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Arron Banks. A história do "bad boy" que pagou o Brexit (e que pode ter tido ajuda dos russos)

De empresário quase desconhecido passou a cara do Brexit ao doar 10 milhões de euros para a campanha. Ligado ao ouro, aos diamantes, a Trump e à Rússia, diz dele próprio: "Como não gostar?”.

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A história sobre a contribuição de um milhão de libras [o primeiro de quase 10 milhões] de Arron Banks para o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) é de antologia e, por isso, é referida em qualquer artigo que se escreva sobre o empresário britânico. Estávamos em 2014, o UKIP estava numa onda de crescimento  — venceu até as eleições europeias de maio — e Banks decidiu juntar-se ao partido e apoiá-lo financeiramente, em vez de dar dinheiro ao Partido Conservador, como fazia habitualmente. O que aconteceu de seguida é relatado pelo próprio, no seu livro The Bad Boys of Brexit: Tales of Mischief, Mayhem & Guerrilla Warfare in the EU Referendum Campaign (sem edição em português, o título pode ser traduzido como Os Maus Rapazes do Brexit: Histórias de Travessuras, Caos e Guerra de Guerrilha na Campanha do Referendo sobre a UE).

“Tinha planeado dar-lhes apenas 100 mil libras [cerca de 117 mil euros] — até que o nosso velho fiasco como ministro dos Negócios Estrangeiros chamado [William] Hague declarou que nem sabia quem eu era. Só havia uma forma de responder, que era aumentar o donativo para um milhão [de libras, quase 1,2 milhões de euros], o que provocou alguma polémica na altura. ‘Eles disseram que eu era um zé-ninguém’, disse eu, de acordo com a imprensa. ‘Agora já sabem quem eu sou.’

Esse milhão foi o primeiro de quase 10 milhões de euros que Banks, um empresário que começou a carreira na indústria dos seguros, doou ao partido de Farage e à campanha Leave.EU, a favor da saída da União Europeia (UE) no referendo de 2016. Não é coisa pouca: estima-se que terá sido a maior contribuição alguma vez feita por uma só pessoa na História da política do Reino Unido. E, como se não bastasse, é um donativo envolto em polémica: por um lado, porque a Comissão Eleitoral abriu uma investigação sobre a origem desses fundos, devido a suspeitas de ligação à Rússia (a lei britânica proíbe contribuições a campanhas com dinheiro vindo do estrangeiro); por outro, porque Banks é uma figura disruptiva que não hesita em insultar todos os que o criticam.

Mas por que razão um simples empresário da área dos seguros, com uma curta carreira política, conseguiu tornar-se o maior doador de sempre para uma campanha no país? E como se explica que um quase desconhecido se tenha tornado num dos mentores da estratégia divisiva da Leave.EU, tenha conhecido Stephon Bannon e Donald Trump pelo caminho e tenha  protagonizado artigos de publicações como a New Yorker e a New Statesman que destacam o “triunfo caótico” do “homem que comprou o Brexit”?

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Leave.EU. A vitória de uma campanha das emoções contra os “factos, factos, factos”

A campanha a favor da saída do Reino Unido da UE foi representada por dois principais grupos: o Vote Leave e o Leave.EU. Este último tinha como principal líder Nigel Farage, o eurocético representante do UKIP, que, na noite do referendo, subiu a um pódio para reclamar vitória: “Lutámos contra as multinacionais, lutámos contra os grandes bancos, lutámos contra a grande política, lutámos contra as mentiras, a corrupção e o engano”, declarou. “Que o 23 de junho fique para a História como o nosso Dia da Independência!” Do seu lado esquerdo, vestido com um fato azul-escuro e uma gravata vermelha — as cores da Union Jack, a bandeira do Reino Unido — estava Arron Banks a aplaudir.

O papel do empresário na campanha do Leave.EU acabou por ser muito mais influente do que a maioria dos doadores tem nas campanhas que apoia. “Banks tornou-se parte do conselho privado de rapaziada do Nigel, parte da sua entourage de bebedeira. Eram como um grupo de melhores amigos, com as suas palavras secretas, gestos e piadas privadas”, resumiu, em 2016, à New Statesman, um responsável do UKIP que preferiu não ser identificado. “Encaravam o sistema liberal protetor, presunçoso, moralista e ‘mais papista do que o Papa’ do politicamente correto com desprezo.”

De imediato, Banks contratou como conselheira de campanha a empresa de consultoria política norte-americana Goddard Gunster. O tópico central da campanha foi, de imediato, definido: o combate à imigração. E a estratégia que os consultores delinearam foi rapidamente aceite pelo empresário: “Aquilo que eles disseram desde o início foi ‘os factos não funcionam’ e pronto. A campanha pelo Remain tinha factos, factos, factos, factos. Simplesmente não funciona. É preciso ligarmo-nos às pessoas de forma emocional. É esse o sucesso de Trump”, resumiu o próprio Banks à New Statesman no rescaldo da campanha.

Nigel Farage e Arron Banks numa ação de campanha da Leave.EU. Os dois sempre se entenderam e partilham o mesmo entendimento político sobre a saída da UE (Matt Cardy/Getty Images)

Matt Cardy/Getty Images

O empresário apadrinhou assim táticas que provocaram acesa discussão, como é exemplo o poster divulgado em plena crise europeia de refugiados, com dezenas de imigrantes e a legenda “Ponto de rutura”. Horas depois da divulgação do cartaz, a deputada Jo Cox era assassinada na rua por um ativista de extrema-direita. Como consequência, os dois lados declararam uma trégua, mas Banks ordenou à campanha que continuasse a funcionar a todo o gás, como revelaram emails divulgados pelo Channel 4. Dois anos depois, o empresário não revela qualquer arrependimento: “Era uma guerra. Vale tudo na guerra”, resumiu à New Yorker.

As entrevistas que vários membros da Leave.EU foram dando depois do referendo revelam que grande parte das ideias da campanha foram avançadas pelo próprio Banks, sobretudo as mais polémicas. “Nem tudo o que eles faziam era do agrado de toda a gente, mas isso é a vida”, resumiu Farage. Certo é que a campanha simbolizou os primeiros passos de uma estratégia mediática que se inspirava do outro lado do Atlântico, com o modelo Donald Trump. E, em ambos os casos, confirmava-se a sua eficácia: “Se gastámos oito milhões com o referendo, acabámos por ter 35 ou 40 milhões de publicidade gratuita”, resumiu o próprio Banks à New Yorker.

Suspeitas de financiamento ilegal. Da Rússia, com amor?

O resultado foi uma vitória à justa (51% pela saída, 48% pela manutenção), mas foi, inegavelmente, uma vitória. O impacto no processo do Brexit, que continua a decorrer (apesar dos sobressaltos), é nulo, mas certo é que, depois da eleição, a campanha do Leave.EU acabou por ser alvo de várias investigações. Em fevereiro deste ano, depois de um processo de sentenças e recursos, a campanha acabou por ser multada em mais de 100 mil euros por um organismo estatal britânico por uso ilegal de dados de eleitores, que teriam sido alvo de campanhas de marketing não relacionadas com a eleição. No coração dessa sentença estava a Go Skippy, uma das empresas de seguros de Banks.

Em reação, Banks tweetou: “Meu Deus, comunicámos com os nossos apoiantes e oferecemos-lhes 10% de desconto depois da votação! E então?”, questionou.

Esta não é, no entanto, a possível ilegalidade mais grave cometida pela campanha da Leave.EU ou pelo próprio Banks. A Comissão Eleitoral britânica abriu uma investigação aos donativos do empresário à campanha, por considerar que a sua origem não é clara. Os deputados da Comissão Parlamentar de Digital, Cultura, Media e Desporto — que estão a investigar o mesmo tópico — não ficaram esclarecidos pelas explicações dadas por Banks: “Não conseguiram esclarecer-nos sobre se os seus donativos tinham vindo de fontes dentro do Reino Unido”. Por lei, nenhuma campanha política no país pode ser financiada com dinheiro estrangeiro.

As origens da fortuna de Banks não são claras. Dono de empresas de seguros britânicas como a Brightside e a Go Skippy, o empresário tem, no entanto, grande parte da sua fortuna em offshores no Belize, nas Ilhas Virgens Britânicas, em Gibraltar e na Ilha de Man. Em 2014, ano em que abandonou os tories para se juntar ao UKIP, Banks estava em maré de sorte nos negócios, como relembra a New Statesman: comprou cinco minas de diamantes na África do Sul e do Lesotho, bem como uma grande propriedade que transformou para servir de local de casamentos. Em 2015, o Financial Times colocava-o com um valor pessoal acima dos 100 milhões de euros. Durante dois anos seguidos, entrou na lista dos mais ricos do Sunday Times, com o seu valor a ser estimado em quase 300 milhões de euros.

Com valores destes, não parece haver dúvidas de que Banks tinha capacidade para financiar a campanha do UKIP. No entanto, há quem coloque em causa se Banks é de facto tão rico como muitos afirmam. Uma análise detalhada da Bloomberg aos seus negócios coloca o valor líquido do empresário em apenas cerca de 30 milhões de euros. Há mais cerca de 30 milhões em bens, mas o facto de grande parte da riqueza estar em offshores torna a análise “difícil”, segundo explica a agência. “Ele tem muitos negócios que parecem não fazer grande lucro”, declarou à Bloomberg Damian Collins, deputado conservador que faz parte da Comissão Parlamentar que está a investigar Banks. “Nada do que ele diz é claro.” À New Yorker, um antigo banqueiro do J.P. Morgan, que agora trabalha como especialista em crimes de branqueamento de capitais, Tom Keatinge, afirmou que há “sinais de alerta em todo o lado” ao olhar para os negócios de Banks.

Questionado pela Bloomberg, Banks recusou dar pormenores sobre as suas contas e avaliou a análise dos jornalistas como “cheia de erros em quase todos os aspetos”. À New Yorker, explicou simplesmente que é um “empreendedor”. E acrescentou: “Com todo o respeito aos jornalistas e a todos os outros, como raio é que sabem que investimentos é que eu tenho? Posso ser um ótimo investidor na Bolsa. Posso ter obrigações [de dívidas].”

As explicações, contudo, não convenceram a Comissão Eleitoral britânica, que pediu à Agência Nacional de Crime que investigasse o empresário por suspeitas sobre a origem dos fundos que utilizou na campanha. Formalmente, os órgãos públicos não o dizem, mas os jornais britânicos explicitam o que está em causa: suspeitas de que Banks possa ter sido financiado pelo Estado russo, que poderia estar a tentar influenciar o referendo no Reino Unido — e desestabilizar a União Europeia.

Banks e Andy Wigmore, seu companheiro de campanha, à entrada para a sua audição na Comissão Parlamentar sobre a origem dos fundos doados à Leave.EU (DANIEL LEAL-OLIVAS/AFP/Getty Images)

DANIEL LEAL-OLIVAS/AFP/Getty Images

De acordo com o que o Observer conseguiu apurar, membros da equipa de Banks na campanha ter-se-ão encontrado com representantes da embaixada russa pelo menos 11 vezes antes do referendo. Banks admitiu quatro desses encontros, nomeadamente um “almoço bem regado de seis horas” com o embaixador russo, Alexander Yakovenko, que revela no seu próprio livro. Diretamente, em pessoa, Banks disse a Carole Cadwalladr, jornalista responsável pela investigação, o seguinte: “Estás à procura da prova cabal, mas há provas cabais em todo o lado. E ninguém quer saber.” Noutras entrevistas, contudo, o empresário negou terminantemente ter ligações empresariais à Rússia. “Não, nada, zero. Nem o faria, é um local complicado para fazer negócios.” Banks confirma, no entanto, que lhe foram feitas propostas para comprar minas de ouro na Rússia e minas de diamantes atualmente geridas por empresários russos. Diz, no entanto, que desistiu de avançar com esses negócios.

A mulher “espia” e a admiração por Putin

Outros laços, contudo, atam Banks à Rússia. A sua segunda mulher, que conheceu num concerto da Britney Spears e com quem casou em 2001, é uma russa de nome Katya — levando muitos a especular que poderia ser uma agente dos próprios serviços de informação do país. Andy Wigmore, braço-direito de Banks e outro membro da campanha Leave.EU, ilustrou à New Yorker o que considera ser o ridículo dessa suspeita: “Quando se é mesmo um espião, não se manda escrever na matrícula do carro ‘X MI5 SPY’”, aponta com sensatez, referindo-se à matrícula de Katya que tem uma referência não só à palavra “espia”, como aos serviços de informação britânicos.

Mais relevantes, talvez, sejam as opiniões políticas do próprio Banks em relação ao Presidente russo, Vladimir Putin. Na entrevista de 2016 à New Statesman, o empresário não escondeu a sua admiração por um político “nacionalista”, cuja “força” admira. A anexação da Crimeia, afirmou, foi uma “reação natural” às ações do Ocidente. E até a ação de Putin na Síria é justificada por Banks: “É preciso ser pragmático. O que é mais importante: derrotar o Estado Islâmico ou a guerra civil na Síria?”, questionou.

Para já, nada mais há a apontar que ligue Banks aos russos — mas as suspeitas são suficientemente fortes para a Agência Nacional de Crime prosseguir a sua investigação. Os políticos, esses, vão mais longe. O vice-líder do Partido Trabalhista, Tom Watson, chegou mesmo a pedir uma investigação estatal semelhante à que o procurador-especial Robert Mueller fez nos Estados Unidos por suspeitas de conluio da campanha de Donald Trump com os russos.

Nos EUA, as primeiras conclusões afastam do presidente as suspeitas de concluio. No Reino Unido, ainda ninguém sabe. Certo é que, para além das suspeitas de influência do Kremlin, as duas campanhas (para a eleição de Trump e para o Sim à saída da UE) terão partilhado algumas estratégias e abordagens. Como, por exemplo, o recurso à Cambridge Analytica, a empresa que recolheu dados de eleitores através do Facebook, que foi contratada pela campanha de Trump. Em 2018, tornou-se claro que a recolha desses dados foi feita de forma ilegal.

De acordo com o próprio Banks, foi nada mais nada menos do que Stephen Bannon, o ex-conselheiro de Trump e ideólogo do site de extrema-direita Breitbart, que lhe sugeriu contratar a Cambridge Analytica em 2015. No seu livro, Banks afirma que a Leave.EU contratou a empresa. Agora, à New Yorker, esclarece que houve apenas “discussões preliminares” e que nunca nada foi pago à Cambridge Analytica. Questionado pelo jornalista sobre o que o levou a rejeitar os serviços da empresa — que Bannon garantiu que iria ajudar a campanha a recolher seis ou sete milhões de libras —, Banks afirmou simplesmente “porque era ilegal”.

De adolescente carismático que organizava “rally-tascas monumentais” a um empresário implacável

Mas quem é afinal este homem que, legal ou ilegalmente, financiou uma campanha vencedora que alteraria para sempre a História do Reino Unido?

Nascido em 1966, em Basingstoke, no sul de Inglaterra, foi criado apenas pela mãe, já que o pai geria várias plantações de cana de açúcar em diferentes países africanos. Aos 13 anos, contudo, foi enviado para um colégio interno, o Crookham Court. A escola ficaria com o seu nome manchado para sempre, depois de um programa da BBC ter divulgado, em 1989, que três dos seus professores eram pedófilos e que tinham abusado sexualmente de alunos.

Banks não foi vítima desses abusos, mas o que se passou em Crookham Court afetá-lo-ia para sempre de outra forma. Em 2013, recorda a New Yorker, publicou uma série de mensagens zangadas num grupo de Facebook de antigos alunos, denunciado o que classificou de “cultura de vitimização” e acusando um dos antigos colegas de “chorar sobre leite derramado”. Um dos antigos professores da escola, Ian Mucklejohn, analisou à revista que essa reação intempestiva poderia ser em si mesmo um sinal de trauma: todos os alunos da escola, afirmou, foram “brutalizados por um regime em que os abusos físicos e a ausência de sentimentos humanos tornaram-se a norma”.

O Banks adolescente, contudo, reagia a essa cultura em Crookham tornando-se um pequeno rebelde e cometendo uma série de pequenos delitos — como vender chumbo roubado do telhado da escola — que lhe custaram a expulsão. Enviado para um segundo colégio, foi novamente expulso, desta vez por organizar “um rally-tascas monumental”, nas palavras do próprio, que resultou numa “acrobacia com um carro”. Duplamente atirado fora do sistema escolar, Banks optou por desistir de ir para a Universidade. Regressou à sua terra e dedicou-se às vendas porta-a-porta. Mais tarde, tornou-se agente imobiliário. “Era muito bom a persuadir as pessoas a comprarem coisas que não queriam comprar”, resumiu à New Statesman. Com o tempo, chegaria às seguradoras.

A sua capacidade de falar bem e convencer mantém-se um traço de personalidade do Banks de hoje. Mas as qualidades convivem com os defeitos: Banks é conhecido pelo seu pavio curto e espírito vingativo. “O Arron é charmoso, carismático e bastante popular nos círculos da área dos seguros. É muito divertido, o problema é que facilmente se irrita. Se sentir que foi atacado, reage com tudo o que tem”, resumiu à mesma revista uma fonte da área das seguradoras. Essa postura foi por demais evidente durante e após a campanha pela saída da UE. “Nunca peça desculpa”, terá dito o empresário a Donald Trump, quando se encontrou pessoalmente com ele.

Carole Cadwalladr, a jornalista do Observer que está por detrás da maior parte das peças jornalísticas de investigação a Banks, sentiu na pele a fúria do empresário: “Já me chamou histérica, insana, lunática, mulher louca, conspiradora, maluquinha, senhora louca que gosta de gatos, um cabo dos trabalhos, uma pró-Remain amargurada, fã de teorias da conspiração e inimiga do povo”, revelou a própria num artigo de opinião. Mais do que isso: Banks já denunciou Cadwalladrà polícia e, segundo a jornalista, monitoriza de perto os seus dados e a sua vida pessoal. “Uma semana depois de eu ter revelado que a embaixada russa tinha escrito para o Observer a chamar-me ‘um má jornalista’ que tinha ‘revelado as suas verdadeiras intenções’, ele publicou um vídeo humorístico de mim, espancada e a apontarem-me uma arma, enquanto tocava o hino russo.”

Ideologia, vendetta ou ambição pessoal. O que move Banks?

Que Arron Banks é um homem carismático, mas também agressivo quando é necessário, não parece haver dúvidas. Mas, afinal, o que o move? O que motiva um homem a dar uma soma tão grande a uma causa política?

Em 1987, com apenas 21 anos, candidatou-se a eleições para ser escolhido como representante autárquico da sua cidade de Basingstoke, pelo Partido Conservador. Perdeu, mas voltou a tentar mais uma vez. As suas campanhas, conta a New Yorker, foram marcadas pelo destaque dado à segurança e ao combate ao crime. Nas ruas, distribuiu folhetos citando o deputado trabalhista Bernie Grant, que teria dito que a polícia recebeu “uma boa tareia” aquando dos motins de 1985 — uma afirmação que Grant diz ter sido retirada de contexto. Desde cedo ficou claro que Banks sempre se posicionou ideologicamente à direita.

Banks em 2014, ano em que se juntou ao UKIP. Desde então, tornou-se rapidamente "membro da entourage de bebedeira" com o seu à altura líder, Nigel Farage (Peter Macdiarmid/Getty Images)

Peter Macdiarmid/Getty Images)

Mas daí à aproximação dos nacionalistas do UKIP vai alguma distância. Durante anos, Banks doou algumas centenas de libras ao Partido Conservador, mas as suas posições políticas nessa altura são pouco conhecidas. Em 2014, contudo, decidiu unir esforços com o partido populista e eurocético de Nigel Farage. Desde então, tem deixado claro que aquilo que defende alinha com a batuta do partido, muito embora, em 2017, tenha abandonado essa força política citando Taylor Swift: “Nunca voltaremos a estar juntos… Tipo, nunca.” Desde então, Banks tem ameaçado que pode criar o seu próprio partido.

As suas ideias, contudo, mantêm-se claramente alinhadas com as de Farage — que, entretanto, também saiu do UKIP. Banks assume-se como “tribal”, no sentido em que diz defender que os britânicos têm muito mais em comum com os americanos, os australianos ou os sul-africanos do que com as outras nacionalidades. “Devemos ter a nossa identidade destruída pelo globalismo liberal ou devemos manter o orgulho no nosso país e naquilo que acreditamos?”, perguntou, de forma retórica, à New Statesman, conhecida pelas suas posições de esquerda.

E quanto à Europa, Banks defende que o melhor seria uma saída sem acordo da UE. Em 2016, um poster que o jornalista do Guardian viu pendurado no seu gabinete resumia o seu pensamento político: a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, eram retratados como vampiros, “a sugar a vida do Reino Unido”.

Ao mesmo jornalista, Banks apressou-se a esclarecer o ponto em que se encontrava: “De momento, tenho mais em comum com as pessoas do Labour do que com os conservadores, o que é algo muito estranho. Tenho sentimentos fortes sobre a meritocracia, face àquilo que [o à altura primeiro-ministro, David] Cameron representa, que é o de uma clique da elite. A ideia de que um antigo aluno de Eton possa ser substituído por outro é terrível, não é?”, dizia, referindo-se à escola de elite que formou 19 dos primeiros-ministros britânicos.

A ideia de que há uma “elite” que não ouve os anseios do resto da população ganhou raízes em Banks ao longo dos últimos anos e encontrou eco no UKIP de Farage. As críticas contra “os políticos de carreira”, “os media” e o “sistema liberal” podem ser convicções profundas do empresário. Quando o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, William Hague, disse não saber quem era Banks, “foi uma das coisas mais dolorosas que podia ter dito sobre [ele]”, refletiu à New Statesman um membro da campanha pela saída da UE. “Desde esse dia que Banks está a tentar provar que é alguém.”

Ideologia, vendetta pessoal ou uma combinação das duas podem mover um homem de origens relativamente modestas que soube tornar-se rico. Mas há ainda uma terceira hipótese: a de que Banks é simplesmente um homem inteligente que quer estar no centro da ação — e que soube apanhar o zeitgeist do momento político mundial para conseguir fazê-lo, recorrendo a todos os instrumentos de que precisa para poder vir a ser uma estrela no Reino Unido pós-Brexit.

Cada estratégia polémica na campanha, cada ataque pessoal, cada piada feita à custa das suspeitas da ligação à Rússia não surgem por acaso. “Eu entendo porque é que os jornalistas adoram esta merda”, confessou o próprio Arron Banks à New Yorker, sem reservas nem hesitações sobre o interesse mediático na sua própria história. “Ouro, diamantes, Trump, Rússia — quer dizer, como não gostar?”

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