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Sem “motivação para trabalhar” e sem “diretrizes” sobre os próximos passos. Há uma semana que a Farfetch está como que em suspenso e com um ambiente “péssimo”, relatam alguns trabalhadores ao Observador.
“Neste momento pouca gente está de facto a trabalhar, as equipas entraram em caos e desorganização”, diz uma das pessoas afetadas pelos cortes na plataforma de comércio eletrónico de luxo, que no fim de janeiro passou para as mãos da sul-coreana Coupang. Os três meses de incerteza e “desgaste mental” sobre o futuro da empresa culminaram na oficialização de despedimentos, que estarão a afetar particularmente a área Farfetch Platform Solutions (FPS), que trabalha em soluções tecnológicas para outras empresas e que estará a ser “desmantelada aos poucos”.
Esta sexta-feira, 23 de fevereiro, termina o prazo dado há uma semana aos funcionários na lista de dispensas, a quem foi colocada a opção de assinar um acordo de saída (sem acesso a subsídio de desemprego) ou o despedimento coletivo. Os critérios de seleção de quem fica e quem sai “não são claros”, pelo menos para os funcionários.
Publicamente, a Coupang não fez revelações sobre os planos para a Farfetch. Mas, segundo alguns funcionários, o objetivo passará por “fazer uma reorganização grande”, mas que, neste momento, tudo parece “estar num limbo”. “O que fazemos hoje não é o que vamos estar a fazer no início de março”, exemplifica um deles.
Quem ficar terá, além de um novo patrão, a promessa de um bónus, que internamente também gera dúvidas, principalmente sobre os critérios de atribuição das percentagens a pagar. E, a juntar à lista de dúvidas, antecipa-se uma viragem na cultura empresarial da companhia, que até então “era boa”. “As pessoas já estão a antecipar períodos muito difíceis, com muita pressão, com a moral muito em baixo e com a sombra de que podem vir novos despedimentos”, lamenta um trabalhador. O “todos juntos” da lista de valores da empresa, que tantas vezes surgiu no LinkedIn, poderá dar agora lugar a uma estratégia de “fazer, fazer, fazer e de ser o mais rápido e mais eficiente possível”, questiona.
Semanas de silêncio, a “bomba de fumo” lançada por José Neves e o “vão ficar sem ações” que teve mais impacto do que a Coupang
A Farfetch fechou-se em copas a partir do momento em que surgiram os primeiros rumores de que estaria a ponderar uma saída da bolsa de Nova Iorque. Durante cerca de três semanas, os trabalhadores foram mantidos às escuras quanto ao seu futuro e ao da empresa, quando já circulavam pelos corredores boatos de despedimentos.
O silêncio, que vigorava desde 28 de novembro, foi quebrado a 18 de dezembro, quando o grupo Coupang, conhecido como a “Amazon coreana”, entrou em cena para injetar 500 milhões de dólares e ficar com os ativos da plataforma de moda de luxo. A reação dos trabalhadores da Farfetch ao anúncio da compra, que contemplou a saída de Wall Street, é “muito difícil de medir”.
“Foi-nos comunicada ao mesmo tempo a compra por parte da Coupang e que iríamos ficar sem ações. O tema ‘vocês vão ficar sem ações’ falou muito mais alto”, conta ao Observador um trabalhador que deixou a Farfetch recentemente. O anúncio do resgate da firma criada por José Neves foi, assim, ‘abafado’ pela informação de que aqueles que tinham ações de classe A ou classe B não iriam recuperar os investimentos, incluindo os funcionários que recebiam desde 2022 o pagamento de compensações e bónus dessa forma.
Grupo sul-coreano Coupang anuncia planos para comprar Farfetch
“Podia ter sido a Amazon ou qualquer outra empresa” a manifestar a intenção de comprar a Farfetch que “as pessoas só ouviriam ‘vamos ficar sem ações’”, afirma o ex-trabalhador, que explica que terá perdido cerca de dois a três mil euros e que só não ficou sem mais dinheiro porque teve a “sorte” de vender parte das ações quando atingiram um pico, por volta de 2021, e foram negociadas acima de 70 dólares.
Além de “qualquer decisão” tomada, a falta de comunicação que passou a existir é apontada como um dos “grandes problemas”, uma vez que existiam rumores a circular entre os trabalhadores que não eram nem confirmados, nem desmentidos pelas chefias. “O que se sentiu na Farfetch foi que o top management, o C level [equipa executiva], estava completamente perdido e em vez de assumir uma posição de que iria fazer o seu melhor e comunicar tanto quanto sabia, motivou-se uma cultura de secretismo”, explica.
Os segredos e boatos não confirmados levaram a que se criasse um ambiente “muito tóxico”, “de ansiedade e de stress grande” entre os trabalhadores, mas também de “muita conversa de corredor”. “O grande problema foi que deixou de existir comunicação. O José Neves a partir do momento em que mandou o email da Coupang simplesmente lançou uma bomba de fumo e nunca mais se ouviu falar nele. Penso que essa postura do número 1 da empresa acabou por se ramificar um bocado”, diz o antigo funcionário.
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Entre a saída por acordo ou o despedimento coletivo, há gente “a fazer muitas contas”
Oficialmente, a Farfetch anunciou um corte de 25 a 30% no total de trabalhadores, com efeitos em várias geografias. Porém, as perguntas sobre números concretos de funcionários afetados, principalmente em Portugal, continuam sem resposta. O Observador enviou novamente questões à empresa, que nesta fase diz que não irá adiantar mais detalhes. Sabe-se que “os cortes são grandes”, diz um trabalhador, com a perspetiva de equipas que deverão ficar reduzidas ao mínimo. Na área de tecnologia, por exemplo, de “680 trabalhadores, deverão ficar cerca de 200”, é relatado.
Há relatos de diretores, conforme já avançaram o Público e a RTP, que estão a sair pelo seu próprio pé. Um trabalhador refere ao Observador que algumas chefias “estão a sair por eles próprios, numa lógica de ‘então querem que eu despeça a minha equipa toda e que fique?'”.
Os trabalhadores cujos nomes figuram nas “listas finais” de dispensa, que foram comunicadas oficialmente na sexta-feira passada, fazem contas à vida a tentar decidir entre duas opções possíveis: sair por mútuo acordo, mas sem acesso ao subsídio de desemprego, ou esperar por um despedimento coletivo, com o pagamento de uma indemnização de 14 dias por ano de trabalho e acesso ao subsídio de desemprego. Com o acordo, os trabalhadores afetados podem sair no fim do mês; se preferirem o despedimento coletivo, a situação vai arrastar-se.
Foi-lhes dada exatamente uma semana desde a notícia, até 23 de fevereiro, para tomar uma decisão. Mas, de acordo com os relatos de alguns funcionários, as opções geraram mais dúvidas do que certezas. Uma alínea em particular, que mencionava “renunciar, remitir e abdicar de férias vencidas não gozadas ou indemnização pela sua falta; subsídio de férias, subsídio de Natal e respetivos proporcionais” terá sido o principal ponto de incerteza nas reuniões de esclarecimento, feitas na segunda-feira. “Foi o caos na primeira reunião de esclarecimento”, explica um funcionário, que conta que foram feitas três sessões, duas em português e uma em inglês.
“Estava toda a gente a perguntar por essa alínea e ninguém tinha resposta, mas disseram-nos para não nos preocuparmos”, recorda. Só na segunda reunião é que, já na presença do responsável da área legal, foi feita a garantia de que “vão pagar tudo o que por lei são obrigados a pagar” e que a alínea seria uma salvaguarda para “depois de assinarem o acordo, não poderem pedir mais nada face ao que é legal”. Um dos funcionários pediu ajuda a especialistas da área para a análise da minuta. “Estava escrita ‘à advogado’, era muito difícil a uma primeira, segunda leitura perceber o que lá está.”
O mesmo trabalhador conta que, numa primeira fase, a empresa terá tentado mostrar “os valores de forma a que o mútuo acordo fizesse sentido para toda a gente”. No entanto, os valores concretos da saída por acordo só estão a ser apresentados “quando se mostra a intenção” de assinar. Há um consenso de que a compensação a atribuir vai beneficiar quem tem já alguns anos na empresa. “No meu caso, compensa, primeiro monetariamente, e depois porque a partir de 29 de fevereiro quem assina fica livre da Farfetch.”
Mas nota que quem “está abaixo dos dois anos está a fazer muitas contas para perceber o que vai compensar, mesmo a médio prazo”, uma situação que afeta também quem “recebe ordenados mais baixos”. Há ainda algumas áreas de trabalho que podem pesar na análise de prós e contras. “Do que tenho visto, há mais gente inclinada a aceitar o acordo, mas tem dependido muito da antiguidade e da área de trabalho. Em tecnologia ainda é fácil arranjar outra coisa”, conta outra trabalhadora.
Há ainda outro ponto ligado ao acordo de saída: tem de ser assinado presencialmente, o que estará a preocupar quem não está nas proximidades dos escritórios da empresa, que durante anos apostou na flexibilidade, inclusive geográfica. Ao que o Observador apurou, as assinaturas dos documentos vão decorrer até 28 de fevereiro. E, “no dia em que se assina o documento, tem de se entregar logo o computador” de trabalho.
Os advogados especialistas em direito laboral ouvidos pelo Observador explicam que, de modo geral, é usual este procedimento da assinatura presencial. “Mais do que legal, é perfeitamente habitual e até é cautelar que a empresa o faça, até porque, presencialmente, se for algo de reconhecimento notarial, tem desde logo um impacto na possibilidade de não poderem revogar o que assinaram”, contextualiza Pedro da Quitéria Faria, advogado da Antas da Cunha ECIJA. “Portanto, vejo isso com total naturalidade num cenário de celebração de um acordo de revogação.”
Haverá bónus para quem fica, mas com critérios que geram confusão
Numa das primeiras comunicações aos trabalhadores, ainda antes da conclusão do negócio com a Farfetch, Bom Kim, o CEO da Coupang, garantiu que não queria ver a empresa a “sobreviver”, mas sim a “prosperar” e deixou a promessa de um plano de compensações “mais forte”, com o objetivo de “reconhecer e recompensar a equipa”.
O email data de 8 de janeiro. Pouco mais de um mês depois, chegaram efetivamente as notícias sobre os bónus, que só deverão ser atribuídos a quem fica e com algumas regras. “Sei que há alguma confusão em torno dos bónus”, explica um trabalhador de saída da empresa, “porque a percentagem não é a mesma para todos e ainda ninguém percebeu muito bem qual é o critério de alocação das percentagens”.
Ao que foi apurado, trata-se de um bónus além do salário, que é uma “percentagem da remuneração anual e que é paga em quatro tranches, a última em fevereiro de 2025”, complementa outro trabalhador. Mas há muitas dúvidas sobre a percentagem que está a ser apresentada aos trabalhadores. “Já ouvi propostas de 12%, 15% e 19%”, conta um trabalhador, enquanto outros mencionam percentagens “que variam entre 5 a 25%”, embora também já circulem informações sobre valores ainda mais expressivos, na ordem de “50%”. Um terceiro funcionário resume que “não está a ser claro” como são feitos os cálculos dos bónus a atribuir.
Haverá ainda regras para receber este bónus, incluindo que, antes do pagamento, o trabalhador “não pode estar em nenhum processo de redundância ou em que esteja a ser feita uma análise para o cargo ser eliminado”, contextualiza outra pessoa. Assim, mesmo quem não está envolvido nos despedimentos “está ativamente à procura de trabalho e a tentar sair o mais rápido possível”, é referido.
As ações ficaram fora das conversações. Trabalhadores em risco de pagar IRS sobre um “rendimento que não existe”?
A compra da Farfetch por parte da Coupang implicou a perda total dos acionistas. Em plataformas como o Telegram, investidores e trabalhadores que se sentem lesados organizam-se “no sentido de processar [a empresa] e tentar reaver algum dinheiro”. O grupo de credores Ad Hoc Group, que afirma representar mais de 50% das obrigações da plataforma de moda de luxo com maturidade em 2027, uniu-se para tentar travar a aquisição, mas também para que as obrigações fossem pagas.
Após a compra dos ativos ter sido fechada pelo grupo sul-coreano, a Farfetch informou os trabalhadores de que os despedimentos iam avançar. Nas conversações com os funcionários selecionados para abandonar a empresa há uma questão que não foi debatida: o que acontecerá com as ações recebidas em 2023. Sem uma proposta que aponte em sentido contrário, os funcionários acreditam que pode existir o risco de terem os títulos tributados em sede de IRS, mesmo que atualmente não tenham valor.
Grupo de credores tenta travar compra da Farfetch pela Coupang
Em conversa com o Observador, o trabalhador que deixou a Farfetch afirma que, tanto para si como para antigos colegas, “pior” do que o dinheiro perdido é o IRS que terá que “pagar este ano com base em ações recebidas no ano passado”, que não conseguiu vender. “É mesmo o pior porque, no fundo, vou pagar um imposto sobre um rendimento que não existe.”
Reconhecendo que as ações estão “sujeitas a volatilidade de mercado e têm sempre um risco inerente”, afirma que “nunca ninguém poderia prever que fossem ser completamente aniquiladas”. “Eu estou ok com as ações já não valerem 60 dólares e valerem 50 cêntimos porque o mercado assim ditou. Não estou ok com as ações simplesmente serem retiradas de mercado e eu ter os ativos completamente igualados a zero”, defende, acrescentando que não fazia “a mínima ideia” que era possível que uma empresa saísse de bolsa desta forma, com perda total para os acionistas.
Não se sabe quantas ações foram entregues pela Farfetch aos funcionários no ano passado. Em entrevista ao jornal Eco, em fevereiro, José Neves avançou somente que em 2020 e 2021 tinham sido entregues cerca de 80 milhões em ações aos trabalhadores. Como os bónus eram pagos dessa forma, a empresa disponibilizava “reuniões para esclarecimentos fiscais”, com intuito de responder a potenciais dúvidas sobre o mercado bolsista. Existem rumores de que durante as sessões de esclarecimento seria incentivada “a venda [dos títulos] para cobrir impostos”, porém o Observador não conseguiu confirmar a veracidade desta informação.
O Observador contactou a Farfetch para perceber se, atualmente, está a ser dado algum tipo de apoio aos trabalhadores, mas a empresa não comenta. Por sua vez, a advogada Madalena Caldeira, do escritório de Lisboa da Gómez-Acebo & Pombo, questionada sobre se os trabalhadores terão de pagar IRS sobre os títulos, explica que não é possível dar uma resposta exata por não serem conhecidas “em absoluto as condições de atribuição das ações e/ou plano concreto dos trabalhadores”, uma vez que existe “uma multiplicidade de questões a analisar dependendo da situação concreta” de cada um.
As mudanças do teletrabalho e as movimentações “lá em cima” da hierarquia. Farfetch, “uma fábrica de red flags” há vários meses
Alguns trabalhadores dizem ter começado a aperceber-se da instabilidade que poderia estar a assolar a Farfetch em agosto do ano passado, meses antes do cancelamento da apresentação dos resultados financeiros do terceiro trimestre de 2023. Algumas “diretrizes um bocado forçadas para voltar para o escritório”, nomeadamente menos flexibilidade para teletrabalho, ainda que não existisse “desejo por parte dos trabalhadores”, foram uma das maiores “red flags” (sinais de que alguma coisa pode estar a correr mal, em tradução livre) para os funcionários e ex-funcionários ouvidos pelo Observador.
Um dos trabalhadores lembra que existia flexibilidade quanto ao trabalho remoto. Foi “no final de agosto”, numa reunião geral, que José Neves “anunciou que era obrigatório ir ao escritório dois dias por semana”. “Toda a gente foi apanhada de surpresa (…) foi tudo muito caótico e com a justificação de que havia que manter a cultura da empresa”, detalha. Rapidamente surgiram dúvidas sobre se haveria “escritório para toda a gente” ou até apreensão entre trabalhadores fora do continente ou mesmo do país.
Os advogados ouvidos pelo Observador explicam, de modo geral e não comentando o caso da Farfetch em específico, que para perceber se, de acordo com a lei, a empresa pode decidir decretar mudanças no teletrabalho seria necessário conhecer detalhes de casos em concreto. “Em tese é possível, agora teria de se analisar caso a caso, como e de que forma é que foram celebrados os acordos de teletrabalho, se têm período definido, se não têm, se existem circunstâncias em que há trabalhadores que têm direito, independentemente do que a empresa pretende”, diz Pedro da Quitéria Faria.
Já Madalena Caldeira, salientando que desconhece “em absoluto o regime que estava em vigor” e não considerando “as situações em que o trabalhador tem direito ao teletrabalho porque nesse caso a aplicação do regime não resulta de acordo”, explica que “nas situações em que o teletrabalho resulta de acordo, nos termos da lei, esse pode ser celebrado com duração determinada ou indeterminada”. No primeiro caso, “qualquer das partes pode, até 15 dias antes do termo do período estipulado ou de alguma renovação, declarar por escrito” que pretende terminar. No segundo caso, “qualquer das partes pode fazê-lo cessar mediante comunicação escrita, que produzirá efeitos no 60.º dia posterior àquela”.
Com a alteração ao trabalho remoto, alguns trabalhadores começaram a “pensar se havia alguma coisa de estranho” a acontecer, mesmo que as informações que recebiam fossem de que “estava tudo a correr bem”, com “grandes resultados”. Depois, ainda “antes de tudo ir abaixo”, afirma um dos funcionários, o alarme voltou a soar quando “pessoas muito antigas na empresa” começaram “a sair e a serem afastadas”. A saída, em setembro do ano passado, de Cipriano Sousa, diretor tecnológico que era visto como braço direito do José Neves, foi uma das que causou surpresa. Na semana passada, foi a vez de o próprio José Neves, fundador e CEO da Farfetch, anunciar o seu afastamento da empresa.
“Houve algumas red flags que foram levantadas e depois foi uma fábrica de red flags que apareceu à nossa frente. [Existiram] algumas movimentações ‘lá em cima’ que foram estranhas”, afirma.
Uma outra fonte, que esteve na Farfetch durante vários anos, destaca que também começaram a “haver algumas reuniões internas” para alertar para uma “maior eficiência de custos”, para “reduzir a necessidade de ter escritórios em pontos que não fossem estratégicos” ou para políticas de contratação “muito mais conservadoras”. Inicialmente, tudo indicava que era uma “fase”, porém, quando descobriu que “havia pessoas às quais tinha sido oferecida uma oportunidade na Farfetch, que tinham dado o pré-aviso às devidas empresas” e que “depois essas propostas foram-lhes retiradas”, percebeu que o outrora unicórnio com ADN português para o qual trabalhava estava “mal”.
José Neves demite-se da liderança da Farfetch. Empresa vai avançar com despedimentos