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Paulo Jorge Magalhães

Paulo Jorge Magalhães

"Às vezes comovo-me com as declarações de amor à nova pátria que já não eram necessárias de Pichardo e Auriol": entrevista a Jorge Vieira

Líder da Federação de Atletismo diz que esperava mais medalhas na histórica prestação nos Europeus, dá exemplo da língua para explicar integração dos naturalizados e admite falta de infraestruturas.

A herança não era propriamente fácil. Por um lado, Portugal vinha de uma participação olímpica aquém dos resultados habituais em relação ao atletismo, onde desde 1996 houve sempre uma qualquer medalha entre o ouro de Fernanda Ribeiro em Atlanta e o bronze em Sidney, a prata de Francis Obikwelu e o bronze de Rui Silva em Atenas e o ouro de Nelson Évora em Pequim. Por outro, chegava ao fim uma era de quase 20 anos de Fernando Mota. Foi neste contexto que Jorge Vieira assumiu o comando da Federação Portuguesa de Atletismo no final de 2012, passando de vice e responsável pelo Centro de Alto Rendimento para número 1 após vencer Leonel Carvalho nas eleições. Mais de uma década depois, já no seu terceiro e último mandato, a modalidade mudou mas as conquistas continuam a chegar em todas as grandes competições do plano internacional, desta vez com os melhores resultados de sempre nos Europeus de Pista Coberta.

Pedro Pablo Pichardo (triplo) e Auriol Dongmo (peso) revalidaram de forma inequívoca os títulos ganhos em 2021 em Torun, Patrícia Mamona fez a final condicionada por uma lesão contraída na qualificação e “trocou” o ouro da última edição pelo bronze mas houve mais resultados positivos entre a comitiva recorde com 22 elementos, entre os quartos lugares de Tiago Pereira e Jéssica Inchude (triplo), a quinta posição da estreante Arialis Martínez nos 60 metros onde se tornou a primeira a chegar à final e igualou o recorde de Lorene Bazolo, o sexto posto de Marta Pen (1.500 metros) e o oitavo lugar de Evelise Veiga (comprimento). Ao todo foram três medalhas, nove finais e uns inéditos 41 pontos na contabilidade por países. Próximo objetivo? Os Mundiais ao Ar Livre, em agosto em Budapeste. Meta a médio prazo? Os Jogos de Paris-2024.

Em 2012, Jorge Vieira falava do “momento mais difícil da vida”. “Temos motivos de preocupação pelos momentos difíceis que vamos enfrentar. O mundo e o país já não são os mesmos, o futuro não vai ser como até agora”, salientara no discurso de consagração após a primeira de três vitórias em eleições, a última das quais mais “apertada” em outubro de 2020 com António de Carvalho Nobre (34-25). “Temos uma estratégia que nos prepara para o futuro, precisamos que a Federação tenha outro arcaboiço organizativo para manter iguais sucessos aos já alcançados”, frisara, entre desafios financeiros e a necessidade de “gastar muita energia na procura de novos financiamentos”. Agora, em entrevista ao programa “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador, o dirigente admite que existem carências de infraestruturas mas destaca os feitos que a modalidade continua a alcançar sendo também um exemplo para a sociedade de integração, como aconteceu antes com Francis Obikwelu e ocorre agora com Pedro Pablo Pichardo ou Auriol Dongmo.

[Ouça aqui a entrevista de Jorge Vieira no “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador]

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“Foi bom mas esperava ainda mais medalhas”: entrevista a Jorge Vieira, presidente da Federação de Atletismo

Como é que analisa os resultados da Seleção nestes Europeus de Pista Coberta com 22 atletas, dois ouros, três medalhas, nove finalistas e 41 pontos que são mais um recorde de Portugal nas participações nesta prova?
É sempre com um grande orgulho e satisfação que ao representar a modalidade nós chegamos a estes momentos porque são os momentos que ambicionamos. Desporto é ganhar, naturalmente sabemos que o ganhar também se faz de muitas derrotas e estes atletas sabem bem o que isso custa. Foi um bom fim de semana para o atletismo português porque batemos recordes, e o atletismo aí é a modalidade que mais está ligada aos recordes porque é sempre um dos nossos objetivos, fazer uma marca melhor a nível pessoal, do clube, regional, nacional, europeu e mundial. Foi uma prova individual que no fim tem um resultado coletivo e os 41 pontos colocaram-nos numa posição excelente em termos europeus em comparação com os países de referência. Aqui não há competições relativas, temos dez milhões e competimos com países muito maiores e com outro desporto, evolução e capacidade de investimento. Por isso, é sempre bom superar-nos. As medalhas são sempre a ponta do icebergue mas é o que traz visibilidade, sem medalhas provavelmente não estaríamos a ter esta conversa…

Daquilo que perspetivava, Portugal ganhou as medalhas que tinha projetado ou esperava pelo menos mais um ouro da Patrícia Mamona se não tivesse aquele problema físico?
Esperaria que a Patrícia fosse também campeã da Europa, para uma vice-campeã olímpica era de esperar que conseguisse, mas confesso que esperava mais até em termos de medalhas, o que não quer dizer de maneira nenhuma que foi um insucesso ou que ficámos aquém. Eu com a idade que tenho e com os anos que tenho da modalidade sei bem o que é traçar expectativas e fazer isso, expectativas de vitórias ou derrotas no desporto é sempre um exercício de adivinhação onde não devemos cair. Acho sempre muita piada à entrada dos estágios quando se pergunta quem vai ganhar…

Mas quando olhamos para o desporto nacional, é assim também que se gerem fundos e bolsas, o projeto olímpicos por exemplo tem sempre essa base de uma expectativa de medalhas, finalistas, meias-finais etc…
É mas sabemos que acaba por sempre por ser atribuído depois o apoio através do histórico das modalidades, não através dos sonhos. Se o atletismo português vivesse só do sonho futuro não teria o apoio que tem porque temos um currículo olímpico imbatível, incomparável com outras modalidades… Temos os únicos campeões olímpicos do desporto português que são cinco, infelizmente para o desporto porque podíamos ter outra performance, entre o muito orgulho para nós. Estamos atrasados a nível de medalhas olímpicos comparando com os países da nossa dimensão mas não vivemos só de sonhos e objetivos futuros, vivemos também do nosso historial e é por aí que nos são atribuídos os apoios para a preparação olímpica e no âmbito do IPDJ de forma mais geral para o desenvolvimento da modalidade. Estas modalidades são também fundamentais para isso…

"Confesso que esperava mais até em termos de medalhas [nos Europeus de Pista Coberta], o que não quer dizer de maneira nenhuma que foi um insucesso ou que ficámos aquém. Sei bem o que é traçar expectativas e fazer isso, expectativas de vitórias ou derrotas no desporto, é sempre um exercício de adivinhação onde não devemos cair"
Jorge Vieira

A Patrícia Mamona explicou que se tinha lesionado na altura da qualificação. Já sabia antes da final que estava lesionada ou que ia saltar condicionada? E como é que se gerem essas horas em que é preciso ouvir o atleta e perceber como se sente?
Eu não sabia e diria que devia saber, eu e até em termos públicos. Acredito a 1.000% de forma enfática na queixa da atleta mas são pequenos pormenores, e julgo que se aprende com o tempo, que me levam a dizer que devia ter sido dito antes mesmo que participasse. Assim, pode soar a desculpa e é muito injusto para a atleta, sabemos que há pessoas assim para pensarem tudo. Não acredito que a Patrícia fizesse isso, ela sempre assumiu claramente o que é perder e o que é ganhar, quando perde diz que está concentrada na próxima prova e já lhe aconteceu antes da medalha olímpica e de outras medalhas. Não precisaria de fazer isso. Às vezes são perceções de lesão, de queixas, de dores, e a minha área técnica enquanto treinador era a dos saltos. Quem vê, não via razão nenhuma de queixas mas quando se tem mialgias, e o triplo salto é uma disciplina muito violenta, foi algo que sentiu no aquecimento ou no dia anterior…

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O Pichardo voltou a não ter adversários, ganhou até com uma diferença maior do que tinha conseguido nos últimos Mundiais e Europeus ao Ar Livre. Nesta altura em termos europeus só o Jordan Díaz é que consegue dar luta ao Pichardo?
Não sei, vamos ver o futuro… O triplo salto é uma disciplina extremamente ingrata, deixa sempre no ar a possibilidade de haver surpresas pelo tipo de esforço que representa. Arrisco dizer que é a disciplina mais violenta e agressiva em termos de stress físico que o atletismo tem e a todos as modalidades menos as lutas e combates. Na queda do primeiro salto, o peso do corpo chega a atingir 20 vezes no impacto. É uma situação de stress muito grande a nível muscular, de articulações, de ligamentos. Por isso, atletas que são grandes esperanças chegam ao momento da competição e não aparecem, por estarem lesionados. Isto obriga a uma gestão inteligente do esforço por parte dos atletas, a nível do treino e da competição. O Pedro tem conseguido com o treinador e pai uma gestão muito boa destas cargas, o que tem feito com que chegue num magnífico ponto a estes momentos no dia certo. Espero que assim continue mas com o acrescentar de anos e o envelhecimento a que todos estamos sujeitos o atleta sente um grande impacto. Até agora tem conseguido gerir tudo isto e espero que nos momentos certos, e o próximo vai ser este ano nos Mundiais ao Ar Livre em Budapeste, ele esteja a um bom nível…

epa10499201 Pedro Pichardo of Portugal competes in the Men's Triple Jump qualification at the European Athletics Indoor Championships in Istanbul, Turkey, 02 March 2023.  EPA/Tolga Bozoglu epa10501127 Pedro Pichardo of Portugal in action during the Triple Jump Men Final at the European Athletics Indoor Championships in Istanbul, Turkey, 03 March 2023.  EPA/Tolga Bozoglu O atleta de triplo salto, Pedro Pichardo, chega após a participação nos Europeus de atletismo em pista coberta 2023 onde conquistou uma medalha de ouro, no Aeroporto de Lisboa, 05 de março de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

Pedro Pablo Pichardo revalidou o título europeu indoor a bater duas vezes o recorde nacional em Istambul (e a ganhar com mais de um metro de avanço)

Tolga Bozoglu/EPA

E mais uma vez sem estar ainda a competir com o Jordan Díaz…
Aqui sou muito claro, não posso desejar que os outros estejam todos em muito bom estado, acho graça até quem diz isso. Não acredito nesse discurso de ter sempre os melhores em campo neste tipo de competição porque o resultado final também depende da competição e de toda a gestão que o atleta fez da sua vida, do seu estado de saúde, do seu estado de forma e do seu equilíbrio mental, porque algumas das últimas principais estrelas… Não gosto de dizer isto até pela minha vertente mas alguns atletas têm sido bastante desequilibrados na forma como abordam as suas carreiras e viu-se isso já no tempo do Nelson Évora, que foi um grande exemplo de equilíbrio e de resiliência para sair dos momentos difíceis que a carreira teve, algumas gravíssimas com faturas. Foi isso que o levou a uma longevidade extraordinária e excecional nesta disciplina, que não é muito dada para grandes longevidades…

Olhando para o Pichardo e para o Jordan Díaz, entre todos os outros, o que é que esta escola cubana tem de especial a nível dos saltos que cria tantos atletas de topo?
Uma das razões tem a ver não só com Cuba mas também com as Caraíbas, é uma tese que está em cima da mesa e que tem a ver com os circuitos da escravatura. É interessante chegar a este tipo de análises até de carácter histórico e social porque muitos destes povos das Caraíbas são oriundos da escravatura da zona vinda da Nigéria, onde surgiu também o nosso Francis Obikwelu que veio para cá com 17 anos para um Campeonato do Mundo e que se fez cá porque praticamente não tinha treinado atletismo até vir para cá. Os velocistas têm muito origem desta zona, já os fundistas vêm sobretudo da zona do Quénia e da Etiópia, outra área de África. Mas nada disto resulta apenas das raízes e do talento, nem os saltadores da Jamaica nem os saltadores da escola cubana, porque o talento só se confirma num ambiente social em que o desenvolvimento lhes é proporcionado, as condições de treino, os bons treinadores… A partir do momento depois já é tudo isto mais a tradição. Na Jamaica por exemplo todas as crianças na escola querem experimentar para ver se pode ser também um Usain Bolt ou no caso de Cuba serem como os grandes saltadores como o Javier Sottomayor. Há uma cadeia de tradição e essa é uma das grandes forças que um país pode querer ter para que os jovens depois possam ter essa escola. Tivemos essa tradição no meio-fundo, numa época circunscrita no tempo com um país diferente daquele que é hoje, muitos queriam experimentar e perceber se podiam ser como Lopes, Mamede, irmãos Castro, Rosa Mota ou Fernanda Ribeiro. Mas hoje estamos orientados noutras direções…

Fechou um ciclo de ouro, começou um novo ciclo com ouro: Pichardo revalida título de campeão europeu de Pista Coberta

Muito mais orientados até…
Sim, felizmente também, e às vezes sou atacado por dizer isto porque as pessoas acham que o atletismo é o meio fundo e o resto é paisagem. O atletismo tem 24 disciplinas olímpicas, não é apenas o meio fundo. O ideal em termos de desenvolvimento é ter um atletismo que participe no maior número de disciplinas. Por exemplo, agora em Pista Coberta só não estivemos representados no salto com vara. Isso é significativo e é algo inédito, há uns anos o atletismo participava nestas provas até de Pista Coberta só com atletas de meio fundo…

Tivemos aqui um outro ponto novo que foi a final dos 60 metros, não estávamos habituados a ter alguém na decisão e a acabar igualando o recorde nacional da Lorene Bazolo. Como viu a estreia da Arialis Martínez pela Seleção e como foi a adaptação sendo mais uma atleta originária de Cuba?
Pelos vistos, a adaptação é boa… Integrou-se bem na equipa, esteve sempre feliz e satisfeita por estar na Seleção mas ainda mais relevante nesta participação destas três atletas é o facto de terem passado a primeira eliminatória, duvido que tenha havido muito mais países a conseguir isso [n.d.r. nos 60 metros só a Polónia conseguiu]. Isso é extremamente importante e ter chegado à final também. É um atletismo diferente num país que também é diferente, desportivamente e a todos os níveis.

Uma final inédita, um final histórico: Arialis Martínez acaba em quinto e iguala recorde nacional dos 60 metros

Além do Pichardo e da final da Arialis, a Auriol Dongmo também revalidou o seu título. À exceção da Patrícia Mamona, os melhores resultados chegaram de atletas naturalizados. Considera que, depois da polémica nos primeiros tempos de Pichardo também ligada a guerras entre clubes, se a naturalização de atletas é uma página virada e o atletismo é um exemplo de integração para os outros e até para a sociedade?
Isso é absolutamente indiscutível para mim porque lido com estes atletas de forma regular, nos locais de treino e nas competições internacionais. Basta ver um Pedro Pichardo, o esforço que tem feito, e é um esforço que lhe dá prazer, de ser cada vez mais português na linguagem. Só tenho pena que o sotaque castelhano leve algumas pessoas a pensar que ele não fale português…

"O investimento numa língua estrangeira do país de adoção é o primeiro grande sinal de integração. Como dizia o Fernando Pessoa 'Eu sou a minha língua' e neste caso eles entenderam isso de forma natural, para ser português tenho de dominar o português e integrar-me em termos linguísticos. Aí a integração é plena, no caso do Pedro Pichardo com algum azedume relativamente ao passado e à sua dupla nacionalidade"
Jorge Vieira

Ele próprio diz, o sotaque vai ser sempre o maior problema…
Pois, é que ele fala um português praticamente perfeito… Se calhar algumas pessoas acham que ele está a falar um espanhol mais lento e devagarinho mas não, fala já português como a Auriol, que me surpreendeu agora porque fez um progresso extraordinário. Provavelmente teve aulas, o Pedro [Pichardo] teve a partir da sua própria iniciativa… Tivemos o Francis Obikwelu, e ele vai-me desculpar dizer isto assim mesmo percebendo, sempre foi um pouco trapalhão e isso tornou-se quase uma imagem de marca dele mas porque não investiu o que estes têm investido na língua. O investimento numa língua estrangeira do país de adoção é o primeiro grande sinal de integração. Como dizia o Fernando Pessoa ‘Eu sou a minha língua’ e neste caso eles entenderam isso de forma natural, para ser português tenho de dominar o português e integrar-me em termos linguísticos. Aí a integração é plena, no caso do Pedro Pichardo com algum azedume relativamente ao passado e à sua dupla nacionalidade. Sinto esse orgulho da parte deles em termos de representação do país, às vezes comovo-me com as declarações que já não eram necessárias de amor à nova pátria e de forma genuína porque sentiram que foram apoiados, foram integrados e tiveram um país que os acolheu apesar de alguns incidentes iniciais que de algum modo também compreendo. Hoje fazem parte da nossa sociedade a 100%, sem qualquer dúvida…

Ganhou à Jessica, só faltou a Jéssica: Auriol Dongmo revalida título europeu em Pista Coberta aos 32 anos

Vamos ter agora os Mundiais em agosto…
Antes ainda o Europeu de Nações, que é uma prova coletiva na Polónia que também é importante para nós e espero que estejam em bom nível…

O Europeu de Nações, os Mundiais em agosto, depois os Europeus ao Ar Livre antes dos Jogos Olímpicos. Quais são as perspetivas que tem em Paris até por aquilo que a Patrícia Mamona fez em Tóquio e por aquilo que a Auriol ia fazendo, com um quarto lugar a cinco centímetros do bronze, e como é que vê o atletismo português hoje quando está no último mandato depois de mais uma década na liderança da Federação?
É muito ingrato responder a essa questão porque não encontrei o atletismo em 2013, já estava como diretor técnico nacional e vice-presidente durante 12 anos…

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LUSA

Mas enquanto presidente o atletismo foi mudando, quando assume a liderança Portugal vinha de uma das prestações menos conseguidas nos Jogos de Londres…
Foi, foi mudando, claro… Já estive em muitas medalhas olímpicas do nosso atletismo, em muitas mais europeias e mundiais, custa-me muito fazer essa divisão. O que gostaria de deixar, e isso não quer dizer de maneira nenhuma que esteja satisfeito com aquilo que já foi feito porque não estou nem estarei… Quando nos envolvemos no alto rendimento, e isso tem de ser com provas internacionais, queremos sempre mais, queremos competir com os melhores países, queremos mais medalhas… Às vezes estou nas bancadas, em Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo, e o meu pensamento é ‘Porque é que nós não estamos nesta disciplina, porque não somos tão competitivos?’. Às vezes quando vejo atletas da Bélgica, dos Países Baixos, da Suíça, os países nórdicos que considero da nossa igualha em termos de população, fico sempre instisfeito…

E como vê o atletismo português nesta fase?
Julgo que temos um atletismo muito mais equilibrado, os mais de 20.000 filiados são para mim um número irrisório porque parto do princípio que o atletismo é a modalidade mais praticada em Portugal, não é o futebol, mas falta-nos na realidade, e é mau por ser uma modalidade individual nesse aspeto, filiar estes atletas que todos os dias praticam a modalidade e participam em competições regulares. Se o fizessem, éramos de longe, e não perdi esse objetivo, a modalidade com mais filiados porque temos esses atletas. A nível de competições internacionais, nenhuma modalidade tem o sucesso que temos e isso deve-se ao historial do atletismo, aos 100 anos da modalidade que foram feitos pela Federação no último ano, uma bonita idade que representa uma história feita de grande sacrifício. Temos dificuldades brutais no desenvolvimento da modalidade…

Como por exemplo?
Por exemplo, para uma modalidade olímpica como a nossa, a número 1 olímpica em termos de antiguidade clássica e modernos, modalidade feita em estádio, feita em pista, com 24 disciplinas, se explanasse a nossa realidade em termos de pistas para qualquer jovem no país que queira praticar a nossa modalidade tínhamos uma surpresa muito grande porque são pouquíssimos os concelhos no país com pistas. Todos os concelhos têm campo de futebol, em todos têm sintéticos, têm pavilhões desportivos, têm piscinas mas é uma minoria aqueles que têm pistas de atletismo. Um exemplo paradigmático: o distrito de Viseu, o maior em termos de número de concelhos, são 24, só temos uma pista que foi agora reinaugurada mas que esteve dez anos ou mais sem ser utilizada. Na minha vigência como presidente fizemos uma prova mas com a pista já em muito mau estado… É esta a nossa realidade: o atletismo tem algo muito bom que são as provas de estrada, que têm muitos praticantes, mas há um lado negativo porque leva muitos concelhos a acharem que têm atletismo porque as pessoas andam a correr mas não há aquele atletismo olímpico…

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