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O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno (R), durante a apresentação do relatório do conselho de administração de Aividade e Contas relativo a 2020, na Nave do Museu do Dinheiro do BdP, em Lisboa, 13 de maio de 2021. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
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MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Economia a crescer 4,8%? Consumo, poupança e exportações explicam, mas pandemia ainda é risco

No dia em que Portugal registou mais 1.350 casos de Covid-19, Mário Centeno admitiu riscos de "retrocesso" mas mostrou-se muito mais otimista sobre a retoma. PIB vai crescer 4,8% em 2021, prevê o BdP.

Um regresso em força do consumo das famílias, um investimento público suportado nos fundos europeus e um “salto” de dois dígitos nas exportações. Mário Centeno e o Banco de Portugal deram esta quarta-feira uma injeção de otimismo em relação à retoma económica em Portugal, com uma dupla (e expressiva) revisão em alta das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) – a economia este ano vai crescer 4,8%, quase mais um ponto percentual do que se previa antes, e em 2022 o PIB vai aumentar mais 5,6%. Previsões demasiado otimistas, tendo em conta o agravamento da pandemia nas últimas semanas? Pelo contrário, (pelo menos a prazo) estas previsões têm maior risco de pecarem por defeito do que por excesso.

A poucas horas de a DGS indicar que nas últimas 24h foram detetados em Portugal 1.350 novos casos de Covid-19 (a contagem mais elevada desde fevereiro, pico da pandemia), na baixa lisboeta, sede do Banco de Portugal, vivia-se num universo paralelo. Mário Centeno apareceu numa conferência de imprensa do Banco de Portugal para anunciar que o PIB não vai crescer 3,9% este ano mas, sim, 4,8%. E, depois, mais uma aceleração em 2022: 5,6%. O governador reconhece que há sempre risco de “retrocessos” na crise pandémica, mas fica claro que, aos olhos do supervisor bancário, o impacto do novo coronavírus na economia está, cada vez mais, no retrovisor.

Questionado pelo Observador, na conferência de imprensa, para a apresentação do Boletim Económico de junho, Mário Centeno foi tímido na análise aos potenciais riscos negativos para uma projeção de crescimento tão mais otimista, a que foi divulgada esta quarta-feira. “É verdade que estas previsões têm subjacente um controlo da pandemia, que decorre dos cenários disponíveis quer em Portugal quer na Europa, sobre o processo de vacinação, sobre as curvas epidemiológicas”, começou por afirmar o ex-ministro das Finanças, antes de reconhecer: “Retrocessos nessa dimensão obviamente gerariam outras avaliações do ponto de vista da projeção”.

Economia vai crescer (muito) mais do que o previsto: 4,8% em 2021, diz Banco de Portugal. E pode crescer ainda mais

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A pergunta era se o Banco de Portugal já calculou qual pode ser o impacto na economia de um eventual recrudescimento da pandemia que leve à imposição de novas medidas de confinamento, sejam elas decretadas a nível nacional ou apenas nas áreas mais afetadas. Afinal de contas, o Banco de Portugal fez isso mesmo em junho de 2020, no primeiro desconfinamento – na altura, o Banco de Portugal indicou que se no outono/inverno seguintes houvesse uma “segunda vaga”, o PIB poderia cair até 13% nesse ano.

Fonte: Banco de Portugal

Acabou por não ser assim: a segunda vaga confirmou-se – e foi pior do que a primeira – mas o desempenho surpreendentemente robusto da economia no verão e início do outono acabou por sustentar a prestação do PIB no cálculo anual, com o indicador de criação de riqueza a baixar 7,6% em 2020. Seja como for, se o Banco de Portugal tem nesta altura cálculos semelhantes produzidos, Mário Centeno não o confirmou – e, aliás, sublinhou que não se deve “tomar o todo pela parte” e focar em demasia nos setores mais penalizados porque esses, embora sejam muito “visíveis” e devam ser apoiados, não refletem aquilo que é a atividade económica global. O impacto destes setores existe mas é “contido”, afirmou Mário Centeno, nos últimos momentos da conferência de imprensa.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, intervém durante a apresentação do Boletim Económico de dezembro, que inclui projeções para a evolução da economia portuguesa no período 2020 a 2023, na sede em Lisboa, 14 de dezembro de 2020. TIAGO PETINGA/POOL/LUSA

Mário Centeno não revelou se o Banco de Portugal tem previsões para um eventual agravamento da pandemia no país.

TIAGO PETINGA/LUSA

“Claro que todas as questões que possam acontecer sobre a evolução da pandemia – e as incertezas continuam a existirterão um efeito em sentido contrário nessa previsão” de um crescimento de 4,8%, afirmou Centeno. Mas o governador do Banco de Portugal estava determinado em manter o tom otimista da conferência de imprensa e foi mais longe: quando se pergunta se há maiores riscos de que esta nova projeção supere as expectativas ou saia furada, a posição do Banco de Portugal é que, a falharem as previsões, mais provável é que pequem por defeito, ou seja, a economia pode crescer ainda mais do que agora foi previsto.

Os mais ricos pouparam mais. E essa poupança vai impulsionar a economia

Também sobre isto, o governador do Banco de Portugal foi questionado pelo Observador. Centeno sublinhou que quando se diz que “os riscos são enviesados em alta estamos a falar de todo o horizonte“, ou seja, não necessariamente só em 2021 mas, também, em 2022 e 2023. O crescimento até pode ser um pouco menor em 2021, do que se prevê, mas na análise global a este período de três anos, o mais provável é que a atividade económica seja ainda mais robusta do que se pensa agora, argumentou o ex-ministro das Finanças.

E porquê? Isso “tem muito a ver com um fator que eu referi e que pode afetar positivamente a evolução da atividade económica que é a poupança acumulada ao longo deste período”. Trata-se de poupança feita por “motivo de precaução” e por razões ligadas ao “contexto de incerteza, resultou de uma poupança involuntária associada ao confinamento”. O indicador da taxa de poupança, cronicamente baixo em Portugal, saltou para 18,8% no segundo trimestre de 2020 “e, após uma moderação na segunda metade do ano, terá voltado a subir com o novo confinamento no início de 2021”.

O Banco de Portugal calcula que sejam cerca de 17,5 mil milhões de euros em poupança acrescida promovida pela pandemia (até 2023) que os portugueses podem, de forma mais ou menos gradual, injetar na economia através do consumo. Porém, o Banco de Portugal salienta que foram os mais ricos que conseguiram poupar mais nesta crise, quando o supervisor faz alusão às “caraterísticas dos principais aforradores – de rendimentos mais elevados e com menor propensão ao consumo”.

"Claro que todas as questões que possam acontecer sobre a evolução da pandemia – e as incertezas continuam a existir – terão um efeito em sentido contrário nessa previsão"
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal

Para já, porém, a principal mensagem que o Banco de Portugal quis passar é: se antes se previa um regresso do PIB ao ritmo pré-Covid na segunda metade de 2022, agora esse momento foi antecipado para o início desse ano. A projeção do supervisor torna-se mais otimista do que, por exemplo, a da Comissão Europeia (3,9% em 2021, estimados em maio) mas Mário Centeno sublinhou que o Banco de Portugal tem acesso a dados mais atualizados – como o chamado indicador diário de atividade – que demonstra que houve uma “reação mais rápida do que esperado ao levantamento das restrições a partir de março“.

Economia (como um todo) volta aos níveis pré-pandemia mais cedo

Essa é a principal razão para esta projeção revista favoravelmente. A expectativa do Banco de Portugal é que o consumo privado irá crescer 3,3% em 2021 e em 2022 o aumento será ainda mais veloz: 4,9%, “ano em que retoma os níveis pré-pandémicos”, antecipa o regulador. Quando ao investimento, outro indicador crucial para o cálculo do PIB, este deverá ter um crescimento médio anual de 7% neste período de projeções do Banco de Portugal (entre 2021 e 2023).

A componente empresarial deverá crescer 6,4% em média anual, suportada pelas condições financeiras favoráveis, pelos fundos europeus, pela recuperação da procura e pela gradual redução da incerteza. O investimento público apresenta um crescimento mais elevado, cerca de 20% em média, refletindo a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência, que representa cerca de 30% do investimento público previsto em 2022-23″, antevê o Banco de Portugal.

No boletim económico, pode ler-se que o contributo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), formalmente aprovado esta quarta-feira, “é particularmente significativo de 2022 em diante, representando cerca de 30% do investimento público previsto em 2022-23. Mas já em 2021 o consumo público, ou investimento público, irá disparar 4,9%, quando em março se apontava para apenas 3,7%.

Centeno avisa. Mudanças na lei laboral podem prejudicar a retoma (e impostos devem ter “redução gradual”)

Por outro lado, há um impacto positivo que é previsto para as exportações, sobretudo as de bens. “As exportações só retomam o nível pré-crise em meados de 2022, devido à recuperação mais gradual dos serviços”, diz o Banco de Portugal, salientando, porém, que as exportações de bens “já ultrapassaram esse nível no segundo semestre de 2020“.

As exportações de bens já regressaram aos níveis pré-pandemia e vão continuar a suportar a economia. A história é diferente nos serviços, isto é, no turismo.

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Se as exportações de bens terão, prevê o supervisor, um crescimento de cerca de 14% em 2021-22 (e de 4,8% em 2023), “a recuperação das exportações de serviços [essencialmente, o turismo] será mais lenta“. O Banco de Portugal nota que “as exportações de serviços se situavam cerca de 50% abaixo do valor pré- -pandémico no primeiro trimestre de 2021” e que mesmo “com a recuperação muito significativa projetada para o segundo semestre, estas exportações devem fixar-se em cerca de 30% do nível de 2019 no conjunto do ano de 2021”. Nesta matéria nem em 2023, final do horizonte de projeção, se regressará aos níveis pré-pandemia, diz o Banco de Portugal.

Abel Mateus: “Estamos a ver a confirmação da recuperação em V”

Apesar de a projeção do Banco de Portugal para o crescimento económico ter dado um “salto” de quase um ponto percentual, relativamente a 2021, os economistas não consideram que existe um otimismo excessivo por parte de Mário Centeno.

O economista Abel Mateus diz, em conversa com o Observador, que não foi surpreendido pela revisão em alta – até porque o ministro das Finanças, João Leão, já tinha adiantado que aí viriam boas notícias nesta frente. Além disso, diz o economista, o Banco de Portugal estará a fazer esta projeção mais otimista porque tem acesso a informação atualizada. “O chamado indicador diário da atividade económica, calculado pelo Banco de Portugal, tem estado a um nível de 10, o que quer dizer que há um crescimento acentuado agora, uma forte recuperação no segundo trimestre”, diz Abel Mateus.

"O chamado indicador diário da atividade económica, calculado pelo Banco de Portugal, tem estado a um nível de 10, o que quer dizer que há um crescimento acentuado agora, uma forte recuperação no segundo trimestre"
Abel Mateus, economista

Estamos a ver a confirmação da recuperação em V“, aponta o economista, salientando, porém, dois fatores: o “efeito-base” pelo facto de “a economia ter batido muito fundo no ano passado, pelo que qualquer regresso à normalidade é sempre um número impressivo”. Por outro lado, há que lembrar que “tudo é relativo” e quando se olha para outros países europeus a tendência é a mesma – ainda mais nos EUA, onde a economia já está a ter um crescimento muito veloz.

Porém, no que a Portugal diz respeito, Abel Mateus tenta refrear os ânimos. “Para Portugal, na medida em que direta ou indiretamente o turismo pesa cerca de 20% na economia, as exportações de serviços serão um peso importante. E, aí, “é muito difícil prever o que vai acontecer até ao fim do ano porque o Verão, como estamos a ver, está a ser fraco em termos de turismo estrangeiro”.

"Estamos a ver a confirmação da recuperação em V", afirma o economista Abel Mateus.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O dado que falta é a evolução da pandemia, quer lá fora quer cá dentro. O facto de os grupos mais vulneráveis estarem com a vacinação já adiantada dá alguma confiança ao economista, mas as notícias sobre novos confinamentos em alguns países da Europa e as notícias sobre as novas variantes do vírus são algo que “preocupa, evidentemente“.

“O que verificámos é que no terceiro trimestre do ano passado estava a correr bastante bem e depois o quarto trimestre e sobretudo o primeiro trimestre de 2021 foram muito negativos”, recorda Abel Mateus, salientando que “se houver um recrudescimento do contágio, o que é importante é evitar os lockdowns [os confinamentos] porque os lockdowns é que não deixam o PIB crescer“.

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