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Diário do Porto. António Costa: "Quem achou que me deixava no meio da ponte enganou-se"

Principais partidos fecham campanha no Porto, com as presenças de Costa, Coelho e Catarina Martins. Troca de argumentos entre Pizarro e Moreira continua até ao fim. Louçã acha que é "fingimento".

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Os líderes dos principais partidos subiram ao Porto para gastar os últimos cartuchos no sprint final para as autárquicas de domingo. Depois de descer o Chiado, em Lisboa, com Fernando Medina, António Costa continua com a farda de secretário-geral do PS e junta-se ao candidato socialista, Manuel Pizarro, no comício de encerramento da campanha, ao final da tarde, no Académico Futebol Clube. Pedro Passos Coelho também estará na cidade durante o dia, com Álvaro Almeida. Mas, à hora que o PS fecha a campanha no Porto, o presidente do PSD vai estar a cerca de 46 quilómetros dali, em Felgueiras, num jantar comício.

Rui Moreira começou o dia com uma arruada entre os Aliados e a Baixa do Porto e encerra a campanha com um jantar-comício no Palácio de Cristal. Catarina Martins vai à Alfândega do Porto. Mas, antes de se juntar ao encerramento de campanha de João Teixeira Lopes, a coordenadora do Bloco de Esquerda participa numa arruada que tem início marcado para a Rua de Santa Catarina. A eurodeputada Marisa Matias também vai integrar a comitiva do Bloco.

A CDU, que não contará com a presença do secretário-geral do PCP (Jerónimo de Sousa vai correr vários concelhos do distrito de Lisboa), vai juntar os elementos que estiveram consigo nos últimos meses num jantar de encerramento de campanha com todos os candidatos da CDU ao distrito, entre os quais Ilda Figueiredo, na corrida à câmara municipal. Vão estar no centro de trabalho do PCP na Boavista.

António Costa: “Quem achou que me deixava no meio da ponte, enganou-se”

O que correu mal: Ter um protesto à porta do comício de encerramento das autárquicas é um dos piores pesadelos de qualquer candidato.

A frase (e a gaffe): À chegada do jantar comício, o ministro da Defesa Azeredo Lopes, que esteve no Porto enquanto apoiante de Pizarro, perguntou quem eram os protestantes. “Professores? Nem sabia que havia alguma questão com professores”, disse. É a terceira vez que António Costa é recebido com protestos por professores, já tinha acontecido em Matosinhos e na Maia. É estranho um ministro não conhecer as queixas dos docentes.

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Chegou atrasado porque a ponte aérea entre Lisboa e Porto prega destas partidas e, quando chegou, até tinha cerca de 50 professores à sua espera, num protesto silencioso por causa do concurso interno de mobilidade. António Costa não fugiu ao protesto e entrou pela porta da frente do Pavilhão do Académico, mas não parou para diálogo. Esta sexta-feira à noite, só o seu candidato ao Porto interessava.

“Mas que grande campanha eleitoral nós fizemos aqui nesta cidade do Porto”, começou por dizer, perante perto de mil militantes, três ministros — João Matos Fernandes, Azeredo Lopes e Augusto Santos Silva –, Ana Catarina Mendes e outros candidatos autárquicos do distrito. “Quem achou que me deixava no meio da ponte enganou-se. Não conhecia o Porto e não conhecia o PS. Nós vamos à luta e estamos aqui para nos batermos palmo a palmo pela Câmara do Porto.

O Primeiro-Ministro falou do “orgulho e admiração” por Manuel Pizarro, que “podia ser hoje deputado, membro do Governo, médico“, mas que escolheu — “para meu desgosto” –, concorrer à segunda Câmara do país, há quatro anos. “Tenho de reconhecer que ele, entre o desafio que lhe lançava e a palavra dada à cidade, escolheu o Porto.”

O fim abrupto do acordo com Rui Moreira pôs os nervos em franja ao partido. “Lembro-me bem. Foi na véspera da convenção autárquica do PS, onde íamos apresentar todos os nossos candidatos”, partilhou Costa. Quando falou com Pizarro, diz que dele ouviu: “Podes estar tranquilo porque amanhã às 4h da tarde eu estarei a entrar no pavilhão Carlos Lopes como candidato à CMP.” Cumpriu, “unindo” o PS numa região que, como o próprio Secretário-Geral do PS admite, “é difícil de unir“.

A Rui Moreira, que se tem queixado das sondagens, um recado. “Ninguém perde eleições nas sondagens nem ganha nas sondagens. As eleições ganham-se nas urnas.” Ao PSD, apenas isto: “Aqui o PSD já se derrotou a si próprio.

Antes, o candidato socialista tinha feito um discurso muito semelhante ao que já tinha feito na apresentação oficial do seu programa, há duas semanas — críticas a Moreira por dizer que não prefere o Governo atual nem o Governo anterior enquanto autarca do Porto, críticas por Moreira não assumir o apoio do CDS e não se encontrar com a líder do partido, como Pizarro fazia naquele momento. Contas feitas, só no domingo porque “sempre que o povo é chamado a decidir, não há vencedores antecipados”, disse. “Mas nunca nesta pátria da liberdade que é o Porto nós aceitamos ser derrotados por procuração. Ninguém é dono dos votos do Porto.

Lá fora, o protesto manteve-se. Antes do Primeiro-Ministro chegar, o presidente da concelhia do PS, Tiago Barbosa Ribeiro, e um dos membros da candidatura de Pizarro, chamou a líder do protesto para um diálogo. E Ana Catarina Mendes também foi falar com algumas professoras. “Promete que na segunda-feira nos recebiam em Lisboa”, disseram ao Observador. Quando Pizarro chegou, a líder do protesto dirigiu-se ao candidato como “senhor presidente” e entregou-lhe um cravo branco. Quando Costa chegou, o protesto ficou silencioso.

Os professores entoaram cânticos de protesto, mas acabaram por fazer um protesto silencioso à chegada de Pizarro e de Costa.

Passos Coelho: “Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto”

A frase: “Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto. Parecer-me-ia natural que ele pudesse ser reconhecido”, disse Passos.

A (outra) frase: “Não quisemos agir na escolha do candidato do Porto com calculismo”, disse também o líder social-democrata.

O que correu mal: A organização do última dia de campanha social-democrata no Porto. Álvaro Almeida teve ao seu lado Pedro Passos Coelho e o partido apostou tudo numa visita aos Clérigos, onde o único murmúrio de encorajamento que os dois ouviram foi o de quem queria subir à Torre — murmúrio de encorajamento entre os visitantes que se queixavam, entredentes, do tempo de de espera.

O que (também) correu mal: Álvaro Almeida. O candidato do PSD percebeu (bem) que evitar a maioria absoluta de Rui Moreira seria importante para o partido. Se a estratégia é boa, a forma como a comunica, nem por isso. “[É preciso] evitar maiorias absolutas, que geram poderes absolutos, com consequências negativas para a cidade”, explicou. Pormenor: Rui Rio governou com maioria absoluta durante oito anos, em dois dos seus três mandatos.

Discreto: que tem ou denota discrição, que não chama a atenção, que revela simplicidade, que mostra comedimento, que tem cautela nas ações e afirmações, que sabe guardar um segredo ou que tem pouca intensidade”. Qualquer uma destas entradas no dicionário priberam serviria bem para descrever a passagem de Pedro Passos Coelho pelo Porto no último dia de campanha eleitoral: a visita do líder do PSD à cidade passou praticamente despercebida, limitou-se a uma visita à Torre dos Clérigos, foi comedida, cautelosa e pouco intensa. E só não ficou no segredo dos deuses graças à presença da comunicação social e dos poucos que o receberam e se cruzaram com ele.

Com Rui Moreira a acabar o dia com um jantar-comício no Palácio de Cristal, com PS a apostar tudo no Porto com a presença de António Costa no encerramento da campanha, com o Bloco a fazer desfilar ao lado de João Teixeira Lopes figuras como Catarina Martins, Francisco Louçã, Marisa Matias e Mariana Mortágua, com a CDU na rua com o aparelho comunista bem oleado, a presença de Pedro Passos Coelho ao lado de Álvaro Almeida era aguardada com grande expectativa. Mas foi só isso mesmo: expectativa.

Passos chegou ao Porto passavam sensivelmente dez minutos das 15 horas, cumprimentou a pequena comitiva que o esperava, trocou um aperto de mão e algumas palavras de circunstância com Pedro Duarte, candidato à Assembleia Municipal do Porto e possível apoiante de Rui Rio numa eventual disputa interna — “Olá, estás bom?” — reuniu-se à porta fechada com o candidato do PSD na reitoria da Universidade do Porto, daí saiu para os Clérigos, trocou umas breves palavras com o responsável, subiu à Torre, desceu, falou aos jornalistas e zarpou.

Bandeiras do PSD? Contavam-se quatro ou cinco. Militantes e simpatizantes? Talvez 30, se tanto. Onda social-democrata para receber o líder? A maré estava vaza. Não houve arruada, não houve contacto com a população, não houve gritos de “Pêê–e–Ss–Dêe”, “Pêê–e–Ss–Dêe”, não houve bombos, não houve festa, nem euforia. Só a normalidade de uma visita institucional.

Mesmo sendo já a terceira visita do líder social-democrata ao Porto, onde foi recebido com pompa e circunstância, o ambiente vivido nesta última ação de campanha contrastou em absoluto com a demonstração de força de Rui Rio ao lado de Álvaro Almeida, na grande — e única — ação de rua da candidatura do PSD no Porto nestas duas semanas de campanha eleitoral. Nesse dia, o aparelho social-democrata não faltou à chamada e fez-se ouvir. Desta vez, nem por isso. Desafiado a comentar se retirava daí alguma leitura política, Passos Coelho evitou entrar em comparações.

“Não sei, não faço ideia. Não estive a fazer a comparações dessa natureza. Portanto, acho que não tenho de fazer nenhum comentário particular sobre isso”, começou por dizer Passos. Para o líder social-democrata, aliás, o reconhecimento de Rui Rio no Porto é “natural”.

“Posso, quanto muito, dizer uma coisa que já disse: Rui Rio foi um grande presidente da Câmara do Porto, exerceu esse mandato por 12 anos, deixou uma obra assinalável no Porto, parecer-me-ia natural que ele pudesse ser reconhecido até por essa sua obra que teve no Porto, que nos orgulha a todos no PSD”, explicou Passos.

Quanto à escolha de Álvaro Almeida para candidato do PSD ao Porto, o ex-primeiro-ministro reiterou a posição do partido, dizendo-se seguro e confiante com a candidatura do economista.

Estou confiante de que fizemos uma boa escolha, queria reafirmar isso aqui hoje. Reafirmar não apenas a confiança, mas a segurança, com que escolhemos Álvaro Almeida para esta eleição. Tenho a certeza que se ele vier a merecer a confiança da maioria dos eleitores do Porto, será um excelente presidente da Câmara. Não tenho dúvidas sobre isso. Essa foi a principal razão porque o escolhemos. A segunda foi porque não quisemos agir nesta matéria com nenhum calculismo. Quisemos apresentar realmente uma alternativa para o Porto”, argumentou Passos.

Nota curiosa: durante a visita à Torre dos Clérigos, Passos quedou-se numa obra em particular que retratava a traição de Judas a Jesus Cristo. “Ainda ele falava, quando apareceu Judas… O traidor tinha-lhes dado esse sinal: ‘Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o'”, podia ler-se. O líder social-democrata escusou-se a fazer qualquer comentário, não fosse alguém retirar qualquer leitura política.

Álvaro Almeida acabaria por explicar a escolha da Universidade do Porto e da Torre dos Clérigos para encerrar a campanha argumentando que aqueles eram dois dos símbolos que faziam do Porto uma cidade autêntica e única. Sobre sondagens e prognósticos, o candidato social-democrata arrumou a questão em três ideias: as sondagens valem o que valem, a coligação Porto Autêntico é a única que representa a alternativa para a cidade e as eleições de domingo vão traduzir-se num “excelente resultado” para o PSD.

“As sondagens não nos preocupam. O PSD tem uma tradição e uma história na cidade do Porto que está a acima de qualquer sondagem. Continuámos confiantes que no domingo vamos ter um excelente resultado. Esperamos uma votação muito forte, porque os portuenses sabem que só o voto no Porto Autêntico é um voto útil porque é um voto que permite evitar maiorias absolutas, que geram poderes absolutos, com consequências negativas para a cidade”, afirmou Álvaro Almeida. O candidato do PSD só se esqueceu de um pormenor: Rui Rio governou com maioria absoluta durante oito anos, em dois dos seus três mandatos.

Louçã vê guerra entre Pizarro e Moreira como “fingimento”

A frase: Acho que essa guerra não interessa nada. O fingimento na política não serve.”

O que correu bem: A arruada na Rua de Santa Catarina com tantas caras fortes do partido é um sinal de que o Bloco está a apostar no Porto e alguns cidadãos notaram-no.

A promessa: “O Bloco de Esquerda nunca se refutará a fazer as mudanças necessárias” na autarquia, disse João Teixeira Lopes, sobre a possibilidade de chegar a um entendimento com Pizarro que coloque a esquerda em vantagem sobre Rui Moreira.

“Vamos então conversar”, disse João Teixeira Lopes aos jornalistas, depois de um percurso curto junto à Casa da Música, de manhã, com o objetivo de distribuir o jornal de campanha e explicar o seu programa aos eleitores que tivessem questões. O local é mais de passagem apressada para os empregos do que de passeio e as interações não foram muitas, pelo que restavam os comentários às mais recentes sondagens.

Onde é que é o melhor sítio para filmar?, quis saber a comitiva.
Pode ser aqui… Ah, aqui em frente ao Banco não!, recusa com humor João Teixeira Lopes, mesmo que ao seu lado esteja Francisco Louçã, atualmente membro consultivo do Banco de Portugal.
Vamos então mais para ali.
À frente do cartaz do Pizarro não!

Encontrado um plano sem bancos nem adversários, a pergunta da praxe: está o candidato do Bloco de Esquerda disposto a encontrar um entendimento com Manuel Pizarro, caso Rui Moreira não vença com maioria absoluta? “É altamente improvável que isso aconteça [Pizarro vencer], mas o Bloco de Esquerda nunca se refutará a fazer as mudanças necessárias” na autarquia, respondeu, abrindo a porta a uma negociação com o PS.

Ao lado, Francisco Louçã mostrou-se desconfiado em relação aos desentendimentos crescentes entre Pizarro e Rui Moreira. “Acho que essa guerra não interessa nada. O fingimento na política não serve”, disse, vendo o conflito como manobra de distração.

João Teixeira Lopes e Catarina Martins chegaram de metro ao Bolhão, sem aparato.

O Bloco de Esquerda aposta as fichas no Porto, onde nunca conseguiu eleger um vereador, e trouxe as caras mais conhecidas do partido para chamar a atenção para o seu candidato. À tarde, o momento é mais efusivo, com a tradicional arruada de encerramento. Catarina Martins, Francisco Louçã e os deputados Mariana Mortágua, José Soeiro, Maria Manuel Rola e Luís Monteiro gritaram “Nem Pizarro, nem Moreira. Vota Teixeira”. O candidato justificou que merece o voto porque “o Bloco foi quem enfrentou Rui Moreira em todos os assuntos” da campanha autárquica. E declarou: “Eu sou o vereador que vai tirar a maioria absoluta a Rui Moreira. Podem contar com isso.

“Acho que o Bloco pode ter aqui influência. O Porto merece muito mais do que esta novela de entendimentos e desentendimentos de Rui Moreira”, disse Catarina Martins. O objetivo é claro: eleger pela primeira vez um vereador.

Se as arruadas no Porto são um bom teste à popularidade dos políticos, o BE tem razões para sorrir. Sobretudo Catarina Martins e Mariana Mortágua, as mais solicitadas por quem passava. Uma mulher estátua saiu do seu papel para pedir uma selfie com as duas. No fim, disse baixinho a Mortágua: “és o meu ídolo“.

Não é Catarina nem Mariana quem vai a votos no domingo. Se fossem, tendo em conta a popularidade nas ruas, talvez a eleição de um vereador estivesse garantida. E já que as ruas estão favoráveis, a arruada que deveria ter percorrido apenas Santa Catarina decidiu, no momento, continuar a pé até à Alfândega do Porto, onde vai decorrer o jantar comício do partido.

Pizarro sobre as razões da rutura com Moreira: “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria”

A frase: “Por mais esforços que Rui Moreira faça, os portuenses já perceberam que a candidatura dele foi capturada pelo CDS.”

O que correu bem: Começar o último dia de campanha com a abertura do bloquista João Teixeira Lopes para um possível entendimento na Câmara ajuda Pizarro, que tem apostado em passar uma imagem de conciliador e aberto ao diálogo.

A promessa: “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria”, disse, sobre as razões da rutura do acordo por parte de Rui Moreira.

“É preciso uma câmara que promova a natalidade”, disse bem disposto Manuel Pizarro, à porta do elevador do Centro Materno Infantil do Norte, que o próprio ajudou a lançar quando era secretário de Estado da Saúde. Já no exterior, Pizarro voltou a insistir que também é preciso uma câmara que promova o diálogo.

E o primeiro sinal de diálogo surgiu esta manhã, por parte de João Teixeira Lopes. À TSF, o candidato do Bloco de Esquerda mostrou-se disponível para um possível entendimento caso o vencedor seja o PS. “Confirma o que eu já tinha dito”, comentou Pizarro, sobre a importância de “dialogar com todos” para garantir uma governação tranquila.

Aos resultados da Eurosondagem, para o Expresso — que dão ao socialista 30,8% das intenções de voto, menos 10 pontos percentuais do que Rui Moreira, que surge com 40,8% — Pizarro reagiu com ponderação. “As sondagens valem o que valem, mas não posso deixar de destacar que ela confirma uma grande subida do PS.” Está tudo aberto para domingo, acredita.

No jantar de apoio de quinta-feira à noite, Manuel Pizarro disse uma frase que pairou na sala. Que a rutura do acordo com Rui Moreira ainda estaria por explicar. Questionado esta manhã, sorriu. “O debate sobre o passado terá de ser feito em altura própria.

Naquele que é o último dia de campanha eleitoral, Pizarro deverá acentuar o mais que conseguir o isolamento de Rui Moreira e a sua independência, na esperança de desviar alguns dos votos que o separam do atual autarca para si. Foi o que voltou a fazer no Centro Materno Infantil, referindo-se à presença de habituais votantes sociais-democratas no seu jantar de apoio. “Por mais esforços que Rui Moreira faça, os portuenses já perceberam que a candidatura dele foi capturada pelo CDS.”

Ontem, o dia de campanha no Porto foi assim:

Diário do Porto. Pizarro: “Não foi o PS que usou truques para romper acordo”. Moreira diz que Católica voltou a mentir

Moreira desafia ERC a pronunciar-se sobre sondagem da Católica até abertura das urnas

A frase: “Estamos à espera que a ERC se pronuncie e, de preferência, até à abertura das urnas.”

A (outra) frase: “Não é possível, no mesmo dia, existirem duas verdades diferentes.”

O que correu bem: Rui Moreira. À medida que a campanha se aproxima do fim e que a vitória parece assegurada, o autarca está visivelmente menos tenso. Não é o mais efusivo dos candidatos, mantém o seu registo discreto, mas tem sempre uma palavra simpática para quem o aborda.

O que correu mal: As gargantas desafinadas da comitiva de Rui Moreira. Não cometeram exatamente um crime de lesa-música, mas um pozinho a mais de afinação e ficava no ponto.

Eis o último dia de campanha eleitoral. Rui Moreira aproveitou a manhã de sexta-feira para fazer uma pequena arruada desde os Aliados até à Baixa do Porto, onde encontrou um mar de gente que aproveitava os convidativos raios de sol para passear numa das zonas mais emblemáticas da cidade. O mar de gente estava lá, de facto, mas a comitiva de Rui Moreira navegou grande parte do tempo em águas internacionais: portugueses, quase nem vê-los; turistas, aos magotes e boquiabertos com aquele grupo fardado de tshirts brancas e chapéus de palha que seguia o homem de fato impecavelmente engomado.

Não faltou, ainda assim, animação. Os apoiantes de Rui Moreira fizeram a festa, lançaram os foguetes e apanharam as canas, num dia em que as sondagens são definitivamente mais risonhas e colocam o candidato independente perto da maioria absoluta. O possível empate com Manuel Pizarro parece coisa do passado e a campanha entrou, definitivamente, em modo de descompressão.

A melhor parte: ainda bem que a metáfora da pirotecnia é só isso mesmo, uma metáfora; se fosse um espetáculo de fogo de artifício sincronizado, alguém ficaria com os dedos chamuscados, tal a falta de sentido rítmico demonstrada pelos simpatizantes do presidente da Câmara do Porto.

— “Moreiraaaa!! Moreiraaaa!!”
— “Não, assim não. Forçaaaa Moreira! Força Moreiraa! Forçaaaa Moreira!”
— “E a outra?”
— “O Porto vai votar e Moreira vai ganhaaar! O Porto vai votar e o Moreria vai ganhaaaar”

— “Mas como é que é o hino mesmo?
— “É assim: ‘Força Porto, és “Forçaaaaa Porto, faz toooodo o sentiiiido, a nossaaaa força, o nosso partidoooo ééééée ooooo Poooortto.”

Com uma ou outra garganta desafinada — várias, aliás –, os simpatizantes de Rui Moreira lá acabariam por encontrar o ritmo certo no hino da candidatura. Outro dado positivo: com a campanha eleitoral a aproximar-se do fim, os riscos para a saúde auditiva dos portuenses também diminuem — e isto é transversal a todas as candidaturas.

Rui Moreira lá seguia caminho, indiferente aos cânticos, costas hirtas, com os longos braços colados ao corpo, a balançarem ao ritmo da caminhada, sorrindo amavelmente para trás de quando em vez e cumprimentando todas as pessoas que o abordavam. “Tchau, filhinho! Boa sorte!”, desejou-lhe uma menina na casa dos 70 anos. “As pessoas do Porto são incríveis, não são?”, comentava o autarca, visivelmente bem-disposto.

Quanto ao tema do dia — o estudo de opinião da Eurosondagem que o coloca no limiar da maioria absoluta — poucas palavras. “Não comento sondagens. A única coisa que digo é que não é possível e confunde as pessoas é, no mesmo dia, existirem duas verdades diferentes. Não pode haver”, começou por dizer Rui Moreira.

Sobre a controversa sondagem do Centro de Estudos da Universidade Católica, Rui Moreira desafiou a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a pronunciar-se sobre o caso até à abertura das urnas.

“Relativamente à sondagem que a nosso ver tem truques, estamos à espera que a ERC se pronuncie e, de preferência, até à abertura das urnas. É isso que se espera de um regulador. Naturalmente, não vamos pressionar ninguém”, afirmou Rui Moreira. Para o autarca, “a pior consequência” que sondagens com “aspetos fraudulentos” podem “é desacreditar a política” e a própria democracia.

Em jeito de balanço destas duas semanas de campanha eleitoral, Rui Moreira mostrou-se satisfeito com o “apoio que encontrou nas ruas” e fez um apelo ao voto no dia das eleições: “Normalmente os maus políticos são eleitos por bons eleitores que ficaram em casa no dia das eleições. Todos nós temos de estar preocupados com a abstenção. Mas espero que seja uma votação à Porto. Que as pessoas que vão votar façam as suas escolhas livremente”, rematou o candidato independente.

“Não queremos ganhar a qualquer preço. Não se pode ganhar a qualquer preço. Queremos ganhar e ter honra”

Rui Moreira arrancou o jantar-comício de encerramento da campanha eleitoral, no Palácio de Cristal, com uma pequena intervenção perante os simpatizantes onde voltou a apontar críticas aos seus opositores. “Fizemos jogo limpo, do princípio ao fim. Não nos viram dizer mal de ninguém. Não nos viram fazer truques. Nós não mandámos e-mails anónimos, não fizemos páginas estranhas no Facebook”, começou por dizer o candidato independente, sem nunca concretizar quem fez o quê, quando ou porquê.

Perante mais de 700 simpatizantes — números da organização –, Rui Moreira voltou a falar da forma como dirigiu a campanha, assumidamente “discreta”.

“Fizemos um campanha sem parafernálias, fizemos uma campanha que dignificou o Porto. Feita de conteúdos programáticos muitas vezes densos. Por uma razão simples: tratamos os portuenses com dignidade, dignificando a sua inteligência. É isso que esperam de nós”, sublinhou o autarca.

A terminar, o presidente da Câmara Municipal do Porto deixou mais um recado aos seus opositores: “Não se engane ninguém: fizemos esta campanha porque queremos ganhar. Mas não queremos ganhar a qualquer preço. Não se pode ganhar a qualquer preço. Queremos ganhar e ter honra. Queremos ganhar assim e vamos ganhar assim”, rematou.

No final do jantar, Rui Moreira voltou a dirigir-se aos simpatizantes da sua candidatura. Num discurso muito voltado para o comabate que diz que é preciso manter contra Lisboa e contra o centralismo, por um Porto livre e independente, Rui Moreira reafirmou a vontade de continuar a trilhar o percurso percorrido até agora.

O Porto é livre quando não se cala e é livre porque não se cala. Porque não escolhe caminhos fáceis. Podíamos ter escolhido caminhos mais fáceis. Porque não se verga perante diretórios. Não vamos abdicar deste poder. Não vamos. Não podemos abdicar deste poder. Não podemos voltar atrás. É impossível voltar atrás. Porque se voltássemos atrás, tudo isto que nós fizemos perder-se-ia no tempo. Ficaríamos novamente subjugados, ficaríamos novamente a ser vistos por Lisboa e pelo centralismo como uma cidade que de vez em quando berra por aí”, afirmou Rui Moreira.

Pode rever parte do discurso do presidente da Câmara do Porto aqui:

BE. João Teixeira Lopes: “O Bloco de Esquerda enfrentou Rui Moreira olhos nos olhos”

Promessa: “Não vão faltar em nenhum dia dos seus mandatos”, disse Catarina Martins, acerca de todos os candidatos do Bloco de Esquerda às autarquias.

A frase: “O tempo das maiorias absolutas acabou”, frase dita por Marisa Matias, mas replicada por Catarina Martins. Esta semana, Rui Moreira pediu a maioria absoluta, depois de um empate técnico com Manuel Pizarro na sondagem da Universidade Católica

O que correu bem e o que correu mal: O jantar-comício do Bloco de Esquerda teve dezenas de militantes na Alfândega do Porto, tantos que teve de haver alguma gestão nas mesas do jantar.

Catarina Martins escolheu o Porto para encerrar a campanha autárquica do partido. E depois da arruada na Rua de Santa Catarina, o fim de festa terminou no jantar comício na Alfândega do Porto. Perante dezenas de militantes, simpatizantes e nomes fortes do partido, como Francisco Louçã, Marisa Matias e João Semedo. A coordenadora do Bloco de Esquerda apelou ao fim das maiorias absolutas. Rui Moreira, candidato independente pela segunda vez à autarquia, após a sondagem da Universidade Católica pediu na última semana de campanha a maioria absoluta.

Foi também no Porto que Catarina Martins fez um balanço da campanha autárquica do BE. “Queremos que olhem para os nossos concelhos como sítios bons para viver. Soubemos ouvir”, repetiu. A coordenadora do partido afirmou que no poder local “tem faltado a transparência” e reinado o clientelismo. Da mesma forma que a percentagem significativa de votantes no Bloco de Esquerda nas eleições legislativas em 2015 permitiu a tão aclamada gerigonça, também Catarina Martins pede agora o “voto que não se resignou”.

O desentendimento entre Rui Moreira e Manuel Pizarro não poderia ficar longe dos discursos. Catarina Martins disse: “O Porto não pode ficar refém de uma novela”.

O pedido foi um e único “A direita não é solução”. Foi nesta ideia que Marisa Matias, eurodeputada do Bloco se ancorou. “O nosso adversário nestas eleições é a direita. Precisamos de executivos multicolores, com toda a representação”. Se o foco político se faz na Europa durante quase todo o ano, Marisa Matias não se esqueceu do Porto. “Este presidente da câmara [Rui Moreira] não se preocupe com oito mil pessoas que abandonaram a cidade”, afirmou. Para a eurodeputada, Rui Moreira esteve quatro anos a falar de habitação social, mas a fazer muito pouco por isso. Tal como o Mercado do Bolhão, que se “esperar por Rui Moreira, não terá a requalificação que merece”. Para Marisa Matias, este “é o tempo de gerigonças que sejam exigentes” no poder local.

O fim de campanha no Porto de teria de ser finalizado com o candidato do Bloco de Esquerda a esta autarquia. João Teixeira Lopes acredita que o partido foi o único a enfrentar Rui Moreira “olhos nos olhos”. O caso Selminho é o dos que aponta como arma de arremesso, mas não deixa que o desentendimento entre dois candidatos passe pelos pingos da chuva. “Rui Moreira e Manuel Pizarro foram inseparáveis”, referiu. Talvez, segundo Teixeira Lopes, seja o motivo pelo qual ambos achem que a cidade não apresente problemas. “O Porto é uma ferida aberta”.

O Bloco de Esquerda enfrenta a difícil tarefa de eleger um vereador no Porto: nunca na história do partido, tal aconteceu. Foi a citar os poetas Manuel António Pina e Sophia de Mello Breyner que João Teixeira Lopes, caso fosse eleito, promete “acabar com o sonho de Rui Moreira e a lata de Manuel Pizarro”.

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