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Vladimir Putin Hosts A Reception For Russian Medal Winning Paralympic Athletes
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Cinco das oito pessoas mais próximas de Putin também são ex-KGB

Getty Images

Cinco das oito pessoas mais próximas de Putin também são ex-KGB

Getty Images

Amigos dos tempos do KGB, um parceiro de judo e a mulher que assinou o OK do Senado à guerra. Eis o círculo próximo de Putin

As decisões não são partilhadas, mas o presidente russo não está sozinho na gestão desta guerra. Saiba quem são as oito pessoas que fazem parte do círculo próximo de Vladimir Putin.

No limite, é ele quem decide, mas isso não significa que Vladimir Putin esteja sozinho a orquestrar a guerra contra a Ucrânia: serão sete homens e uma mulher que pertencem ao círculo mais próximo do presidente russo.

Muitos deles fazem parte do chamado grupo dos siloviki, os “homens de força”, que integraram o aparelho de segurança e os serviços secretos, e, no caso, coincidiram com Putin nas fileiras do KGB.

Quase todos serão seus amigos próximos — incluindo Sergei Naryshkin, o diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira que o presidente russo humilhou (ou com quem terá apenas brincado?) na reunião da semana passada do Conselho Nacional de Segurança.

Saiba quem são os homens (e a mulher) que secundam o presidente russo

Sergei Shoigu

Ministro da Defesa
66 anos

Russia Holds 75th Anniversary Victory Parade Over The Nazis In WWII

Host Photo Agency via Getty Imag

Filho de uma ucraniana e de um russo, Sergei Shoigu nasceu em Tuva, perto da Mongólia, e só se juntou ao Partido Comunista da União Soviética em 1988, aos 33 anos. Na altura, já era licenciado em engenharia civil e já tinha construído uma fulgurante carreira no ramo da construção civil, das bases a uma posição de executivo em 10 anos. Foi mais ou menos o que lhe aconteceu no partido: dois anos depois da adesão, mudou-se da Sibéria para Moscovo e foi nomeado Chefe Adjunto do Comité de Arquitetura e Construção Estatal da Federação Russa; apenas um ano mais tarde, foi-lhe oferecido o cargo de Chefe do Corpo de Socorristas, que eventualmente se transformou em ministério.

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Enquanto responsável pela pasta das Situações de Emergência, acorreu a situações de cheias, tremores de terra e até atentados terroristas e tornou-se uma das faces mais populares do governo russo — e um dos amigos mais próximos de Vladimir Putin, que na altura tinha acabado de deixar o KGB para se dedicar à política.

Ouça aqui o episódio de A História do Dia sobre Vladimir Putin.

Quem é Vladimir Putin e até onde irá?

São conhecidas as viagens que fazem juntos, para pescar e caçar na Sibéria e, realça a BBC, Shoigu, ministro da Defesa desde 2012, é amiúde mencionado como um dos nomes prováveis para a sucessão do presidente.

Por ter sido sob as suas ordens que a Rússia invadiu a Crimeia em 2014, e por ser ele o responsável pela agência de inteligência militar GRU quando o ex-agente russo Sergei Skripal e a filha Yulia foram envenenados e assassinados no Reino Unido, em 2018, e também quando dois anos mais tarde aconteceu o mesmo ao opositor do Kremlin Alexey Navalny (se bem que com um desfecho mais feliz), Sergei Shoigu foi sancionado pela União Europeia. Já em fevereiro deste ano, e em consequência da invasão da Ucrânia, foi proibido de entrar nos Estados Unidos e adicionado à lista de pessoas bloqueadas por Washington.

Uma fotografia de uma reunião entre Putin, Shoigu e Valery Gerasimov, Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, três dias antes do início da operação militar na Ucrânia, tem servido para sustentar a teoria de que o velho aliado do presidente e seu ministro da Defesa não terá aprovado a guerra.

“Ele é um forte defensor do interesse nacional, mas não tem os mesmos sentimentos viscerais anti-ocidentais que os outros”, disse Mark Galeotti, perito em agências de segurança da Rússia e biógrafo de Putin, citado pelo escocês The National.

À BBC, o escritor e especialista em segurança Andrei Soldatov garantiu que, ainda assim, Shoigu — que fala nove línguas, gosta de hóquei no gelo  e tem no estudo da história russa no tempo de Pedro, o Grande, um dos seus hobbies conhecidos — será, de entre toda a sua entourage, a pessoa que Putin mais ouve. “Shoigu não está apenas no comando das Forças Armadas. Ele também está parcialmente no comando da ideologia — na Rússia, a ideologia é principalmente sobre história e ele está no controlo da narrativa.”

Valery Gerasimov

Chefe do Estado Maior das Forças Armadas
66 anos

President Putin meets with top officials of Russian Defense Ministry and military industry

Mikhail Metzel/TASS

No cargo há dez anos, Valery Gerasimov viverá por esta altura os dias mais difíceis da carreira militar, que arrancou em 1977. Como responsável máximo pelo exército russo, diz a BBC, o seu trabalho era concluir rápida e eficazmente a ocupação da Ucrânia — feito que ainda estará longe de alcançar.

Autor da chamada nova estratégia militar russa, que cunhou em 2013, com a publicação de um artigo em que assumia que com a internet e as novas tecnologias o paradigma da guerra tinha mudado para sempre, tem o seu nome associado a essa doutrina — a “Doutrina Gerasimov”.

“As próprias ‘regras da guerra’ mudaram. O papel dos meios não militares para atingir objetivos políticos e estratégicos cresceu e, em muitos casos, excedeu o poder da força das armas na sua eficácia. … Tudo isto é complementado por meios militares de caráter dissimulado”, escreveu.

“O artigo é considerado por muitos como a articulação mais útil da estratégia moderna da Rússia, uma visão de guerra total que coloca a política e a guerra dentro do mesmo espectro de atividades — filosoficamente, mas também logisticamente”, explicou o Politico em 2017. É a Valery Gerasimov, dizia o artigo, que se deve a estratégia de caos e permanente conflito que o Kremlin passou a adotar desde então, uma espécie de “guerrilha” para a qual foram arregimentados, para além dos meios militares convencionais, hackers, meios de comunicação social, empresários e disseminadores de notícias falsas.

Depois de servir nos Distritos Militares do Extremo Oriente e do Báltico, Gerasimov, então com 44 anos, tornou-se Chefe de Estado Maior do 58.º Exército no Distrito Militar do Norte do Cáucaso pouco antes do início da segunda guerra da Chechénia, em 1999. Saiu desse conflito com uma imagem invejável: pessoalmente envolvido na detenção de Yury Budanov, um coronel do exército que mais tarde foi condenado pelo assassinato de uma rapariga chechena, foi elogiado pela jornalista Anna Politkovskaya, crítica da guerra e do regime — que em 2006 acabaria também por ser assassinada. “Um homem capaz de preservar a honra de um oficial” durante a guerra, foi como ela o descreveu.

Agora, mais de vinte anos depois, correm rumores de que poderá ter sido afastado por Vladimir Putin, insatisfeito pelo rumo da guerra presente. À BBC, Andrei Soldatov garante que não lhe parece que seja esse o caso e que esses boatos não passarão de desejos de quem lhe queira ocupar o lugar.

Nikolai Patrushev

Secretário do Conselho de Segurança
70 anos

President Putin holds Russian Security Council meeting

Alexei Nikolsky/TASS

Nascido em Leninegrado, foi recrutado para o KGB aos 24 anos, um ano depois de acabar o curso no Instituto de Construção Naval da cidade, estudou em Minsk e em Moscovo e depois voltou à base, onde acabou por se tornar chefe da sua unidade anti-contrabando e anti-corrupção nos serviços secretos da URSS — e conheceu Vladimir Putin, de quem se tornaria amigo íntimo.

Ministro da Segurança da República de Karelia entre 1992 e 1994, já a cidade onde nasceu tinha voltado a chamar-se São Petersburgo, Nikolai Patrushev ingressou um ano mais tarde no FSB, o Serviço Federal de Segurança — de que Putin seria diretor entre julho de 1998 e agosto de 1999. Quando o amigo saiu para se tornar primeiro-ministro da Rússia, foi convidado por Boris Yeltsin a ficar com o lugar.

Manteve-se sempre próximo de Putin, primeiro no órgão que substituiu o KGB, depois no Conselho de Segurança da Rússia, cargo que ocupa de 2008 — e que fará dele, a juntar a todo o historial de amizade com o presidente, o homem mais poderoso desta lista, dizem vários analistas.

Três dias antes de a Rússia invadir a Ucrânia, no mesmo dia em que Putin se reuniu com Shoigu e Gerasimov em separado, o órgão a que preside reuniu-se no Kremlin, com cada membro a ser chamado ao púlpito para opinar sobre o futuro do país e do reconhecimento iminente das repúblicas de Donetsk e Lugansk. Nikolai Patrushev repetiu uma ideia que lhe é cara, e que já em 2015 tinha confidenciado ao jornal russo  Kommersant — “Os Estados Unidos preferiam que a Rússia não existisse como país”, foi o que disse há sete anos; o “objetivo concreto” dos EUA é o desmembramento da Rússia, escolheu articular agora.

A aposta, disse Ben Noble, professor associado de Política Russa no University College de Londres à BBC, terá sido ganha aos olhos do presidente russo: “O principal grito de batalha foi dele e há a ideia de que Putin se deslocou ao encontro da sua posição, mais extrema”.

Alexander Bortnikov

Diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB)
70 anos

epa08746758 (FILE) - Alexander Bortnikov, head of the Federal Security Service (FSB) waits for a meeting of the Pobeda (Victory) Organizing Committee in the Kremlin, Moscow, Russia, 11 December 2019 (reissued 15 October 2020). The European Union puts Director of Russia's FSB Alexander Bortnikov, First Deputy Chief of Staff of the Presidential Administration Sergei Kiriyenko and four other high-ranking Russian officials on the EU's blacklist against Russia over the alleged poisoning of blogger Alexey Navalny, the Council of the European Union said.  EPA/PAVEL GOLOVKIN / POOL *** Local Caption *** 55700493

PAVEL GOLOVKIN / POOL/EPA

Também ex-KGB, também amigo próximo de Putin, parte do grupo dos siloviki, os homens que integraram, tal como o presidente, o aparelho de segurança e dos serviços secretos, Alexander Bortnikov é desde maio de 2018 o diretor do Serviço Federal de Segurança — Nikolai Patrushev saiu, ele entrou.

Antes disso, contou uma fonte do FSB à revista russa New Times (cujo site foi um dos bloqueados pelo Kremlin durante esta semana), terá sido o responsável por organizar e supervisionar o assassinato do ex-agente russo naturalizado britânico Alexander Litvinenko, envenenado com polónio no Reino Unido, em 2006. Na altura, era o responsável pelo Departamento de Segurança Económica do FSB. De acordo com a fonte anónima da New Times, para além de Bortnikov, também Nikolai Patrushev terá estado implicado no plano.

Atualmente, como responsável por uma das agências que mais peso tem no país, salienta a Sky News, Alexander Bortnikov é o homem que controla com mão de ferro a vida russa e que tem sido responsável pelas “dezenas de milhares de detenções e pelo dramático aperto das restrições à sociedade civil que se acentuou no último ano, particularmente desde a prisão de Alexei Navalny”.

O peso da sua opinião junto de Vladimir Putin não tem uma medida certa mas, à BBC, observadores do Kremlin garantiram que o presidente russo confia mais nas informações que recebe do FSB do que em qualquer outra fonte.

O que não será necessariamente positivo, disse à Sky News Tatiana Stanovaya, perita em segurança e fundadora do think-tank R. Politik: “Imaginamos que ele entrega diariamente a Putin relatórios sobre as influências americana ou ocidental hostis dentro da Rússia, e como os serviços secretos ocidentais estão a tentar minar a estabilidade política. E ele acredita nisso”.

Sergei Naryshkin

Diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira (SVR)
67 anos

President Putin holds Russian Security Council meeting

Alexei Nikolsky/TASS

O homem que Vladimir Putin humilhou perante o país e o mundo na já referida reunião do Conselho de Segurança Russo —  “Fale diretamente!”, foi o que lhe gritou, com ar profundamente exasperado —, é seu amigo desde os tempos do treino no KGB.

Foi lá que se conheceram, estavam ainda a aprender a ser espiões. Quando a formação acabou, Putin seguiu para Dresden, na Alemanha de Leste, e Naryshkin foi para Bruxelas, como diplomata. Quando ambos regressaram à Rússia, mantiveram-se próximos: trabalharam juntos no gabinete do autarca de São Petersburgo, na década de 1990, e quando Putin se mudou para o Kremlin Sergei Naryshkin foi com ele.

Foi chefe adjunto do desenvolvimento económico do presidente entre 2004 e 2008, chefe da administração presidencial de Dmitry Medvedev entre 2008 e 2011 e a seguir presidente da Duma, onde se destacou pelas capacidades de oratória que não raras vezes lhe têm também valido indicações como potencial sucessor do amigo.

Aquilo que aconteceu na fatídica reunião, encenada e editada para a televisão russa, mais não terá sido do que uma brincadeira, disse à BBC Andrei Soldatov: “Putin adora brincar com o seu círculo interior, e fê-lo parecer um idiota”.

O contributo de Naryshkin para as políticas de Putin é palpável, garantem vários especialistas: além de diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira, presidente da Sociedade Histórica Russa, tem sido ele quem tem alimentado o presidente com os fundamentos ideológicos com que tem defendido o regresso à Rússia imperial.

Sergei Naryshkin será também um adepto das chamadas “teorias da conspiração”, diz o Guardian, citando uma entrevista no início deste ano em que disse que Alexei Navalny tinha sido uma “vítima sacrificial” e que o seu envenenamento tinha feito parte de uma conspiração ocidental para apoiar a oposição russa; e outra em que comparou o governo da Ucrânia à “ocupação de Hitler”.

Também será um homem, no mínimo, destemido, aponta o jornal britânico. Numa outra entrevista, quando questionado sobre se já alguma vez tinha sido traído respondeu assim: “Há uma coisa que me apazigua: esses traidores ou já arderam ou certamente irão arder no fogo do inferno.”

Sergei Lavrov

Ministro das Relações Exteriores
71 anos

Sergei Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros

JEAN-CHRISTOPHE BOTT / POOL/EPA

Aos 71 anos, Sergei Lavrov é desde há 18 o ministro das Relações Exteriores da Rússia — e os rumores de que estará pronto para se reformar são cada vez mais audíveis.

Descrito como um “diplomata experiente” e um “negociador astuto e duro”, é a face e a voz do Kremlin no estrangeiro mas, mais do que uma verdadeira voz de influência junto de Putin, diz a Sky News, será um “mensageiro”. Aliás, quando tentou sugerir ao presidente russo que fizesse um último esforço na via negocial com a Ucrânia, foi abertamente ignorado.

Ainda assim, Putin não lhe virou as costas, como fizeram 140 membros do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que na passada terça-feira recusaram ouvir as suas justificações para a intervenção militar na Ucrânia, através de videochamada. Como outras figuras de peso próximas do Kremlin, Lavrov viu os seus ativos financeiros serem congelados, uma medida determinada no final de fevereiro pela União Europeia.

Valentina Matviyenko

Presidente do Conselho da Federação
72 anos

President Putin holds Russian Security Council meeting

Alexei Nikolsky/TASS

Quando em 2003 foi eleita governadora de São Petersburgo, terra natal de Vladimir Putin, Valentina Matviyenko era a única mulher a liderar uma divisão federal da Rússia. Agora, quase duas décadas mais tarde, é a única com lugar no círculo próximo de Putin — mas também não consta que tenha grande voz nas políticas do Kremlin.

Presidente do Conselho da Federação, a Câmara Alta do Parlamento russo, coube-lhe no passado dia 22 de fevereiro a supervisão da votação no Senado que deu luz verde à invasão da Ucrânia — e é a sua assinatura que consta no documento que ficará para a posteridade.

Três dias depois, também foi ela quem respondeu às notícias de sanções impostas à Rússia, apenas um dia após o início da ofensiva militar: “Estamos bem conscientes dos pontos fracos do Ocidente e elaborámos um pacote completo, uma série de potenciais sanções a serem usadas contra as nações que anunciaram sanções contra a Rússia. O Ocidente tem muitos pontos fracos”, disse em declarações à RT.

Viktor Zolotov

Diretor da Guarda Nacional
68 anos

Rosgvardia officers presented with government awards in Chechnya, Russia

Yelena Afonina/TASS

Antes de ser diretor da Guarda Nacional — a Rosgvardia, fundada pelo presidente russo há apenas seis anos como uma espécie de guarda pretoriana e a partir de grupos de intervenção rápida e anti-motins —, Viktor Zolotov foi guarda-costas do próprio Vladimir Putin. Antes disso ainda, foi operário na fábrica em Moscovo que fazia os célebres carros Moskvitch, mas isso foi logo após acabar o ensino secundário e antes de cumprir o serviço militar. Assim que saiu do exército, foi recrutado para o KGB, onde permaneceu durante quase 20 anos, contou Boris Volodarski no livro The KGB’s Poison Factory.

Ao longo dos 13 anos em que trabalhou como sombra de Putin, Zolotov foi também seu parceiro de judo e de boxe.

Hoje, continua a ser um dos seus mais indefectíveis aliados. Na reunião do Conselho Nacional russo foi, a par de Nikolai Patrushev, um dos maiores entusiastas da opção guerra: “Não temos uma fronteira com a Ucrânia, temos uma fronteira com os Estados Unidos, porque eles são os senhores lá. É claro que devemos reconhecer as repúblicas, mas quero dizer que devemos ir mais longe para defender o nosso país”.

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