“Dizem que acontece aos idosos, não sei por que motivo me acontece.” Em janeiro de 2022, depois de ter passado 10 dias no hospital, o Papa Francisco brincava com as suas habituais dores de joelho que, naquela altura, o obrigaram a falhar o passeio no final da sua audiência geral semanal. Num outro momento, também falando sobre o joelho, respondeu a um grupo de padres mexicanos que aquilo que a sua perna precisava era de “um pouco de tequila”. É assim, com humor, que Francisco lida com as várias doenças que o atingem, quase todas próprias de quem tem uma idade avançada. Jorge Mario Bergoglio nasceu em 1936 e tem 86 anos.
A mais recente complicação de saúde, uma hérnia na zona abdominal, levou-o de novo a um internamento. Nesta quarta-feira, 7 de junho, Francisco foi operado no Hospital Gemelli, em Roma. Passou bem a noite — embora tenha de permanecer alguns dias internado —, e, segundo o médico que o operou, o Papa estava acordado na manhã de quinta-feira, tendo feito várias piadas.
Os primeiros problemas de saúde (que se conhecem) aconteceram quando Bergoglio era um jovem de 21 anos. Um dia depois de se ter tornado Papa, o porta-voz do Vaticano confirmava que uma parte de um dos pulmões de Francisco tinha sido retirada.
O relato desses dias seria feito pela jornalista Francesca Ambrogetti no seu livro O Jesuíta. “Jorge Mario Bergoglio teve três dias terríveis, ficou entre a vida e a morte quando tinha 21 anos. Tinha muita febre, ficava abraçado à mãe e dizia: ‘O que é que me está a acontecer?’ Os médicos estavam desconcertados e não sabiam o que responder.” O diagnóstico era de uma pneumonia grave e o jovem argentino tinha três quistos no pulmão. “A doença foi controlada e, depois de um tempo, Bergoglio foi submetido a uma cirurgia para remover a parte superior do pulmão direito”, escreve a jornalista no seu livro.
À data da operação, em 1957, o uso de antibióticos não estava generalizado, como agora.
A depressão, o pé chato e a infiltração no joelho
No livro A Saúde dos Papas é Austen Ivereigh que revela alguns dos problemas que Francisco enfrentou. Nos anos 1970, quando a Argentina vivia em ditadura militar, Francisco procurou a ajuda de uma psicóloga para o ajudar a lidar com crises de ansiedade. Hoje, segundo o biógrafo, lida com o stress ouvindo Bach e bebendo mate, a típica bebida argentina.
Outro problema que sempre o acompanhou foi o pé chato, aquele que o faz andar como uma galinha choca, como o próprio chegou a dizer.
Outra revelação feita pelo mesmo escritor foi a de que Francisco recorreu a um acupuntor para alívio das dores nas costas — um problema crónico que o acompanha até hoje — quando era arcebispo de Buenos Aires.
Ainda antes de ser eleito Papa, a 13 de março de 2013, Bergoglio teve outros problemas de saúde. No final dos anos 1970 teve uma infeção da vesícula biliar, que foi quase fatal. No fígado, também tem problemas. Tal como o seu pai, foi diagnosticado com esteatose hepática (gordura no fígado), problema que pode ser resolvido com uma dieta específica que mantém até hoje.
Em 2004, o estreitamento de uma artéria causou problemas cardíacos a Francisco, mas que ficaram resolvidos. Além disso, o Papa revelou ter um problema no espaço intervertebral entre a quarta e a quinta vértebras lombares, e entre esta e o sacro.
Em contrapartida, em 2015, o Vaticano rejeitou os rumores que corriam de que o Papa tinha um tumor cerebral, como chegou a ser noticiado pela imprensa italiana.
A primeira ausência por motivos de saúde
Em dezembro de 2021, no mês em que fez 84 anos, o Papa cancelou, pela primeira vez, a sua agenda devido a problemas de saúde. A causa das suas dores era uma nova crise ciática a afetar a perna direita, problema que se foi agravando com o passar dos anos. Nessa altura, entre outras celebrações, falhou a missa de 1 de janeiro de 2022.
Embora esse tenha sido o primeiro problema que o levou a alterar planos, em 2019 foi operado às cataratas sob sigilo absoluto. Um ano antes, Francisco tinha deixado o aviso: “Na minha idade, por exemplo, chegam as cataratas e deixamos de ver realmente bem. No próximo ano terei de ser operado.”
Dois anos mais tarde, em julho de 2021, uma inflamação grave no cólon obrigou o Papa a ser operado, e a remover 33 centímetros do intestino grosso. Ficou internado 10 dias — terá sido na sequência dessa operação que surgiu a hérnia que agora teve de tratar, por lhe causar obstrução parcial do intestino. No ano seguinte, voltou a sofrer de diverticulite, uma inflamação na parede interna do intestino.
Ainda em 2022, os seus problemas de mobilidade tornaram-se cada vez mais evidentes. Em maio, poucos dias depois de dar uma entrevista ao Il Corriere della Sera, foi internado por causa da osteoartrite no joelho. “Tenho um ligamento rompido, farei algumas infiltrações e vamos ver. Estou assim há algum tempo, não posso caminhar”, disse nessa altura, com 85 anos.
Pouco dias depois do procedimento médico, que o obrigou a descansar durante 10 dias, apareceu em público, pela primeira vez, em cadeira de rodas.
Já este ano, a 30 de março de 2023, o Papa foi diagnosticado com uma bronquite infecciosa. Ficou internado três dias e melhorou com antibióticos. Agora, depois de uma primeira noite “tranquila”, tudo indica que a passagem do Papa Francisco pelo hospital será breve, a fazer fé nos relatos médicos.