De Bragança a Faro, de Lisboa ao Porto. Não há distrito que não tenha sido alvo de campanha dos Antónios. E na longa viagem para tentar convencer militantes e simpatizantes, que já leva um mês, só escaparam (ainda) os Açores. António José Seguro e António Costa já fizeram um total de 26 deslocações desde que foram aprovadas as eleições primárias para a escolha do candidato a primeiro-ministro. Para já, o autarca de Lisboa leva vantagem nos quilómetros nas pernas e nas iniciativas na bagagem.
No início do mês de junho, a campanha fez-se nas redes sociais e na comunicação social. Fechada a primeira semana, os dois fizeram-se à estrada. Seguro começou a volta na Feira Nacional de Agricultura onde disse “não estar preocupado” com nada, quando questionado sobre as sondagens que o davam atrás de António Costa na preferência dos portugueses. Mas foi em Moreira de Cónegos, no dia 20, que teve a sua primeira iniciativa formal enquanto candidato.
Juntos aos apoiantes, repetiu a ideia de que resolveu “o problema” criado por António Costa ao marcar as eleições primárias abertas. Resposta a um pedido feito por Jorge Sampaio, Manuel Alegre, Almeida Santos e Vera Jardim, que lhe pediam uma resolução rápida da crise interna.
Além desta deslocação, Seguro fez desde o dia 1 de junho, oito deslocações (registadas no site do PS, enquanto secretário-geral, quer na agenda de campanha oficial enviada para jornalistas) e durante o fim de semana visitará mais três distritos, enquanto candidato. Das onze iniciativas desde o início de junho, António José Seguro fez cinco enquanto secretário-geral do partido e foram incluídas nestas contas, porque apesar de o ter feito enquanto líder do PS e não na qualidade de candidato, fez declarações que podem ser consideradas no âmbito da campanha, mesmo que oficiosa, para a primárias.
No conjunto já foi a Santarém, Barcelos, Moreira de Cónegos, Vila Nova de Gaia, Guarda, Barroselos (Viana do Castelo, a convite do presidente da Câmara) e Nazaré. No fim de semana vai a Vila Real, Viseu e Bragança.
A última que fez foi na quarta-feira, dia 2, na Nazaré. Por lá, Seguro disse que “na política não vale tudo” e onde lamentou a situação atual do partido: “É por isso que nós não tínhamos que passar por isto e, por isso, aqui estamos juntos, irmanados dos mesmos valores e para dizer coisas simples, e a primeira coisa simples que diremos esta noite é que, connosco na política, não vale tudo, não vale mesmo tudo”, frisou.
António Costa andou mais. O presidente da câmara de Lisboa já fez quinze deslocações (as contas incluem a desta sexta-feira a Beja). O périplo do autarca começou em Coimbra onde sentiu a necessidade de explicar porque concorria (entretanto já passou a fase das explicações): “[Os portugueses] têm dito ao PS: ‘Estamos à vossa espera. Despachem-se, aviem-se, dêem-nos um suplemento de confiança, dêem-nos uma energia motivadora, dêem-nos a capacidade agregadora para formar uma alternativa de Governo. Mas despachem-se. Não continuem parados'”, disse.
Depois de Coimbra, Costa já percorreu quase todos os distritos: Faro, Bragança (no mesmo dia foi a Vila Nova de Cerveira e Barcelos); Vila Real (neste dia foi ainda a Vila Nova de Famalicão e Vizela); Setúbal, Leiria, Aveiro, Porto (a convite do presidente da Câmara para o São João); Portalegre; Castelo Branco; Guarda (neste dia esteve também em Mangualde); Évora e Machico (Madeira). Esta sexta-feira estará em Beja.
Dos dois, António Costa foi o único a levar a campanha além do continente e foi até à Madeira, na quinta-feira dia 3. Na mais recente ação de campanha quinta-feira na Madeira, António Costa pediu para que se acabasse com a separação entre continente e ilhas: “É preciso pôr termo, de uma vez por todas, a esta ideia de um país dividido entre o continente e as regiões autónomas porque Portugal são todos e cada um dos portugueses, esteja no Minho, no Algarve, aqui, no Machico, em Ponta Delgada, na África do Sul, na Venezuela, onde esteve um português, está Portugal e é com todas e com todos que nós vamos mudar o nosso país”.
Resta saber se irá fazer campanha a todos esses sítios. Ainda há tempo. As eleições só serão a 28 de setembro.
De dinheiro fala-se depois
Tendo em conta que ambas as candidaturas falaram da necessidade de transparência, o Observador questionou os dois candidatos sobre os gastos que já fizeram com a campanha até agora (fora do período oficial e ainda sem regulamentos aprovados) incluindo pessoal a trabalhar nas estruturas, material para as iniciativas já realizadas, deslocações e aluguer de espaços. Sobre quem está a pagar estes gastos já efetuados, qual o orçamento previsto para a campanha (pré e oficial) e ainda qual o teto que defendem para o orçamento geral do partido para as eleições primárias.
E se não se entendem no partido… as respostas foram semelhantes.
A candidatura de António Costa apenas respondeu que “nos termos do regulamento eleitoral, apresentaremos o orçamento de campanha na data prevista”, sem qualquer referência ou justificação para os gastos já efetuados.
A candidatura de António José Seguro fez o mesmo: “Nos termos do regulamento, o orçamento será apresentado no momento da formalização da candidatura”.
O problema é que ainda não existe regulamento aprovado. Ou melhor, o regulamento já foi aprovado, mas a redação final ainda não foi acertada e publicada. E entretanto os dois candidatos já fizeram gastos fora da campanha formal. Não se fica assim a saber qual o valor já gasto, mas ambas as candidaturas já têm máquinas a trabalhar que implicaram a contratação de pessoal. Em termos de assessores de imprensa, os de António José Seguro continuam a ser os mesmos que tem enquanto secretário-geral e os de António Costa são dois dos assessores que tem na câmara. O Observador perguntou especificamente quais os gastos com pessoal, para se saber se estes assessores, contratados para outras funções, estão a ser pagos para as novas funções ou se o fazem livremente, mas as duas candidaturas optaram por não responder.
Além disso, os dois candidatos anunciados já realizaram iniciativas, algumas delas com cenários já criados, mas também não foi respondido qual o valor gasto nem nas deslocações, nem no pagamento a quem criou a imagem ou dos espaços alugados. Por exemplo, António Costa apresentou a candidatura no Tivoli, em Lisboa, no dia 18 de junho.