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Resignado e conformado. Na Sala Oval, acompanhado pela família (incluindo o filho Hunter), o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) fez um discurso para explicar os motivos pelos quais decidiu não se recandidatar a um segundo mandato. Ainda que tenha destacado que “merecia” concorrer novamente, Joe Biden reconheceu que o assunto não é sobre si: “É sobre a família e o futuro”.
De acordo com o líder da Casa Branca, a democracia está “em risco” nos Estados Unidos e ele próprio não era a pessoa certa para a proteger, se bem que nunca tenha explicado claramente porquê, nem tenha mencionado o nome do adversário republicano, Donald Trump. Neste contexto, a decisão do Presidente consistiu em “passar a tocha” a “novas vozes, vozes frescas e vozes jovens”, nomeadamente àquela que é a mais provável sucessora como candidata do Partido Democrata, Kamala Harris.
Num discurso de 20 minutos, Biden falou sobre a história dos Estados Unidos, realçando as particularidades de um país que está ancorado na “ideia mais poderosa do mundo”, mantendo-se uma república em que “reis e tiranos” não governam. Lembrou obra feita, fez promessas para os próximos seis meses e concluiu que foi um “privilégio” ser Chefe de Estado e servir o país “durante 50 anos”. “Dei a alma e coração pelo meu país. Fui abençoado pelo amor e o apoio do povo norte-americano e não escondo o quão grato eu estou a todos.”
A defesa da democracia e o “ponto de inflexão” na História
Recordando os antigos Presidentes George Washington, Abraham Lincoln ou Franklin Roosevelt, Joe Biden louvou as características dos Estados Unidos enquanto país — e que considera estarem, neste momento, em risco. “A natureza de quem somos está em risco. A América é uma ideia, uma ideia mais forte do qualquer exército, maior do que qualquer oceano, é mais poderosa do qualquer ditador ou tirano. É a ideia mais poderosa do mundo.”
O democrata assinalou igualmente que concorreu à presidência há quatro anos porque considerava precisamente que a “América estava em risco”. Ora, apesar de o atual Presidente nunca mencionar Donald Trump, restam pouco dúvidas de que se estava a referir ao seu antecessor. Em 2020, o milionário republicano saiu da Casa Branca para entrar Biden.
Neste momento, segundo o Presidente norte-americano, os Estados Unidos enfrentam um “ponto de inflexão” e tem de “escolher entre ir para a frente, ou ir para trás”. Por outras palavras, Joe Biden acredita que a eleição de Donald Trump para a Casa Branca simbolizaria um retrocesso e um perigo para a democracia norte-americana.
“A história está nas vossas mãos, o poder está nas vossas mãos, a América está nas vossas mãos. Mantenham a fé e lembrem-se de quem nós somos”, afirmou Joe Biden durante o discurso, acrescentando que a “coisa incrível” do país é que “reis e ditadores não mandam, as pessoas fazem-no”.
Um partido dividido, os jovens e Kamala como “líder capaz, dura e experiente”
Se bem que nunca o tivesse dito diretamente, é claro no discurso que o Presidente entendia que estava numa posição politicamente frágil para derrotar Donald Trump. As sondagens assim o indicavam e o debate de dia 27 de junho — em que demonstrou dificuldades para impor as suas ideias — consolidou ainda mais essa ideia.
Assim sendo, Joe Biden enfatizou que “nada” — nem mesmo as suas “ambições pessoais” — podiam “colocar-se no caminho” de “salvar a democracia”.
Biden reconheceu igualmente que o Partido Democrata não estava “unido” em redor da sua candidatura. Ressalvando que continua a acreditar na sua visão de liderança e de visão para o futuro dos EUA — e que por isso “merecia” uma segunda oportunidade —, o Chefe de Estado concluiu que os seus correligionários não sentiam o mesmo e que isso o enfraqueceria ainda mais.
Para a defesa da democracia, é preciso, então, “passar a tocha” a novas vozes, principalmente àquela que será provavelmente a candidata democrata nas presidenciais e que é a sua “vice” no atual mandato. “Tomei a minha decisão. Apoiei a vice-presidente Kamala Harris. Ela é a experiente, capaz, dura e foi uma parceira incrível”, elogiou.
“Parar Putin”, terminar com a “guerra em Gaza” e tornar a NATO mais forte: as promessas para os próximos seis meses
Ainda que não se recandidate, Joe Biden prometeu que vai continuar a trabalhar nos próximos seis meses. Na economia — que quer que “continue a crescer” —, vai continuar “focado” nas necessidades dos trabalhadores.
“Quero tornar claro que não há lugar para violência política na América. Proteger as crianças de armas e da crise climática, que é uma crise existencial”, prometeu ainda o Chefe de Estado, planeando levar igualmente a cabo uma “reforma do Supremo Tribunal”, algo que é “crítico para a democracia” norte-americana.
Sobre política externa, Joe Biden pretende continuar a ser o “líder do mundo livre”, frisando que os EUA não “estão em guerra em lado nenhum”. Porém, um dos objetivos do atual Presidente é parar o seu homólogo russo, Vladimir Putin, “de conquistar a Ucrânia e fazer mais danos”. “Quero que a NATO seja mais forte, unida e poderosa do que em qualquer altura. O mesmo para os aliados no Pacífico.”
Noutras geografias, Joe Biden sinalizou que vai continuar a “trabalhar para terminar a guerra em Gaza. Para trazer paz e segurança para o Médio Oriente. Trazer os reféns para casa. E libertar prisioneiros norte-americanos detidos pelo mundo”.
“Chegámos tão longe”: Biden lembra obra feita
O Presidente dos Estados Unidos não tem dúvidas que o país “chegou tão longe” sob o seu mandato, ultrapassando a “pior crise económica desde a Grande Depressão” e a “pior crise da democracia desde a guerra civil”. “Juntámo-nos como americanos. Mais seguros, mais prósperos. Somos a economia mais forte do mundo. A inflação continua a diminuir. Reconstruimos a nossa nação”, elencou.
“As fábricas voltaram a América. Os chips, a inovação. Lutámos contra as farmacêuticas para ter medicamentos mais baratos. Mais pessoas têm acesso a cuidados de saúde do que antes”, louvou ainda.
Joe Biden recordou ainda que, durante o seu mandato, “fortaleceu a fronteira” e manteve o compromisso de eleger para o Supremo Tribunal uma “mulher negra”. “Montei uma administração que se parecesse como a América. Foi o que fiz.”
Mais além do que as suas ambições políticas, Joe Biden abandonou a corrida. Ciente de que tinha perdido o apoio do partido e que poderia perder em novembro, o atual Presidente acabou por aceitar não se recandidatar. Um sacrifício que o líder justificou com dois bens maiores — a proteção da democracia e a manutenção da “ideia” da América.