O The Wall Street Journal (WSJ) revelou esta terça-feira que o Facebook omitiu durante anos dados sobre os danos que o Instagram, que é detido pela mesma empresa, faz a raparigas jovens. O caso já desencadeou uma investigação do congresso norte-americano e há senadores que dizem que têm mais documentos comprometedores. Mas o que é que o Facebook escondeu ao certo?

Facebook sabe que Instagram é tóxico para adolescentes, mostra investigação do The Wall Street Journal

A frase que mais compromete o Facebook quanto ao Instagram é a que aparece num dos slides mostrado numa apresentação interna feita em 2019, a que o jornal teve acesso: “Criamos problemas relacionados com a imagem [que as adolescentes] têm do próprio corpo a uma em cada três raparigas”. Ideia que contraria diretamente uma afirmação de Mark Zuckerberg, líder das redes sociais, proferida este ano: “A pesquisa que vimos é que o uso de apps sociais para se conectar com outras pessoas podem ter benefícios positivos para a saúde mental”.

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Segundo o WSJ, o Facebook “fez esforços mínimos para resolver estes problemas e menosprezou-os em público”. Contudo, possui dados de dezenas de milhares de pessoas que reportam problemas. Por exemplo, 51% das jovens no Instagram no Reino Unido dizem que a rede social as levou a quererem ter “uma imagem perfeita”.

Por exemplo, o Facebook sabe que “os jovens sabem claramente que o Instagram é mau para a sua saúde mental”. Contudo, “são impelidos a gastar tempo na app por medo de não estarem a acompanhar tendências culturais e sociais” — outras duas frases retiradas dos slides internos do Facebook.

“Os gostos no Instagram não medem o quanto somos amados”

Os investigadores por detrás deste estudo para a empresa chegaram à conclusão de que alguns dos problemas são específicos do Instagram, e não das redes sociais em geral. A mesma investigação revela que o Facebook sabia que a tendência de partilhar apenas os melhores momentos da vida pode levar à depressão nos jovens.

Este é um grande problema quando se olha para os utilizadores do Instagram: a maioria são jovens. 40% dos utilizadores  não têm sequer 22 anos. Se o Facebook admitisse que seu produto prejudica a saúde mental dos usuários, prejudicaria seu modelo de negócios. Assim, em vez de mitigar esses efeitos, a sua estratégia tem sido redobrar os esforços para atingir uma população cada vez mais jovem, acusam os críticos.

Os adolescentes disseram que não gostam da quantidade de tempo que passam na app, mas sentem que precisam estar presentes”, revelou um dos investigadores.

Além disso, o Facebook pode ter criado este problema ao ter tentado cativar jovens a usar a plataforma, refere o mesmo jornal. Num estudo com adolescentes nos EUA e no Reino Unido, o Facebook descobriu que mais de 40% dos utilizadores do Instagram dizem que o facto de se sentirem “pouco atraentes” é devido à rede social.

Facebook defende-se: “Os resultados são mistos”

Em resposta ao Observador sobre qual é o motivo para não ter revelado estes dados e que medidas está a implementar para proteger jovens em Portugal, o Facebook apenas reencaminhou a resposta para um comunicado que divulgou após a investigação do WSJ.

A questão na mente de muitas pessoas é se as sociais são boas ou más para as pessoas. Os resultados sobre isto são misto; pode ser ambos”, defende-se o Facebook.

Neste comunicado, a empresa defende-se e diz que o jornal se “resumiu a um número limitado de dados descobertos e mostra-os com um tom pejorativo”. Mesmo assim, o Facebook diz que quer ser “mais transparente” quanto aos resultados de estudos que tem.

As redes sociais não são inerentemente boas ou más para as pessoas. Muitos acham que é útil num dia e problemático no outro”, refere o Instagram.

O Facebook alega ainda que “cada estudo tem limitações e ressalvas, portanto, nenhum estudo individual será conclusivo”. “Muitos disseram que o Instagram é benéfico ou não tem efeito, mas alguns, principalmente quem já se sente em baixo, diz que o Instagram pode ser prejudicial”, defende-se ainda a empresa.