião magna representantes da lista vencedora — e todas as listas eram afetas a André Ventura.

A decisão até pode ter levado a acusações de falta de democracia interna, mas essas ficaram à porta. Lá dentro, em Santarém, a leitura teve outra tradução: há paz dentro do Chega, o que permite mostrar que o Chega consegue ser mais do que gritaria contra adversários internos e externos. Em contrapartida, houve tempo e serenidade bastante para falar sobre o país e apresentar moções temáticas sem a controvérsia de outros tempos.

Aliás, essa é uma das maiores diferenças em relação a convenções anteriores: as moções que pediam para que se “retirassem os ovários a mulheres” e que se deitasse fora a “fruta podre” do partido foram substituídas pelas propostas para uma rede nacional de água ou até por pedidos para que o partido tenha atenção a um “presente envenenado” chamado lítio.

Os delegados escolhidos a dedo e o apoio das distritais às moções deram um cunho de profissionalização — a única exceção foi mesmo para a moção que pedia um “código de conduta” nas redes sociais, semelhante à Comissão de Ética que desapareceu do partido, e que acabou por ser retirada antes da votação. Tudo o resto passou sem grande contestação.

Na mesma linha, foram travadas as ofensas, os confrontos vocais e as acusações entre pares que faziam parte da tradição nas reuniões magnas do Chega. Ou seja, com a oposição fora, com a filtragem dos delegados que poderiam marcar presença na convenção e com uma preocupação deliberada de moderar o discurso, que Ventura, acima de todos, imprimiu, o Chega vestiu o fato de gala e despiu o fato de macaco.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O poder como fator de seleção natural e o fim da vergonha

Quem viu nascer o Chega conta ao Observador que nem sempre houve opções de escolha. “O partido começou com o que havia, com as pessoas que se foram juntando, sem grande opção de escolha”, nota um elemento do partido. Decidir se alguém tinha ou não qualidades para fazer parte da equipa era irrealista — não havia mais gente e a ambição de fazer crescer um partido de direita conservadora em Portugal era mais forte do que o resto.

Com o crescimento do partido, teve de haver uma “espécie de limpeza” assente em dois patamares: os militantes mais radicais saíram desencantados com a aparente normalização do Chega; e outros foram sendo afastados com o crescimento do partido, de forma “natural” e à medida que a direção do partido ia colmatando “lacunas” com elementos mais qualificados.  É aquilo que um dirigente do Chega descreve como sendo um “processo de evolução”, uma espécie de “profissionalização” do partido, a que se juntou outro fator: a mudança na forma como o Chega começou a ser olhado.

Militantes e dirigentes históricos do partido sempre do estigma e a “vergonha” em se dizerem do Chega — encontrar pessoas disponíveis para dar cara em eleições era uma dificuldades sentidas pelo Chega na sua fase embrionária. Agora, a história é outra: o partido continua a crescer eleição após eleição, as sondagens embalam e o Chega ambiciona governações locais, regionais e nacionais. A visibilidade na Assembleia da República e as perspetivas futuros, permitem ao partido atrair mais gente e com mais qualidade.

Também por isso deixou de existir espaço para todos — sendo que os que não concordam com a linha oficial do partido vão sendo paulatinamente afastado dos centros de decisão. “Não existe oposição interna. O que existe é um conjunto de pessoas que não acompanhou a linha de crescimento do partido e não trabalhou o suficiente para que fosse chamado a participar ativamente”, argumenta Nuno Gabriel, presidente da distrital de Setúbal, ao Observador.

“Quem tem valor e souber respeitar a democracia interna tem direito a crescer”, concorda Rui Afonso, da distrital do Porto. “Começa a aparecer uma cultura partidária. Começamos a perceber a responsabilidade enquanto líderes, por exemplo, de não enlamear o partido em termos mediáticos. E isso é muito importante”, sublinha — isto apesar de ter sido notícia recentemente depois de se ter travado de razões no Parlamento com outro elemento do Chega.

Seja como for, em cima de tudo isto, existe a aposta na formação. O partido está consciente de que os elementos do partido, principalmente entre as bases, têm pouca experiência e que é preciso “melhorar a qualidade dos quadros e dos aspirantes a políticos”.

A importância das estruturas

Os líderes distritais contactados pelo Observador à margem da 5.ª Convenção do Chega foram garantindo que a organização do partido tem possibilitado um crescimento para lá de André Ventura. O líder do partido continua a ser a melhor ferramenta publicitária e o garante do crescimento do partido, mas o insuflar das estruturas e da representação parlamentar permite, precisamente, a captação de novos quadros.

Nuno Gabriel, que lidera a distrital de Setúbal desde julho deste ano, reconhece que André Ventura continua a ser o polo magnético do partido. “Mas isso não seria o suficiente se não tivéssemos implementado estruturas locais que permitisse consolidar esse crescimento”, salvaguarda o dirigente partidário. O líder da distrital do Chega/Setúbal explica, por exemplo, que a “distrital tem feito um trabalho em conjunto com o deputado” eleito pelo distrito, Bruno Nunes, sempre através de “reuniões no Parlamento ou na sede da distrital”, com articulação com “gabinete de apoio ao deputado e aos autarcas”.

Rui Afonso, presidente da distrital do Porto, recorda ao Observador que a evolução do partido na região só foi possível graças a um esforço permanente na atração de quadros e na estabilização da estrutura — basta lembrar os momentos muito conturbados do partido naquela região. Hoje, lembra Afonso, o Chega/Porto é a “segunda maior distrital a nível de militância”, mesmo tendo partido de “uma base mais baixa” em comparação com outras estruturas. “O concelho do Porto é um concelho de direita e já está muito ocupado pelo movimento de Rui Moreira, que é de direita e conservador”, aponta. Mesmo assim, o esforço está a dar frutos, insiste.

Filipe Melo, líder da distrital de Braga, explica que um das vantagens de ter uma estrutura intermédia mais consolidada é a de tornar possível contribuir “para o avanço do partido” de forma sustentável. O mais importante é que as várias estruturas “consigam trabalhar em equipa nos distritos todos e nas ilhas” e não tratar o “partido de forma micro“, como vinha acontecendo até aqui. “As estruturas do partido são peças que fazem andar esta máquina. O que importa é o partido como um todo”, assinala.

E isso explica muita coisa. O Chega das últimas reuniões magnas não é o mesmo que se fez representar V Convenção em Santarém. Está mais coeso, mais virado para fora e menos preocupado com questiúnculas internas. As dores de crescimento continuam a existir, mas o Chega que se viu este fim de semana está longe do Chega de Coimbra, de Évora e de Viseu. Está apostado em passar a imagem que passou a fase da adolescência. Resta saber se o conseguirá convencer os eleitores disso mesmo.

Filipe Melo descreve que as estruturas do partido são “peças que fazem andar esta máquina” e que “todos contam e são importantes”, mas diz também que “André Ventura terá o total apoio do meu distrito sempre que quiser concorrer”.

O tema da oposição, ou da falta dela, começa e acaba sempre no nome de Nuno Afonso, o fundador que anunciou em entrevista ao Observador deixar o partido.

Rui Afonso, o presidente da distrital do Porto, diz que “quem tem valor e souber respeitar a democracia interna tem direito a crescer” e destaca que no Chega “começa a aparecer uma cultura partidária. Começamos a perceber a responsabilidade enquanto líderes, por exemplo, de não enlamear o partido em termos mediáticos e isso é muito importante”, diz enquanto exemplo das estruturas partidárias.

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