6

Rui Patrício

Se alguém precisasse de uma prova de que o trabalho faz bem ao homem, dá sentido à sua vida, upa-lhe o ego, devolve-lhe alegria, então bastaria ver a extraordinária defesa de Patrício aos 56 minutos. Há dias era um desempregado que sofria golos de Nacho; agora é um milagreiro.

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6

Cédric

O genro que todo o homem sonha para a sua filha: solidário, trabalhador, com capacidade de sacrifício. Subiu pouco mas foi certinho a defender, fechou junto aos centrais e nunca teve medo de meter o pé – em particular aos 36 minutos, quando enfiou uma pantufada num adversário e ainda reclamou. É mesmo assim, puto.

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5

Pepe

Alguém tem de fazer-lhe uma entrada por trás, lançar-lhe um insulto racista, dizer mal do seu cabelo, hackear a sua conta bancária e reduzi-la a zeros, que precisamos (urgentemente) que ele reencontre a sua costela anti-zen, o seu ego de taxista, a sua vertigem de comando, a sua inner-Assunção Cristas.

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6

José Fonte

Perante uma data de marroquinos, José Fonte refreou o seu impulso primário (esmagar crânios) e foi-se limitando a colocar o seu corpo, de forma estóica, entre a bola e a baliza. Quando foi à frente abriu, sozinho, uma clareira por onde entrou Ronaldo para marcar. Ninguém quer zangar-se com José Fonte.

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5

Raphael Guerreiro

Comido por Amrabat numa série de lances, pareceu em défice – de velocidade, Nestum ao pequeno-almoço ou a crença de que um homem é dono do seu destino. Embrulhou-se com um adversário e os marroquinos reclamaram penalty, mas o seu lendário sentido de justiça garante que nunca houve lance tão legal na História.

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2

Bernardo Silva

É um moço ingénuo numa equipa matreira, um escuteiro perdido entre rufias, um aspirante a arquitecto rodeado de anarquistas na posse de cocktails molotof – enfim, é uma bola redonda num jogo de Tetris. Foi esforçado, foi inglório, como um homem de quadris duros numa discoteca de kizomba.

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7

João Moutinho

Corre muito, corta lances perigosos, centra para golo. E corre muito, tem uma energia inesgotável – não deve ser fácil ser esposa de João Moutinho. Melhor em campo entre os mortais.

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5

William Carvalho

É cauteloso e raras vezes arrisca um passe a rasgar. Compensa a sua falta de velocidade com uma apurada leitura de jogo; mantém a serenidade quando todos ao seu lado estão em pânico e mesmo quando chega atrasado improvisa uma solução. Qualidades que, no fundo, o qualificam para vir a ser um óptimo pai.

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2

João Mário

A sua inexistente exibição no jogo contra a Espanha valeu-lhe a titularidade, o que pode ser entendido como uma súmula da filosofia de Santos: mais vale não fazer nenhum que fazer asneira. Mas João Mário fartou-se de fazer asneiras e saiu mais cedo – a ver se aprende que a ideia é evitar fazer o que quer que seja.

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1

Gonçalo Guedes

Aquele falhanço na cara do golo aos 36 minutos e o inacreditável remate aos 50 só demonstram como tem levado a sério a sua missão neste Mundial: fazer disparates consecutivos, perder golos fáceis, destruir contra-ataques, enfim, ser um desastre, de modo a irritar Ronaldo ao ponto de este resolver os jogos sozinho.

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8

Cristiano Ronaldo

Fim do jogo, Ronaldo tomou banho (melhor do mundo a tomar banho), vestiu-se (melhor do mundo a vestir-se), apanhou um avião (melhor do mundo a apanhar aviões) e foi para casa fazer filhos (melhor do mundo a fazer filhos). Amanhã voltará aos treinos de modo a bater recordes de golos. Continua a ser INCRÍVEL.

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3

Gelson Martins

Entrou para agitar mas perante a falta de vontade dos seus colegas em visitar o meio-campo adversário acabou por recuar e contemplar o esforço inglório dos homens na tentativa de terem controlo sobre as suas vida, algo que Gelson sabe bem ser uma utopia.

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3

Bruno Fernandes

Há um vídeo na internet chamado 10 Hours of Paint Drying; trata-se de um único plano de uma parede, presumivelmente branca (a iluminação é má), em que podemos assistir à secagem de tinta de pintar paredes – processo ainda assim mais entusiasmante que o futebol da selecção nacional ou a exibição de Bruno Fernandes.

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3

Adrien Silva

Os comentadores dirão que Santos, com as substituições, procurou controlar – eu prefiro agradecer o extraordinário concerto de ontem dos LCD Soundsystem, aquela dança, aquelas lágrimas, o momento em que se atinge, por festa, a catarse, em que o suor faz esquecer a tristeza, em que o beat é a salvação.

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10

Fernando Santos

A táctica para hoje era marcar cedo, quando nada tivéssemos feito para o merecer, e depois não fazer mais nada, esperar apenas que o adversário falhasse golos e se auto-derrotasse. Mais uma vez brilhante, o engenheiro.

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