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A Associação Plano i, com sede no Porto, acompanha e acolhe pessoas LGBTI vítimas de violência doméstica e de género. Tem consultas de psicologia no Centro Gis e a Casa Arco-Íris , espaço de acolhimento de emergência
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A Associação Plano i, com sede no Porto, acompanha e acolhe pessoas LGBTI vítimas de violência doméstica e de género. Tem consultas de psicologia no Centro Gis e a Casa Arco-Íris , espaço de acolhimento de emergência

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

A Associação Plano i, com sede no Porto, acompanha e acolhe pessoas LGBTI vítimas de violência doméstica e de género. Tem consultas de psicologia no Centro Gis e a Casa Arco-Íris , espaço de acolhimento de emergência

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

A vida depois de insultos e agressões. A casa que acolhe e trata a saúde mental de pessoas LGBTI, vítimas de violência doméstica e de género

A Associação Plano i, no Porto, acolhe e acompanha pessoas LGBTI violentadas, destruídas, deprimidas, que chegam destroçadas e querem recuperar o respeito e a confiança.

É um homem trans bastante reservado que se senta num sofá para esta conversa. Nas poucas palavras que junta para contar a sua história, nos vários silêncios que faz nos intervalos das frases, percebe-se a timidez carregada de dor, de sofrimento. Foi expulso de casa pelo pai e pela mãe. Atiravam-lhe objetos sem aviso para ver se lhe acertavam. Por vezes, batiam-lhe. Dentro de casa. Da sua casa. “Tudo o que eu fazia era motivo para me magoarem psicológica e fisicamente.” Desde quando? “Desde os seis anos de idade”, responde. Agora está na Casa Arco-Íris, estrutura de acolhimento de emergência para pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexo) vítimas de violência doméstica e de género da Associação Plano i, entidade não governamental com estatuto de IPSS, fundada por cinco mulheres em 2015, com sede no Porto.

A conversa continua, a custo. Depois de ser expulso, foi à polícia que tratou de fazer contactos, acionar respostas. “Não podia voltar para casa.” Naquele momento, a preocupação era fugir de tudo, não ficar na rua, sozinho, sem tecto. São anos de luta de um rapaz trans, que não se identificava com o género feminino que lhe tinha sido atribuído à nascença, a ouvir insultos e ameaças na rua. As agressões físicas aconteciam em casa. Estudava e trabalhava, disfarçando o que era. “Tinha de ter outra postura para que as pessoas me deixassem no meu canto, para não haver problemas.” Era uma questão de se proteger, o seu instinto de sobrevivência a funcionar. “Não devia tentar ser aquilo que não era.”

Na casa que o acolheu, tenta sair do trauma que lhe abafa as palavras. “Cada um conta a sua história na casa, há uma conexão, cada um liga-se numa história diferente.” O apoio psicológico tem sido uma ajuda, sente-se mais seguro. “Tenho-me conhecido melhor, estruturado melhor, sou muito fechado e tenho conhecido umas partes minhas que não conhecia. O apoio da casa deu-me liberdade para ser eu mesmo e confiar em mim”, conta. Na sua vida, ainda tão curta, trabalha a autoimagem, a autoestima, e faz planos. Arranjar um trabalho, ter uma casa, construir uma carreira na área que sempre quis. “Estou a começar do zero.”

Foi expulso de casa pelo pai e pela mãe. É um homem trans. “Tudo o que eu fazia era motivo para me magoarem psicológica e fisicamente", conta

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Esta história, e as que se seguem, não têm nomes porque estas pessoas foram vítimas de violência doméstica e de género e estão num espaço de acolhimento de emergência, na Casa Arco-Íris, a funcionar desde 2018, com capacidade para 10 pessoas de todo o país. Gente que chega sinalizada por várias entidades, desde autoridades policiais, à Linha Nacional de Emergência Social com o número 144. Habitualmente está na sua lotação máxima e, desde a abertura, já recebeu 130 utentes que recebem apoio psicológico, aconselhamento jurídico, suporte social e económico, formação e ajuda na procura de emprego, envolvendo parcerias públicas e privadas que atuam nas várias vertentes da violência doméstica.

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“A maior parte das vezes, as pessoas vêm diretamente de terem apresentado queixa. E uma vítima de violência doméstica que apresenta queixa vem muito desestruturada. Por vezes, chega de madrugada, cansada, esgotada, depois de uma longa viagem. A primeira coisa que tentamos fazer é estabilizar a pessoa, dar-lhe comida, deixá-la descansar, direcioná-la para o quarto”, explica Ana Teles, jurista, coordenadora da Casa Arco-Íris. A prioridade é acalmar quem chega, depois analisar toda a informação disponível para não repetir perguntas naquele primeiro momento de vulnerabilidade extrema. Segue-se a definição de um plano de intervenção individual.

A Casa Arco-Íris foi o primeiro espaço de acolhimento de emergência LGBTI do país. A funcionar desde 2018, já recebeu 130 pessoas, cerca de 46% vítimas de violência psicológica, 30% violência física, 14% violência social, 4% violência sexual. Os companheiros, os pais, os irmãos são os principais agressores. 

Na Casa Arco-Íris, há todo um trabalho de reeducação para fazer 24 horas por dia e uma equipa composta por uma psicóloga, duas juristas, um educador de paz, três monitores. “Estas pessoas estão habituadas, desde a infância, a serem recriminadas, observadas, a não serem aquilo que querem ser, foram sempre obrigadas a ser aquilo que o pai, a mãe, a avó, o avô, o primo e o tio quiseram, aquilo que toda a gente quis. Há sempre a expetativa do que é esperado daquela pessoa que nasceu com determinado sexo e que tem de agir em conformidade”, sustenta Ana Teles. “Então estas pessoas desenvolvem, ao longo de toda uma vida de repressão, algumas patologias de doença mental, têm muita dificuldade em lidarem consigo.”

“Estava destruída”. E deixou tudo: a casa, o trabalho, o país

É uma mulher trans, na casa dos 30 anos, foi insultada e agredida verbal e fisicamente pelo ex-companheiro, está na Casa Arco-Íris, e partilha a sua história. “Foi o primeiro homem com quem morei após a transição e tornei-me psicologicamente dependente dele.” Ele não queria trabalhar, exigia-lhe dinheiro, consumia drogas, queria ser dono e senhor da sua vida. Fazia-a sentir menor, como se por ser trans, não merecesse ser feliz e fosse obrigada a fazer-lhe todas as vontades. “Passávamos muitas dificuldades financeiras, ele começou a ameaçar-me, a partir para a agressão física, pegava numa faca, apontava para mim, e dizia que me ia bater, que me ia matar”, lembra.

Estava de rastos, deprimida, cansada, num choro interminável, com problemas no trabalho. “Na primeira vez, perdoei. À segunda, resolvi dar uma chance. Na terceira, não aceitei mais. Ele pegou numa faca e disse que me ia matar, que para ele não fazia qualquer diferença, que estava comigo porque não tinha para onde ir.” Ela mudou de casa, ele descobriu a morada. “Começou a perseguir-me, a ameaçar-me no trabalho que me ia matar, fiquei com muito medo. Abandonei a casa, o trabalho, deixei tudo para trás.” Fez as malas, mudou de país, partiu para outro continente. Pediu guarida a um amigo, não correu bem, meteu-a num autocarro com bilhete para Portugal. Quando chegou pediu ajuda numa junta de freguesia, disse que não tinha para onde ir, onde ficar. Ali ajudaram-na, telefonemas atrás de telefonemas, não a deixaram sozinha.

Mulher trans, agredida física e emocionalmente pelo ex-companheiro. "Abandonei a casa, o trabalho, deixei tudo." Está na Casa Arco-Íris, tem consultas de psicologia, já tem um trabalho

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

“Estava destruída.” Foram seis meses de inferno, a pensar que não era nada, a sentir que não era ninguém, que quer colocar atrás das costas, ultrapassar de cabeça erguida. Está na Casa Arco-Íris há pouco tempo. “Tenho tido um apoio sensacional, acompanhamento psicológico, acompanhamento com endocrinologista, para começar a terapia hormonal de novo.” Nunca teve apoio deste tipo, agradece-o todos os dias. Tem um trabalho e confiança no que quer. “Cheguei destruída e agora consigo lidar de uma forma mais fácil com tudo o que se passou. Aqui trazem-nos essa lucidez, essa segurança, de que merecemos ter uma vida. Sou um ser humano, tenho capacidade, tenho presença, tenho inteligência.” É um caminho, é um processo para voltar a respirar e sentir-se forte outra vez. “Sinto-me mais confortável, mais segura, a terapia é um remédio para a nossa alma”, garante.

“Temos muito trabalho para desconstruir o estigma que as pessoas trans têm em relação a elas próprias: olham-se ao espelho e não gostam daquilo que veem e deprimem frequentemente. É um trabalho diário de empoderamento, de autoconfiança, para que consigam ser elas próprias”, sublinha Ana Teles, coordenadora da Casa Arco-Íris. 

A Casa Arco-Íris foi o primeiro espaço de acolhimento de emergência LGBTI do país. Um projeto inovador, financiado por fundos comunitários pelo programa Pessoas do Portugal 2030. Cerca de metade das pessoas acolhidas até agora tem entre 18 e 29 anos, seguindo-se a faixa etária dos 40 aos 49 anos com perto de 29% (até ao momento, a mais nova tinha 18 anos, a mais velha 75). À volta de 46% sofreram violência psicológica, 30% violência física, 14% violência social, 4% violência sexual. Os companheiros, os pais e os irmãos são os agressores. As vítimas chegam sobretudo do Porto e de Lisboa. O tempo máximo de acolhimento são nove meses, renováveis por períodos de três meses com parecer favorável da CIG – Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género. Se depois disso, a pessoa não estiver autónoma, o caso é encaminhado para casas-abrigo de homens ou de mulheres.

As consultas de psicologia são feitas no Centro Gis, estrutura de atendimento a pessoas LGBTI vítimas de violência doméstica e de género da Associação Plano i, que funciona num espaço cedido pela Câmara de Matosinhos. Não só dá apoio aos moradores da Casa Arco-Íris, como a pessoas de todo o país que precisam dessa ajuda de forma gratuita e tem uma linha telefónica (966090117) disponível 24 horas por dia. Desde janeiro de 2017, quando abriu, atendeu 1067 utentes, o mais novo com 16 anos, o mais velho com 60. Neste momento, tem cerca de 80 casos ativos. Centro Gis é um nome escolhido em memória de Gisberta, mulher trans encontrada morta no fundo de um poço em 2006, agredida durante vários dias por 14 menores.

As consultas de psicologia são feitas no Centro Gis, espaço cedido pela Câmara de Matosinhos. A equipa composta por três psicólogas, uma psiquiatra, um endocrinologista, uma jurista, trabalha a ansiedade e as perturbações associadas aos impactos da violência. Desde janeiro de 2017, atendeu 1067 pessoas LGBTI. 

No Centro Gis, é feito um trabalho de psicoeducação por uma equipa composta por três psicólogas, uma psiquiatra, um endocrinologista, uma jurista. Lídia Araújo é uma das psicólogas. “Muitas vezes, as pessoas não têm sequer noção de que estão a ser vítimas e essa parte inicial é fundamental para conseguir trabalhar o que vem a seguir. Trabalhar a ansiedade e as perturbações que estão associadas ao impacto da violência. Quando há noção de que são vítimas, o impacto é gigante em termos de ansiedade, em termos de depressão, e todas estas perturbações têm impacto a nível laboral, na gestão financeira, o que faz com que as pessoas cheguem desestruturadas a vários níveis”, revela.

Como este caso, esta história que ainda está a ser digerida. Não consegue perceber muito bem o que aconteceu enquanto tenta processar tamanha volta que a sua vida deu de um momento para o outro. Foi perseguida, insultada, invadida na sua privacidade, ameaçada de morte, através de mensagens de ódio e fotografias que lhe chegavam ao telemóvel sem saber quem era e de onde vinham. “Tiravam-me fotos na rua, no trabalho, enviavam e ameaçavam-me. Bloqueei a primeira tentativa de stalking, não dei abertura.” No entanto, as perseguições não pararam, as mensagens carregadas de ofensas continuaram. Tinha medo. “Estava apavorada, como se tivessem tirado a minha vida de mim.” Ainda não tem 30 anos, é pansexual, pessoa que se sente atraída por outras independentemente do sexo e da identidade de género.

Foi perseguida, insultada, ameaçada de morte, através de mensagens de ódio e fotografias que lhe enviam para o telemóvel. “Estava apavorada, como se tivessem tirado a minha vida de mim", desabafa

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Pediu ajuda, bateu à porta da polícia à procura de proteção, de um botão de pânico se possível, falou com assistentes sociais. Diziam-lhe que esse assunto não era das suas competências. Até que uma associação de apoio à vítima lhe falou da casa de acolhimento da Plano i, do apoio psicológico que prestava, e tratou da viagem. Quase nem teve tempo para respirar, sabia que não podia olhar para trás. Deixou a cidade onde vivia, o seu trabalho, a centenas de quilómetros do novo destino. “Quando cheguei à casa, estava muito abalada, a energia muito baixa.” Fragilizada, vulnerável, deprimida. “Não conseguia explicar o que estava a sentir.”

Entretanto, teve consultas de psicologia no Centro Gis que a ajudam a estabilizar. Na casa, trocam-se palavras. “Aprendo muito com as histórias dos outros, a terapia ajuda, a gente vai colocando as coisas nos devidos lugares.” “O que mais me assusta é o facto de perder o controlo da minha vida”, admite. Apesar de tudo, recusa vestir a pele de vítima, quer recuperar a sua vida, há força nesse seu querer. “A comunidade LGBT tem de lidar com a aceitação, eu tenho de voltar para a minha vida, colocam-me no lugar de vítima sem querer estar nesse lugar.”

Mafalda Ferreira, criminóloga, é a coordenadora do Centro Gis que dá preferência ao atendimento presencial, quando não é possível, tenta referenciar para estruturas mais próximas da residência que quem procura apoio para facilitar o acompanhamento, se for impossível, assume o caso. “Temos um critério muito específico que é o nicho do nicho: pessoas LGBTI vítimas de violência doméstica e de género. A maior parte são vítimas de violência doméstica no contexto familiar, desde a expulsão de casa a partir do momento em que há um coming out, quer em situações de orientação sexual ou de identidade de género. A família rejeita esta pessoa e acaba por a expulsar.”

O turbilhão emocional, o estigma, a discriminação

Mais uma história. É uma mulher trans que chegou à Casa Arco-Íris sem chão, sem colo, sem ninguém. Parece que atravessou várias vidas numa só e ainda nem um quarto de século viveu. O passado está cheio de problemas, perdeu a mãe, foi expulsa de casa do pai. “Não tinha sítio para onde ir.” Procurou ajuda cheia de ansiedade, stress elevado. “A experiência na universidade não correu bem, tinha fobia a lidar com pessoas, não conseguia sair de casa, não tinha objetivos e aspirações”, lembra. Passou-lhe tudo pela cabeça, com muitos medos e dúvidas.

O apoio psicológico traz-lhe alguma calma neste turbilhão emocional de tudo o que passou e do que viveu. “Nas consultas, falamos de pontos específicos, de certas situações para percebermos determinadas coisas.” Não gosta de perguntas abertas, prefere conversas com questões fechadas, diretas ao que interessa, sem rodeios. “Quando as coisas estão fora do meu controlo, as técnicas de relaxamento ajudam-me a racionalizar mais as situações”, confessa.

“Viver na casa é como ter um certo suporte que deixei de ter, voltar a ter as coisas básicas. Enquanto aqui estou, tento reestruturar a minha vida.” Ainda há coisas para arrumar dentro de si. Está à procura de trabalho e a lidar com o ansiedade que isso representa. “Gostava de arranjar um emprego, ganhar dinheiro, alugar um quarto para mim, pode ser um T0.” “Aqui disponibilizam os meios para seguirmos em frente e conseguirmos trabalhar para os objetivos que temos”, diz.

Mulher trans, rejeitada pelo pai, está na Casa Arco-Íris há pouco tempo. “Enquanto aqui estou, tento reestruturar a minha vida.” Há muita coisa para arrumar dentro de si

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Na casa, lidam-se com obstáculos, aprendem-se estratégias para os ultrapassar, para enfrentar a discriminação e os preconceitos. “Temos muito trabalho para desconstruir o estigma que as pessoas trans têm em relação a elas próprias: olham-se ao espelho e não gostam daquilo que veem e deprimem frequentemente. É um trabalho diário de empoderamento, de autoconfiança, para que consigam ser elas próprias”, adianta a coordenadora Ana Teles.

A discriminação acontece em vários lugares, não apenas dentro de casa das vítimas. “Temos casos de discriminação no ginásio, no acesso aos balneários, sobretudo no caso de pessoas trans. Por exemplo, uma mulher trans a quem não permitem estar no balneário feminino, obrigando-a a estar no balneário masculino porque não a reconhecem enquanto mulher”, revela Mafalda Ferreira.

Ana Teles, coordenadora da Casa Arco-Íris, Carla Novais, coordenadora do apartamento de autonomização, Mafalda Ferreira, coordenadora do Centro Gis, Lídia Araújo, psicóloga, dão apoio a vítimas LGBTI

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

A psicóloga Lídia Araújo alerta para os olhares, para os comentários, para as agressões quase invisíveis e os seus impactos na saúde mental, no presente e no futuro. “Usamos uma terapia cognitivo-comportamental, mas, de certa forma, todas as estratégias que usamos é com o objetivo de reduzir a ansiedade, reduzir a sintomatologia que estão a sentir”, refere. Por vezes, depois de um caminho feito, tudo volta à mente e ao corpo. “Pode ser um comentário ou uma outra situação similar àquilo que passaram anteriormente para que todas as sintomatologias de ansiedade, de depressão, e os momentos de pânico voltem”, acrescenta a psicóloga. Por isso, é importante reconhecer os gatilhos que acionam certos sentimentos.

A Associação Plano i tem ainda um apartamento de autonomização para três pessoas LGBTI, a funcionar desde 2020. É uma espécie de braço da Casa Arco-Íris, com permanência máxima de 12 meses, e apoio a vários níveis, psicológico, de formação e trabalho, entre outros. Tudo garantido, menos a alimentação. Carla Novais, jurista, é a coordenadora desse apartamento, o Plano 3C – Casa com Cor. “Para saber se a pessoa tem condições para dar este passo, pedimos um parecer da equipa de psicólogas do Gis. Por vezes, é a mesma coisa que um passarinho na gaiola, de repente abrimos a gaiola, ele voa, e pode não voar na direção correta”, comenta.

A mulher trans que deixou o seu país, e a família a milhares e milhares de quilómetros,  recuperou a autoestima, sente-se mais capaz. “Na nossa cabeça, a gente quer viver com respeito, viver a igualdade, o básico da vida.” Quer ter uma vida normal, ser quem é, ser independente. “É como se estivesse renascendo, recomeçar a minha vida de novo com um novo trabalho e uma nova forma de lidar com as coisas.” “É como uma escadinha, cada dia é um passo”, remata. Dia após dia, respira melhor.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

Uma parceria com:

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