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Se calhar num futuro próximo vai ter de abrir o ecrã do telemóvel para ler este artigo. Flexíveis, dobráveis ou desdobráveis, o termo importa pouco. O que conta é que é já a partir deste ano que as lojas portuguesas vão ter smartphones com dois tamanhos de ecrãs — ora estejam abertos ora fechados. Se se dobram para dentro ou para fora é diferente consoante a marca, mas todos vão desdobrar-se para cativar o consumidor.
[O Observador já mexeu num dos smartphones com ecrãs dobráveis, o Huawei Mate X. Veja o vídeo]
O anúncio desta tecnologia foi o que marcou o Mobile World Congress 2019, em Barcelona, a maior feira tecnológica mobile do mundo. Foi neste evento que as principais marcas de telemóveis começaram a divulgar os primeiros modelos foldable [como se diz em inglês]. Pode não parecer importante à primeira vista, mas se esta tecnologia foi a tendência neste evento, isso significa uma coisa: é muito provável que o futuro passe por este tipo de ecrãs.
Isto quer dizer que estamos a assistir a uma nova revolução no design dos smartphones? Como quando a Apple introduziu a saliência no topo dos telemóveis, em 2017 com o iPhone X? Apenas o tempo — e o mercado — podem responder às dúvidas. Para já, o que se sabe é que ter um aparelhos destes não vai ficar barato e só um público de luxo é que vai poder adquiri-los: o mais acessível a chegar à Europa, o Galaxy Fold, vai custar cerca de 2.000 euros.
Em quatro perguntas e um ponto extra, deixamos o que precisa de saber para ficar a par desta nova forma de mexer em ecrãs táteis, que pode até mudar a forma como olha para a roupa.
Por que preciso de um ecrã dobrável?
Porque ter mais espaço de ecrã é teoricamente melhor. Significa mais espaço para ver filmes, escrever emails ou para editar documentos. Imagine que recebeu um ficheiro Excel — um daqueles cheios de fórmulas e tabelas — e quer vê-lo e editá-lo no telemóvel. Atualmente, mesmo com o ecrã na vertical e não na horizontal, um dedo não se sobrepõe à seta de um rato no computador. Devido a esta tecnologia, vai passar a ser preciso apenas desdobrar o ecrã para, rapidamente, ter quase o dobro do espaço. O melhor? Permite ter mais do que uma aplicação aberta, como acontece quando abre várias janelas no computador.
[No GIF, Richard Yu dobra o Mate X]
Os ecrãs dos telemóveis têm aumentado nos últimos anos. Em 2011, o conceito de Phablet (smartphone tão grande que quase que é um tablet) era facilmente atribuído a qualquer modelo com mais de 5,5 polegadas. Atualmente, o cenário mudou. Um iPhone XS, por exemplo, tem 5,8 polegadas, o modelo Max já tem 6,5 polegadas. Contudo, as empresas já não têm muito espaço para crescer sem comprometer a experiência do utilizador. Assim, os dobráveis são uma solução para continuar a ter telemóveis com ecrãs retangulares tradicionais. Quem pode perder é o mercado do tablets, mas esse tem estado a decrescer à medida que os telemóveis ficam maiores.
[Estivemos em direto, em Barcelona, a ver várias aplicações desta tecnologias de ecrãs dobráveis no stand da Royole]
https://www.facebook.com/ObservadorOnTime/videos/304366626933801/
Mas já posso comprar telemóveis com ecrãs dobráveis?
Em novembro de 2018, uma pequena empresa chinesa imitou os irredutíveis gauleses de Goscinny de Uderzo e fez frente a gigantes como a Samsung e a Huawei. Chama-se Royole e conseguiu um lugar na história da indústria ao lançar no mercado o primeiro smartphone com ecrã dobrável, o Flexpai. Pode parecer pouco o que esta empresa fez mas, ao lançar o primeiro telemóvel com ecrã dobrável, ganhou a corrida contra a maior fabricante de telemóveis do mundo, a sul-coreana Samsung. Esta, poucos dias depois, mostrou apenas um protótipo, e com as luzes apagadas, só para dizer que já estava também avançada na tecnologia (algo que já tinha feito em 2015).
Como é possível ver no vídeo em direto mais acima, a Royole também já está bastante avançada nesta inovação. O Flexpai é exemplo disso e é, atualmente, o primeiro smartphone com ecrã dobrável que o utilizador pode comprar. Contudo, para já e nos próximos tempos, só está disponível na China ou para quem o quiser comprar online. Ao contrário do modelo da Samsung, foi possível experimentarmos este smartphone e comprovar que não é apenas um brinquedo. Mas tem um problema que é o calcanhar de Aquiles destes novos produtos: apesar de ser o mais barato, custa no mínimo 1388 euros.
Que smartphones com estes ecrãs é que vou poder comprar?
A Samsung quis antecipar-se a todos os anúncios feitos no MWC e, na apresentação dos novos modelos Galaxy S10, que não se dobram, levou a palco o Galaxy Fold. Até agora, é o único modelo anunciado em que o ecrã dobra para dentro e, quando está fechado, o smartphone tem um segundo ecrã exterior de 4,6 polegadas para funcionar como os ecrãs de smartphones tradicionais. Quando se abre, tem 7,4 polegadas. Vai começar a chegar às lojas a partir de 26 de abril, com um preço estimado de cerca de 2.000 euros.
Um smartphone dobrável e novos S10. As 5 novidades da Samsung
Com a Samsung a anunciar apenas a inovação, sem deixar ninguém mexer nela (nem sequer durante o MWC), a Huawei chegou-se à frente e mostrou, até aos irredutíveis gauleses da Royole, que afinal esta tecnologia pode ter um aspeto mais prático. Na apresentação dos novos produtos no último domingo, Richard Yu, presidente executivo da Huawei, anunciou o Mate X.
Ao contrário do modelo da Samsung, o Mate X dobra-se para fora sem problemas em riscar o ecrã. Quando está dobrado, tem um ecrã de 6,31 polegadas frontal e um traseiro com 6,38 polegadas (na prática é o mesmo, mas como este dobra para fora fica com dois ecrãs). Já quando está desdobrado, tem um ecrã de 8 polegadas. Além disso, vai suportar as novas redes 5G (nenhum dos outros ainda faz o mesmo). Este modelo, que pudemos experimentar, chega ao mercado “a partir de junho” com um preço que gerou risos na apresentação: 2300 euros.
Huawei. Experimentámos o smartphone com ecrã dobrável que custa 2300 euros
Com as duas maiores fabricantes de telemóveis e mais uma recém-chegada a roubarem a atenção das novidades do MWC com dobráveis, todas as outras concorrentes neste mercado mobile quiseram mostrar que também têm esta tecnologia. A TCL, que é dona de marcas como a Blackberry e a Alcatel, divulgou “a tecnologia DragonHinge”, que é como quem diz: este é o nome dos nossos ecrãs dobráveis, também estamos aqui. Só foi possível ver protótipos, e sem mexer, mas a empresa promete em comunicado que “os primeiros equipamentos estão prontos a chegar ao mercado em 2020”.
Outras marcas, como a Chinesa Nubia, levaram também ecrãs dobráveis para evento, mas noutro conceito. Em vez de smartphones que se dobram, a Nubia deu a experimentar um telemóvel relógio que mostra que estes ecrã táteis maleáveis podem ser utilizados para muitas coisas. A esta corrida dos dobráveis já se juntou entretanto a Motorola, mas sem mostrar ainda nenhum modelo (fala-se de uma reedição do Razer, o antigo telemóvel com capa dobrável da empresa).
MWC dia 2. Trump pode pedir o 6G, mas esta feira quer mostrar que o 5G é o futuro
Já outras empresas, como a LG, dobraram-se também para ter novidades neste campo, mas com uma tecnologia já existente: anunciaram um periférico de segundo ecrã que se adiciona ao próximo V50 (não é tecnicamente dobrável, mas ao menos a LG tentou ter atenção).
Como é que funcionam os ecrãs dobráveis?
Na prática, os ecrãs não são feitos de vidro nem têm uma cobertura que se parta. É assim que estes modelos, feitos de materiais como uma liga de plástico, fazem com que os ecrãs sejam dobráveis. De resto, o conceito é semelhante aos visores que já existem no mercado. Funcionam por toque, para não haver necessidade de botões físicos e o telemóvel reconhece quando está na vertical ou na horizontal.
[No GIF, é possível ver a espessura e flexibilidade deste ecrã dobrável]
Por mais que se seja o tema do momento, a tecnologia não é nova, está apenas a chegar ao mercado agora. Como refere a Wired, numa breve história dos ecrãs dobráveis, há mais de 10 anos que há visores que se dobram. Do que o Observador já experimentou, podemos comprovar que, mesmo com ecrã em plástico, estes produtos parecem resistentes e acabados. Sem ter um design apenas de protótipo. A resposta ao toque é a mesma que se vê nos smartphones atuais, só sem o frio do vidro.
Como já referimos, há marcas como a Samsung que dobram o ecrã para dentro e têm um segundo ecrã exterior, e há outras como a Royole e a Huawei que dobram o ecrã para fora. Estas últimas afirmam que é possível dobrar até 200 mil e 100 mil vezes, respetivamente, os seus produtos. Ou seja, dá para abrir e fechar sem problemas. Depois, com dobras ou sem dobras, estes smartphones não deixam de cumprir o principal propósito: fazer chamadas.
Falaram de uma portuguesa a promover tecnologia…
Este é o tal ponto extra que referimos. No stand da Royole do MWC não se ouvia fado nem as paredes estavam cobertas de azulejos ornamentados, mas quando se dizia que língua falávamos, ouviu-se uma surpresa: “You speak Portuguese? Our marketing leader is Portuguese” [Falam português? A nossa líder de marketing é portuguesa]. Não é raro encontrar portugueses em lugares de topo ou ouvir português em Barcelona, mas numa empresa chinesa que está a querer marcar presença na Europa, foi uma surpresa encontrar Marta Afonso.
“Sou responsável de marketing para a Europa, principalmente para Inglaterra, países nórdicos e sul da Europa. Devido à língua e conhecimento de mercado, estou a tentar explorar o mercado brasileiro”, contou Marta Afonso enquanto dobrava e desdobrava um Flexpai. A portuguesa de Castelo Branco está há 14 anos em Inglaterra e recentemente começou a preparar a entrada da Royole no mercado europeu.
A base da empresa é mesmo os ecrãs dobráveis e os sensores flexíveis. Começou há seis anos a desenvolver isto e lançámos alguns produtos com esta tecnologia. Aqui no MWC, estamos a apresentar aplicações noutros produtos. A maior parte deles tem de ser desenvolvido em parceria com outras empresas. Mas, neste caso, o telemóvel é todo novo e todo fabricado na China”, conta Marta Afonso.
Como explica a responsável, “neste momento, o grande produto neste momento é o flexpai e é o que está a mostrar as funcionalidades da empresa”. Contudo, com ecrãs dobráveis e táteis, há outras aplicações. Um teclado que se enrola num tubo é uma das novidades que a Royole quer lançar, mas já tem outros produtos à venda na China ou através da Internet. Um dos “mais vendidos” é o RoWrite, um caderno para escrever à mão com uma caneta especial que, digitalmente, guarda tudo num computador mas com a sensação de se escrever no papel. Além disso, a marca já vende cartolas e t-shirts revestidas com estes ecrãs. O preço? Não é barato para roupa: 1.000 euros só pelo chapéu, o que mostra que estes ecrãs são caros.
Marta Afonso gaba-se de que o Flexpai é “o único que as pessoas podem realmente mexer, tocar e ver a tecnologia”, ao falar da inovação. Facto é facto, em mais de 100 mil metros quadrados de feira, era o único dispositivo em que qualquer visitante podia mexer sem problemas (a Huawei nem fez o mesmo e a Samsung pôs um Fold atrás de um aquário de vidro).
A responsável de marketing da Royole revela que “em breve” a marca vai chegar à Europa e que, “pelo menos eu”, está a trabalhar para que Portugal seja um dos primeiros países também. Com as aplicações para roupa, é possível que a Royole apareça numa Fashion Week antes disso, mas ainda há desafios para resolver: “uma t-shirts tem de ser lavada”. Contudo, para smartphones, a tecnologia de ecrãs dobráveis está pronta e é já em abril que chega ao mercado.
*O Observador esteve no Mobile World Congress a convite da Huawei Portugal.