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Cartilha das boas práticas ambientais: 10 dicas para viver em harmonia com a natureza

Os números do aquecimento global pedem ação e há sempre alguma coisa que cada um de nós pode mudar. Conheça dez formas simples e fáceis de trazer a ecologia para o dia a dia.

A Terra está a chamar. Os factos sobre o avanço das alterações climáticas são alarmantes e começam a ser cada vez mais evidentes no dia a dia, com notícias constantes sobre vagas de calor, secas, fogos ou chuvas intensas. O esforço tem de ser coletivo e envolver empresas, governos e cada um de nós – e há tanto que podemos fazer no dia a dia. Há pelo menos dez ações individuais que, além de fáceis de concretizar diariamente, nos ajudam a alterar hábitos para comportamentos mais sustentáveis. Damos-lhe os números que mostram a realidade e que são uma forma de, todos os dias, contribuir para a solução.

Troque as embalagens de plástico por embalagens de papel

Já pensou em trocar os produtos embalados em plásticos de utilização única por embalagens de papel? Quando falamos de embalagens, o ideal é mesmo que elas não existam e a compra a granel tem muitas vantagens na diminuição do lixo supérfluo que entra e sai das nossas casas. Em 2020, na União Europeia, cada pessoa deitou fora 177,9 kg de embalagens e este número está numa tendência crescente.

Mas nem sempre é possível comprar a granel: como tomar uma opção mais ecológica ao comprar produtos embalados? As embalagens de plástico não são biodegradáveis e poderão levar centenas de anos a decompor-se, se não forem recicladas — segundo o Ministério do Ambiente, apenas 13% das embalagens de plástico são recicladas. O papel tem origem numa matéria-prima biodegradável: a madeira. A sua transformação comporta também uma pegada ambiental, envolvendo, por exemplo, uma quantidade de água significativa. A sua vantagem face ao plástico está mesmo no facto de se decompor mais rapidamente. Leva três a seis meses para se decompor e pode ser reciclado várias vezes. No entanto, lembre-se: a ausência de uma embalagem é sempre preferível.

Use sacos de pano

Por minuto, são utilizados cerca de 1 milhão de sacos de plástico leve no mundo. Por ano, circulam 100.000 milhões destes sacos na Europa. Nos oceanos, os sacos de plástico leve são o 2.º resíduo mais encontrado à superfície do mar. E no lixo, estes sacos acabam em aterros, onde permanecem mais de 300 anos. Estes dados são da Agência Portuguesa do Ambiente e imploram uma ação urgente.

Troque os sacos de plástico leve pelos sacos de pano ou outro material reutilizável. Se tiver um sempre consigo, vai poder recusar sacos de plástico — e mesmo de papel — em qualquer compra. E não se esqueça: quando deixar um saco de plástico entrar na sua vida, utilize-o ao máximo. Reutilizar, antes de reciclar!

Precisa mesmo de lavar essa peça de roupa?

Sabia que uma pessoa em Lisboa gasta em média 133 litros de água por dia? Os dados são da EPAL. Entre os momentos da rotina de uma família que mais água consomem está a lavagem da roupa. Também segundo a EPAL, as máquinas mais eficientes, se usadas na carga máxima, podem gastar cerca de 50 litros por ciclo, enquanto as mais antigas usam até 220 litros de água para lavar cinco quilos de roupa. O impacto ambiental das lavagens da roupa não fica por aqui. Nas lavagens à máquina libertam-se microplásticos, minúsculas fibras de plástico que se separam dos tecidos sintéticos e que, ao serem descarregados no mar, entram nos ecossistemas. Segundo as Nações Unidas, há 51 biliões de partículas de plástico nos oceanos e a ONU faz uma comparação impressionante: são 500 vezes mais do que as estrelas da Via Láctea.

Face a estes números, pondere: precisa mesmo de lavar determinada peça? A redução do número de vezes que se lava a roupa é um assunto tão sério que motiva movimentos de contra-cultura. O No Wash fez correr alguma tinta nos media britânicos nos últimos tempos, e um pouco por todo o mundo cresce o número de pessoas com estas práticas ecológicas que poupam água, energia e dinheiro. É simples e funciona: ponha a roupa a arejar ao sol ao final do dia e se houver nódoas tente escová-las e limpar apenas aquele local.

Não se esqueça da escova de dentes - e do copo

Lavar os dentes com um copo de água na mão pode parecer uma dica com pouco impacto, daqueles que se ensinam nas escolas para motivar os miúdos, mas vamos aos números. Ao lavar os dentes com a torneira aberta, está a gastar cerca de 12 litros de água. Se usar um copo, gasta apenas 1 litro. Estes são dados do grupo Águas de Portugal e da Agência Portuguesa do Ambiente e, se os multiplicar pelo número de vezes que lava os dentes, rapidamente pode dar-se conta que desperdiça perto de 200 litros de água numa semana.

As notícias de seca no sul de Portugal e da Europa repetem-se ano após ano e levam a medidas extraordinárias. Um estudo promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, publicado em 2020, afirma que, até 2040, Portugal vai enfrentar escassez de água. Não estará garantida, em alguns períodos, para as necessidades básicas. É importante saber poupá-la. Comece por fechar a torneira enquanto lava os dentes.

Use as sobras das refeições para novos pratos

Em 2020, o desperdício alimentar foi de 183kg de alimentos por pessoa, segundo a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome. O desperdício alimentar é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases com efeito de estufa, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Esta organização vai mais longe: se o desperdício alimentar fosse um país, seria o terceiro mais poluente, atrás da China e dos Estados Unidos da América.

Combata ao máximo este flagelo planeando bem as suas refeições e estando atento aos prazos de validade. Por exemplo, pode aproveitar os alimentos cozinhados em excesso para confecionar outros pratos. Se o objetivo é mesmo repetir a refeição, garanta que acondiciona bem os alimentos e os guarda rapidamente no frigorífico ou congelador, para que não se estraguem.

Faça compostagem

Os números do desperdício alimentar poderão ser ainda mais chocantes ao enfrentarmos este facto: são os agregados familiares os responsáveis pela grande fatia do desperdício alimentar — e não as cadeias de distribuição ou os restaurantes. Em 2020, segundo os dados do INE e do Eurostat, cada português desperdiçou 124kg de comida dentro de sua casa. É importante cortar o mal pela raíz, comprar mais conscientemente, sem impulsos de última hora, além de estar atento aos prazos de validade: consuma primeiro o que expira primeiro.

A comida deixada no prato também conta para estes números e é um bom momento para aplicar a regra das mães e avós: não ter mais olhos do que barriga. Mas mesmo com todos os cuidados, há sempre matéria orgânica que tem de ir para o lixo — cascas, raízes, caroços. Com essas (e outros desperdícios) pode fazer compostagem. Já existem no mercado alguns kits para compostagem doméstica, para que, seja numa moradia ou num apartamento, possa dar fim à matéria orgânica de uma forma simples. O resultado final é menos lixo e um adubo rico para as suas plantas e horta.

Escolha a mobilidade leve

Segundo dados da União Europeia, os transportes são responsáveis por 25% das emissões totais da UE e os transportes rodoviários são os mais poluentes. Com o aumento da utilização do carro particular nas últimas décadas, estes são hoje responsáveis por 12% das emissões globais da UE. Para descarbonizar e tornar a União Europeia neutra em carbono até 2050,n  é preciso reduzir as emissões do sector dos transportes em 90%.

Uma das soluções para mudar estes números, além do transporte público, é a chamada mobilidade leve, ou seja, veículos pequenos, leves, sem emissões na estrada e que não ultrapassam os 45 km/h. Estamos a falar de bicicletas e trotinetes que, além de não libertarem gases com efeito estufa, ajudam a combater o sedentarismo e a promover um dia-a-dia mais ativos.

Adeus fast fashion! Olá roupa em 2ª mão!

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 20% do desperdício mundial de água deve-se ao tingimento de tecidos feito pela indústria da moda. Os efeitos nefastos deste facto são, em alguns pontos do globo, visíveis a olho nu. O rio Citarum e os seus afluentes, na Indonésia, ganharam tonalidades arroxeadas por culpa das várias fábricas têxteis localizadas nas suas margens.

A fast fashion, isto é, os grandes grupos de produção e venda de roupa barata e, habitualmente, de baixa qualidade, contribuem também para o fenómeno da elevada descartabilidade da roupa. Os dados da Agência Portuguesa do Ambiente mostram que os têxteis representam 3,49% dos resíduos urbanos nacionais em 2021 — isto significa que os portugueses descartaram mais de 185 toneladas de roupa nesse ano.

A Agência Europeia do Ambiente afirma que o impacto do consumo de roupa na União provocou uma pegada carbónica de 270 kg em 2020. Há algumas medidas em matéria de resíduos têxteis que a UE está a preparar, mas pode começar já a fazer a sua parte: compre em segunda mão. O mercado de roupa em segunda mão e peças vintage está a crescer e ao escolher esta forma de economia circular está a valorizar a roupa que já existe, sem estimular mais produção.

Invista em Energia Solar

A eletricidade proveniente de fontes fósseis está a diminuir em Portugal. Segundo o Eurosat, em 2021, 58,4% da eletricidade consumida teve origem em fontes renováveis – é o quarto país com maior consumo de energia limpa, números muito potenciados pelas energias eólica e hídrica.

No entanto, há um grande potencial de crescimento da energia solar em Portugal, sobretudo para o autoconsumo. Os dados da E-Redes mostram que esta é a forma preferida de produção da própria energia em agregados familiares, comunidades ou empresas, com os painéis fotovoltaicos a representarem 98,7% das Unidades de Produção para Autoconsumo (UPAC) em Portugal. Esta é uma forma direta de cada agregado familiar diminuir a sua pegada carbónica e ainda cortar na fatura da eletricidade, em poupanças que podem ser superiores a 20% por mês.

Compre menos

Segundo a Agência Europeia do Ambiente (AEA), na economia europeia, a produção é fortemente impactada pela procura dos consumidores e o lixo decorrente da atividade económica também. As alterações entre entre 2010 e 2020 parecem trazer boas notícias: a pegada material, isto é, o conjunto de biomassa, combustíveis fósseis, minerais metálicos e não metálicos necessários para alimentar o consumo, diminuiu 6,1%. Devemos lembrar-nos, no entanto, que em 2020 a atividade económica diminuiu por causa da pandemia da Covid-19. O mesmo relatório é claro na afirmação: “Os padrões de consumo da Europa são insustentáveis”.

É importante ter também em conta que o consumo europeu causa impacto em outros continentes, com a extração de recursos e produção de bens fora das fronteiras da União. “ A Europa está a ultrapassar vários limites planetários e suas emissões, eutrofização da água doce e libertação de químicos têm impactos prejudiciais”, diz o mesmo relatório da AEA.

É urgente não comprar impulsivamente e aprender a não acumular. Segundo a AEA, em 2012, 87% dos cidadãos da União Europeia achava que podia usar os recursos naturais de forma mais eficiente e 41% achava que a sua casa produz muito lixo. Desde 2012, como se foram alterando os seus padrões de consumo? Comece com uma reflexão sobre o que está a comprar, a acumular e a deitar fora. Será que está a comprar o que já tem em casa?

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