Depois de ter sido dado como morto no final de 2020, apareceu novamente a 11 de Setembro do ano passado, para assinar o 20.º aniversário dos atentados. Ayman al-Zawahiri terá sido durante muitos o braço direito de Bin Laden e é tido como “o cérebro” por trás dos atentados do 11 de Setembro em Nova Iorque. Agora, foi morto naquilo a que os Estados Unidos chamam uma “operação de contraterrorismo bem-sucedida”, no Afeganistão.
Ayman al-Zawahiri foi inúmeras vezes apresentado como “o principal ideólogo” da Al-Qaeda, era comum encontrá-lo nas fotografias ao lado de Osama Bin Laden, o líder da organização terrorista que foi morto a 1 de maio de 2011. Foi, aliás, a morte de Bin Laden que levou Ayman al-Zawahiri à liderança da organização. Mas a sua ligação a organizações extremistas é anterior, foi um dos responsáveis pela fundação da Jihad Islâmica Egípcia.
O médico, que chegou a ser o médico pessoal de Bin Laden, morreu aos 71 anos depois de há menos de um ano ter pedido uma guerra em que “o mundo inteiro será campo de batalha”. Com a cabeça a prémio, na lista dos 22 terroristas mais procurados, depois dos ataques de 2001 e uma recompensa estimada em mais de 25 milhões de dólares, Zawahiri assumiu-se como porta-voz da Al-Qaeda especialmente em 2007, ano em que apareceu 16 vezes a dar a cara numa altura em que a organização terrorista procurava recrutar mais quadros para a luta.
Zawahiri nasceu no Cairo, a 19 de junho de 1951, no seio de uma família de médicos, professores universitários e políticos. Aos 15 anos foi preso pela primeira vez, por ser membro da Irmandade Muçulmana — a maior e mais antiga organização islâmica do Egipto. Formou-se em medicina na Universidade do Cairo em 1974, tendo recebido o grau de mestre quatro anos depois em 1978.
Ainda que nos primeiros anos tenha mesmo exercido medicina numa clínica que abriu nos subúrbios da capital do Egipto, cedo concentrou as atividades em grupos islâmicos radicais que tentavam derrubar o governo do país. Depois de se ter juntado à Jihad Islâmica Egípcia foi preso, em 1981, durante três anos condenado por posse ilegal de armas (conseguiu, ainda assim, ser ilibado da acusação de assassinar o presidente Anwar Sadat, durante um desfile militar no Cairo).
De acordo com os relatos de outros prisioneiros, Zawahiri terá sido torturado e espancado durante o tempo em que esteve na prisão o que terá contribuído para se radicalizar ainda mais. Em 1985 Zawahiri sai do país para a Arábia Saudita, a primeira paragem antes de rumar a Peshawar no paquistão e depois para o Afeganistão, onde fundou um novo braço da Jihad Islâmica Egípcia — ao mesmo tempo que exercia medicina, durante a ocupação soviética.
Bulgária, Dinamarca, Suíça, Balcãs, Áustria ou Filipinas. A busca por fontes de financiamento
Depois da retirada soviética do Afeganistão Zawahiri terá percorrido vários países, na década de 90 do século passado, à procura de financiamento para as atividades no país. Segundo a BBC, terá vivido na Bulgária, Dinamarca, Suiça, viajado pelos Balcãs, Áustria, Iémen, Iraque, Irão, Filipinas e até na Chechénia onde foi mantido sob custódia russa em 1996 durante seis meses.
Sem forma de traduzir os textos em árabe que tinha no computador, segundo um relato do próprio Zawahiri, terá sido assim que a sua identidade se manteve desconhecida para o governo russo. Voltou depois para o Afeganistão, para a mesma cidade onde Bin Laden vivia, tendo agregado vários grupos islâmicos radicais, naquilo que seria a Frente Islâmica Mundial para a Jihad Contra dos Judeus e os Cruzados. Terá sido a partir daqui, em 1998, que ambos começaram a aparecer como equipa, sempre lado a lado, com Zawahiri a ser apresentado como “conselheiro” de Osama Bin Laden.
Ambos assinaram uma fatwa que tinha como objetivo “matar e lutar contra americanos e aliados”: “O julgamento de matar e lutar contra americanos e seus aliados, sejam civis ou militares, é uma obrigação para todo o muçulmano”.
O ponto alto da concretização da fatwa terão sido mesmo os ataques de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos, quando milhares de norte-americanos foram mortos nos ataques feitos depois de desviados quatro aviões.