O Papa Francisco vai ser esta operado, esta quarta-feira, a um problema intestinal, revelou o Vaticano. A cirurgia vai decorrer no Hospital Universitário Gemelli, em Roma, e será levada a cabo “devido a uma hérnia incisional encarcerada”, que provoca “síndromes suboclusivas recorrentes, dolorosas e agravadas”. Ao Observador, o gastrenterologista Guilherme Macedo, explica o que está em causa e sublinha que se trata de uma cirurgia “relativamente simples”, ainda que não isenta de riscos, até pela idade do sumo Pontífice.

“A hérnia incisional é um fenómeno que decorre do facto de o intestino” ocupar o espaço que surgiu com a “incisão prévia”, explica Guilherme Macedo. Recorde-se que o Papa Francisco, de 86 anos, tinha sido operado ao intestino em 2021, na sequência de uma “estenose diverticular sintomática do cólon”, tendo ficado com uma incisão, ou seja, uma cicatriz.

“A fragilidade na parede abdominal causada pela cicatriz prévia permite que o intestino entre por esse espaço, podendo não conseguir regressar à posição inicial”, realça o médico, que é também diretor do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de S. João. “Essa parte do intestino, que está fora da sua zona normal, pode inflamar”, refere Guilherme Macedo.

Ora, foi esta migração do intestino — para um espaço causado por uma cicatriz anterior — que aconteceu ao Papa Francisco. Nestes casos, a única opção para fazer regressar o intestino à posição original é a cirurgia, que “é relativamente simples”, refere o especialista. No entanto, a operação não é isenta de riscos pós-operatórios, como uma perfuração do intestino ou a perda de vitalidade do intestino em alguma zona. Um risco acrescido ainda pela idade avançada do Papa, esclarece.

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No entanto, Guilherme Macedo explica que o aparecimento de complicações depois da cirurgia depende da condição que o doente apresente antes de ser intervencionado. “Neste caso, se o Santo Padre chegar à cirurgia com uma condição estável, e não tiverem ocorrido outras complicações até ao momento (e não temos essa informação), a probabilidade de existirem complicações depois da cirurgia é menor e recuperação será relativamente rápida”.

Tempo de recuperação é de “poucos dias”

O tempo de recuperação, no caso de não surgirem complicações, é de poucos dias. “Em poucos dias prevê-se que possa ter alta e com a correção definitiva do problema, de modo a que não haja recorrência”, estima Guilherme Macedo, que é também presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. Assim sendo, o médico acredita que a viagem do Sumo Pontífice a Portugal não “estará comprometida”. A agência ANSA avança que o Papa deverá ficar pelo menos dois dias internado.

Sem intervenção, este problema intestinal — a hérnia incisional encarcerada — pode acarretar riscos sérios para o doente e levar mesmo à morte. “Se um determinado setor do intestino ficar encarcerado num espaço que não é o dele, a forma que o intestino tem de reagir é parar. E isso é grave. Se não for feita uma cirurgia, o intestino começa a ficar inflamado e frágil e pode perfurar. Se isso acontecer, dá-se uma conspurcação (libertação) de matéria fecal, o que pode causar sépsis (infeção generalizada) e levar à morte”, admite Guilherme Macedo.