Está entre os tipos de cancro mais comuns no mundo. Na Europa, é o quinto mais frequente, entre os mais de 200 tipos existentes, de acordo com o site Cancro Online. Em Portugal, o cancro da bexiga afeta anualmente cerca de 1900 doentes. Os dados são da mesma fonte, e dão conta de uma doença oncológica comum, apesar de ser ainda pouco abordada. Conhecer os seus principais sinais de alarme é fundamental para um diagnóstico atempado. E é neste sentido que todos os anos, o mês de maio é dedicado à sensibilização do Cancro da Bexiga, para que a população esteja mais alerta, mais atenta, para o diagnóstico deste carcinoma.
De acordo com os especialistas, se a doença for detetada a tempo, a taxa de cura é elevada. “Um em cada 10 cancros da bexiga encontra-se num estádio avançado no momento do diagnóstico, comprometendo os resultados dos tratamentos”, lê-se na plataforma Cancro Online. É o estádio da doença que ditará o tipo de tratamento e que condicionará o impacto físico, mas também psicológico e emocional nos doentes e nas famílias.
Sinais a não descurar
Embora alguns casos de cancro da bexiga possam ser inicialmente silenciosos, também existem vários sintomas que estão associados ao desenvolvimento deste tipo de cancro e que não devem ser descurados. “Na maioria dos casos, o primeiro sinal de alerta é a presença de sangue na urina”, começa por referir Alina Rosinha, médica oncologista.
Contudo, este não é o único sintoma com que nos devemos preocupar, pois podem surgir outras alterações nos hábitos urinários. Entre os sintomas mais comuns estão também: “Urinar com mais frequência e/ou com urgência, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, dor ao urinar, dificuldade em iniciar a micção ou alterações do fluxo urinário e dor na região pélvica ou na região lombar”, indica a especialista. A presença de qualquer um destes sinais justifica uma consulta com o médico de família ou com um especialista em urologia.
Perante uma suspeita de cancro da bexiga, é iniciado o diagnóstico que inclui alguns exames específicos, além de um exame de urina. Habitualmente, são realizadas “uma citologia urinária, uma ecografia vesical, uma cistoscopia e uma biópsia para a confirmação histológica do cancro”, esclarece Alina Rosinha. Se a presença de cancro da bexiga se vier a confirmar, é igualmente importante avaliar a extensão da doença e, para isso, pode ser requerida uma TAC toraco-abdomino-pélvica. Este exame complementar permite “avaliar se o cancro está localizado na bexiga ou se já se encontra num estádio mais avançado, com metástases à distância”, justifica a oncologista.
Fumar: um dos principais fatores
Conhecer os fatores de risco do cancro da bexiga é igualmente importante para um diagnóstico precoce. E se, por um lado, alguns fatores não podemos alterar, como a idade e a presença de história familiar, existem outros sobre os quais podemos agir. De acordo com o site Cancro Online, fumar é o principal fator de risco para desenvolver este tipo de cancro. “Os fumadores têm, pelo menos, três vezes mais probabilidade de ter cancro da bexiga do que os não fumadores”, alerta a plataforma.
Beber muitos líquidos é um dos cuidados fundamentais para a prevenção deste tipo de cancro. A plataforma, desenvolvida pela MSD, informa ainda que “o baixo consumo de líquidos” também está associado ao desenvolvimento do cancro da bexiga. A explicação pode estar no esvaziamento regular da bexiga que pode impedir a acumulação de substâncias químicas. Determinados agentes químicos industriais também têm sido associados ao desenvolvimento de cancro da bexiga. O site Cancro Online refere como principais meios de risco: “as indústrias de tintas, borrachas e petróleo”.
História familiar: um fator de peso
Pessoas com familiares que têm ou já tiveram este tipo de cancro correm um risco mais elevado de o contrair também. A justificação pode estar na exposição aos mesmos produtos químicos cancerígenos, como o fumo do tabaco, mas também na presença de determinados genes que tornam estas famílias mais propensas a desenvolver cancro da bexiga. A par da história familiar, a idade também está entre os principais fatores de risco deste tipo de cancro. Segundo o site Cancro Online, “o risco de cancro da bexiga aumenta com a idade. Cerca de nove em 10 casos de cancro de bexiga tem mais de 55 anos”. Infeções urinárias recorrentes e a presença de cálculos renais e na bexiga, ou outras causas de irritação crónica da bexiga, também têm sido associadas ao desenvolvimento deste tipo de cancro. Mas também o género pode ser um fator de risco: este tipo de carcinoma é mais comum nos homens, sendo “cerca de três a quatros vezes mais frequente”, indica o site Cancro Online.
A importância de um diagnóstico atempado
Um diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença no tratamento definitivo do cancro da bexiga. A taxa de cura varia consoante o tipo de cancro e o estádio da doença. “A probabilidade de cura é maior quando estamos perante tumores localizados, não musculo-invasivos, e diminui no caso de tumores musculo-invasivos e mais avançados”, confirma a médica oncologista Alinda Rosinha.
Ou seja, quanto mais inicial for o estádio da doença e menos invasivo for o tumor, maior é a probabilidade de haver um tratamento bem-sucedido. “A maioria dos doentes com tumores menos agressivos e menos invasivos pode ser tratada com cirurgias pouco agressivas e tratamentos locais/intravesicais”, refere a especialista, alertando, contudo, que a taxa de recorrência deste tipo de cancro é elevada e que a vigilância periódica é necessária, mesmo após o tratamento. Segundo Alina Rosinha, no caso de doenças em estádio inicial, “a taxa de sobrevivência aos cinco anos pode chegar aos 95%”.
No caso em que a doença já não está localizada apenas na bexiga e já se encontra metastizada, a especialista recomenda “uma avaliação da extensão da doença e uma avaliação clínica e analítica para confirmar a existência de condições para tratamentos paliativos sistémicos, de quimioterapia ou imunoterapia”. O objetivo destes tratamentos é “o controlo da doença e da sua progressão, assim como dos sintomas associados à doença. Nestes casos, a probabilidade de cura é muito baixa, sendo que a taxa de sobrevivência aos cinco anos é de cerca de cinco a seis por cento”, adverte a especialista.
Uma doença com consequências psicológicas
As alterações físicas inerentes ao tratamento deste tipo de cancro podem ter consequências psicológicas. Segundo Alina Rosinha, o “dia a dia dos doentes pode ficar condicionado, especialmente após a cirurgia, devido à perda da bexiga”. Nestes casos, é realizada “uma derivação urinária cutânea, uma urostomia, que requer a colocação de um saco coletor de urina na parede abdominal, que, além de exigir cuidados específicos, também muda a imagem corporal dos doentes”. Noutros casos em que a doença evolui para uma fase de metastização, a necessidade de tratamentos paliativos, de quimioterapia ou imunoterapia também pode ter um impacto a nível psicológico. Em causa estão, segundo a oncologista, “os efeitos colaterais dos tratamentos, mas também a gestão da própria doença e das alterações que ocorrem na rotina e na vida dos doentes”. A adoção de um estilo de vida saudável durante o processo de tratamento é, por isso, fundamental para manter o bem-estar físico e emocional. A especialista recomenda “adotar hábitos alimentares equilibrados, praticar exercício físico regularmente, evitar o consumo de álcool e tabaco, e, sempre que possível, manter rotinas habituais, quer ao nível da atividade profissional, quer ao nível social”. No futuro, para diminuir o risco da doença voltar, estes são hábitos igualmente importantes e que devem ser mantidos, sobretudo a suspensão tabágica, uma vez que fumar está referenciado como o principal fator de risco evitável do cancro da bexiga.
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Consulte o site Cancro Online. Esta plataforma, desenvolvida pela MSD, responde às principais dúvidas sobre os vários tipos de cancro, desde a prevenção e o diagnóstico aos tratamentos mais eficazes e inovadores. Inclui ainda muitas dicas de nutrição e estilo de vida a pensar no bem-estar e na qualidade de vida dos doentes oncológicos e das famílias.
O impacto na dinâmica familiar
A família assume um papel fundamental, a começar pelo apoio psicológico e emocional. “O apoio incondicional, quer dos familiares, quer de amigos próximos, ajuda os doentes a ultrapassarem algumas dificuldades ao longo do seu percurso de tratamento”, confirma Alina Rosinha, sublinhando que, “habitualmente, a família está presente desde o diagnóstico do cancro e que tem um papel muito importante na gestão da doença oncológica”.
Este suporte familiar estende-se também ao apoio nas tarefas diárias do doente, que poderá enfrentar limitações físicas e um conjunto de novas rotinas no seu dia a dia. De acordo com a especialista, o processo de tratamento pode mesmo exigir reajustes na dinâmica familiar, uma vez que os doentes precisam, habitualmente, do apoio dos familiares, para se deslocarem às consultas e aos tratamentos, mas também para realizar determinadas tarefas em casa, “quer de higiene, quer alimentares ou de deambulação e movimentação”.
Tratamento depende do tipo de tumor
Os tratamentos atualmente disponíveis dividem-se entre a cirurgia, que consiste na resseção do tumor ou, em casos mais avançados, na remoção total da bexiga; a quimioterapia ou a imunoterapia que utilizam medicamentos para evitar a evolução da doença; e, em casos muito pontuais, a radioterapia que usa radiação de elevada energia para destruir as células cancerígenas. O tipo de tratamento para o cancro da bexiga depende do tipo e localização do tumor, mas também do perfil do doente, nomeadamente, “da idade, do seu estado geral e do seu perfil analítico”, refere Alina Rosinha. De acordo com a especialista, “quando o cancro da bexiga se encontra limitado às camadas superficiais da bexiga (ou seja, quando se trata de um tumor não musculo-invasivo), a resseção cirúrgica do tumor pode ser o tratamento suficiente, embora, por vezes, possa ser complementado com a aplicação de quimioterapia ou imunoterapia.
Nos casos em que o cancro da bexiga invade a camada muscular da bexiga, o tratamento exige a remoção cirúrgica da bexiga, a cistectomia radical”. E acrescenta que, em alguns casos, a realização de quimioterapia, antes ou após a cirurgia, pode estar indicada. Quanto à radioterapia, este não é, habitualmente, um tratamento de primeira linha do cancro da bexiga, mas pode ser indicado “em situações paliativas ou em casos selecionados de tentativa de preservação da bexiga”, esclarece a especialista.
Quimioterapia ou imunoterapia?
Quando é diagnosticado um cancro da bexiga metastizado, o “tratamento indicado não é local, nem cirúrgico, mas sim sistémico, podendo ser de quimioterapia ou imunoterapia”, refere Alina Rosinha, explicando que o objetivo destes tratamentos é “controlar a evolução da doença, quer localmente, quer ‘à distância’”. A quimioterapia pode ser intravesical, se for administrada diretamente no interior da bexiga, ou sistémica, quando é administrada através de uma veia periférica, sendo esta a forma mais comum. Em ambos os casos, utilizam-se medicamentos para destruir as células cancerígenas.
Já a imunoterapia é uma terapêutica que ajuda o nosso próprio organismo a combater o cancro e que pode substituir a quimioterapia. Também conhecida como terapêutica imunitária, utiliza medicamentos, que atuam, em conjunto com o sistema imunitário, para identificar e destruir as células cancerígenas.
Os agentes de imunoterapia aprovados para o tratamento do cancro da bexiga têm diferentes modos de ação. Um deles é o Anti-PD1 que através do bloqueio das proteínas PD1 estimula o sistema imunitário a reconhecer as células tumorais e a destruí-las. Quer a quimioterapia, quer a imunoterapia implicam que os doentes se desloquem aos hospitais ou às clínicas onde estão a ser acompanhados para realizarem tratamentos periódicos. “A resposta dos doentes a cada tratamento também é analisada em consultas periódicas, onde os doentes são avaliados fisicamente e se verificam os efeitos colaterais dos tratamentos que estão a fazer. De três em três meses, são realizados exames de avaliação de resposta ao tratamento que passam pela realização de TAC (toraco-abdomino-pélvica)”, esclarece a especialista.