Este artigo vai estar em atualização ao longo do dia com as reportagens junto dos candidatos à câmara do Porto.
Rui Moreira vai passar a tarde a conversar sobre sustentabilidade e Manuel Pizarro reúne-se com a direção da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. Mas o ponto alto da campanha desta quinta-feira no Porto será a arruada de Álvaro Almeida ao fim da tarde, que vai contar com a presença do ex-presidente da autarquia Rui Rio. Já Ilda Figueiredo, da CDU, vai participar numa ação em defesa da construção da linha de Metro do Campo Alegre e João Teixeira Lopes, do Bloco, visita, durante a tarde, o Bairro do Amial.
PSD. Rio pressiona Moreira e deixa aviso a Passos: resultado nas autárquicas é importante
A frase: “Álvaro Almeida sai beneficiado com o caso Selminho. Estas eleições “não são favas contadas.”
A (outra) frase: “Até às eleições autárquicas, o imperativo é procurar a unidade. A partir do momento em que estiverem resolvidas as eleições autárquicas, outros temas se podem resolver. Agora, o resultado de 1 de outubro é um elemento importante, como é lógico. São eleições autárquicas, mas todas ao mesmo tempo, tem um resultado nacional, ponto.”
O que correu bem: A entrada em cena de Rui Rio agitou e de que maneira a candidatura do PSD. O ex-autarca continua a ser um dos políticos mais populares da cidade.
O que correu mal: Em contrapartida, a presença do antigo presidente da Câmara Municipal do Porto ofuscou completamente a figura de Álvaro Almeida, que pouco ou nada se fez notar.
Rui Rio juntou-se esta quinta-feira à arruada de Álvaro Almeida, candidato independente que corre pelas listas do PSD, e não deixou de comentar as implicações do caso Selminho na corrida autárquica da cidade. “Álvaro Almeida sai beneficiado com isso [Selminho] e com muitas outras coisas“, assumiu o ex-presidente da Câmara Porto.
Rui Rio, que durante os seus três mandatos não permitiu a construção no terreno que a Selminho detém na calçada da Arrábida, não quis “falar em concreto sobre nada” e apenas reafirmou que estas eleições “não são favas contadas” para Rui Moreira, que “este e outros casos” vão interferir nos resultados eleitorais no dia 1 de outubro e que sente “que as coisas estão a inverter”. “É notório que a evolução tem sido no sentido de reforçar as alternativas à câmara”, afirmou.
A Câmara do Porto assinou em 2014 um acordo extrajudicial com a Selminho — empresa do presidente da autarquia, Rui Moreira, e da sua família — em que ou devolve a capacidade construtiva ao terreno da empresa na Calçada da Arrábida, no âmbito da revisão do PDM em curso, ou será criado um tribunal arbitral para definir um eventual direito a indemnização à empresa.
O social-democrata também se escusou a fazer um balanço do atual mandato do independente Rui Moreira, afirmando que, desde que saiu da câmara, nunca ninguém o ouviu em público “a fazer qualquer apreciação, negativa, positiva, fosse o que fosse”. “Essa é uma regra ética e até estética que impus a mim próprio e, portanto, vou levar até ao fim. Mas, isso não quer dizer que eu não tenha a liberdade de apoiar o candidato do meu partido”, sublinhou.
Rui Rio vincou que estava ali para “falar pela positiva” de Álvaro Almeida, um candidato que pretende para o Porto aquilo que ele próprio defende. “Há quatro anos não me identificava com o programa”, nem com o cabeça de lista do PSD, Luís Filipe Menezes, “enquanto político, não a pessoa”, e “fiz o que acho que se deve fazer na vida: ser sincero e autêntico e não podia apoiar aquilo em que não acreditava. Agora apoio aquilo em que acredito”, disse.
Sobre o seu futuro no partido, que disse estar “unido” nestas autárquicas, o ex-presidente defendeu que só “a partir do momento em que estiverem resolvidas as autárquicas” poderão ser debatidos outros temas. Rui Rio admitiu, contudo, que o resultado do PSD nestas eleições “é um elemento importante” para o futuro.
Álvaro Almeida elogiou o trabalho desenvolvido por Rui Rio em 12 anos, afirmando que se existe “hoje uma cidade que vive muito bem do turismo, ganha prémios internacionais, foi tudo fruto do trabalho realizado” pelo ex-autarca e pelo setor privado, “que soube aproveitar as oportunidades”.
Lusa
Rui Moreira em silêncio sobre entrada de Rui Rio na campanha
O Presidente da Câmara do Porto preferiu não fazer qualquer comentário sobre a a participação de Rui Rio na ação de campanha de Álvaro Almeida, independente apoiado pelo PSD, agendada para esta quinta-feira.
Em entrevista ao Observador, quando desafiado a comentar um suposto afastamento entre os dois, Rui Moreira limitou-se a dizer que era normal que Rio apoiasse o candidato do PSD, tendo em conta que o ex-presidente da Câmara do Porto “tem aspirações nacionais”.
Álvaro Almeida, por sua vez, não tem hesitado em assumir-se como o verdadeiro herdeiro de Rui Rio, por oposição a Rui Moreira, a quem o economista só reconhece o mérito de “não ter estragado” o que Rio fizera. Já depois do arranque da campanha eleitoral, Rui Moreira não resistiu em comentar a colagem de Álvaro Almeida a Rui Rio: “Não me incomoda nada. Acho perfeitamente normal. Ainda bem para ele. O candidato do PSD faz bem em puxar os galões de outrem. Acho perfeito”.
Também Marisa Matias ficou sem resposta, mas acabaria por ser visada pelo chef hélio Loureiro, enquanto participava num evento do movimento independente. Na noite de quarta-feira, a eurodeputada bloquista aproveitou o jantar-comício do candidato do Bloco de Esquerda, João Teixeira Lopes, para acusar Moreira de “não ter programa, nem carácter” e de olhar para a cidade como um monarca. O autarca portuense, no entanto, também não quis comentar as declarações da bloquista.
Acabaria por ser Hélio Loureiro, responsável gastronómico da FPF, a responder à bloquista. “Ainda hoje [ontem] ouvi alguém dizer que temos monárquicos a mais no nosso movimento. É uma falta de respeito essa insinuação. É um insulto às monarquias europeias que são democracias exemplares. É chamar-lhes imbecis“, afirmou o chefe de cozinha, durante a última sessão de “Conversas à Porto”, organizada pela candidatura de Rui Moreira para assinalar o terceiro dia oficial de campanha.
PS. Mesmo sem parceiro para dançar, Pizarro prefere o tango livre às Valquírias de Wagner
A frase: “A Cavalgada das Valquírias é uma música gloriosa, mas não será com essa inspiração que avançarei para a Câmara Municipal do Porto.”
A promessa: Um programa de ensino de música estruturado para “pelo menos” 2 mil crianças do ensino básico e a criação de um pelouro da cultura.
O que correu bem: A tentação de pedir ao candidato para tocar piano era grande. Mas depois de na terça-feira o socialista quase ter caído quando tentava andar de bicicleta, um possível desastre no teclado seria coisa para não esquecer. “O talento artístico ficou esgotado com a minha filha”, assumiria Manuel Pizarro. Menos mal.
Fato azul marinho, sapatos pretos, mãos nos bolsos, a perna direita a marcar o ritmo — falhando um ou outro compasso — e a cabeça a abanar ligeiramente. Manuel Pizarro esteve esta quinta-feira na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) e não resistiu a balançar o corpo ao som de Libertango, de Astor Piazzolla, improvisado pela classe de saxofonistas da instituição. No final, ainda se desculparia pelo mau jeito: “A minha filha é que toca piano. O talento artístico ficou esgotado com ela“.
Mas a provocação era demasiado irresistível para não ser feita: depois de um início de campanha marcado por uma troca particularmente intensa de acusações entre Rui Moreira e Manuel Pizarro, não é caso para se dizer que já se ouve a Cavalgada das Valquírias, de Wagner? O socialista ri-se. “Essa é uma musica gloriosa, mas não será com essa inspiração que avançarei para a Câmara Municipal do Porto. Prefiro este tango livre do Piazzola. É um ritmo mais animado e mais consentâneo com a minha personalidade.”
Resta saber se encontrará parceiro para o fazer — é que são precisos dois para dançar o tango. Até agora, os compassos políticos do Porto marcam assim: as sondagens até agora conhecidas dão a vitória a Rui Moreira, mas sem maioria absoluta; o atual presidente da Câmara já garantiu que não se coligará com o PSD de Álvaro Almeida; o Bloco de Esquerda já se colocou fora dessa pista; e a CDU é parceiro improvável para Rui Moreira. Resta Manuel Pizarro, que já garantiu que não aceitará pelouros se não vencer as eleições. Se as sondagens se cumprirem, o mais provável é que fiquem todos a dançar sozinhos.
Ainda assim, Manuel Pizarro não se escusa a apresentar as propostas que tem para os próximos quatro anos de mandato. Na visita ao ESMAE, o socialista garantiu que se for eleito vai criar um pelouro para a Cultura na Câmara do Porto e um “investimento decisivo nessa área”. “Precisamos de ter uma Câmara como dinamizadora da cultura e não como programadora“, explicou o socialista.
O ex-aliado de Moreira reconheceu que foi esse o perfil da autarquia nestes quatros anos, mas lembrou as circunstâncias excecionais em que o Porto estava mergulhado: uma herança de “12 anos” em que o “município” esteve “de costas voltadas para a cultura”. Além disso, reforçou Moreira, o anterior executivo contou com o contributo de Paulo Cunha e Silva, “um extraordinário dirigente político na área da cultura e um grandioso programador” que morreu em novembro de 2015. “Não devemos tentar repetir Paulo Cunha e Silva sem Paulo Cunha e Silva. Isso não é uma fórmula de sucesso”, defendeu o socialista.
Manuel Pizarro propôs ainda a extensão do “programa Música para Todos, que hoje existe na Escola do Cerco, a todas as escolas de ensino básico da cidade, para que pelo menos 2 mil crianças possam ter oportunidade de ter ensino musical estruturado” e um “programa de estímulo à leitura em todos os bairros sociais do Porto”.
A campanha de ontem no Porto foi assim:
Diário do Porto. BE: “Rui Moreira não tem programa, nem carácter”