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JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

Criança de 10 anos violada deve levar a gravidez até ao fim? "Sou pela vida e lamento se criança for impedida de nascer"

A deputada e líder do Chega, Rita Matias, acusa o novo líder do PSD de não ter coragem de se referir diretamente ao Chega. Admite erros de casting do partido de Ventura quando recruta candidatos.

A deputada e líder da Juventude do Chega, Rita Matias, acusa o novo líder do PSD, Luís Montenegro, de “falta de coragem” ao não ter nomeado o Chega quando atacou o partido, algo que, com ironia, diz que não esperava de alguém que tinha “reclamado para si o título de ser oposição musculada”. Em entrevista ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador — dois dias depois da moção de censura do Chega ao Governo ter sido chumbada — Rita Matias admite que o instrumento não foi utilizado para o Executivo cair, mas para ter “o Governo todo sentado no Parlamento para justificar as opções” que tem tomado.

Sobre se a moção foi uma forma de tentar ganhar a corrida da oposição, Rita Matias diz com a “humildade possível” que o Chega já lidera a oposição (apesar de ter 11 deputados e o PSD 77). Diz ainda que “não utilizaria” a mesma expressão que o seu colega de bancada, Bruno Nunes, utilizou para se referir à líder do PAN (“É uma bonita flor e um dia vem uma vaca e come-a”), mas confessa que achou graça.

Relativamente ao aborto — tendo por mote a decisão do Supremo tribunal norte-americano — Rita Matias diz que é contra a prática em todas as circunstâncias. Quando confrontada com o caso de uma criança de 10 anos que estava grávida na sequência de uma violação — e que teve de percorrer quilómetros para poder abortar nos EUA — a deputada do Chega manteve que é “pela vida” e que seria igualmente contra o aborto nessa circunstância.

[Ouça aqui o episódio desta semana da Vichyssoise:]

O capote de Costa e o “inteligente” Ventura na AR

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O partido esta semana apresentou uma moção de censura. Se a moção fosse aprovada, o Governo seria derrubado e António Costa teria que se demitir. Uma vez que a moção foi chumbada, André Ventura não devia tirar consequências e demitir-se?
Não. Devia ser apresentada uma moção de confiança interna a André Ventura. Esta foi uma oportunidade de se afirmar como líder de oposição. Sabíamos pelos cálculos políticos que era impossível o Governo cair. O objetivo não era necessariamente esse, quando apresentámos a moção demos exemplo de outros países onde é possível apresentar moções a determinadas pastas ministeriais, infelizmente em Portugal não temos essa figura regimental. Era uma moção bastante balizada, com três pilares. Todos os partidos da oposição estavam de acordo com os tópicos da moção, lamentamos que depois a moção não tenha exprimido este cartão vermelho que era necessário.

Admite então que era uma luta pela liderança da oposição? Uma forma do Chega se assumir como líder da oposição?
Não. Não era uma tentativa de atingir o lugar de liderança da oposição. Com a humildade possível, acho que essa conquista já está feita.

Tem um sexto dos deputados do PSD.
Por enquanto. Na verdade, era para mostrar que há questões fundamentais para os portugueses que precisam de ser discutidas. Estamos ainda num modelo em que não há debates quinzenais. O primeiro-ministro vai ao Parlamento uma vez por mês e havia respostas que precisavam de ser dadas, nomeadamente na área da saúde, na questão da crise dos combustíveis, também a situação de instabilidade governativa. Era hora de termos o Governo todo sentado no Parlamento para justificar aquelas que têm sido as escolhas governativas.

O líder do Chega disse que se fosse preciso apresentaria uma moção de censura todos os anos. Isto não é um bocadinho brincar à democracia?
Não. Tanto quanto sei já foram apresentadas cerca de 35 moções de censura, ou de rejeição do programa de governo, dos quais apenas uma — penso que apresentada pelo PRP — efetivamente resultou numa queda de Governo. É um instrumento que tem como objetivo fiscalizar a ação governativa e essa é a definição de oposição. Cabe a qualquer líder da oposição utilizar esta ferramenta.

Portanto, vai ser utilizada assim como uma ferramenta regular pelo Chega, como ação de fiscalização do Governo. É essa a vossa intenção?
Se for necessário. Não temos por objetivo querer banalizar qualquer figura regimental, mas se voltarmos a verificar situações caóticas, como as que verificámos nas últimas semanas, iremos utilizar. Veja-se que nas últimas semanas tivemos urgências a fechar dia após dia, depois um escândalo governativo.

Mas não teme, precisamente essa banalização? O uso da figura em excesso não pode fazer com que quando for a sério não haja um argumento ou figura regimental suficientemente forte para censurar o Governo?
Como disse há pouco, o Chega não está particularmente a banalizá-la. É uma figura que já foi usada mais de 30 vezes nos últimos 46/47 anos. É uma figura que vai sendo usada com alguma frequência.

Foi o Chega que disse que usaria todos os anos se fosse necessário, daí a pergunta.
Se fosse necessário. Continuaremos a usar esta e todas as outras figuras que considerarmos necessárias.

O deputado do Chega Bruno Nunes disse ontem numa mensagem dirigida à líder do PAN “a senhora é uma flor muito bonita no meio do campo, um dia destes vem uma vaca e come-a”. Parece-lhe linguagem aceitável para um debate parlamentar?
Não seria uma expressão que eu utilizaria.

Mas achou graça.
Alguma. Foi uma metáfora utilizada para dizer que eventualmente o PAN, continuando alinhado com o PS — que tem o PAN e o Livre como partidos satélite — vai acabar por ser engolido pela maioria socialista.

"Luís Montenegro também não teve muita coragem de dizer a quem se dirigia [quando falou do Chega no Congresso do PSD]"

O novo líder do PSD disse no encerramento do Congresso que não se vai associar a qualquer política xenófoba ou racista. Entende esta mensagem como um ataque ao Chega?
Não entendo na medida em que Luís Montenegro não foi capaz de dirigi-la e de nomear a figura ou posição política que queria nomear. Dizer que Luís Montenegro tem que justificar, caso esteja a dirigir estas palavras ao Chega, o facto de o PSD estar dependente de um partido com, pelos vistos, políticas racistas e xenófobas nos Açores. É uma solução governativa que necessita do apoio do Chega. O que o Chega pediu para essa solução governativa, as políticas que pediu nenhuma delas me parece ter um conteúdo xenófobo ou racista. Falávamos sobre a redução do número de deputados e membros do Governo, uma das bandeiras do Chega desde 2019; a criação de um gabinete anti-corrupção; a redução da subsídio-dependência na região. Medidas bastante sensatas que em nada transcrevem qualquer prática xenófoba ou racista.

Mas acha ou não que era dirigido ao Chega?
Talvez não. Luís Montenegro conclui depois a frase e diz que estava a referir-se a António Costa. A verdade é que Luís Montenegro também não teve muita coragem de dizer a quem se dirigia. Esperava, honestamente, depois de Luís Montenegro ter reclamado para si o título de uma oposição musculada, forte, esperava mais capacidade de nomear.

"Não sei se o PSD é o parceiro ideal nos Açores. Não reduziram o número de deputados nem de membros do Governo"

André Ventura está sempre a dizer que é maltratado pelo PSD. Falou agora novamente na questão dos Açores, porque é que continua a dar a mão ao PSD nos Açores?
A verdade é que esta era a forma de fazer uma alternativa ao socialismo. Os cidadãos da Região Autónoma dos Açores foram bastante claros, estavam cansados de socialismo. Não sei se o PSD é o parceiro ideal porque até ver não reduziram o número de deputados nem de membros do Governo.

O Chega é que reduziu, tinha dois e um saiu.
É verdade. São conjunturas.

Perdeu metade da bancada.
Naquele caso. Estamos certos que no futuro iremos ter ainda mais deputados.

No continente, se isso acontecer na Assembleia da República, o Chega está disposto ao mesmo? Ser maltratado, mas manter o acordo só porque é uma alternativa ao PS?
Acima de tudo a questão dos Açores, e não voltando a fantasmas do passado, dizer que o que aconteceu foi que o Chega quis estar firme em algumas bandeiras. Qualquer pessoa, mesmo do Chega que se permita vender aqueles que são os nossos valores, tem a porta da rua aberta. Vamos manter esta linha seja nos Açores, seja aqui no Governo da República, onde for.

Neste momento o Chega quer ou não ter um movimento de convergência com o PSD?
O Chega já percebeu que se calhar não vai conseguir ter esse movimento uma vez que ontem o PSD se demitiu por completo do papel de oposição que tem.

A minha pergunta era se quer. O Chega quer procurar isso?
O que o Chega não quer necessariamente procurar, quer fazer a oposição que os portugueses necessitam, trazer para dentro da Assembleia da República aquilo que António Costa ironizou com o megafone. Sim, o Chega quer ser o megafone das necessidades e das dificuldades dos portugueses comuns.

"O Chega quer ser o megafone das necessidades e das dificuldades dos portugueses comuns"

Mas em convergência com o PSD ou não?
Se o PSD quiser, estamos disponíveis. Entenda-se que estamos disponíveis para conversar com o PSD ou qualquer outra força.

A carta que André Ventura enviou em maio a João Cotrim de Figueiredo e Luís Montenegro continua válida para o Chega? Continua a estender a mão para uma convergência à direita?
Na medida em que é preciso olhar realisticamente para os dados que temos, para as sondagens que temos e percebermos que por enquanto não há capacidade nenhuma de maioria de direita sem que haja convergência. É tempo de começarmos a sentarmo-nos, a dialogar e a tentar chegar a resultados com os dados que temos.

"Olhando para as sondagens, não há capacidade nenhuma de uma maioria de direita sem que haja convergência. É tempo de começarmos a sentarmo-nos, a dialogar [com PSD e IL]"

O Chega tem alguma marca de instabilidade também nestes meses. Dos 19 vereadores eleitos pelo Chega nas autárquicas de setembro passado sobram apenas 14. O Chega já perdeu cinco vereadores e ainda pode perder mais. Também perdeu um deputado nos Açores. Como é que os eleitores podem confiar num partido que já perdeu, na verdade, 16% dos vereadores eleitos.
Volto ao que dizia referente aos Açores. A diferença entre o Chega e outros partidos é que aquelas que são as nossas bandeiras têm que ser defendidas independentemente de qualquer constrangimento pessoal, qualquer vontade do autarca. Isto irá continuar a acontecer no país, para todas as pessoas que se venderem.

Mas o Chega também falha aqui na escolha das pessoas que candidata aos cargos ou não?
Falha na medida em que não conseguimos prever, não somos profetas, não temos capacidade de psicanálise.

Mas o Chega também falha na escolha dos candidatos aos cargos ou não?
Falha na medida em que não conseguimos prever, não somos profetas, não temos capacidade de psicanálise.

Psicanálise ou têm falta de tempo para fazer essa triagem?
O partido está me crescimento, tivemos uma série de eleições de seguida e admitimos que possa haver alguns erros de casting. Mas não ficamos presos a esses erros e também não temos medo de errar porque só mostra que estamos no terreno. Quisemos ir a jogo em todo o país porque reconhecemos que era necessário alternativa também junto da população local.

O Chega é muito rápido a condenar alguns membros mais críticos da direção, mas há situações em juntas em que viabiliza até documentos estratégicos do PCP ou da CDU. Porque é que há dois pesos e duas medidas?
Não se trata de dois pesos e duas medidas, a verdade é que antes de olharmos para uma proposta não olhamos para o proponente, mas para o conteúdo. E temos feito isso também na Assembleia da República.

Portanto o Chega não tem problema em votar ao lado do PCP.
O Chega não volta ao lado do PCP por regra, não é algo que acordemos de manhã e pensemos que vai acontecer. É possível se a ideia for o melhor para aquele concelho ou freguesia ou até para o panorama nacional. Por exemplo nas pensões para os antigos combatentes, votámos ao lado do PCP porque reconhecíamos que era uma proposta válida e necessária. O PCP não foi capaz de votar ao nosso lado. Na hora de escolher preconceitos ideológicos e barreiras políticas, o Chega prefere valorizar as ideias do que olhar para o proponente.

"Nas pensões para os antigos combatentes, votámos ao lado do PCP porque reconhecíamos que era uma proposta válida e necessária"

Nos EUA, o aborto já foi considerado ilegal ou restringido em 21 estados desde a decisão do supremo. Em Portugal o aborto também deveria ser considerado ilegal?
A verdade é que o aborto não se tornou ilegal nos EUA e essa mensagem tem sido difundida pelos media e muito influencers e é preciso explicar.

Em 21 estados foi.
Em alguns estados poderá a começar a tornar-se porque foi reconhecido que não é um direito constitucional e foi remetido para a esfera estadual. É preciso desconstruir esta falsa ideia. Em matéria de aborto os EUA é mais permissivo do que muitos estados na Europa e Portugal.

Ainda ontem uma criança de dez anos, grávida de seis semanas foi obrigada a viajar centenas de kms para interromper a gravidez noutro Estado. Como é que não é ilegal, o Chega não está pode dentro destes casos reais que estão a acontecer?
Está por dentro e, por acaso, em matéria de aborto não têm sido dadas alternativas às mulheres. O que fazem crer é que o aborto é um direito das mulheres mas que alternativas são dadas a uma mulher violada ou abandonada pelo companheiro, que se veja numa situação de dificuldade? Que soluções é que a sociedade civil ou o Estado têm oferecido às mulheres que veem como único caminho o aborto?

Mas qual a alternativa para esta criança?
Não conheço o caso em particular, confesso.

Foi um caso noticiado ontem em todo o mundo, é uma uma criança de dez anos, violada. Acabou por engravidar. Se acontecesse em Portugal devia ser obrigada a levar a gravidez até ao fim?
Não vejo como uma questão de obrigação. A título pessoal, sabe que sou pela vida e que lamento que uma nova criança tenha sido impedida de nascer.

Mesmo que seja de uma outra criança de dez anos?
Lamento imenso e acho absolutamente lamentável e condenável que uma criança se veja nessa situação e remete-me para uma esfera do trabalho que temos de ter pela promoção da dignidade humana. O que queria mesmo sublinhar é que frequentemente tentam empurrar o Chega para o partido retrógrado e contra as mulheres, e no trabalho que temos feito na Assembleia da República temos apresentado alternativas.

No programa do Chega diz que “o Chega defende, nos termos constitucionais, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e dimensões, com todas as consequências jurídicas daí decorrentes.”. Perante isto o partido não devia ter ações nesse sentido?
A abordagem que o partido tem tido do ponto de vista de projetos legislativos tem sido de construir uma alternativa. A narrativa dominante, a população não está preparada para retrocedermos. O Chega não tem por objetivo apresentar projeto — que não seria aprovado — que reverta o aborto, mas que as mulheres continuem a achar que ele é uma solução. O trabalho que temos de fazer é cultural, de mostrar que toda a vida é um bem, tentar apoiar uma mulher em situação de dificuldade. Não temos gosto em §infligir dor à mulher, não queremos que ela passe por uma dor maior.

O próprio líder André Ventura diz que não é “eticamente a favor do aborto”, mas diz-se incapaz de permitir que em Portugal “haja um processo crime contra uma mulher que abortou”. É contra esta opinião do líder?
Esta tem sido a posição oficial do partido, que se vê com dificuldade em criminalizar uma mulher. Há quem divirja.

É uma não solução. É como aquele sketch de Marcelo Rebelo de Sousa do “não é permitido mas pode-se fazer”. É a posição do Chega.
Não, a posição do Chega é a que André Ventura já partilhou de não querer criminalizar.

Mas é a sua também?
O meu objetivo não é criminalizar uma mulher. Querem encostar.me à grade. A questão não é criminalizar a mulher, é dar lhe alternativas. Quem ouvir lá em casa vai achar que o meu objetivo é criminalizar. Não, aquela mulher à partida já está condenada pela sociedade que não lhe deu alternativas, não esteve ao lado dela. Começaria por criminalizar o médico que se disponha a tirar uma vida, porque isso é contra o código deontológico dos médicos. Querem que eu dê uma resposta mas lá para casa vai passar a mensagem errada.

"Há imensos estudos que mostram que depois de um aborto as pessoas têm mais tendência para ter depressões. Muitas delas arrependem-se"

Já percebemos que tem uma posição divergente do líder do partido. Escreveu também que enquanto não se for “mais além”, ano após ano, estarão “15 mil vidas por nascer e 15 mil mulheres a passar por um sofrimento atroz”. Também não será um sofrimento atroz uma mulher ou uma criança violada, por exemplo, ser obrigada por lei a manter a gravidez?
Não sei se já tiveram a oportunidade de ver — também não trago presente nenhum estudo — mas há imensos estudos que mostram que depois de um aborto as pessoas têm mais tendência para ter depressões. Muitas delas arrependem-se de uma decisão que, infelizmente, não é reversível. Aquela vida em particular nunca mais pode ser retomada e é um drama porque há 15 mil vidas que ficam por nascer mas também há 15 mil mulheres que ficam marcadas para sempre.

Mas admite que possa haver um sofrimento também ao ser impedida de fazer a escolha dela.
Pode haver um sofrimento, mas pode haver naturalmente muitas opções. O exemplo mais cliché que posso dar é do Cristiano Ronaldo, uma criança que poderia ter sido abortada pela mãe e que trouxe mais sofrimento quando nasceu porque era uma família pobre e ainda agravou mais essa condição e hoje é a fonte de sustento e o orgulho daquela família.

Disse em fevereiro, num célebre debate com Joana Amaral Dias, que “falta mais vozes femininas no espaço publico para defender uma outra forma de defender a mulher, numa perspetiva mais conservadora”. Que perspetiva conservadora é esta? Que papel é que a mulher devia ter e não tem?
A mulher devia ter o papel que quiser ter e infelizmente isso não é possível. Vemos aqui uma forma de defender a mulher que muitas vezes passa por colocá-la numa competição ou numa tentativa de sobreposição ao papel do homem. O que defendemos é um papel de complementaridade, olhando para a natureza do homem e da mulher.

Mas quem complementa quem?
Ambos complementam-se. Como estava a dizer, reconhecendo as características que um homem e uma mulher tem.

Quais são as características que a mulher tem nesse papel? Tem algumas mais específicas?
No papel de ser mulher?

Sim. Por exemplo na dinâmica de um casal. Há algum papel específico?
Cada caso é um caso. Descrever aqui um papel é difícil.

Só para tentar perceber qual é a abordagem mais conservadora, se é a mulher ficar em casa.
Não, de todo. Muitas das vezes tentam colar-nos a esse discurso, uma vez mais como eu dizia retrógrado, e não passa por isso. Passa pela mulher poder fazer o que quiser. Dando o exemplo de a mulher querer ficar em casa, não é um direito conseguido para as mulheres. Uma mulher que queira ficar em casa para se dedicar à educação dos filhos, se não tiver recursos económicos não o consegue fazer. É uma conquista que também precisa de ser feita.

Para homens e para mulheres, um homem que queira ficar em casa também.
Exatamente, também há muitos homens, muitas famílias monoparentais, que têm apenas o pai a cuidar dos filhos, e que também nos fazem chegar muito as suas mensagens e precisam de ver esses direitos conseguidos. Como eu dizia é uma visão de complementaridade, não é de dizer que o homem ou a mulher é superior ao contrário de outras visões.

Queríamos só perceber se a mulher era sempre complementar nesse aspeto e o homem o principal.
De todo. É uma complementaridade em que ambos estão a complementar-se na sociedade.

Como é que está o processo de constituição da juventude do Chega? Era para existir eleições, não voltaram e existir, como está?
Neste momento vamos ter um conselho nacional no final do verão, que já foi anunciado, e um dos objetivos do Congresso é precisamente criar os regulamentos de uma série de organismos dentro do partido nomeadamente a juventude.

Porque é que está a atrasar tanto?
Porque é o processo natural. Não faz sentido colocarmos todos os distritos em eleições quando ainda não temos comissões instaladoras em todos os distritos.

Já expulsaram os neonazis todos? André Ventura dizia que havia uns infiltrados.
Não só na juventude, mas em todo o partido. É um trabalho que temos feito, com todas as pessoas que não são democratas.

Mas André Ventura está com medo da juventude do Chega? Porque é que não permite essas eleições o mais rapidamente possível e porque é que continua a manter a Rita numa nomeação direta a coordenar a juventude do Chega?
Na verdade coordeno na medida em que sou membro da direção nacional, aliás um cargo para o qual fui eleita.

Escolhida por André Ventura.
Escolhida por André Ventura, referendado no Congresso do partido e aprovado agora até por larga maioria. A juventude foi sendo adiada porque, em primeiro lugar para ir a eleições é necessário um regulamento base que tem de ser aprovado pelos órgãos máximos do partido. Não podemos ir a eleições com regras diferentes nos distritos, [o regulamento é necessário] para uniformizar o processo. Tentámos criar uma comissão instaladora em todos os distritos para que todos pudessem ir a eleições e criarmos tudo a uma só voz, se não acontecia como no partido. Foi um processo natural, no qual não temos nenhum arrependimento, em que houve distritais que tiveram eleições primeiro, depois outras mais tarde. Tentar que chegassem ao mesmo ponto foi bastante difícil. Atingimos apenas um patamar de maturidade, vamos esperar pelo conselho nacional, ver os nossos estatutos aprovados e começar a trabalhar enquanto juventude oficial.

"Eu e o meu pai fizemos um caminho absolutamente paralelo no Chega"

Antes de terminar queríamos ir a um tema. O Chega faz feroz ataques ao familygate e ao nepotismo que existe no PS. O seu pai era assessor no grupo parlamentar que faz parte, o seu irmão foi candidato autárquico e o tio também. Isto não são vários exemplos de nepotismo?
Confesso que não esperava essa pergunta. Estou a brincar (risos). Não diria, de todo. Para começar um partido em formação naturalmente que tem bastantes círculos íntimos e próximos na sua constituição. A seguir, o caso particular da minha família é bastante público. O meu pai era assessor de André Ventura porque fez uma coligação, na altura das europeias, com o partido pró-vida que permitiu ao Chega candidatar-se às eleições europeias uma vez que o partido ainda não estava constituído. Posteriormente, fruto também do caminho que foi feito para as legislativas, André Ventura reconheceu nele a capacidade para trabalhar como assessor político. Num caminho absolutamente paralelo eu fazia militância no partido Chega, nunca fui militante no partido Portugal pró-vida.

Mas isso os militantes de outros partidos com certeza dirão. Os argumentos são os mesmos, porque é que no vosso entender é nepotismo noutro partido e no Chega não é, só porque o Chega é um partido novo?
Não, de todo. Também porque nepotismo é porque não vemos nenhuma capacidade ou currículo.

Muitos casos do familygate no Governo, alguns até se tinham conhecido na JS, cada um seguiu o seu caminho e depois um estava com a mulher do secretário de estado ao lado.
Como a Ana Catarina Mendes e o irmão? Não foi o caso.

Eles fizeram caminhos paralelos no PS, ele até entrou antes dela e é muitas vezes apresentado como sendo o irmão que foi puxado para secretário de Estado, quando na verdade até foi ao contrário. Fizeram percursos paralelos. Ana Catarina Mendes foi dirigente da JS e o irmão também, a nível distrital. A questão que o Chega muitas vezes crítica é exatamente igual à vossa.
Há uma questão no partido Chega que como expliquei foi absolutamente transparente.

Porque é que depois o seu pai saiu, foi o reconhecer que estava ali em causa uma incompatibilidade?
Não. A transparência foi toda. A nomeação do meu pai foi feita por André Ventura num período anterior. Eu não era deputada, já era militante do Chega. Fiz a minha militância base na distrital de Setúbal, fui a um Congresso, apresentei uma moção sobre inverno demográfico — aprovada por unanimidade — e daí André Ventura convida-me.

Teve que voltar a nomeá-lo nesta legislatura.
Teve que voltar a nomear nesta legislatura.

Pronto, não foi só uma continuidade.
É André Ventura que nomeia os assessores e, portanto, nomeou-o novamente porque reconheceu o trabalho que foi feito na legislatura anterior.

Podia ter tido aí o cuidado de não o fazer uma vez que a Rita ia ser deputada.
Repare-se que também o grupo cresceu bastante. Temos muitos mais assessores connosco e todas as pessoas com experiência, capacidade de trabalho e acima de tudo vontade, devem ser mantidas. Foi nesse espírito que foi. Quando começou a ser notícia e para mostrar que, de facto, em questões de transparência não temos qualquer problema, foi afastado e não é nosso assessor atualmente.

Seguimos agora para a fase do Carne ou Peixe em que tem de escolher uma de duas opções:

Rita Matias, preferia filiar na juventude do Chega o líder da JSD Alexandre Poço ou o líder da JP Francisco Camacho?
Preferia filiar os dois, seriam dois bons contributos.

Não consegue escolher um dos dois?
Não. Até porque um deles foi meu dirigente, outro é meu colega.

Preferia ser ministra num governo liderado por Nuno Afonso ou por Luís Montenegro?
Questão difícil. Diria Luís Montenegro.

Se André Ventura saísse do Chega preferia ficar no partido para o ajudar a reerguer ou seguia André Ventura para um novo partido?
Espero que André Ventura nunca o faça, mas acredito na causa do partido Chega, ficaria no partido.

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