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Dividir Para Multiplicar

O voluntariado não tem época, nem deve ser visto como uma moda. Deve ser parte integrante do nosso dia a dia em sociedade. Ser voluntário é ser humano. É uma questão de cidadania.

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Fazer o bem pode ser contagioso e ter um efeito replicador. Quanto mais nos preocupamos com o bem comum, maior a consciência que temos do mundo e do nosso papel na sociedade. Somos mais felizes quando conseguimos proporcionar uma realidade mais feliz aos que estão à nossa volta. É possível mudar o mundo, começando logo a partir da família. Nas escolas e universidades os alunos devem preocupar-se mais em ser felizes no trabalho, a fazer o que gostam. Nas empresas é fundamental que os colaboradores encontrem um propósito, percebendo o porquê e o valor do que fazem.

Estas são algumas das ideias partilhadas na última conversa solta do ano, da série Observamos Mais, uma parceria entre o Observador e o Santander, desta vez dedicada ao tema Mais Voluntariado, e que pode ver aqui. A jornalista Laurinda Alves dinamizou a partilha de experiências dos convidados João Maria Ameal, psicólogo que viveu três meses num campo de refugiados, na Grécia, em regime de voluntariado; João Loureiro, fundador da WACT – We Are Changing Together e coordenador da área de Social Impact na Nova SBE; Rosa Amado, gestora de marketing na EDP; e Alexandra Brandão, diretora de Recursos Humanos do Santander.

Um amor ao serviço do bem comum

Recém-casados, unidos no romance mas também no amor ao próximo, João e Joana Ameal encontram a felicidade no bem que conseguem fazer aos outros. O primeiro projeto de família foi passar três meses, num campo de refugiados, na ilha de Lesbos. Um voluntariado que “rasga o coração e nos confronta com a humanidade no seu limite”, como descreveu Laurinda Alves.

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Habituado a lidar com questões de saúde mental e desequilíbrio emocional, João Maria Ameal começou por contar como viu “os limites da existência humana e os casos extraordinários de resiliência e sobrevivência.” Como psicólogo “é muito duro ver o funcionamento do campo de refugiados porque se aproxima da definição da depressão: é a imprevisibilidade do amanhã, não há capacidade de prever um futuro próximo”, um contexto que destrói psicologicamente as pessoas.

Era o único psicólogo educacional na ilha, mas por complicações burocráticas com as autoridades gregas foi impedido de exercer. Contudo, os Médicos Sem Fronteiras pediram-lhe para ser consultor de psicologia educacional. E um dia apresentaram-lhe o caso de uma menina síria que tinha chegado ao campo com diagnóstico de autismo. Começou a intervir no caso, mas entre observação e brincadeiras não encontrava nenhum sinal típico do autismo. De forma a perceber melhor o contexto resolveu pedir para entrevistar a mãe da criança.

Com traduções múltiplas à mistura, a mãe lá explicou que a menina ficou muito diferente depois de um bombardeamento que destruiu a casa onde viviam. Na altura consultaram um psicólogo que viria a diagnosticar o autismo da criança. Mas na realidade, explicou João Ameal, “esta criança não era autista, ela teria provavelmente algo semelhante a um síndrome pós-traumático”. Para a mãe, crente de que a filha iria ser assim, para sempre, foi como se a menina tivesse ressuscitado.

Este foi um caso particularmente marcante, que se junta ao da mulher grávida de gémeos, de sete meses, que não recebeu tratamento no hospital e teve de voltar a pé. Procuraram-na ao longo do caminho, “estavam -2ºC” sublinha João, e quando a encontraram apenas tiveram tempo de a meter dentro do carro, pouco antes de desmaiar. O psicólogo relembra a expressão de alívio da mulher ao entrar no carro e depois a angústia do marido, perante a impossibilidade de a ajudar.

Quem faz voluntariado percebe logo que “o que se recebe é muito mais do que se dá, não existe uma troca, existe uma multiplicação.” João Maria Ameal salientou que “se tivermos o cuidado de educar os filhos nestes princípios, então estaremos a multiplicar o voluntariado através deles.”

“Se tivermos o cuidado de educar os filhos nestes princípios, então estaremos a multiplicar o voluntariado através deles.”
João Maria Ameal, Psicólogo

O valor dos parabéns

Rosa Amado lembra-se da primeira vez que alguém lhe sugeriu fazer voluntariado há 20 anos. Era numa instituição para crianças em risco e, perante o conforto em que vivia, recorda a estranheza de constatar “como alguém tão perto de nós, na mesma cidade, podia viver situações tão diferentes das nossas.”

A partir desse momento sentiu que devia retribuir algo à sociedade e resolveu organizar festas de anos para celebrar a vida de crianças e jovens institucionalizados. Recorda que a lei portuguesa privilegia especialmente a família, portanto quando uma criança é encaminhada para uma instituição é porque já se esgotaram todas as alternativas e, nessas circunstâncias, a institucionalização torna-se inevitável.

Com a ajuda da filha percebeu que os aniversários não são celebrados regularmente nas instituições, havendo por vezes “um bolo e um papel na parede, com o nome da criança depois da palavra ‘Parabéns’.” Por seu lado, Rosa não se lembra de um ano em que não tenha tido uma festa, um reconhecimento, “alguém me dava os parabéns, havia sempre um bolo e um presente.”

Contactou a instituição que conhece melhor e assumiu o compromisso de organizar as festas de aniversário no ano seguinte. Rosa Amado destacou a importância das redes sociais na criação de “uma rede de favores em cadeia para proporcionar uma festa a um miúdo, que nós pensamos ser banal, mas tem um impacto incrível na autoestima”. Atualmente conta com uma rede de 500 voluntários que oferecem o que podem, “seja tempo, pinturas faciais ou bolos”, dando apoio a oito instituições onde já fizeram mais de 100 festas. Para muitos, “é a primeira vez que podem convidar alguém para qualquer coisa”, explica Rosa.

A propósito do que se ganha com a experiência do voluntariado, frisou que “as crianças institucionalizadas estão numa situação frágil, mas nós também temos muitas situações frágeis e este confronto entre as fragilidades faz-nos a todos mais fortes.”

Em matéria de voluntariado é preciso passar dos projetos para a atitude, que tem de impregnar toda a organização. Na EDP também existem projetos onde se aprende muito, sobretudo porque “ajudam a construir uma relação além do trabalho, permitindo depois chegar mais longe como equipas”, explicou a gestora.

O mundo corporativo tem vindo a investir cada vez mais no setor social e isso constitui um sinal de otimismo num futuro com mais união, porque “juntos podemos chegar mais longe e somos mais fortes”. Não é possível mudar o mundo de uma só vez e o bem acaba por se replicar nas pequenas atitudes do dia a dia. “O mundo muda um bocadinho quando ajudamos a pessoa que está ali, ao nosso lado”, concluiu Rosa Amado.

“As crianças institucionalizadas estão numa situação frágil, mas nós também temos muitas situações frágeis e este confronto entre fragilidades faz-nos a todos mais fortes.”
Rosa Amado, Gestora de Marketing na EDP

Voluntariado universitário

Depois de uma experiência em S. Tomé e Príncipe, onde ajudou a tratar de idosos e crianças, João Loureiro sentiu que podia fazer mais por aquelas comunidades, tendo em conta a sua competência técnica. Formado em Economia e com 12 anos de experiência no setor bancário, fundou a WACT – We Are Changing Together e dedica-se hoje ao projeto de Social Impact Experience na Nova SBE.

O voluntariado pressupõe um contexto, organização, regras e objetivos, formação específica e conhecimento para ajudar, além do aspeto essencial do compromisso. É neste sentido que João Loureiro afirma estar a dar continuidade à missão da WACT através do programa onde procuram transformar estudantes universitários em game changers, capazes de transformar o mundo.

“Repensamos a experiência social dos alunos e transmitimos a ideia de que eles podem fazer outras coisas, em benefício de outros, além de estudar”. Esta experiência permite-lhes ganhar a perceção do que significa ser socialmente ativo. O professor aponta três etapas de chamamento, começando pela consciência social, seguindo-se o engagement, que surge das ações desenvolvidas com as organizações, e finalmente o nível em que há uma plena dedicação ao setor social e à fundação de organizações de voluntariado. “Há muitos alunos que não foram atrás de uma carreira nas empresas de consultoria ou na banca, preferindo trabalhar para organizações do Terceiro Setor”, assinalou João Loureiro.

Uma associação precisa de um business plan, tal como se fosse uma empresa, e o voluntariado deve fazer parte da estrutura de custos. O economista considera que falta consciência orçamental no voluntariado, e que “é preciso começar a entender o setor social como um negócio”. É importante ter a noção de que existe um mercado da pobreza e perceber como potenciar as organizações sociais.

João Loureiro afirma, sem rodeios, que é necessário ter consciência de que “estamos a poupar porque há alguém que ofereceu esse trabalho.” Um voluntário numa organização que esteja a fazer o trabalho de um técnico, representa sempre um donativo, “seja através daquela pessoa ou através de um parceiro como o Santander.”

Ciente de que as competências técnicas, na ligação entre o setor social e o corporate, vão assumir cada vez mais relevância, João Loureiro defende que o setor social não deve ser visto em oposição ao corporativo. E apontou o exemplo de um aluno que “desenvolveu um projeto de poupança para crianças, através de um jogo, ou seja, gamificou o mealheiro, no que é um exemplo interessante para o setor da banca.”

Portugal está entre os países com melhores níveis de investimento em inovação social. Uma reputação que será tanto mais fácil de manter, quanto maior for o envolvimento das empresas. João Loureiro aposta que “se conseguirmos maximizar o lucro das organizações corporativas, maximizando o impacto social que elas têm, claramente estaremos no caminho certo para mudar o mundo.”

“Se conseguirmos maximizar o lucro das organizações corporativas, maximizando o impacto social que elas têm, estaremos no caminho certo para mudar o mundo.”
João Loureiro, Fundador da WACT - We Are Changing Together e coordenador da área de Social Impact na Nova SBE

Um banco de pessoas felizes

Partindo do exemplo dos colaboradores com síndrome de Down (trissomia 21) que trabalham no banco, a diretora de Recursos Humanos referiu que elas “são importantíssimas, não só pelo valor que acrescentam enquanto capacidade produtiva, mas pelo que trazem ao ambiente organizacional ao nível da dinâmica das equipas, ao nível do propósito em trabalhar numa empresa que tem este tipo de iniciativas na sua estratégia.” Alexandra Brandão reforçou que “isso tem feito muita diferença no nível de compromisso dos colaboradores em trabalhar numa empresa como Santander.”

Um dos grandes objetivos do Santander é contribuir para o desenvolvimento das pessoas, das empresas e das comunidades. A gestora reconhece que “há organizações muito bem estruturadas nos pólos urbanos, mas quando vamos às pequenas regiões as coisas são diferentes”. Portanto, é essencial que “os nossos voluntários possam contribuir junto das comunidades onde estão inseridos.” Com 6500 colaboradores em Portugal Continental e nas ilhas, o Santander assegura uma presença forte e muito relevante na sociedade, “apoiado por esta capilaridade geográfica com colaboradores dispersos por todo o país.”

Alexandra Brandão assinalou a Educação como um dos pilares fundamentais do Santander, defendendo que “pessoas bem preparadas são capazes de promover o desenvolvimento económico e social, de uma sociedade, de uma forma exponencial.”

Têm uma parceria com a Junior Achievement, a nível nacional, que conta com cerca de 200 voluntários em todo o país. Estão a dar aulas em escolas, trabalhando com crianças desde os seis anos de idade até aos jovens no 12º ano. O objetivo é partilhar conhecimento sobre promoção do desenvolvimento, empreendedorismo, criação de empresas, ajudando a contribuir para o desenvolvimento económico das diferentes regiões.

Existem também medidas de apoio a famílias em zonas vulneráveis como é caso do projeto-piloto que desenvolveram no bairro Padre Cruz. Perante a realidade encontrada, o grande objetivo é “tentar que as crianças não se percam, tentar motivá-las ao máximo e explicar-lhes como podem ter um futuro brilhante se conseguirem desenvolver determinadas competências”, referiu a diretora.

O Santander está também a desenvolver um programa internacional, na área Legal do banco, que promove assessoria jurídica pro bono para organizações do Terceiro Setor.

Em Portugal já temos cerca de sete advogados, que colaboram regularmente com o Santander, a fazer assessoria jurídica para várias instituições. A diretora de Recursos Humanos assegurou que nestes projetos “aquilo que se dá é muito pequeno, comparado com aquilo que recebemos.”

Alexandra Brandão aproveitou ainda para salientar que “as skills de gestão fazem falta no mundo do empreendedorismo social, onde podemos dar as nossas competências técnicas para ajudar na escalabilidade dos projetos.”

“Aquilo que se dá é muito pequeno, comparado com aquilo que recebemos.”
Alexandra Brandão, Diretora de Recursos Humanos do Santander

No Espaço “Conversas Soltas” do Banco Santander e também nas redes sociais as múltiplas vertentes da temática do voluntariado estiveram no centro da reflexão. Se não teve oportunidade de assistir, em direto, a esta conversa sobre Mais Voluntariado, veja agora aqui na íntegra.

Mais Fortes a Observar é uma iniciativa do Observador e do Santander.

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