É o mês dos regressos e no supermercado não será exceção. Depois de um agosto de descida dos preços, setembro arranca com novos aumentos nas prateleiras dos supermercados. A recolha feita mensalmente pelo Observador revela que, face à análise do mês anterior, os preços subiram no cabaz selecionado em dois dos três supermercados incluídos na iniciativa mantida desde abril do ano passado, quando a guerra na Ucrânia começou a ter efeitos na mesa dos portugueses.

O Cabaz Observador de setembro mostra que no Continente, o conjunto de produtos escolhidos aumentou 12,32% face a agosto, para um valor médio de 59,73 euros. Já nas lojas Auchan, a subida foi de 10,65% para os 61,82 euros. Por sua vez, o preço do cesto de produtos na loja online do Pingo Doce (Mercadão), baixou 0,77% para 61,83 euros, ou seja, o valor mais elevado entre as três insígnias. No total, o cabaz registou um valor médio de 61,13 euros, mais 7,02% do que no mês anterior, ou mais 4,01 euros.

O cabaz é composto por óleo alimentar, atum, farinha, arroz, massa, bolacha Maria, cereais Corn Flakes, leite, farinha láctea, maçãs, bacalhau, frango, feijão, ovos, açúcar, pão, papel higiénico e fraldas. Praticamente todos estes produtos estão abrangidos pela medida do IVA zero, que o Governo adotou a 18 de abril na tentativa de aliviar o aumento dos preços, e que isenta de IVA 46 categorias de produtos alimentares. Ficará em vigor até, pelo menos, ao fim deste ano, tal como já confirmou o Executivo, que admite esticá-lo para 2024, caso a escalada se mantenha.

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O objetivo desta recolha é acompanhar a evolução dos preços a cada mês e não fazer comparações entre supermercados. É publicada no primeiro dia útil de cada mês.

No mês em que a inflação terá invertido a tendência de abrandamento que já se estendia há nove meses, tendo acelerado seis pontos para 3,7% em agosto, nos produtos alimentares não transformados isso não aconteceu. Os dados preliminares do INE, publicados esta quinta-feira, revelam que o índice relativo a estes produtos verificou um abrandamento de 6,8% para 6,5% em agosto.

Cabaz Observador. Preços desceram em agosto mas ainda não chegou a todos os produtos

No cabaz compilado pelo Observador, o que se vê na análise aos produtos básicos no arranque de setembro é que o efeito das promoções continua a pesar, e muito, no valor final da cesta. A maior parte dos produtos não registou oscilações de preços significativas entre agosto e setembro, mas o efeito ‘desconto’ teve um peso substancial no bolo final. As fraldas, o produto mais caro do cabaz, registaram promoções em agosto que não se estenderam a setembro, o que influenciou o preço do cabaz.

Um dos fenómenos de setembro nas prateleiras das grandes superfícies deu-se com os Corn Flakes. Nos três supermercados analisados, estes cereais tiveram exatamente o mesmo aumento, de 7,52%, ou 30 cêntimos, custando agora 4,29 euros no Pingo Doce, Continente e Auchan.

O fenómeno dos cereais não é novo nem exclusivo de Portugal. O índice dos cereais da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostra uma descida dos preços em julho, com algumas exceções. Uma delas é o trigo, que escalou 1,6% devido à “incerteza face às exportações da Ucrânia”, após o fim do acordo do Mar Negro com a Rússia. Uma incerteza que também teve repercussões no preço do óleo de girassol, que subiu 15% em julho. A seca no Canadá e nos Estados Unidos também contribuiu para a subida dos preços, segundo a análise da FAO.

Outra preocupação que está a agitar os mercados internacionais é o arroz, que em julho aumentou 2,8% no índice da FAO, atingindo o nível de preços mais elevado desde setembro de 2011. O arroz foi atingido, nos últimos meses, por uma tempestade perfeita. Na Índia continuam proibidas as exportações de todos os tipos de arroz que não basmati, de forma a controlar os preços internos, porque as colheitas foram muito afetadas por fenómenos climáticos. Isto aumentou a pressão noutros mercados exportadores, também afetados pelo clima.

É o caso da Tailândia, fustigada pelo tempo seco, e da China, onde a chuva inundou parte da principal região exportadora de arroz. Nos supermercados portugueses os efeitos ainda não se fizeram sentir. O preço do arroz manteve-se no Continente, baixou no Auchan por estar em promoção e aumentou mais de 20% no Pingo Doce porque esteve com desconto no mês anterior.

Desde abril de 2022, ou seja, desde o início da guerra, a subida do preço do arroz foi, no entanto, das mais expressivas, oscilando entre os 46% e os 58% nos três maiores supermercados portugueses. Os aumentos totais do cabaz neste espaço de tempo variam entre os 10,61% e os 25,09%.

Em Portugal, a medida do IVA zero é, para já, a mais sonante na tentativa do Governo de controlar os preços. Em França, o executivo está a ir mais longe. A inflação alimentar francesa ronda os 11%, enquanto a inflação total está nos 4,8%. Esta semana foi anunciado um acordo entre o Governo e o setor da distribuição para que, no próximo ano, os preços de cinco mil produtos não possam mexer, a não ser que seja para um valor inferior.

França já tinha esta medida em vigor mas para apenas 1500 produtos. O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, acusou ainda grandes multinacionais como a PepsiCo, a Nestlé e a Unilever, detentoras de milhares de marcas alimentares presentes nos supermercados, de não estarem a fazer a sua parte na luta contra o aumento dos preços, nomeadamente de estarem a aproveitar a conjuntura para aumentar as suas margens, uma prática conhecida como “inflação por ganância”.

Por cá, não são conhecidas novas medidas nem intenções. Apenas que verá a luz do dia em setembro, segundo avançou esta quinta-feira a ministra da Agricultura à Lusa, o Observatório dos Preços, cuja criação foi anunciada pelo Governo em maio do ano passado, para vigiar as margens do setor agroalimentar e promover mais transparência. O projeto “está pronto há mais de um mês”, de acordo com Maria do Céu Antunes, e vai ser revelado primeiro à Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar (PARCA). O Observatório “vai mostrar os preços de quatro anos a esta parte e vai tendo atualizações semanais para que tenhamos uma perceção mais real daquilo que está a ser cobrado pela entrega dos alimentos aos consumidores”, adiantou a ministra.

Governo cria Observatório de Preços para vigiar custos, preços e margens do setor agroalimentar