Um futuro entre duas realidades — a virtual e a real. Mark Zuckerberg, a braços com uma onda negativa sem precedentes, quer voltar a assumir a dianteira da revolução digital e fazer do Facebook o berço privilegiado do “metaverso”. Uma fuga em frente ou um marco tecnológico que vai alterar a sociedade como a conhecemos?
Há vários anos que Mark Zuckerberg tenta perceber qual é o próximo passo na interação que temos com a tecnologia. Afinal, no início da década de 2010, quando a empresa passou a ser assumidamente mobile-first — focada primeira para o consumo em telemóveis — no mercado, como contava o The New York Times, provou-se mais uma vez que o executivo sabe o que pode vir aí.
Antes, o fundador já o tinha mostrado que é previdente quando acreditou no sucesso da rede social (era raro partilhar-se fotografias pessoais na internet). Na mesma altura que a empresa assume o mobile first — em 2011 questionou-se se isso não seria “o fim da empresa”, como recuperava o Business Insider –, comprou o Instagram por mil milhões de dólares — uma aquisição que, agora, ninguém questiona.
Zuckerberg sabe, por isso, que os hábitos evoluem e que facto de os consumidores passarem a maioria do tempo ligados a um ecrã de smartphone não é imutável — antes pelo contrário.
A génese da Meta
Em 2014, quando o Facebook já era claramente um mobile-first, os olhos já viam a Meta a nascer um dia. Nesse ano, além da aquisição do WhatsApp por 19 mil milhões de dólares, Zuckerberg comprou por dois mil milhões uma empresa chamada Oculus. Pouco tempo depois, em 2016, a fotografia abaixo tornou-se imagem do que isso podia significar para o futuro.
Esta empresa, criada por Palmer Luckey, foi a precursora de um mercado que Zuckerberg acredita que será a base de tudo. Os óculos de realidade virtual da Oculus continuam a ser os mais competitivos contra a principal concorrência — os Vive, da HTC e da Valve — e mostram que é possível entrar no mundo digital.
“Quando estiver numa reunião no metaverso, vai sentir que está lá”, disse Zuckerberg na quinta-feira. A sustentar esta visão, o líder da maior rede social do mundo anunciou um mercado digital no qual os criadores de conteúdos vão poder criar e vender produtos com os quais só se pode interagir com aparelhos como óculos de realidade virtual ou aumentada, como aqueles que a empresa vende.
Ou que venderá: em março deste ano, a empresa revelou que tem protótipos para um futuro no qual as imagens dos computadores apareçam como hologramas à frente dos nossos olhos e, para as controlar, seja preciso apenas mexer a mão.
Contudo, este futuro em que se põe uns óculos de realidade virtual, ou realidade aumentada, e, de repente, deixam de ser precisos ecrãs, teclados ou até comandos para interagir com o digital ainda é apenas um futuro longíquo.
Zuckerberg, no entanto, quer ser mais uma vez pioneiro e associar desde já o Facebook ao ‘metaverso’ — um mundo em que podemos ser donos de objetos digitais e estar com quem quisermos, independentemente da distância, ainda não foi construído. Quando (ou se) for de facto uma realidade, o norte-americano quer dominá-lo: um local digital controlado pela Meta onde a conta de Facebook permite comprar objetos noutras plataformas que a empresa está a construir, como o Horizon Marketplace, ou até a ferramenta de teletrabalho Horizon Workrooms.
A página mais negra da Facebook?
O timing desta transformação do Facebook — que agora chama “Meta” à empresa-mãe que tem a rede social com o mesmo nome, o Instagram, o WhatsApp e as outras marcas — não poderia ser pior.
Como contaram ao Observador Sheera Frenkel e Cecilia Kang, duas jornalistas premiadas do The New York Times e autoras do livro “Ugly Truth: Inside Facebook Battle for Domination” (em português, algo como “Uma verdade feia: Por dentro da batalha do Facebook pela dominação”), a história da empresa é feita de falta de cuidado com consequências mortais.
“Quando estavam a fazer a investigação sobre a intervenção russa, se calhar, deviam ter prestado mais atenção à empresa de segurança que contrataram. Não tiveram cuidado com avisos sobre danos que estavam a ser feitos às pessoas, como no Myanmar [onde o Facebook esteve por detrás um genocídio]”, acusam as jornalistas.
Avançando com esta transformação para Meta, o Facebook parece estar a reagir às acusações que está a receber desde setembro, quando foi revelado que tem escondido predemitadamente que sabe que o Instagram como está que é prejudicial para os jovens, como foi revelado por Frances Haugen, uma ex-funcionária da empresa.
“Aquilo que eu vi no Facebook uma e outra vez foi que havia conflitos de interesse entre o que era bom para o público e o que era bom para o Facebook. E o Facebook, uma e outra vez, optou por otimizar os seus próprios interesses, como fazer mais dinheiro”, revelou Haugen.
Assim, coloca-se um dilema moral a que o Facebook não tem respondindo com a clareza que se exige dado o histórico recente (e não tão recente) da empresa: “No metaverso será diferente? E que problemas isso trará?”.
A empresa já emprega 10 mil pessoas só nestes produtos do ‘metaverso’ que ainda não existem, como tem sido noticiado por vários órgãos de comunicação social. Alguns destes produtos mais controversos, como os óculos de sol com câmaras incorporadas da Ray-ban e do Facebook, até levam a que se faça a pergunta: “Quem quer o Facebook no rosto?”, desafiou Engadget.
As frases que o Facebook escondeu sobre o mal que o Instagram faz aos jovens
Como tirar a Meta da sua vida?
A criação da Meta pode ser o início de uma sociedade mais próxima pela tecnologia, como Zuckerberg promete. Mas também pode assustar. Se quisera sair deste universo da Meta — que, além do Facebook, detém também o Instagram, o Messenger, o WhatsApp, e a Oculus, como já referimos, e ainda detém a Mapillary, o Workplace, o Portal e a Diem — e quer sair, explicamos como.
Os passos para apagar a conta de Facebook são explicados pela plataforma aqui. Ao fazer isto, a conta de Messenger, o serviços de chat da rede social, também é apagado.
Resumidamente, e como explica a rede social:
- No perfil principal, clicar na seta para baixo no canto superior direito do Facebook.
- Selecionar “Definições e privacidade” e depois clicar em “Definições”.
- Clicar em “As tuas informações do Facebook” na coluna da esquerda. Nota: “Se tens acesso do Facebook a uma Página na nova experiência de Páginas: clica em Privacidade e, em seguida, em As tuas informações do Facebook”, diz a rede social.
- Depois, clicar em “Desativação e eliminação“.
- Escolher “Eliminar conta” e clicar em “Continuar para eliminação da conta”.
- No fim, clicar em “Eliminar conta“, e inserir a palavra-passe e clicar em “Continuar.”
Atenção, isto não apaga instantaneamente a conta de Facebook. Tal só acontece passado 30 dias. Se, nesse período, o utilizador se arrepender, volta tudo ao normal. Já a destruição dos dados dos servidores da Meta pode demorar até 90 dias, e há informação que nunca sairá da plataforma.
Os passos para eliminar a conta de Instagram são explicados pela plataforma aqui. Como explica a rede social da Meta, os passos são os seguintes:
- “Acede à página Eliminar a tua conta a partir de um browser móvel ou de um computador. Se não tiveres sessão iniciada no Instagram na Web, ser-te-á pedido que inicies sessão primeiro. Não podes eliminar a tua conta a partir da app Instagram.
- Seleciona uma opção no menu pendente junto a Por que estás a eliminar a tua conta? e volta a introduzir a tua palavra-passe. A opção para eliminares permanentemente a tua conta apenas vai ser apresentada se tiveres selecionado um motivo no menu.
- Clica ou toca em Eliminar [nome de utilizador].”
À semelhança do Facebook, o Instagram deixa um aviso: “30 dias após o pedido de eliminação da tua conta, a mesma e todas as tuas informações vão ser permanentemente eliminadas e não vais poder recuperá-las”. Ou seja, nesses 30 dias o utilizador pode arrepender-se e voltar. Se não o fizer, passado 90 dias é praticamente tudo apagado.
O WhatsApp explica como apagar a conta aqui. Os passos são simples:
- Abrir o WhatsApp.
- Toquar em “Mais opções > Definições > Conta > Apagar a minha conta”
- Depois, introduza o número de telemóvel em formato internacional completo e toque em “APAGAR A MINHA CONTA“.
- Ainda é preciso selecionar o motivo pelo qual pretende apagar a sua conta no menu pendente.
- No fim, toque em “APAGAR A MINHA CONTA”.
O WhatsApp explica que “determinadas cópias das suas informações também podem permanecer após os 90 dias no armazenamento de cópias de segurança que usamos para recuperar dados em casos de desastre, erro de software ou outro evento de perda de dados”. Mesmo assim, depois de apagado, não há como voltar atrás.
Quanto aos outros serviços, há também maneiras de apagar os acessos. Contudo, convém não esquecer que as marcas da Meta são dos serviços mais utilizados em todo o mundo. Por exemplo, se o seu trabalho utilizar o Facebook ou o WhatsApp para comunicar, isso pode pô-lo em desvantagem. Porém, há sempre outras hipóteses para comunicar com quem mais gosta.
Que alternativas tenho?
Não quer o Facebook ou o Instagram? Tente o TikTok, o Twitter ou o Reddit. No entanto, atenção: cada uma também recebe críticas e pode ser viciante. Não quer usar o WhatsApp, volte a utilizar as SMS, ou instale outros serviços que têm ganhado popularidade, como o Signal ou o Telegram. Quer experimentar realidade virtual mas tem medo dos Oculus? Experimente uns HTC Vive ou uns Playstation VR. A sua empresa obriga-o a utilizar o Workplace? Convença que o Slack ou o Microsoft Teams podem ser opções.
Tudo isto são opções a serviços que a Meta disponibiliza. Não obstante, todos os serviços da antiga Facebook são dos mais utilizados também porque têm vantagens. O Facebook e o Instagram continuam a ser as maiores redes sociais para manter contactos com amigos distantes e o WhatsApp continua a ser uma forma eficiente e gratuita de comunicar com quem está longe. Contudo, vale a pena continuar se isso significa que está a deixar-se imergir metaverso de Zuckerberg?