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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Chris Jackson, fotógrafo da Família Real britânica. "A Rainha não posava para a câmara. Quando havia um sorriso, sabíamos que era genuíno"

Chris Jackson é fotojornalista da Getty Images e é há 20 anos o fotógrafo oficial da Família Real britânica. Em entrevista ao Observador, recorda o sentido de humor de Isabel II, visível nas imagens.

Se estiver a ler este artigo, é altamente provável que já tenha visto uma das fotografias tiradas por Chris Jackson da Rainha Isabel II ou de outros membros da Família Real. É que Chris é fotojornalista da agência Getty Images, mas tem um cargo muito especial: é o fotógrafo oficial da Família Real britânica e, além de cobrir eventos noticiosos como a seca em África ou a nomeação do Papa Francisco, teve a oportunidade de captar de perto a Rainha britânica ao longo dos últimos 20 anos.

Desde que Isabel II morreu na passada quinta-feira (8 de setembro) que Chris continua a trabalhar sem parar. No próprio dia da morte da Rainha, diz, estava a fotografar um arco-íris perto do castelo quando recebeu a notícia — “Do ponto de vista da fotografia, foi um momento fortuito, mas foi também algo que nunca esquecerei”, confessa. São também dele as imagens dos príncipes William e Harry com as respetivas mulheres no castelo de Windsor, vestidos de negro, quando saíram para cumprimentar as pessoas no início da semana.

Com a chegada da urna que transporta o corpo de Isabel II a Londres, Chris Jackson veio também até à capital do Reino Unido para continuar a acompanhar e a registar o momento de perto. Apesar de estar ocupado, conseguiu encontrar-se com o Observador nos arredores de Buckingham para falar um pouco sobre o seu trabalho e partilhar as impressões de duas décadas a fotografar a Rainha. “Ela tinha um ótimo sentido de humor, sem dúvida, e acho que isso é visível nas fotografias. Ela adorava quando as coisas não corriam como planeado“, revela, dando como exemplo um momento oficial em que estava a cortar um bolo e a faca ficou presa, provocando gargalhadas entre os presentes.

Chris Jackson em frente ao Palácio de Buckingham, em Londres

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Jackson considera o seu trabalho “um privilégio”, por sentir que está a contribuir para um registo da História ao fotografar uma chefe de Estado — trabalho esse que continuará agora com o Rei Carlos. “É muito triste que a Rainha tenha morrido, mas agora temos o Rei Carlos e, para onde quer que olhemos, a História está a avançar“, resume. “É parte do meu trabalho captar esses momentos, estes períodos são muito importantes.”

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Tem estado a trabalhar nestes dias, a cobrir o funeral da Rainha, uma pessoa que conheceu pessoalmente. Como tem sido fotografar estes momentos?
Têm sido uns dias muito surreais. Soube da morte dela quando estava em Windsor. É claro que àquela hora já sabia que a Rainha não estava bem, os membros da Família Real tinham ido todos para a Escócia. E eu, como fotojornalista, fui a Windsor tentar captar a reação das pessoas. Enquanto lá estava, pensei em ir fotografar o castelo lá em baixo, a partir do rio Tamisa — é um ângulo muito bom, com uma luz bonita. Enquanto ali estava apareceu um arco-íris incrível por cima da torre e, exatamente nesse momento, saiu a notícia da BBC a dizer que infelizmente a Rainha tinha morrido. Foi um momento muito estranho e surreal. Conseguia ver a multidão e a bandeira a meia-haste no castelo e o arco-íris ia-se tornando cada vez mais forte. Do ponto de vista da fotografia, foi um momento fortuito, mas foi também algo que nunca esquecerei. Foi um momento daqueles. Depois de ter passado quase 20 anos a fotografar os compromissos dela e a tirar retratos oficiais, esta foi uma experiência fora do comum. Acho que quando este período acabar vou precisar de fazer uma pausa.

Para absorver tudo?
Sim, para olhar para trás e refletir. Sendo fotógrafo real há 20 anos, não tive a oportunidade de cobrir a princesa Diana, nunca fotografei um grande funeral, com exceção do do Duque de Edimburgo [príncipe Philip]. Portanto, esta é uma estreia para mim. Mas a Rainha teve uma vida fantástica e tem sido ótimo recordar todos os momentos maravilhosos. Tive muita sorte em poder fotografá-la, tem sido um privilégio. Ela sempre foi ótima de fotografar, porque não posava para a câmara, portanto sabíamos que a foto ia ser genuína. O que às vezes era mais desafiante, mas muito recompensador.

A Rainha aceitava as suas instruções ou fazia tudo à maneira dela?
Bem, sou um grande fã da ideia de captar um momento da forma que ele se apresenta, de um estilo de fotografia mais de reportagem, mais cândido. Portanto ela era boa para um fotógrafo assim, porque me obrigava a estar atento, mas quando apanhava um sorriso ou uma reação, sabia que eram genuínos. Houve momentos adoráveis ao longo dos anos. Nos últimos tempos, quando a víamos menos vezes por causa da Covid, cada oportunidade para a fotografar se tornou mais especial. Não foi incrível quando ela apareceu no Jubileu de Platina? Aqueles momentos na varanda foram incríveis, quando ela apareceu e o príncipe George estava a tapar os ouvidos com as mãos… Deu fotografias excelentes. E estava toda a gente entusiasmada, porque não sabíamos se ela ia aparecer em público. Portanto, vê-la na varanda foi uma ótima surpresa e acho que também teve muito significado para ela. Isto [diz apontando para o Mall, em frente ao Palácio de Buckingham] estava cheio de gente! Foi um momento muito especial.

Queen Elizabeth II Platinum Jubilee 2022 - Trooping The Colour

Fotografia captada por Chris Jackson no Jubileu de Platina da Rainha

Getty Images

Ela era famosa pelo sentido de humor. Isso notava-se quando a fotograva?
Ela tinha um ótimo sentido de humor, sem dúvida, e acho que isso é visível nas fotografias. Ela adorava quando as coisas não corriam como planeado. Uma vez fotografei-a no Royal Albert Hall, numa celebração pelos 100 anos do Women’s Institute em que também estavam a condessa de Wessex [Sophie, mulher do príncipe Eduardo] e a Princesa Real [princesa Ana], e a faca ficou presa no bolo! Ela adorou. Foi um momento muito divertido, ela não conseguia tirar a faca, a Princesa Real teve de a ajudar e toda a gente deu uma gargalhada. São exatamente estes momentos que são bonitos de captar, os momentos inesperados. Estão a léguas da formalidade, da pompa e da cerimónia.

Queen Elizabeth II Attends Centenary Annual Meeting Of The National Federation Of Women's Institute Queen Elizabeth II Attends Centenary Annual Meeting Of The National Federation Of Women's Institute Queen Elizabeth II Attends Centenary Annual Meeting Of The National Federation Of Women's Institute Queen Elizabeth II Attends Centenary Annual Meeting Of The National Federation Of Women's Institute

O momento em que a faca ficou presa no bolo durante a cerimónia no Royal Albert Hall

Getty Images

É fotógrafo da Família Real há 20 anos, como disse. O que recorda da altura em que começou? Imagino que possa ter sido algo intimidante.
Sim. Muito mudou desde então. À altura, alguns dos membros mais novos da Família Real estavam na Universidade, o duque de Cambridge [príncipe William] andava a pilotar helicópteros… Tudo mudou. E isso é natural, as coisas mudam, faz parte do trabalho. Aquilo que adoro é o facto de viajar tanto quando se fotografa a Família Real, é um privilégio enorme ir a estes lugares maravilhosos por todo o mundo. Quando era mais novo adorava as viagens reais, hoje é um desafio maior porque tenho dois filhos [risos]. A história está sempre a mudar, isto é a História a desenvolver-se à frente dos nossos olhos. É muito triste que a Rainha tenha morrido, mas agora temos o Rei Carlos e, para onde quer que olhemos, a História está a avançar. É parte do meu trabalho captar esses momentos, estes períodos são muito importantes.

Já tem planos para fotografar Carlos como Rei? Há momentos específicos que anseia captar?
Tenho tido a sorte de já o fotografar há muitos anos e ele é um modelo ótimo. Tem muita energia e trá-la para os compromissos reais: faz uns oito por dia, não pára para almoçar, simplesmente continua. Acho que ele será um ótimo Rei, é um homem apaixonado e focado. É raro uma pessoa chegar a um cargo destes com 73 anos. Camila também vai ser uma excelente Rainha consorte. Ela é fantástica, eles trabalham em equipa e apoiam-se mutuamente.

Os últimos dias mostraram que ele não evita aproximar-se das multidões, por exemplo.
Pois não! E deve ser muito difícil para ele cumprir todas estas funções, ir a todos estes sítios, quando já fez tanto na vida dele.

Esta talvez seja uma pergunta difícil para um fotógrafo. Tem alguma fotografia favorita de todas as que já tirou à Rainha?
Não, é uma boa pergunta [risos]. Gosto muito daquele que tirei este ano dela a trabalhar com a Red Box, a caixa em que ela recebe os papéis oficiais todos os dias do ano, exceto no Natal e na Páscoa. Acho que a razão pela qual gosto tanto é porque mostra a dedicação dela ao dever, ela esteve a trabalhar até ao fim. Dias antes de morrer recebeu a nova primeira-ministra, isso é incrível. Ela tinha este compromisso com o dever. E, naquela foto ela está a rir, está a gostar do momento, por isso há a combinação do sentido de dever com a felicidade, o que é algo que gosto muito naquela fotografia.

Queen Elizabeth II Platinum Jubilee Portrait

Um dos retratos da Rainha preferidos de Chris Jackson é um que tirou este ano, com a Red Box

Buckingham Palace via Getty Imag

Tenho outras preferidas, as dela com outros membros da família são sempre boas. Há uma com o Christmas Pudding no Palácio de Buckingham muito boa, com o príncipe George, o príncipe de Gales [Carlos] e o William, os herdeiros diretos ao trono — portanto, a foto tem um significado histórico, mas ao mesmo tempo é bonita, relaxada e genuína. Ah e tirei uma no hospital Lister, num evento do dia-a-dia, em que ela está como expressão invulgar, a sorrir e com um fundo branco. É uma das minhas preferidas, acho que é daquelas que deixa as pessoas felizes, por ser rara. Ao fotografá-la tão frequentemente gosto sempre quando a luz está de determinada forma e consigo captar-lhe uma expressão invulgar, porque pode ser uma fotografia que fica para a História. Ela é uma figura histórica e essa é uma das coisas especiais em ser fotógrafo real. Mesmo agora, com a morte da Rainha, olhamos para as fotografias antigas da vida dela e encontramos fotógrafos incríveis como Cecil Beaton ou Lord Snowdon. Coisas incríveis! E a Rainha viveu mais do que todos eles.

Queen Elizabeth II Visits The East Midlands

A foto de Isabel II no hospital Lister, com uma expressão "invulgar"

Getty Images

Parece-me que também aprecia muito fotografar as crianças, como o príncipe George, que é muito expressivo. É difícil manter uma continuidade quando se fotografa pessoas de gerações tão diferentes e, ao mesmo tempo, ser fiel à sua personalidade?
Sem dúvida. Não fotografo assim tão frequentemente as crianças, porque elas estão na escola e mantém-se um pouco a sua privacidade. Portanto, quando as vemos é especial. No Jubileu de Platina houve fotos adoráveis deles…

A fazerem aquelas caretas. 
[Risos] Exatamente, estavam mesmo a divertir-se. Adorei tirar fotografias ao Louie aí, ele está a adorar a música, foi fantástico.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Falou neste sentido de que fotografar a Família Real é também fotografar a História. Muitas vezes as pessoas interessam-se mais pelas roupas ou pelo drama familiar… Acha que a maioria se esquece de que há uma dimensão histórica e estatal na Família?
Acho que sim, é normal. Mas momentos como os destes dias relembram às pessoas o peso da História e a força da instituição, que são precisamente as razões pelas quais dura há tanto tempo. Há uma continuidade, um período de transição suave e é por isso que o Rei tem de levar a cabo todos estes deveres já e é imediatamente puxado para isto. Há um mecanismo que já existe há muito tempo. É por isso que a Família Real está sempre presente.

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