O português José Neves demitiu-se do cargo de CEO da Farfetch, uma decisão com efeitos a partir desta quinta-feira e que chega após a conclusão da compra da plataforma de moda de luxo pela Coupang, fechada há duas semanas. A informação da saída do empresário da liderança da empresa foi avançada num email enviado aos trabalhadores, a que o Observador teve acesso.

Bom Kim, dono da “Amazon sul-coreana”, e a equipa executiva da Farfetch assumem, para já, a liderança interina daquele que foi o primeiro unicórnio com ADN português. Ainda assim, segundo o jornal WWD, José Neves manter-se-á na empresa como consultor.

Numa mensagem partilhada com os trabalhadores, o empresário português escreveu que “após 15 anos a sonhar, a criar e a fazer crescer a Farfetch”, a demissão foi “uma decisão difícil”. “Mas acredito que a empresa está em ótimas mãos”, acrescentou, antes de recordar que a “Coupang tem um historial comprovado e uma profunda experiência no setor do comércio”.

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Além do fundador, no email são referidos outros nomes que vão deixar a Farfetch para assumir “novos projetos”. É o caso de Tim Stone, que ocupava o cargo de diretor financeiro desde julho de 2023 quando foi apontado para substituir Elliot Jordan. No LinkedIn, já surgia que tinha terminado a ligação à Farfetch este mês.

Luís Teixeira, diretor de operações; Hélder Dias, diretor de produto; Kelly Kowal, diretora de plataforma (da Farfetch Platform Solutions); Edward Sabbagh, diretor de marketplace; Sindhura Sarikonda, responsável pelo mercado norte-americano e da América do Sul; Nick Tran, diretor de marketing; e Elizabeth Von Der Goltz, responsável pela Browns, também deixam a empresa.

Na comunicação da Coupang de “redução do negócio” — que disse ser “necessária para assegurar o futuro” — está incluída a “decisão difícil de eliminar funções redundantes” da Farfetch. “Vamos começar o processo de dizer adeus a colegas e amigos que têm sido parte importante da jornada da Farfetch até agora”, lê-se no email desta quinta-feira, que confirma os despedimentos que há muito são falados.

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“À medida que avaliamos as prioridades principais e os recursos no negócio, tomámos a decisão difícil, mas necessária, de reduzir o número total de trabalhadores a nível global e as funções redundantes”, disse um porta-voz da empresa ao WWD. “Esta decisão assegura o futuro da companhia e, como resultado, a Farfetch pode agora operar a partir de uma posição de força e foco no que fazemos de melhor: entregar experiências excecionais a marcas, boutiques e clientes”, acrescentou.

Os trabalhadores em Portugal que são afetados pela decisão começarão a ser informados esta sexta-feira, dia 16 de fevereiro. No Reino Unido e “outras geografias”, que não foram especificadas, as conversações começam na próxima segunda-feira, dia 19.

Os funcionários da empresa que estão no Brasil só deverão saber novidades acerca do seu futuro no final deste mês, de acordo com a informação que foi partilhada num grupo de Slack, plataforma utilizada por trabalhadores e chefias para comunicarem entre si.

Os últimos números disponíveis, presentes no relatório e contas referente ao ano passado, indicavam que a Farfetch tinha 6.728 trabalhadores, sem contar com serviços de consultoria externa e funcionários em regime freelancer. Portugal era o país com mais funcionários (3.342), seguido de Reino Unido (1.179), Itália (642) e Estados Unidos (540).

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O negócio da Farfetch tem duas vertentes: a empresa disponibiliza no seu site marcas de luxo, mas também tem uma área em que disponibiliza as suas soluções para retalho a grupos internacionais, através da Farfetch Platform Solutions (FPS).

Nas últimas semanas a empresa perdeu ligações de peso nas duas vertentes. O Neiman Marcus Group anunciou a 7 de fevereiro não só o fim dos planos para usar o software da Farfetch para o site e app da Bergdorf Goodman, como também que não iria juntar-se ao marketplace da empresa luso-britânica. A Farfetch é investidora no grupo — em 2022, investiu 200 milhões de dólares na companhia.

Mais tarde, foi avançado pelo Business of Fashion que o grupo de luxo Kering, dono de marcas como a Gucci, Bottega Veneta e a Balenciaga, terá terminado o contrato com a Farfetch.