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Um milhão e meio de pessoas assistiram este domingo à Missa de Envio, no Campo da Graça, em Lisboa
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Um milhão e meio de pessoas assistiram este domingo à Missa de Envio, no Campo da Graça, em Lisboa

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Um milhão e meio de pessoas assistiram este domingo à Missa de Envio, no Campo da Graça, em Lisboa

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

"Agora a minha vida faz sentido. Vi Jesus Cristo aqui”. O balanço de 9 peregrinos no fim da JMJ de Lisboa

Na hora do adeus, 9 peregrinos contam o que levam de Lisboa e como a JMJ lhes mudou a vida. De volta a casa Mele vai deixar de beber e Laura quer abraçar os pais. Amedeo e Jose só precisam de um banho

“Dormi pouco.” O padre José Conde admite logo à partida que esta Missa de Envio tem o desafio adicional de ser celebrada com poucas horas de sono, depois da Vigília da noite de sábado. Na terceira fila a contar do palco, este sacerdote basco prepara-se para a cerimónia que vai encerrar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa, ajeitando a casula branca de três riscas — verde, dourada e vermelha.

A dois passos dele, outros sacerdotes começam a abrir uns caixotes de plástico azul, onde estão os cálices e as píxides que vão ser usados para guardar o vinho e as hóstias da comunhão. Das colunas sai música — já não tão animada como a que o Padre Guilherme Peixoto, conhecido Padre DJ, passou pouco antes —, e os vários sacerdotes que se sentam naquele lado esquerdo do palco vão vestindo os paramentos e tirando selfies. Para a maioria, será a primeira vez que vão ver tão de perto o Papa Francisco.

Muitos sacerdotes participaram nesta Missa de Envio, grande parte como ministros da comunhão

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

É também o caso de José Conde, pároco em Madrid, que se sente particularmente inspirado por este Papa. “Saio daqui fortalecido”, declara. Crê que os discursos e as ações que Francisco teve ao longo desta JMJ vão deixar um legado ainda maior do que o habitual, em particular pelo encontro que teve com vítimas de abuso sexual: “É verdade que é algo que pode trazer dor, mas é necessário porque é um gesto de dignidade”, diz. “É o reconhecimento de erros e uma tentativa de fazer as coisas de outra maneira, para evitar novas situações e trabalhar na justiça restaurativa.”

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A pouco mais de uma hora do início da missa que encerra a JMJ, e apesar dos decibéis debitados pelas colunas de som e dos pedidos para que os peregrinos arrumem as camas improvisadas, para abrir espaço para os que dormiram fora e continuam a chegar, ainda há quem consiga dormir profundamente.

A noite, explica Maria Fernanda, peregrina e voluntária da província mexicana do Yucatán, foi tranquila mas curta: às 3h da madrugada o frio vindo do lado do rio fez-se sentir especialmente, às 5h todos os sacerdotes a dormir no setor onde estava começaram a acordar e teve de se levantar também.

Foi o melhor que fez: pouco antes das 8h, nas zonas mais próximas do palco, as filas para as casas de banho femininas já demoravam praticamente uma hora — “E não havia papel”, queixou-se ao Observador uma peregrina portuguesa, a caminho do pequeno-almoço.

Muitos peregrinos dormiram no chão e esperaram mais de uma hora para ir à casa-de-banho

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

Apesar de vários voluntários terem percorrido o recinto a distribuir sanduíches, muitos peregrinos preferiram trazer o seu próprio farnel. E também aí ficou à vista a diversidade cultural do milhão e meio de pessoas que se juntaram entre este sábado e domingo no Campo da Graça. De leite a latas de atum, passando por restos de frango assado e “pan con tomate y jamon”, houve de tudo um pouco nesta manhã, antes de o Papa Francisco regressar ao recinto, para dar uma volta completa e saudar os peregrinos, antes de finalmente se instalar no altar palco, onde pediu aos jovens que “não tenham medo” e fez o anúncio (esperado) de que a próxima Jornada Mundial da Juventude vai ser em 2027, na Coreia do Sul.

No balanço final, as opiniões dos peregrinos são unânimes: a JMJ é uma experiência para recordar. Embora a primeira coisa que muitos vão fazer quando chegarem a casa seja “tomar um banho”, a maioria leva consigo a experiência de contacto com outras culturas e vai de fé renovada — e espera aplicar isso no dia-a-dia. Precisamente como lhes aconselhou o Papa Francisco, que na homilia pediu aos peregrinos que no regresso “ao vale da vida quotidiana” levem consigo os verbos “resplandecer, ouvir, não temer”.

Com essas palavras ainda em mente, os peregrinos de todo o mundo (desde Portugal a Tonga, passando pela próxima anfitriã Coreia do Sul) ouvidos pelo Observador contam como a Jornada tem o potencial para mudar as suas vidas. E às memórias da espiritualidade e do convívio mundano junta-se uma outra, para ser contada a filhos e netos: “Eu vi o Papa!”

Wilmer Villazar, Cúcuta (Colômbia), 32 anos

O padre Wilmer só foi ordenado há três anos e nunca tinha ido a uma Jornada da Juventude. Mas eis que não só se estreou em Lisboa, como foi um dos escolhidos para distribuir a comunhão durante a Missa de Envio, no Campo da Graça, este domingo.

“Estou contentíssimo, é uma alegria imensa fazer isto num país como Portugal. A cultura é totalmente diferente da que estamos habituados na América, dizem que nós somos mais alegres, mas trazemos essa alegria para a partilhar convosco”, diz o colombiano, enquanto começa a retirar as píxides que vão ser usadas para distribuir as hóstias na comunhão.

Sobre esta Jornada, o balanço de Wilmer é a de que a presença do Papa Francisco foi essencial: “Ele tem falado muito para os jovens e isso é ótimo para avivar a chama deles.” O que ele lhes deixou, diz, foi uma mensagem de esperança, de motivação, de fortalecimento da fé”.

“A primeira coisa que quero fazer [quando regressar] é puxar pelos jovens, espremer tudo deles. Mas não só dos jovens, também quero puxar pelas famílias. Por toda a gente.”
Wilmer Villazar, padre da Colômbia

Quando regressar a casa, na sua paróquia de Cúcuta, perto da fronteira com a Venezuela, o jovem padre Wilmer quer voltar logo ao trabalho. “A primeira coisa que quero fazer é puxar pelos jovens, espremer tudo deles. Mas não só dos jovens, também quero puxar pelas famílias. Por toda a gente.”

Amedeo Zaniboni, San Teodoro (Itália), 16 anos

Parte de um grupo de 96 peregrinos, até teve uma experiência privilegiada na Jornada Mundial da Juventude — Giuseppe, um dos responsáveis, tem um cunhado que faz parte do Corpo da Gendarmaria da Cidade do Vaticano, portanto na passada sexta-feira, quando chegaram ao Parque Eduardo VII, para assistir à Via-Sacra, todos tiveram direito a um lugar em frente ao palco, com vista direta para o Papa Francisco.

Ainda assim, Amedeo diz que está pronto para regressar a Itália, até porque a claustrofobia suave de que sofre torna mais difícil a convivência com um milhão e meio de pessoas, como as que estiveram este fim de semana no Campo da Graça.

Pope Francis (2-R) celebrates the Holy Mass on the last day of World Youth Day (WYD) at Parque Tejo in Lisbon, Portugal, 06 August 2023. The Pontiff will be in Portugal on the occasion of World Youth Day (WYD), one of the main events of the Church that gathers the Pope with youngsters from around the world. MIGUEL A. LOPES/LUSA/POOL

O Papa Francisco usou a homilia da Missa de Envio para pedir aos jovens "Não tenham medo"

MIGUEL A. LOPES/LUSA

De Lisboa, diz, leva “ainda mais amor ao próximo”. “Há muita gente de todo o mundo, é lindo. Estar em contacto com tantas pessoas e realidades diferentes faz-te abrir horizontes”, explica em italiano, que o inglês que arranha não chega para mais. Num lugar especial do coração, acrescenta, leva Elio, o rapaz espanhol que conheceu durante a noite da Vigília no Parque Tejo e com quem passou horas à conversa. “Falámos das pessoas, do Papa Francisco, e do maravilhoso que é estarmos aqui todos juntos por um único motivo: a fé”.

A primeira coisa que vai fazer quando regressar a casa é tomar um duche quente. “Estamos aqui há sete dias e só voltamos depois de amanhã, portanto não tomo banho quente desde então, aqui só há água fria.”

Kayla Fourie, Cidade do Cabo (África do Sul), 22 anos

Veio com o irmão, um ano mais velho, que está algures no recinto quando a encontramos, numa das intermináveis filas para a casa de banho.

Acabada de acordar, já fora da tenda que trouxe para o Parque Tejo, Kayla explica que veio à JMJ, a sua primeira, “para fazer parte de algo maior, encontrar Deus e ver o impacto que ele tem nas vidas das pessoas”. E também para voltar à vida dita normal, como era antes da pandemia: “Depois da Covid a vida nunca mais foi a mesma, as pessoas estão mais solitárias, aqui estamos todos juntos, como antes.”

Em Lisboa desde o início da semana passada e com viagem de regresso marcada já para esta segunda-feira, diz que poder fazer parte da JMJ foi “uma grande bênção”. “Nenhuma imagem faz justiça a este encontro, é impossível explicar, é preciso passar por isto para perceber. É incrível ver tantas pessoas tocadas pelo amor de Deus”.

Alojada num hostel com o irmão, e não em instalações de acolhimento de peregrinos, garante que a experiência foi leve e que não lhe faltou nada durante os dias em Portugal — “Fazia tudo outra vez, não estou nada cansada”. No regresso à Cidade do Cabo diz que só quer abraçar os pais.

Marta Henriques, Marrazes (Portugal), 46 anos

A portuguesa Marta, o marido e os filhos viveram esta JMJ em pleno. Primeiro, participaram nas atividades da diocese Leiria-Fátima, perto de casa. Depois acolheram duas peregrinas das Filipinas. E, na noite de sábado, vieram para o Campo da Graça para a Vigília.

“Quando éramos mais novos tínhamos ido às Jornadas de Roma, em 2000, e Colónia (2005). Agora queríamos muito trazê-los para que eles também vivessem isto”, conta Marta, apontando para os dois filhos de 14 e 10 anos. Estes só conheceram Francisco como Papa, mas os pais ainda viram João Paulo II e Bento XVI ao vivo. “Mas hoje vi o Papa Francisco mesmo muito perto, passou mesmo aqui à nossa beira”, conta, apontando para as baias que ladeiam parte do recinto.

A conversa é interrompida por um “Hello!” dito alto e a bom som. Um peregrino polaco aproximou-se para fazer uma sugestão ao filho de Marta: a de que trocassem as bandeiras, uma tradição informal das JMJ entre os peregrinos de todo o mundo. Troca efetuada, perante o olhar babado dos pais, Marta apressa-se a notar como esta é uma das experiências que queria que os filhos tivessem: “Estas diferenças culturais são muito interessantes, tanto para nós como para eles.”

A convivência com outras culturas e o respeito pela diferença foi um dos ensinamentos mais destacados pelos peregrinos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

E a família bem as sentiu durante a semana, quando estiveram a acolher as duas peregrinas filipinas. “O que querem para o pequeno-almoço?”, perguntaram às jovens. “Arroz”, responderam elas. Marta ficou surpreendida, mas dirigiu-se de imediato para o fogão: “Se querem arroz, assim seja, não há problema!”

A primeira coisa a fazer após a Jornada para esta família de Leiria é “almoçar em Lisboa”. “Sem pressas, para saborear tudo”. Depois, no regresso à vida normal, esperam que a JMJ tenha outros reflexos na sua vida, com Marta já a detetar alguns: “Durante as atividades na diocese, por exemplo, encontrei pessoas do meu trabalho que nem sabia que eram próximas da Igreja. Talvez agora possamos aprofundar a nossa ligação. Quem sabe?”.

José Jilaverde, Valência (Espanha), 57 anos

O catequista José enrola o grande cartaz onde está escrito, em letras de várias cores, ‘Camiñamos con Maria’. O grupo da sua paróquia, San Jose de Torrent, trouxe-o durante toda a peregrinação que fizeram de Valência até Lisboa, passando por vários santuários marianos (incluindo Fátima), mas agora que a Missa de Envio já terminou, é hora de o guardar.

José ainda não consegue por em palavras tudo o que experienciou ao longo destes dias. A missa final, porém, tocou-o particularmente. “Emocionou-me muito. Ouvir o Papa ao vivo, quando esta pode ser a última Jornada dele…”, suspira o espanhol. “Até sem falar este Papa expressa muita coisa. Expressa amor, expressa alegria.”

Agora é hora de arrumar o acampamento improvisado onde o grupo de jovens que acompanha passou a última noite. “Os jovens do nosso grupo emocionaram-se também muito, o que é bonito. Às vezes eles estão meio desligados, mas desta vez sei que sentiram isto”, diz o catequista, com orgulho. Sabe que quando partilharem as suas experiências com o resto da paróquia, na Missa de Chegada que os aguarda na segunda-feira à noite, vão ter muito para contar. “Mas primeiro, vou tomar um banho”, conta José, rindo-se.

Os risos misturam-se com as lágrimas deste espanhol alto e encorpado, que não tem vergonha em admitir que está comovido. “Posso dar-te um abraço? É que sou um durão , mas também me emociono muito. E hoje vi o Papa, vi o Papa…”, repete, entre soluços, José.

Mele Fanua, Nucualofa (Tonga), 20 anos

Não foi só a primeira vez que veio a uma Jornada Mundial da Juventude, também foi a primeira vez que pisou o continente europeu, com um grupo de 104 peregrinos vindos do Reino de Tonga, numa viagem que durou quatro dias com paragens na Nova Zelândia e no Dubai. Mais: durante os dias que passou em Lisboa, Mele também acordou de forma inédita ainda de madrugada, todos os dias pelas 6h da madrugada já estava a pé e a rezar.

Estudante universitária, a viver na capital da pequena ilha do Pacífico, parte da Commonwealth, diz que até Lisboa, era uma pessoa “sociável”. Leia-se: “Saía à noite todos os dias”. Da JMJ leva uma “experiência de fé, de cultura e de vida” e uma decisão que, diz, tenciona manter para o resto da vida. “Decidi deixar de beber bebidas alcoólicas e de sair à noite, esse estilo de vida tornava-me preguiçosa e afastava-me da Igreja”, explica.

“Decidi deixar de beber bebidas alcoólicas e de sair à noite, esse estilo de vida tornava-me preguiçosa e afastava-me da Igreja.”
Mele Fanua, estudante do Tonga

Em Lisboa, logo no segundo dia da Jornada, viu o Papa de perto, a passar no papamóvel — “Fiquei tão chocada, que chorei o tempo todo” —; em Fátima, onde também esteve este sábado, para rezar com Francisco na Capelinha das Aparições, inscreveu num papel que depositou numa caixa de ofertório, os pedidos que tem para os três irmãos mais novos e para o resto da família: “Que tenham saúde e que encontrem as suas vocações”.

Antes de regressar a Nucualofa, Mele vai ainda voar para Roma, onde tenciona comprar rosários e souvenirs para levar para a família e para os amigos. “Mal posso esperar por chegar para lhos oferecer e contar todas as experiências que vivi. Vi o Papa!”

Guilherme Freire, São Paulo (Brasil), 25 anos

Já de saída do Campo da Graça, em Lisboa, Guilherme Freire tem pressa para alcançar o grupo com que viajou, desde São Paulo, mas acede em parar um pouco a conversar. A JMJ pode ter acabado, mas a viagem ainda vai a meio: depois de Lisboa, vão seguir para Milão, depois Roma, Nápoles e Medjugorje, no sul da Bósnia, para visitar o santuário que ali foi erigido depois de seis crianças de origem croata terem relatado uma aparição da Virgem Maria, no verão de 1981.

O Guilherme que há-de embarcar no avião rumo a Itália, diz, não é igual ao que aqui chegou há uma semana: “Sou uma pessoa diferente, mais disposto a ajudar os outros nesta caminhada de fé. Foi uma experiência única, abençoada e fora do normal. Sinto-me muito mais parte de algo tão bonito e grande como é a Igreja Católica. Agora percebo melhor o tamanho da missão que temos. É uma coisa que nos ultrapassa, que é maior do que nós. Não sou só eu, em causa está mais do que a minha salvação, está a salvação de milhões de almas como a minha”.

Catequista, responsável por preparar adolescentes para o sacramento do Crisma, diz que está ansioso por regressar à sua paróquia, em São Paulo. “Tenho uma grande vontade de levar um pouco desta água que bebi para casa. Quero dar um abraço a toda a gente que vou encontrar.”

Laura Simone, Pisa (Itália), 18 anos

Laura faz parte de uma delegação italiana de peso. São 440 jovens que viajaram de Pisa para Lisboa, para participarem em todas as atividades da JMJ de Lisboa. Naturalmente, tiveram de se separar em grupos mais pequenos. O de Laura, composto por 40 pessoas, não arranjou espaço na relva para dormir durante a vigília da noite de sábado. Tiveram de se deitar no chão de gravilha, mesmo perto das casas-de-banho portáteis laranja. “Felizmente não havia vento”, comenta a italiana, entre risos. “Por causa do cheiro.”

Mas as gargalhadas rapidamente dão lugar às lágrimas. Quando começa a explicar o que sente no final desta Jornada, Laura não consegue conter-se: “Sinto-me tão, mas tão grata. Agora a minha vida faz sentido. Vi Jesus Cristo aqui.”

A fé renovada é um dos aspetos que muitos peregrinos dizem ter obtido nesta JMJ

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

É por isso que, assim que chegar a casa, esta italiana tem duas prioridades. Primeiro, abraçar os pais. Depois, encontrar-se com os amigos para lhes falar da experiência. “Eles sabem que eu estou em Lisboa, que há milhares de pessoas, e não compreendem bem o que estou aqui a fazer. Agora vão entender”, diz.

Talvez alguns se juntem a ela daqui a dois anos, quando for o Jubileu em Roma. “Vai ser no nosso país! Quando foi a JMJ em Roma eu ainda não era nascida, portanto esta vai ser a minha primeira experiência em casa. E isso vai ser especial.”

Yeonghwa Song, Suwon (Coreia do Sul), 40 anos

De mochila às costas, já a descer os caminhos de terra batida enlameados do Parque Tejo, Yeonghwa — “Esther” para os ocidentais, explica, enquanto escreve o nome próprio num papel — está pouco surpreendida com o anúncio de que a próxima Jornada Mundial da Juventude será no seu próprio país. Está sobretudo feliz — mas também preocupada, muitos sul-coreanos não falam inglês e, se não houver intérpretes suficientes a ajudar, parte da experiência poderá perder-se. “Podemos partilhar os nossos corações, não é um problema, mas se houver intérpretes suficientes a aprendizagem vai poder ser melhor”, explica, panamá verde na cabeça, um pin de Tavira a denunciar uma viagem prévia ao Algarve, para conhecer as praias do sul de Portugal.

“Respeito, paciência, compreensão”. Estes são os três principais ensinamentos que retira da JMJ. “Temos de respeitar-nos uns aos outros. Quantas pessoas diferentes, de sítios do mundo diferentes, e com culturas diferentes, estão aqui? Um milhão? E conseguimos entender-nos uns aos outros, é mesmo uma experiência incrível”, diz, explicando logo a seguir que isso não significa que tenha sido tudo fácil.

“Temos de respeitar-nos uns aos outros. Quantas pessoas diferentes, de sítios do mundo diferentes, e com culturas diferentes, estão aqui? Um milhão? E conseguimos entender-nos uns aos outros, é mesmo uma experiência incrível.”
Yeonghwa Song, peregrina sul-coreana

O que nos leva à parte da “paciência” e da “compreensão”: com credenciais para o setor A 10, bem perto do altar palco, Yeonghwa e o respetivo grupo deram por si sem lugar para estender esteiras e sacos-cama e acabaram por ter de assentar acampamento numa zona de passagem. Quando os peregrinos começaram a espezinhar as camas onde se preparavam para passar a noite, depois da Vigília, ficaram furiosos: “Se vão ter de passar por cima de nós, pelo menos descalcem os sapatos!” Em pouco tempo, diz, perceberam que o caminho não era esse. “Vim aqui para aprender coisas com os outros, não é altura para estar zangada. No Ocidente as pessoas não se descalçam em casa, claro que também não iam tirar os sapatos para passar por nós.”

A escrever um diário sobre a experiência na Jornada, esta sul-coreana diz que a primeira coisa que vai fazer, no regresso, é compor o seu diário de viagem e colar todos os bilhetes, recordações e fotografias que leva de Lisboa — uma delas com a jornalista do Observador. “Vou guardá-lo como um tesouro.”

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