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Ainda não há vencedor nos EUA e a noite eleitoral pode passar a semana eleitoral. O que falta saber?

Falta contar muitos votos nos estados mais decisivos para a eleição, o que significa que ainda não está escolhido o próximo Presidente dos EUA. Que dúvidas ainda há? E em que ponto está a eleição?

Tal como se previa (e temia), ao fim de várias horas de contagem de votos e de projeções nos canais televisivos, continua a incerteza sobre quem vai ser o próximo Presidente dos Estados Unidos. Na manhã desta quarta-feira, os resultados provisórios apontavam para uma vantagem de Joe Biden sobre Donald Trump, com 213 votos no Colégio Eleitoral para o democrata contra 145 para o republicano, mas ainda não existiam resultados nem projeções para os estados que vão verdadeiramente definir a eleição — e eles podem fazer a decisão pender para qualquer um dos lados.

Durante a noite e madrugada, praticamente não houve surpresas. Os meios de comunicação social norte-americanos foram apresentando projeções e resultados provisórios sempre na linha do que é tradicional: muitos dos estados tradicionalmente republicanos que Trump ganhou em 2016 voltaram a surgir a vermelho no mapa; muitos dos estados tradicionalmente democratas que Hillary Clinton venceu há quatro anos voltaram ser azuis.

Conhecidas as projeções para os estados que não surpreenderiam ninguém, as atenções voltaram-se rapidamente para os “swing-states” — aqueles estados que decidem eleições e onde as sondagens costumam dar conta de empates e incertezas até muito perto da hora da decisão.

Um dos mais importantes resultados da noite aconteceu na Flórida, um estado crucial em qualquer eleição norte-americana. Em quase um século, só houve duas eleições presidenciais em que um candidato conseguiu chegar à Casa Branca sem ganhar a Flórida (e em ambas as situações foi um democrata a conseguir a proeza). O resultado na Flórida é, habitualmente, considerado um preditor rigoroso do resultado a nível nacional. E, durante meses, as sondagens deram a Joe Biden uma vantagem inequívoca naquele estado.

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Mas, durante a noite, surgiu a surpresa: Trump ganhou na Flórida e assegurou aqueles importantes 29 lugares no Colégio Eleitoral. Este foi o primeiro indicador que deixou os democratas apreensivos. O cenário de 2016 podia estar a repetir-se e as sondagens podiam estar erradas.

A Flórida era um estado importante para os dois candidatos (que fizeram uma aposta forte no apelo ao eleitorado latino), mas era bem mais importante para Trump do que para Biden. No início da noite, Trump tinha vários cenários e combinações que lhe permitiriam chegar a uma vitória no Colégio Eleitoral — e 91% deles incluíam ganhar na Flórida. Já no caso de Biden, apenas 11% dos cenários de vitória passavam por ganhar a Flórida. Por isso, a primeira reação pública da campanha de Biden não foi dramática: mesmo sem a Flórida, era possível ganhar a eleição.

New Zealanders Gather To Watch U.S. Election Results

Ambos os partidos continuam a fazer contas e não há ainda um vencedor claro

Newsroom via Getty Images

Michigan, Wisconsin e Pensilvânia: a grande dúvida

Com efeito, um dos cenários mais plausíveis para a vitória de Joe Biden era simples: manter todos os estados que Hillary Clinton venceu em 2016 (no fundo, aqueles com que o Partido Democrata já faz conta no arranque de uma eleição) e acrescentar-lhe três estados fundamentais. A Pensilvânia, o Wisconsin e o Michigan.

Estes três estados têm uma história comum. Em 2016, Donald Trump teve menos 3 milhões de votos do que Hillary Clinton a nível nacional, mas conseguiu vencer a eleição no Colégio Eleitoral porque superou a democrata por uma margem muito estreita naqueles três estados, que tradicionalmente foram democratas durante décadas. No total, uma margem de menos de 80 mil eleitores naqueles três estados foi suficiente para esbater a margem de 3 milhões de eleitores que Clinton teve a mais.

Uma das missões fundamentais de Joe Biden nesta campanha eleitoral foi a de recuperar aquele território — e jogou grande parte das suas fichas ali. No último fim-de-semana de campanha andou no Michigan e na Pensilvânia e, no primeiro, surgiu em dois comícios ao lado de Barack Obama, um dos maiores trunfos da sua campanha.

Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, que em 2016 deram a vitória a Trump, anunciaram que não iriam divulgar resultados na noite eleitoral

Contudo, na manhã desta quarta-feira, nenhum daqueles três estados tinha ainda divulgado resultados. Já era madrugada em Lisboa quando chegou a confirmação: resultados na noite eleitoral eram para esquecer. De acordo com fontes das autoridades estaduais dos três estados citadas por uma repórter da Bloomberg, Wisconsin e Pensilvânia não se conseguiram comprometer com a divulgação do resultado ainda na noite eleitoral, enquanto o Michigan remeteu resultados oficiais para até sexta-feira. Na cidade de Filadélfia, na Pensilvânia, continua a todo o gás a contagem dos votos por correspondência, mas as atualizações em tempo real da contagem vão ser interrompidas, para depois ser comunicado um resultado final.

Em grande parte, este atraso deve-se à necessidade de contabilizar os votos que chegaram às autoridades antes do dia das eleições, quer por correio quer por voto antecipado em urna. Esses votos só agora vão começar a ser contados — e, este ano, devido à pandemia, houve números recorde na corrida ao voto antecipado. Ao mesmo tempo, há muitos votos que, mesmo tendo sido enviados pelo correio ainda durante o período de votação oficial, só vão chegar às autoridades durante os próximos dias.

Estes três estados contam-se entre um conjunto de territórios em que a justiça concedeu diversos tipos de extensão de prazos para a receção de boletins de voto e para a contagem dos votos — o que está a prolongar a incerteza sobre o próximo Presidente norte-americano.

Os resultados provisórios que começaram a ser divulgados ainda durante a noite davam conta de uma liderança de Donald Trump. Porém, os votos que estão a ser contados em primeiro lugar são os do voto presencial no dia da eleição. Os votos antecipados são contabilizados em segundo lugar — e as estatísticas têm mostrado que os democratas se mobilizaram mais para o voto antecipado, enquanto os republicanos preferiram o voto presencial, o que permite antever uma possível recuperação de Joe Biden. Se será suficiente é ainda uma pergunta sem resposta.

Democratic Presidential Candidate Joe Biden Holds Election Night Event In Delaware

Joe Biden discursou muito brevemente aos apoiantes durante a noite, para se mostrar confiante numa vitória

Getty Images

Se Donald Trump conseguiu a primeira vitória da noite contra as sondagens, Joe Biden conseguiu a primeira contra Trump ao conquistar o estado do Arizona aos republicanos pela primeira vez em 20 anos. Em 2016, Trump venceu-o com uma margem de 3,54 pontos percentuais. Ao longo dos últimos meses, as sondagens já vinham apontando Joe Biden como favorito — mas a vitória não deixou de ser significativa, uma vez que com a perda da Flórida o democrata passou a ter menos possibilidades de vencer, sobretudo se não conseguir recuperar aqueles três estados do Midwest que Hillary Clinton deixou escapar em 2016.

Geórgia, o “estado vermelho” que continua na dúvida e pode favorecer Biden

Outra dúvida é o estado da Geórgia, onde o resultado continua, na manhã desta quarta-feira, em aberto. Com direito a 16 lugares no Colégio Eleitoral, é um estado que tem votado no Partido Republicano desde 1992. Em 2016, Donald Trump ganhou-o com uma margem de 5,13 pontos percentuais sobre Hillary Clinton. Este ano, contudo, a Geórgia tornou-se num “swing-state” relevante. Ao longo dos últimos meses, as sondagens mostraram uma corrida muito renhida entre os dois candidatos, com vantagens de um e de outro, alternadas e dentro da margem de erro.

A imprensa norte-americana tem apontado algumas explicações para o facto de a Geórgia ter passado de “estado vermelho” seguro a campo de batalha — e passam pela mudança demográfica no território. A população do estado tem vindo a tornar-se mais diversificada, mais jovem e mais urbana. Em 2018, um indicador concreto dava conta desta alteração: Stacey Abrams só por muito pouco não se tornou na primeira mulher negra a governar um estado norte-americano.

Biden acredita que sairá vencedor. Trump trava contagem de votos em vários estados com ações

Na manhã desta quarta-feira, com 85% dos votos contados, era ainda impossível declarar um vencedor naquele estado, tal era a proximidade entre os dois candidatos. Apesar da ligeira vantagem em termos absolutos, ao longo da noite o The New York Times foi inclinando o seu indicador de probabilidade de vitória no sentido de Joe Biden. Esta probabilidade é medida tendo em conta fatores que incluem a identificação dos lugares onde ainda falta contar votos, que podem ser mais favoráveis a um ou a outro partido, e também ao tipo de voto que falta contar, já que os democratas recorrem mais ao voto antecipado do que os republicanos. O jornal explicou que os resultados positivos de Joe Biden na cidade de Atlanta, onde ainda faltam contar muitos votos, contribuem para uma previsão favorável ao democrata.

Caso ganhe a Geórgia, Biden fica com o caminho para a Casa Branca muitíssimo mais facilitado e obriga Donald Trump a ganhar pelo menos o Michigan e a Pensilvânia — dois dos três estados tradicionalmente democratas que Joe Biden procura recuperar dos republicanos.

Sondagens podem trair democratas também na Carolina do Norte

Outros “swing-states” são decisivos para a eleição desta terça-feira — em que Joe Biden tem mais cenários que lhe permitem a vitória do que Donald Trump. O Ohio era um dos estados que Trump tinha de ganhar se quisesse ser reeleito (80% dos seus cenários de vitória incluíam ganhar aquele estado). E conseguiu. O resultado demorou a sair, mas chegou favorável a Trump já durante a madrugada. Outro é a Carolina do Norte: dois terços dos seus cenários de vitória incluem necessariamente uma vitória naquele estado.

Porém, esta manhã a Carolina do Norte continuava sem um vencedor declarado. A valer 15 votos no Colégio Eleitoral, aquele estado tem preferido quase sempre os republicanos ao longo da história (embora em 2008, excecionalmente, tenha votado em Obama). Este ano, as sondagens apontavam para uma vantagem de Biden. Porém, este poderá ser mais um estado em que as sondagens falham.

De acordo com o The New York Times, Trump vai na frente na contagem dos votos e o indicador de probabilidade de vitória está a apontar para uma vitória, ainda por confirmar, de Donald Trump. Se assim for, Trump ficará mais perto da reeleição que as sondagens assumiam como improvável.

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