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Arranje um calendário e prepare os post-its. Dicas para ajudar os miúdos a estudar

Antes do 5.º ano não serão necessários grandes métodos, mas os hábitos de estudo devem ser cultivados desde o 1.º ciclo. Temos dicas, técnicas e truques para todas as idades.

A palavra-chave é ajudar. Por isso, se já está a contorcer-se de dor ante a perspetiva de ter de voltar a estudar dinastias, sistemas do corpo humano, figuras de estilo ou a fórmula de cálculo do pi, relaxe: não é disso que vamos falar. Quem regressa às aulas, aos trabalhos de casa e ao estudo são as crianças. Aos pais “só” cabe a tarefa de os assistir e orientar — e fiscalizar também, vá. Continua receoso? É normal. Se assim não fosse, o advérbio da frase anterior não apareceria entre aspas. Porque ajudar as crianças a criar hábitos e métodos de estudo é uma tarefa complicada, mas que poderá fazer toda a diferença — e não “apenas” na fase de entrega de notas –, pedimos ajuda a quem percebe do assunto.

É a psicopedagoga Tânia Rangel, especialista em treino cognitivo, técnicas e métodos de estudo e programas comportamentais, quem garante a eficácia das dicas que se seguem. “Uma das vantagens de utilizar métodos e planos de estudo surge ao nível da motivação. E não só: as crianças que sabem que têm uma estratégia por trás e que são envolvidas na construção dessa mesma estratégia tendem a desenvolver uma maior autonomia, que é um dos problemas que mais vemos atualmente, até com crianças mais velhas, do 3.º ciclo. A autonomia leva à motivação, à persistência, a uma maior vontade de fazer e de fazer bem. E também lhes diminui a ansiedade. No fundo, tudo isto dá-lhes mais competências pessoais e comportamentais, aprendem a ser mais responsáveis e também a lidar com a frustração”, explica a psicopedagoga do SEI, Centro Desenvolvimento Aprendizagem.

"Uma das vantagens de utilizar métodos e planos de estudo surge ao nível da motivação. E não só: as crianças que sabem que têm uma estratégia por trás e que são envolvidas na construção dessa mesma estratégia tendem a desenvolver uma maior autonomia, que é um dos problemas que mais vemos atualmente, até com crianças mais velhas, do 3º ciclo."
Tânia Rangel, psicopedagoga

Comecemos então pelas informações mais genéricas: nada de televisões, telemóveis ou tablets na divisão onde se estuda — e certifique-se de que os telefones que ficam na sala ou no quarto ao lado são deixados sem som. “O objetivo é ter um espaço o menos distrativo possível, com uma mesa espaçosa, mas não necessariamente em silêncio absoluto — há estudos que dizem que muito barulho não é bom, mas outros dizem que total silêncio também pode não ser benéfico, portanto eu diria que o ideal é estudar com o ruído normal da casa. Se eles disserem que estudam bem com o telemóvel, não cedam. E se as crianças ficarem muito nervosas, então é preferível que se aumentem as pausas”, diz a especialista.

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O que nos leva ao ponto seguinte: podem e devem ser definidas pausas ao longo do estudo, mediante a conclusão de tarefas e não da passagem do tempo, que é para garantir que existe mesmo estudo e não apenas uma observação metódica dos ponteiros do relógio. “Independentemente das idades das crianças, as tarefas têm de ser curtas e verificáveis, e isto não tem só a ver com o controlo dos pais, serve também para os alunos poderem perceber o que fizeram e não terem uma atitude tão passiva. Mais do que ler e ouvir, para aprender é preciso experimentar. As pausas podem servir para comer uma bolacha, ir à casa de banho ou até para passar dez minutos no telemóvel”, exemplifica Tânia Rangel.

Criar hábitos de estudo: uma tarefa para todos os dias da semana

Claro que se o seu filho de 6 anos (ou de 7, ou de 8 — esta parte é válida para todo o 1.º Ciclo) passou o dia inteiro na escola, não faz sentido chegar a casa e pô-lo a estudar. Se o professor não mandou trabalhos para fazer, então o resto da tarde deverá ser livre e de brincadeira. Toda a tarde? A psicopedagoga Tânia Rangel defende que não: “Deve ser definido um momento em que a criança pense no que foi o dia e no que vai ser o dia seguinte. Bastam 10 ou 15 minutos de reflexão, que até pode ser com os pais, e de preparação da mochila. Trata-se de criar hábitos de estudo, que podem e devem ser integrados logo desde o 1.º Ciclo — e que vão fazer toda a diferença no 2.º”.

Antes de estudar é preciso dormir

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O seu filho pode cumprir todas as rotinas e métodos de estudo, mas, se não dormir o suficiente, o mais certo é esse trabalho ser em vão. Problemas de concentração, dificuldade em reter informações ou baixo desempenho na sala de aula são apenas algumas das consequências da falta de sono, alerta Teresa Rebelo Pinto, psicóloga e especialista em sono.

“O sono é sempre importante, pois relaciona-se com o nosso funcionamento cognitivo, emocional e com a saúde física e mental. É importante sabermos o que fazer para dormir melhor e quais as consequências de menosprezar o sono.”

De acordo com as recomendações da americana National Sleep Foundation, as crianças entre os 6 e os 12 anos devem dormir de 9 a 11 horas por dia e os adolescentes de 8 a 10 horas.

 

 

Os dias de TPC terão de ser necessariamente diferentes, mas o estudo deve ser feito sempre à mesma hora — não interessa se antes ou depois do lanche, apenas que seja no mesmo momento. Sobretudo no 1.º e no 2.º anos, avisa a especialista, o mais importante será ajudar as crianças a treinar as suas capacidades de atenção e concentração. “Temos imensas queixas de pais que têm essa dificuldade, nestas idades há muitas crianças que não conseguem sossegar e ficar sentadas a fazer os TPC. Cada pai, em conjunto com o professor, deve perceber qual é o tempo de concentração e atenção que a criança consegue manter. Umas aguentam 10 minutos, outras 15, outras 30. A partir daí, podem definir metas e usar algumas técnicas comportamentais”, aconselha. Exemplos: arranje cartões coloridos, estilo árbitro, e ponha-os em cima da mesa — enquanto o vermelho estiver virado para cima, é proibido levantar; dê uso ao relógio de cozinha em forma de ovo e marque o tempo — quando apitar, é hora da pausa; ou estabeleça objetivos e recompensas — um jogo de cartas de cinco minutos a cada dois exercícios completados.

"Cada pai, em conjunto com o professor, deve perceber qual é o tempo de concentração e atenção que a criança consegue manter. Umas aguentam 10 minutos, outras 15, outras 30. A partir daí, podem definir metas e usar algumas técnicas comportamentais."
Tânia Rangel, psicopedagoga

Quando estas dificuldades estiverem ultrapassadas, poderá finalmente passar à fase da organização — qualquer um se desnorteia quando tem várias tarefas para fazer ao mesmo tempo, portanto imagine um miúdo do 3.º ou do 4.º ano. Só vai precisar de post-its e da lista dos TPC do dia: “Basta escrever as tarefas, «cópia da página 23», «ler o texto da página 15», a criança vai seguindo as instruções e retirando os post-its da mesa à medida que acaba. É mais organizado mentalmente e a criança sente-se mais gratificada e motivada porque faz as coisas no seu tempo. Quando o caos e o grau de dificuldade são muito grandes, acabamos por desistir”, explica Tânia Rangel.

Quando, o quê e como

Até podia ser a fórmula do texto jornalístico (não ficasse a faltar o quem e o porquê), mas são as perguntas a que todos os alunos devem saber responder antes de começarem a estudar: quando é que precisam de estudar, que matérias é que têm de estudar e de que forma, através de que métodos, devem fazê-lo. E é aí que entram os pais, diz a psicopedagoga. Material necessário: um calendário e uma caneta.

Primeiro o quando: aponte num calendário todos os testes, trabalhos individuais e trabalhos de grupo previstos para o trimestre (ou semestre ou bimestre). Depois, junte os treinos de futebol, os recitais de ballet e as aulas de piano — ou qualquer atividade extracurricular que a criança tenha. Mais as festas de anos, os fins de semana em casa dos avós e as viagens à terra. “Os calendários têm de ser muito rigorosos e têm de integrar as coisas fora do âmbito escolar, até porque esses são tempos que não poderão ser aproveitados para estudar. Claro que há sempre coisas que mudam, portanto o objetivo é ir revendo semana a semana”, explica Tânia Rangel.

"As crianças passam semanas e semanas sem testes e depois, no espaço de uma ou duas semanas, têm cinco ou seis. Se começarem a investir muito nos primeiros testes da semana, vão chegar aos de quinta e de sexta sem tempo para estudar. O que aconselho normalmente é agendar três dias de estudo para cada teste."
Tânia Rangel, psicopedagoga

Quando o calendário estiver preenchido, conte três dias de estudo para cada teste: o último terá de ser na véspera e servirá apenas para fazer revisões, o primeiro deverá ser uma semana antes. “As crianças passam semanas e semanas sem testes e depois, no espaço de uma ou duas semanas, têm cinco ou seis. Se começarem a investir muito nos primeiros testes da semana, vão chegar aos de quinta e de sexta sem tempo para estudar. O que aconselho normalmente é agendar três dias de estudo para cada teste, mas claro que esse número pode variar consoante a disciplina ou a criança”, justifica a especialista. No final, afixe o calendário num sítio bem visível da casa — a cozinha será sempre uma boa opção –, e depois passe para a parte do “o quê”.

“Em primeiro lugar, é preciso criar uma checklist com toda a matéria que vai sair no teste. A seguir, é necessário dividir a matéria em tarefas e reparti-las de forma proporcional pelos dias de estudo. As tarefas terão de ser muito concretas e muito claras e têm de implicar sempre uma de quatro ações: ler, resumir, memorizar e exercitar“, orienta a especialista.

No fundo, explica Tânia Rangel, estudar será sempre fazer uma destas quatro coisas: “Os pais não devem dizer «vai para o teu quarto estudar». Devem dar tarefas concretas e possíveis de fazer de uma só vez aos filhos. Ou seja, uma tarefa não pode ser resumir desde a página 24 à 58 — isso é impossível. As tarefas devem ser curtas e definidas em função do tempo que os pais acham que a criança aguenta em termos de concentração. Como resumir cinco páginas, por exemplo”.

"Os pais não devem dizer «vai para o teu quarto estudar». Devem dar tarefas concretas e possíveis de fazer de uma só vez aos filhos. Ou seja, uma tarefa não pode ser resumir desde a página 24 à 58 — isso é impossível. As tarefas devem ser curtas e definidas em função do tempo que os pais acham que a criança aguenta em termos de concentração."
Tânia Rangel, psicopedagoga

As várias formas que esse resumo pode assumir já entram no domínio do “como”, enquadra a psicopedagoga: “Esta é a parte dos métodos — e é muito importante explicar isto aos pais, até porque eles têm tendência para achar que aquilo que faziam no tempo em que estudavam tem de resultar com os filhos. Não tem. Os métodos de estudo vão sempre depender do estilo de aprendizagem e do perfil cognitivo de cada aluno. Uns são mais visuais, outros mais auditivos, outros mais cognitivos. Uns funcionam melhor a ler, outros com mapas, outros a teatralizar. Os pais mais sensitivos vão percebendo, logo a partir do 1.º ciclo, o perfil dos filhos, mas, no limite, estas avaliações podem ser feitas por psicólogos educacionais”.

Ler
Se fosse apenas juntar sílabas e palavras na frase, não seria uma tarefa verificável. Por isso mesmo, ler é, explica a especialista, “sobretudo aprender a sublinhar”. “Os miúdos muitas vezes leem e até estão atentos, mas não captam o essencial. Por isso é que ler só não é nada. Aconselho-os a sublinhar numa primeira fase o assunto essencial e, numa segunda, só as palavras que são necessárias. Ou então a fazerem o contrário e a riscarem aquilo que não é importante”.

Resumir
O objetivo do resumo será reunir a informação mais importante para depois passar à fase de consolidação da aprendizagem (ou da memorização). Por isso mesmo, exemplifica Tânia Rangel, cada criança deve fazê-lo da forma que lhe parecer mais eficaz: “Uns alunos resumem em texto, outros em esquema, em desenho ou até em mapa mental. Nem todos os resumos têm de ter textos enormes. Um resumo de História, por exemplo, pode ser feito com recortes ou associações de imagens”.

Memorizar
Para conseguirem fixar a informação, as crianças optam geralmente por duas estratégias de associação: as visuais e as auditivas ou verbais, diz a psicopedagoga: “Imaginemos que é preciso decorar os vários tipos de rima de um poema ou o ciclo da água — através de estratégias de associação visual, os alunos podem associar a cada uma das informações um símbolo ou um desenho que as faça lembrar isso. Outros auxiliares muito importantes de memória, neste caso auditiva, são as mnemónicas ou lengalengas”. Há mais: “Os flash cards são uma terceira estratégia, muito popular entre os pais. Trata-se de construir cartões em que de um lado temos a pergunta e de outro a resposta. Funciona pela repetição e não os maça, é como se fosse um jogo, que os miúdos até podem fazer autonomamente”.

Exercitar
Tânia Rangel diz que é o que mais acontece a quem lhe pede ajuda no SEI: pais que garantem que os filhos sabem a matéria toda mas que falham redondamente nos testes. “E não é mentira, muitas vezes sabem mesmo, o que lhes falta é exercitar, treinar, responder”, garante. Esta última será a parte mais fácil: é só pegar nos livros de atividades e mandá-los fazer testes. Ou então fazer sessões intensivas de jogos de quiz de áreas específicas, como ciências da natureza, por exemplo, com os flash cards usados para memorizar.

Quando é que se sabe se já chega de estudo e é hora de jogar um bocadinho de videojogos para desanuviar antes do teste? A psicopedagoga tem duas respostas, uma para crianças modestas (ou realistas), outra para miúdos mais cheios de si. É só escolher o final, consoante o perfil do seu filho: “Chega de estudo quando…

a) … depois de exercitar, a criança se sente confiante para o teste.”

b)… a criança responde corretamente a cinco perguntas”.

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