Numa coisa, Joe Biden e Donald Trump estão de acordo. É tão certo o atual ocupante da Casa Branca ficar com os votos de Kentucky e Oklahoma, como o seu nome do meio ser John. Da mesma forma, é sabido que Trump vai perdê-los em Massachusetts e na Califórnia e nem ele ficará surpreendido com a derrota. Não é bruxaria, é tradição — e é ela que tem falado mais alto nos chamados estados consolidados, tradicionalmente azuis (democratas) ou vermelhos (republicanos). Haver uma mudança de cor nestes estados seria um choque maior do que o da derrota de Hillary Clinton, em 2016, para Trump, apesar de ter ganho o voto popular.
Para eleger um Presidente nos EUA, o que conta, no final do dia, são os votos do colégio eleitoral. Mesmo que a margem de vitória seja mínima, o vencedor fica com todos os votos desse estado, enquanto que o vencido fica com zero, independentemente de ter perdido por muito ou por pouco. É por isso que, para as contas da eleição desta terça-feira, mais do que nos estados consolidados, interessa manter o olho nos swing states, os estados que oscilam entre o azul e o vermelho.
Para chegar à Casa Branca, o futuro chefe de Estado tem de garantir 270 votos no colégio eleitoral, num total de 538, e os 9 estados mais indecisos representam um total de 141 votos. Há ainda quem acrescente a esta lista um décimo estado, o Texas. É que, apesar de ser um reduto republicano, não faltam analistas na imprensa internacional a prever que a grande comoção destas eleições será ali. E de Houston pode vir um problema para Trump.
Vermelho ou azul? Nesta roleta não há números, há estados. Flórida, Pensilvânia, Ohio, Michigan, Geórgia, Carolina do Norte, Arizona, Wisconsin e Iowa. Faça a sua aposta para esta noite.
Flórida
A rainha da oscilação
Vale 29 votos
Sondagens dão empate | Em 2016 venceu Trump
Ninguém dança o swing como o estado da Flórida: vitória republicana, democrata, democrata, republicana, republicana, democrata, republicana, republicana. Andando de 2016 até 1988, assim tem sido desenhado o padrão, ora azul, ora vermelho, num estado crucial para garantir a vitória em quaisquer presidenciais norte-americanas. Nessa linha cronológica, a paragem no ano 2000 é obrigatória: a luta entre Al Gore e George W. Bush obrigou a uma recontagem de votos naquele estado e terminou no Supremo Tribunal, cinco semanas depois de os americanos terem votado. Foram os juízes que decidiram que a Flórida, e a Casa Branca, iam para Bush filho. De 1988 até 2016, a regra só teve uma exceção: em 1992, a Flórida foi arrebatada por George HW Bush (pai), mas a presidência foi para Bill Clinton. De resto, o vencedor da Flórida acabou sempre na Casa Branca.
Com um grande eleitorado de origem latina, muitos deles descendentes de cubanos e venezuelanos, a Flórida tem também uma alta população de idosos, atualmente a segunda maior do país. Trump tem tentado apelar aos latinos, Biden aos mais velhos e, por agora, as sondagens apontam para um empate. Flórida (29 votos), tal como a Pensilvânia (20 votos), são um campo de batalha fundamental, já que uma vitória em ambos é meio caminho andado para chegar aos almejados 270 votos do Colégio Eleitoral.
Pensilvânia
A importância de se votar nos subúrbios de Filadélfia
Vale 20 votos
Sondagens dão vantagem a Biden | Em 2016 venceu Trump
Se tudo o resto falhar, há sempre os 20 votos da Pensilvânia que, nestas eleições, podem ter um papel crucial. Há mesmo analistas norte-americanos que suspeitam que este estado possa tornar-se na versão 202o da Flórida dos anos 2000 — o Supremo Tribunal dos EUA deixou seguir em frente a decisão do Supremo da Pensilvânia e os votos por correspondência podem ser recebidos até 3 dias depois da eleição. No entanto, isto não quer dizer que o Supremo Tribunal — que, com a nomeação de Amy Coney Barrett, passou a ter 6 juízes conservadores contra 3 liberais — não queira retomar o assunto depois das eleições.
Para os resultados, os votos dos subúrbios serão fundamentais e Biden aposta tudo na classe trabalhadora branca, de baixas qualificações, que há quatro anos entregou os votos a Trump, colocando um ponto final em seis vitórias consecutivas dos democratas. A aposta de Trump será nos eleitores das zonas rurais, fortemente conservadoras.
Ohio
O Estado que nunca falha
Vale 18 votos
Sondagens dão empate | Em 2016 venceu Trump
Republicano que perde Ohio não ganha a presidência. A regra tem sido essa num estado que tende mais vezes para o vermelho do que para o azul. Apesar disso, Obama conquistou-o nos seus dois mandatos e, antes dele, Bill Clinton alcançou o mesmo feito. Ohio é ainda o Estado que acerta sempre: há 76 anos, desde 1944, que aquele grupo de eleitores escolhe o candidato que acaba na Casa Branca. Exceção à regra? 1960, ano em que Ohio apostou em Richard Nixon, mas foi John F. Kennedy quem se tornou no 44.º presidente dos EUA.
Nestas eleições, o piscar de olhos à classe trabalhadora é fundamental, já que são os indecisos por excelência — aqueles que elegeram Obama e, quatro anos depois, preferiram Trump a Hillary Clinton. Por ali, sabe-se também que o eleitorado feminino deixou de preferir o atual presidente norte-americano.
Michigan
Mais emprego é igual a mais votos
Vale 16 votos
Sondagens dão vantagem a Biden | Em 2016 venceu Trump
Em 2016, o apelo aos eleitores brancos da classe trabalhadora e a promessa de empregos deu resultados e Donald Trump teve uma vitória inesperada no Michigan, ganhando a Clinton por uns escassos 0,23%, a mais fina margem na história das presidenciais daquele estado. Biden tem como objetivo recuperar os votos de um eleitorado tradicionalmente democrata, contando também com o apoio dos afro-americanos de Detroit.
Porém, o aumento de emprego nos dias pré-pandemia pode levar alguns operários a manterem-se fiéis ao Presidente.
Geórgia
Aqui, os democratas têm um sonho
Vale 16 votos
Sondagens dão empate | Em 2016 venceu Trump
A esperança é a última a morrer e Biden chamou a si a missão de converter alguns estados republicanos em democratas. A sul, os seus olhos estão postos na Geórgia, um velho sonho do Partido Democrata, apostando forte no eleitorado urbano de Atlanta e não se esquecendo da população mais velha do litoral. Já o eleitorado da zona rural dificilmente será convertido.
Para além disso, há uma classe média negra em forte crescimento que prefere apostar no azul. Se Biden conseguir os 16 votos, será um feito importante, já que, desde 1992, com Bill Clinton, nenhum democrata ganhou uma corrida presidencial na Geórgia.
Carolina do Norte
Eleitores são uma imprevisível manta de retalhos
Vale 15 votos
Sondagens dão empate | Em 2016 venceu Trump
Há eleitores de zonas rurais, de zonas urbanas, há suburbanos e jovens millennials que frequentam universidades. E há eleitores afro-americanos e muita diversidade étnica entre os norte-americanos que vão votar nesta terça-feira. É um dos estados que será uma caixa mistério nestas eleições e onde as sondagens apontam para um empate técnico, muito embora seja, tradicionalmente, terreno fértil para os republicanos.
Se Trump não repetir a vitória de 2016, pode estar em apuros.
Arizona
A memória de McCain pode dar votos aos liberais
Vale 11 votos
Sondagens dão vantagem a Biden | Em 2016 venceu Trump
Perder o Arizona seria outro duro golpe para as pretensões de Trump. Há décadas que é um estado vermelho, mas o eleitorado está a mudar, com um peso crescente da comunidade latina e uma presença forte de liberais vindos do estado vizinho, a Califórnia.
Se o muro na fronteira com o México pode ajudar Trump a manter os mais conservadores consigo, a forma como denegriu repetidamente a memória do falecido senador John McCain, um conservador, pode custar-lhe votos. Para já, a viúva de McCain apoiou Biden e ele acredita ser possível alterar o padrão de cinco vitórias republicanas consecutivas.
Wisconsin
Não o tomem como garantido
Vale 10 votos
Sondagens dão vantagem a Biden | Em 2016 venceu Trump
Hillary Clinton tomou-o como garantido e pagou o preço. Em 2016, a democrata não fez campanha no Wisconsin e Trump venceu num estado onde nenhum republicano ganhava desde Ronald Reagan, em 1984.
Desta vez, é quase certo que Trump dominará as grandes áreas rurais, enquanto Biden aponta a mira a Milwaukee, a cidade mais populosa do estado, aos seus subúrbios industriais e à cidade universitária de Madison. Outro ponto que será importante para Biden é o eleitorado de Kenosha, cidade onde se multiplicaram os protestos depois da morte de Jacob Blake, afro-americano baleado pela polícia.
Iowa
Todos os grãos de milho contam
Vale 6 votos
Entre os rios Missouri e Mississippi, encontra-se o Iowa, um estado rural cheio de milheirais, pouco populoso e que vale apenas 6 votos no colégio eleitoral. Em 2016, Trump venceu com uma margem de 9 pontos e seria de esperar que estivesse seguro. Não está. As últimas sondagens apontam para um empate, depois de os agricultores terem sofrido na pele o impacto da guerra comercial do Presidente com a China.
A passagem da Covid-19 pelo estado também não ajudou à popularidade do republicano.