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Dissidentes da IL vão para o Chega: "coragem" ou "procura de cargos"?

Críticos de Rui Rocha que foram para o Chega falam num "partido capturado pelos interesses de um punhado de pessoas" e refém da "agenda woke". IL contra-ataca: "Mudaram radicalmente".

“Liberal não é conservador! Liberal é em toda a linha!” A intervenção de Ana Madalena Leitão, membro da IL, ficou na história da última convenção do partido, em janeiro de 2023, e tinha uma mensagem clara para a corrente que se intitulava de “liberais clássicos” e que procurava ganhar espaço no partido: estavam no partido errado. Ainda assim, essa linha interna de pensamento ainda conseguiria eleger quatro membros para o Conselho Nacional, órgão máximo do partido entre congressos. Todavia, nos meses seguintes, não conseguiram dar sequência à tendência interna e vários elementos da IL foram abandonando o partido dizendo já não se rever nele. Pelo caminho, muitos tornaram-se militantes do Chega ou estão a colaborar com o partido liderado por André Ventura.

As saídas foram sempre justificadas com a alegada falta de democracia interna e a opacidade que vai existindo no partido, com as linhas vermelhas que foram traçadas em relação ao Chega ou, simplesmente, com a falta de adesão ao projeto de Rui Rocha. Alguns dos que saíram apoximaram-se do partido de André Ventura e dizem agora ter visto no Chega um partido com “coragem e vontade de crescer”, que abraça os “valores e princípios”  em que acreditam, e onde os militantes “conseguem contactar”, sentindo-se bem-vindos.

O Chega vê com “muito bons olhos a chegada de antigos elementos da IL, tal como do PSD, do CDS ou de outros partidos políticos”. No partido de Ventura garante-se que existem pelo menos três ex-IL a colaborar na elaboração do programa eleitoral: Nuno Simões de Melo, Diogo Prates e Mariana Nina. O Observador sabe que, além de algumas figuras com maior notoriedade, existem outros ex-liberais a colaborar com Chega, não sendo possível obter um número certo de quem trocou a IL pelo Chega.

Para a direção da Iniciativa Liberal, a razão para estas mudanças é a mesma que foi sugerida, meses antes, por Ana Madalena Leitão: estavam no partido errado. De acordo com o argumentário oficial, alguém que sai do partido e opta por se juntar ao Chega ou “mudou radicalmente a posição ideológica” ou usou-a de “forma plástica” e foi à procura de novos partidos “à procura de cargos”.

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Numa resposta ao Observador assinada pelo vice-presidente Ricardo Pais Oliveira, a IL não poupa nas críticas ao Chega e a quem fez a troca: “O Chega é um partido completamente iliberal no respeito pela liberdade individual, de laivos autoritários, que quer usar o Estado para impor uma agenda aos indivíduos, exatamente como a extrema-esquerda, e que discrimina com base em características dos indivíduos.”

Dissidentes da Iniciativa Liberal falam num "partido capturado pelos interesses de um punhado de pessoas", com horror à diferença e refém da "agenda woke". Olham para o Chega como um partido com "caras novas e reformismo político", onde há "liberdade de pensamento" e “coragem" para crescer. “Vemos com muito bons olhos a chegada de membros da IL", diz fonte oficial do Chega. 

Os argumentos dos dissidentes

Nuno Simões de Melo, ex-conselheiro nacional da IL que encabeçou uma lista ao órgão máximo entre convenções, foi o primeiro a assumir publicamente que se tinha filiado no Chega. Em declarações ao Observador, defende que encontrou um partido que “não cede à agenda woke, a políticas identitárias ou a qualquer outra derivação moderna da anacrónica luta de classes marxista”, pelo que encontrou um “espaço de liberdade” onde pode apresentar os seus pontos de vista “de forma franca, podendo ser rebatido de forma leal”. Agora, faz parte de um grupo de trabalho setorial para a elaboração do programa eleitoral e já vai marcar presença na convenção de Viana do Castelo.

Num artigo de opinião no Observador, o agora colaborador de Ventura chegou a sugerir que o Chega, não sendo “o partido perfeito”, poderia “merecer uma oportunidade”, desde logo porque se assume como “um partido liberal na economia (ainda que defenda a intervenção do Estado nalgumas áreas que consideram estratégicas) e conservador nos costumes” e porque “assume que a lealdade do indivíduo se desloca para a família e daí para a nação”.

Foi o primeiro a assumir a mudança para o Chega, mas não o único. Diogo Prates, antigo cabeça de lista da IL às legislativas de 2019 por Setúbal, traçou um caminho idêntico, tendo saído da IL e acabado por rumar ao Chega. Ao Observador, justifica a saída por entender que o partido “tem problemas graves de funcionamento interno”, desde logo por considerar que existe “opacidade” na gestão da IL.

Além disso, critica o facto de os liberais terem traçado linhas vermelhas em relação ao Chega e afirma que isso pode resultar num “grave problema de governabilidade ao país”. Diogo Prates acredita que, hoje em dia, “a IL faz mais parte do problema do que da solução” e que o Chega, “pela coragem do seu discurso”, é o “partido que mais eficazmente combate o socialismo em Portugal”. Foi essa “coragem e vontade de crescer” que o levou a embarcar no novo desafio.

“A IL é hoje um partido capturado, refém dos interesses de um punhado de pessoas, sendo que essas pessoas não querem abdicar do seu controlo no partido e, como tal, não querem que o partido cresça demasiado, com receio que esse controlo seja posto em causa. No Chega isso não acontece, os membros conseguem contactar uns com os outros através de um ‘portal do membro’ extraordinário, existe liberdade de pensamento e diversidade, até agora sinto-me em casa”, acrescenta, sublinhando que “é muito difícil existir mais falta de democracia interna do que na IL” e que “a prática política do Chega é mais liberal e meritocrática que a da IL”.

Mariana Nina é outro das figuras da IL que se desfiliou e que está a colaborar com o Chega. Não descarta a possibilidade de se tornar militante do partido, até por estar perto de pessoas que, segundo afirma, partilham o “código de valores e de princípios” de que não abdica, em particular “o primado da liberdade individual e a proteção inequívoca e inquestionável da família”.

Depois de ter apressado a saída da IL por discordar do “rumo político” escolhido pela direção e pelo grupo parlamentar, reconhece que “o mal vinha de trás”, quando, durante a liderança de Cotrim Figueiredo, “a falta de democracia e transparência interna, o horror à diferença, o seguidismo, o respeitinho pela autoridade da direção, já desmereciam o apelido ‘liberal’ do partido”.

Além de alguns antigos membros que foram ganhando mediatismo, nomeadamente pela oposição à corrente oficial do partido, há militantes de base que estão a fazer o mesmo percurso. Miguel Domingos, que chegou a ter o pelouro da juventude no núcleo das Caldas da Rainha e foi candidato ao Conselho de Jurisdição, diz ter perdido a esperança na IL por, alega agora, “não funcionar como um partido liberal”.

Além das críticas às “raízes marxistas” e às acusações de que o partido liberal “não rejeita a política woke”, este antigo elemento da IL admite que ficou “órfão politicamente” no dia em que se desfiliou. E diz ter visto no Chega o sítio certo para contribuir para o crescimento do pensamento liberal. “O CDS está um partido morto, agora ressuscitado, o PSD é do arco do sistema com os aspetos negativos que isso implica e o Chega apresenta caras novas e reformismo político, não sendo unipessoal como se faz passar”, afirma ao Observador.

Bruno Alves, que também integrou a lista de Simões de Melo ao Conselho Nacional, está a colaborar com o Chega na elaboração de propostas na área da economia depois de ter sentido “recetividade” às suas ideias e “oportunidade de contribuir ativamente“. O Chega, diz ao Observador, “mostrou-se aberto a discutir e integrar” os conceitos que valoriza, tais como “a liberdade individual e a defesa da família e a implementar políticas economicamente liberais”.

Desiludido com o “rumo errático” da IL, que acredita ter sido agravado pela nova liderança, Bruno Alves afirma ter visto no Chega uma “organização notavelmente melhor, uma comunicação eficaz com membros e colaboradores, e uma genuína abertura para a participação de independentes na formulação do programa político”, pelo que pretende continuar a colaborar com o partido.

Já o Chega vê com “agrado que haja cada vez mais gente, mesmo de outros partidos, a rever-se” no seu projeto. “Vemos com muito bons olhos a chegada de membros da IL, tal como do PSD ou do CDS, ou de outros partidos políticos”, sublinha o partido em resposta ao Observador.

Para a direção da Iniciativa Liberal, os antigos elementos do partido que agora se juntam ao Chega estavam, na verdade, enganados desde o início. "O Chega é um partido completamente iliberal no respeito pela liberdade individual, de laivos autoritários, que quer usar o Estado para impor uma agenda aos indivíduos, exatamente como a extrema-esquerda, e que discrimina com base em características dos indivíduos”, argumenta Ricardo Pais Oliveira, vice-presidente da IL.

“É impossível um liberal defender um partido estatista e iliberal”

A Iniciativa Liberal não entende como é que um liberal se revê num partido como o Chega. Confrontada com o facto de ex-membros estarem a ingressar ou a colaborar com o Chega, numa resposta enviada ao Observador e assinada pelo vice-presidente Ricardo Pais Oliveira, o partido começa por assegurar que “o Chega é um partido que ideologicamente está numa posição completamente oposta à da IL” e não poupa críticas a quem acusa de andar à procura de cargos.

Descrevendo o partido liderado por André Ventura como “estatista e economicamente socialista” e frisando que as propostas apresentadas no Orçamento do Estado “apenas rivalizam com as do PCP”, a IL recorda “a proposta para as pensões, que acrescentaria 10 mil milhões por ano a mais de custo, ou seja, o custo de três TAPs por ano” para justificar o seu ponto: “O Chega é assim um partido economicamente socialista sem qualquer responsabilidade na gestão das contas públicas, com políticas apenas comparáveis às da extrema-esquerda.”

Mais do que isso, Ricardo Pais Oliveira prossegue para sublinhar que está em causa “um partido completamente iliberal no respeito pela liberdade individual, de laivos autoritários, que quer usar o Estado para impor uma agenda aos indivíduos, exatamente como a extrema-esquerda, e que discrimina com base em características dos indivíduos”.

No mesmo sentido, atira-se ainda a um partido “centrado no culto de personalidade” que está nos “antípodas do que é um partido liberal”. “A Iniciativa Liberal não é um partido personalista exclusivamente dependente de uma pessoa, é um partido que está sobretudo assente nas suas ideias para o país”, defende.

Crente de que a IL “mantém de forma totalmente coerente a matriz ideológica que definiu e apresentou aos portugueses na campanha das legislativas de 2019”, Ricardo Pais Oliveira encontra duas explicações para que alguém faça este caminho da IL para o Chega: “Se há antigos membros da IL que aderem ao Chega é porque mudaram radicalmente a sua posição ideológica, numa alteração de quase 180°. É impossível um liberal defender um partido estatista e iliberal.”

Por outro lado, descreve um “fenómeno habitual nos partidos novos”, onde “há pessoas que aderem apenas à procura de cargos, tentando aproveitar o espaço livre que um partido novo abre”. “Quando essas pessoas veem que não conseguem obter o que procuravam pessoalmente, acabam por sair ou saltam para outro partido onde tal possa ser mais fácil”.

“A sua ideologia é na verdade usada de forma plástica, sujeita apenas à sua vontade de conseguir ter cargos políticos, e têm muita dificuldade em respeitar os resultados da democracia interna nas várias eleições que disputam”, realça Pais Oliveira, sublinhando que a “IL tem conseguido defender-se bem das pessoas que aderem com motivações menos nobres”.

A três meses das eleições antecipadas e depois de terem crescido exponencialmente na última ida a votos, Chega e Iniciativa Liberal, distantes ideologicamente, continuam a disputar um eleitorado descontente com o PSD e o CDS e que deu espaço ao aparecimento dos dois partidos. Se é verdade que alguns descontentes que chegaram a estar na IL passaram a ver no Chega um porto de abrigo político, também é verdade que a IL considera que apenas estão em causa “números mediáticos [que] visam prejudicar” o partido.

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