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Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Comício em Viana do Castelo do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Viana do Castelo, 23 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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Conhecido por intrevenções de campanha particularmente intensas, na última Miguel Alves levou um ovo que não queria que os eleitores contassem que ficasse "onde as galinhas o guardam".

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Conhecido por intrevenções de campanha particularmente intensas, na última Miguel Alves levou um ovo que não queria que os eleitores contassem que ficasse "onde as galinhas o guardam".

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Do Minho ao centro do poder de Costa. Quem é a nova sombra do primeiro-ministro?

Coordenação política estava a falhar e Costa recuou na estratégia inicial, voltando ao secretário de Estado Adjunto. Solução veio de Caminha, mas é um velho conhecido do primeiro-ministro.

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O telemóvel tocou segunda-feira passada, dia em que Miguel Alves fez 47 anos. A proximidade política é grande, mas não era para festejar a data que António Costa lhe ligava naquele momento. Tinha uma desinquietação para lhe propor mas, ainda que tenha apanhado o presidente da Câmara de Caminha de surpresa pelo timing, também não foi propriamente nada que tivesse feito alguém no PS cair da cadeira de espanto. A entrada no Governo era um capítulo por acontecer para Miguel Alves, depois de os dois terem firmado uma relação em 2005, pela mão de Pedro Nuno Santos.

António Costa era ministro da Administração Interna, número dois do Governo de José Sócrates, quando falou com o então líder da Juventude Socialista para que lhe indicasse alguém “menos formatado” pelos parâmetros de Lisboa que pudesse trabalhar com ele no Terreiro do Paço. Foi, assim, Pedro Nuno Santos o primeiro a falar a Costa deste que é agora o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro — uma figura que o líder socialista demorou pouco mais de cinco meses a recuperar, depois de a ter substituído por um novo diretor de comunicação.

A estrutura encontrada por António Costa para o Governo PS em maioria absoluta teve vida curtíssima. A coordenação não estava a funcionar ainda antes de João Cepeda chegar, mas também não melhorou depois dessa mudança. Aliás, a presença de um não-político nas reuniões da coordenação e a entrega dessa pasta nas mãos de alguém de fora já tinha sido notada com desconforto por alguns socialista, tal como o Observador contou em agosto.

Na máquina de gestão política havia falhas que estavam a deixar os socialistas muito nervosos, mais ainda à medida que se multiplicavam casos, como o do despacho de Pedro Nuno Santos, desautorizado por Costa, ou a resposta pouco ágil aos problemas da Saúde que acabaram na demissão de Marta Temido.

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Do topo à base, a sensação é de fim de ciclo quando o mandato ainda dita quatro anos pela frente. A organização política pensada para a terceira temporada socialista no poder falhou por completo e António Costa tenta agora uma solução que passa por um recuo: voltar a ter em São Bento uma antena política como já teve noutros momentos, com Mariana Vieira da Silva, Duarte Cordeiro ou mais recentemente com Tiago Antunes.

“Acho que pode ajudar a operacionalizar melhor a ligação com os ministros, grupo parlamentar e PS, e a monitorizar a execução de decisões e de medidas”, espera uma alta patente socialista assumindo o mau funcionamento destas frentes até aqui.

O que Costa pediu a Miguel Alves foi isto e ainda reflexão sobre a estratégia política a seguir a cada momento, fazendo dele a mais recente aquisição do seu núcleo político, como já tinha sido no passado, noutros gabinetes, sempre dedicado à assessoria política.

Depois de Pedro Nuno ter feito as apresentações, Miguel Alves entrou para adjunto de António Costa na Administração Interna. Estava na reunião onde o agora líder socialista anunciou à equipa que tencionava candidatar-se à Câmara de Lisboa, nas intercalares de 2007, deixando o Governo onde estava há dois anos.

Foi ainda um dos elementos que Costa levou, depois disso, para o gabinete nos Paços do Concelho e ficou até 2009 também como seu adjunto na presidência da Câmara. Depois ainda foi mantendo colaboração esporádica com a vereadora Graça Fonseca, mas a sua atividade principal era outra.

Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Comício em Viana do Castelo do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Viana do Castelo, 23 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Na empresa do “amigo de Costa”

Formado em Direito, pela Universidade de Coimbra, Miguel Alves quis, nessa altura, voltar ao setor privado, tirou uma licença sabática da política e quem o empregou foi o conhecido melhor amigo de António Costa, Diogo Lacerda Machado.

Entre 2009 e 2013, o jovem socialista foi diretor jurídico da Geocapital, a empresa de investimento do milionário chinês Staley Ho de que Lacerda Machado é administrador. Um nome que, por sua vez, em 2016, se associou a um dos primeiros casos do Governo, quando António Costa decidiu chamar o seu amigo para representar o Governo nas negociações para a reversão da privatização da TAP.

Nesse mesmo ano conheceu-se também a investigação do Ministério Público a um negócio feito em 2005, com Lacerda Machado como um dos negociadores, em que a TAP comprou unidade de manutenção de aviões da Varig no Brasil (VEM), mas a Geocapital ficou com 85% do capital e passado um ano vendeu essa parte à TAP com um lucro de 20% (quase quatro milhões de euros). O negócio levantou suspeitas de gestão danosa e de corrupção e, anos depois de ter sido fechado, ainda teve impacto em Miguel Alves.

Entrou na Geocapital depois do negócio e saiu antes de toda a polémica sobre Lacerda Machado a que já assistiu como presidente da Câmara de Caminha. E foi precisamente nessa frente que a oposição local aproveitou a onda para lhe pedir explicações sobre o cargo que tinha tido na Geocapital, empresa que o PSD de Caminha ligava diretamente a um negócio ruinoso para a TAP .

O autarca socialista tinha saído da empresa para se candidatar às autárquicas, voltando ao terreno político, mas rejeitava ligações a qualquer negócio suspeito. Na altura respondeu ser “muito feio” o PSD usar o caso para o atingir politicamente

Detalhou ainda, em declarações à imprensa local nessa altura, que começou a trabalhar na Geocapital em 2010 e as notícias sobre as buscas à TAP e à Parpublica por causa da compra de ações à Geocapital dizem respeito a um negócio de 2005, “cinco anos antes de estar na Geocapital como empregado, como diretor jurídico”.

Citado pelo Minho Digital nessa altura, concluía:  “Nada tenho a ver com o negócio, fui contratado pela Geocapital muito depois do tal negócio que estará em investigação e acredito que a associação do meu nome a estas notícias pode dar dividendos políticos” .

Independente em Coimbra, socialista em Guimarães e neutro no pós-costismo

Estava então no início de um longo mandato na Câmara de Caminha, para onde foi viver tinha quatro anos. Nasceu em Lisboa porque era aí que trabalhavam os pais nessa altura (o pai era de Castelo Branco, a mãe do Minho), mas cresceu em Caminha  de onde saiu só para estudar Direito em Coimbra.

Chega à Associação Académica no rescaldo da intensa luta das propinas, altura em que as listas apartidárias tinham mais hipóteses. E foi assim que chegou, como independente, a presidente da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra, o órgão máximo deliberativo da AAC.

Na altura não tinha qualquer filiação partidária e só depois de sair da faculdade, em 1999, é que se juntou ao PS, partido com que tinha ganho afinidade no percurso académico. Seguiu também nessa altura para um estágio num escritório de advogados pequeno em Guimarães e por lá ficou nos cinco anos seguintes, começando por ali o percurso político mais intenso junto das estruturas locais. Chega mesmo a ser deputado municipal e a liderar a bancada do PS em Guimarães.

Ganha especial notoriedade quando chega a presidente da Associação Nacional dos Jovens Advogados Portugueses e chega até a discursar no think tank que a liderança de José Sócrates tinha criado em 2005 para chamar os valores da sociedade civil à participação na política ativa, o “Novas Fronteiras”.

Nessa altura andava muito empenhado em enfrentar Rogério Alves no congresso dos advogados e, quando Costa o desafiou a ir para Lisboa para o Ministério da Administração Interna, ainda lhe pediu um tempo para primeiro encerrar essa ofensiva ao então bastonário.

“Subiu a pulso e os degraus todos”, descreve o líder do PS-Braga que o conhece desses tempos. Joaquim Barreto aponta a “capacidade de trabalho” de Miguel Alves que é “uma excelente escolha” de Costa. E no PS há até quem veja esta escolha como mais “uma aposta para o futuro”, num Governo onde o primeiro-ministro “está rodeado de pessoas com ambição de liderança. Ele [Miguel Alves] também terá a suas opções, mesmo que não seja para líder“, comenta um socialista.

Na marcação de terreno para o futuro pós-costismo, Miguel Alves sempre se manteve muito cauteloso. Até aqui, no seu percurso político, atravessou-se apenas por duas figuras socialistas.

A primeira foi em 2011, quando Francisco Assis se candidatou contra António José Seguro e Alves tomou a dianteira da campanha do seu candidato interno num distrito especialmente hostil. Braga era território segurista e o resultado nessas diretas do PS foi — sem surpresas — desastroso para Assis. Mas foi no ambiente adverso que Miguel Alves mais respeito local arrecadou. Capital político precioso para um socialista com ambições naquela região do país — como se veria nas autárquicas de 2013, em que conquistou a Câmara de Caminha ao PSD (ficou 47,5% contra 45% — mas já lá vamos).

Foi sempre amealhando apoios, num calculo discreto e sem criar inimizades. E já em 2014, na grande guerra socialista que opôs Seguro e António Costa, o lado foi o esperado: fez campanha e mobilizou tropas pela frente costista.

A investida pedronunista que cedo foi plantando apoios pelo país socialista não o apanhou. Não faz parte desse grupo de apoios que anseia por Pedro Nuno Santos na liderança do partido no futuro, embora também não seja seu adversário. A sua lealdade política, até aqui, foi sempre dirigida a António Costa, com quem manteve sempre boa relação, com relativa proximidade — mantém-se sempre à distância das necessidades do líder a cada momento. O reconhecimento desse percurso chega esta sexta-feira quando tomar posse em Belém.

Mas se António Costa “foi buscar um dos seus”, segundo um socialista, também reconheceu o erro cometido ao deixar o Governo sem coordenação nestes primeiros meses. A falta de políticos mais experientes no núcleo político — que alguns socialistas têm vindo a reclamar apontando ao presidente Carlos César que tem mantido refúgio nos Açores, fora desta primeira linha executiva — não fica colmatada com esta entrada, mas no PS reconhece-se capacidade política a Miguel Alves.

É um elemento classificado como “não hostil” a nenhuma das frentes no partido, “fala bem com todos”, descreve outro socialista com quem o Observador falou. E Joaquim Barreto acrescenta-lhe outro elemento que acredita poder fazer a diferença nos gabinetes de Lisboa: “É como José Luís Carneiro. Vêm de cargos autárquicos em localidades mais pequenas onde a exigência dos eleitores é maior e tem de haver uma resposta direta, por isso têm essa noção.”

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Tentativa de uma “geringonça” dois anos antes do tempo

Traz no currículo um momento premonitório para o PS, ainda nem António Costa era líder do partido, quando vence em Caminha por pouco mais de 200 votos e tenta um acordo pré-eleitoral com o Bloco de Esquerda e o PCP para governar.

A “geringonça” nacional só chegaria dois anos mais tarde e os órgão s nacionais dos dois partidos da esquerda travaram a ambição da estrutura local do partido que estava quase a assinar papel com Miguel Alves. As negociações iniciais chegaram a incluir os comunistas, mas o PCP acabou por saltar fora ficando o Bloco que, em consequência disso, também acabou por sair.

A esquerda unida era um sinal que Alves queria dar, numa altura em que a autarquia liderada desde 2001 por Júlia Paula Costa, do PSD, tinha hipótese de mudar de mãos. A autarca atingia nessa altura o limite de mandatos. Mas o acordo não se deu, provocando uma guerra entre o Bloco local e o nacional que acabou com o partido a não ter candidato em Caminha e o os dirigentes locais a apoiarem a candidatura do PS.

Nas eleições seguintes, Miguel Alves já ganhou por uma folga maior (1.500 votos) e nestas últimas autárquicas, há um ano, voltou a encolher (a diferença foi de 500 votos numa autarquia onde se contaram cerca de 10 mil votantes).

Em entrevista ao Observador nessa campanha, Miguel Alves fez saber que aquela seria a sua última candidatura local, não só porque em Caminha atingia o número máximo de mandatos seguidos, como também não tencionava, no futuro, candidatar-se a outra localidade. “não me sinto bem a pulular de concelho em concelho”, dizia. “A minha carreira autarquia terminará com o fim do terceiro mandato em Caminha. Depois verei o que a vida me dará“.

Mas não chegou sequer ao fim do mandato que tencionava cumprir, como disse então. E o PSD de Viana do Castelo, na hora em que a sua entrada no Governo foi tornada pública, não perdeu tempo: “Acabou de trair Caminha abandonando a autarquia e as promessas feitas, devido às suas ambições políticas.”

No poder local foi um acérrimo defensor da regionalização, que gostava que “já tivesse acontecido”. Era até aqui o presidente do Conselho Regional do Norte (representa os 86 presidentes de Câmara Municipal da Região do Norte) e uma voz presente contra a centralização do poder em Lisboa.

Há um ano, nessa entrevista ao Observador, já deixava o aviso para uma “gestão de proximidade” do Plano de Recuperação e Resiliência. “A gestão a partir de Lisboa seria um erro”, dizia defendendo a “territorialização dos investimentos”.

Miguel Alves na ‘Cadeira do Poder Autárquico’. “Gestão dos fundos europeus a partir de Lisboa será um erro”

Do “ovo onde as galinhas o guardam” ao trabalho hérculeo num Governo estafado

O registo das suas intervenções ao lado de Costa, em comícios de campanhas nacionais desde 2015, é especialmente intenso. Sempre que a caravana passa por Viana do Castelo, o presidente do PS do Alto Minho, sobe ao palco com discursos de ataque tão cerrado como colorido à oposição.

Na última campanha, em janeiro de 2021, chegou a tirar um ovo do bolso (minuto 20:30 do vídeo em baixo) para um número político: “Não sei quem vai ganhar mas sei quem vai perder, é quem acha que pode contar com este ovo no sítio onde as galinhas o guardam. Quem vai perder é quem achar que o ovo vai lá estar.”

Tem forte ligação à terra, mas o tempo no concelho estava a chegar ao fim — como próprio tinha vaticinado — e a ambição política lá continuava a pulsar. “Tenho o filho e a mulher em Caminha”. A frase tentava desviar caminho da pergunta que o Observador lhe fazia há um ano: E se António Costa o chamasse para o Governo? “Isso não se colocou nem se coloca. Não sabemos o que vai ser o futuro e já me habituei a não olhar muito para as estrelas e esperar pelo que dizem. Limito-me a seguir o meu caminho”.

O conjunto de frases nunca rejeita o caminho com que agora se cruzou e que foi aquecendo com discursos nos palcos políticos que António Costa também foi registando. Ainda no mesmo discurso de janeiro deste ano, quando lembrou as figuras do Minho que o Governo tinha então — Tiago Brandão Rodrigues (Educação), Marina Gonçalves (Habitação) e Jorge Delgado (Infraestruturas) — atirou: “Chega de estarmos longe do poder. O Alto Minho hoje conta para o Governo de Portugal“.

No seu caso concreto, entra direto para o núcleo desse poder. E com o trabalho hercúleo de olear um Governo estafado (apesar de agora ter maioria) ao fim de sete anos de poder.

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