Foi no passado dia 28 de novembro que o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) recebeu a Jornada “Energia eólica offshore, as oportunidades da economia azul”. A conferência reuniu mais de 330 convidados, bem como líderes e especialistas para debater o impacto e as oportunidades da energia eólica offshore em Portugal.
A abertura do evento ficou a cargo de Joaquim Reis, Diretor da Fundação Repsol em Portugal, que começou por lembrar o período de grande transformação que estamos a viver e a necessidade de implementar energias renováveis. Para a Fundação Repsol, é aqui que Portugal e Espanha se podem desenvolver e mostrar todo o seu potencial. Joaquim Reis terminou dizendo que “a colaboração entre todos os setores será a chave para enfrentarmos os desafios que temos pela frente, de forma a garantir um futuro mais sustentável, seguro e inclusivo, sem deixar ninguém para trás”.
De seguida, Ana Sofia Rodrigues, Vice-Presidente do IPVC, referiu que os agentes locais das empresas e de outras organizações ligadas à economia azul devem identificar como fundamental a capacitação das suas pessoas para estas áreas. Mas, para a Vice-Presidente, há um desafio ainda maior: “pensar como podemos envolver os jovens”.
Por fim, Pedro Amaral Jorge, Presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) referiu que juntar o setor empresarial com a academia e os institutos tecnológicos é fundamental, já que só assim é possível criar tecnologias e inovações. O Presidente da APREN afirmou, ainda, que é imperativo que se aumente o conhecimento para conseguirmos cruzar a próxima fronteira de desenvolvimento socioeconómico: a economia azul.
A energia eólica offshore: planos e projetos em desenvolvimento
Durante a Jornada, os convidados puderam assistir a cinco apresentações, que deram a conhecer planos e projetos inovadores relacionados com a energia eólica offshore.
Na primeira apresentação do dia, José Carlos Simão, Diretor-Geral da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) afirmou que a energia eólica offshore flutuante é central no plano nacional para a transição energética e apresentou as áreas criadas para a implementação de projetos. O objetivo é que estas áreas permitam atingir os 10GW de potência instalada.
De seguida, Henrique Teixeira, Investigador no Centro de Sistemas de Energia (CPES) do Instituto de Sistemas e Computadores – Tecnologia e Ciência (INESC TEC), apresentou os resultados de um estudo que avaliou soluções e o impacto de ligar os parques eólicos offshore à rede nacional de transporte.
O estudo avaliou diferentes cenários, em 2030, 2035 e 2040, onde se verificou a eficácia dos reforços na rede e a existência de problemas. Em condições normais de operação, como referiu Henrique Teixeira, prevê-se a existência de sobrecargas apenas no cenário de 2040. Ou seja, caso a rede inclua os investimentos já previstos, não haverá necessidade de reforços em 2030 e 2035.
Daniel Ribeiro, Gestor de ativos offshore da Ocean Winds, apresentou o projeto WindFloat Atlantic que tem a Repsol como parceiro. O projeto começou a funcionar em 2020 e pretende-se que opere durante 25 anos. Como referiu Daniel Ribeiro, o WindFloat Atlantic produz cerca de 340GW/h de energia, o suficiente para alimentar a cidade de Viana do Castelo (cerca de 25 mil casas) durante um ano inteiro, e permite poupar 33 mil toneladas de CO2 por ano. O objetivo deste projeto, bem como de outros semelhantes, é que permitam avançar para uma fase comercial de maior escala.
David Rodés, CDO da Ocean Ecostructures, deu conta da tecnologia criada pela empresa que replica o funcionamento de um recife natural, permitindo restaurar a biodiversidade e os ecossistemas dos oceanos em infraestruturas marinhas. De acordo com David Rodés, as soluções da empresa “são versáteis, escaláveis e flexíveis e podem ser usadas em portos ou nas estruturas offshore”. São soluções de renaturalização que oferecem benefícios tangíveis, como a mitigação do impacto ambiental, a poupança de custos e a valorização dos serviços ecossistémicos restaurados. O objetivo da Ocean Ecostructures é restaurar 20 mil espaços marinhos até 2030.
Por fim, Vicente Díaz Casás, investigador responsável do projeto AOWINDE na Universidade da Corunha, deu a conhecer o Atlantic Offshore Wind Energy. Este projeto, que é um plano de apoio industrial para melhorar a cadeia de valor vinculada à energia eólica marinha da Galiza e norte de Portugal, nasceu pela “necessidade de mudança do modelo energético”. Como referiu Vicente Díaz Casás, o projeto centra-se, principalmente, em desenvolver campanhas de sensibilização para valorizar os parques eólicos, no apoio à indústria, pondo à disposição ferramentas de desenvolvimento tecnológico, na criação do roteiro transfronteiriço e no desenho da cadeia de valor.
Os desafios tecnológicos da energia eólica offshore
A primeira mesa redonda desta Jornada contou com a participação de José Carlos Simão, Diretor-Geral da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Jonathan Cabrero, Global Head of EPCI Offshore Wind na Repsol Renewables, Ana Andrade, investigadora na Divisão de Estudos, Investigação e Renováveis, da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), Jorge Delgado, coordenador da equipa designada para constituir o Centro de Tecnologia e Inovação em Energias e Tecnologias Oceânicas (Sustemare) e Inês Machado, coordenadora da Equipa de Ambiente Marinho e Licenciamento, no WavEC – Offshore Renewables.
Para José Carlos Simão, os principais desafios da energia eólica offshore passam pela aprovação das áreas de implementação de projetos e pela realização de concursos equilibrados que tragam o máximo de benefícios para Portugal e adesão ao mercado. Inês Machado concordou e acrescentou, ainda, que é necessário que as instituições portuguesas se adaptem para agilizar os processos de aquisição de conhecimento.
Já Jonathan Cabrero, referiu que existem desafios tecnológicos à energia eólica offshore e disse que é necessário revolucionar a tecnologia. O Global Head of EPCI Offshore Wind da Repsol Renewables referiu que há muitos campos que precisam de ser trabalhados, mas que esta é uma grande oportunidade para Portugal e Espanha trabalharem em conjunto.
Ana Andrade afirmou que o leilão de 2GW de potência instalada é uma medida que vai impulsionar o setor em Portugal e que motivará um elevado investimento. Até 2030, o objetivo é atingir esses 2GW, mas a investigadora da DGEG referiu que já existem manifestações de interesse de pelo menos 10GW, valor que está no horizonte dos planos nacionais.
Para Jorge Delgado, os principais desafios prendem-se com a necessidade de mostrar que o investimento na energia eólica offshore vale a pena e de criar mais infraestruturas tecnológicas que unam a academia e as empresas.
A indústria e as infraestruturas como impulsionadoras da energia eólica offshore
O segundo painel do dia teve como convidados Tiago Palma Veigas, Head of Country Vestas Portugal, Marie Foucault, Diretora de Projetos Offshore na Europa, da EDF Renewables, Luís Machado, Diretor Executivo da Etermar Energia e ainda Alexandra Pinto, consultora no Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI).
Tiago Palma Veigas referiu que, além da sustentabilidade e responsabilidade ambiental, é preciso considerar ainda a vertente financeira, já que, para o Diretor da Vestas Portugal, a sustentabilidade também está dependente da robustez da tecnologia. No offshore, acrescenta Tiago Palma Veigas, esse é um desafio ainda maior, uma vez que os custos no mar são acrescidos.
Para Marie Foucault, é essencial que se dê visibilidade à energia eólica offshore e que haja uma política clara, para que os fornecedores possam investir. Já Luís Machado alertou para a necessidade de se continuar a formar trabalhadores especialistas nesta área e de atrair mais indústrias para os portos.
De acordo com Alexandra Pinto, os maiores desafios são a incerteza tecnológica e a procura por soluções com maior capacidade. Ainda assim, a consultora do INEGI refere que os objetivos nacionais são ambiciosos em termos de cadeia de abastecimento, mas recorda que a que já existe ainda é muito residual. Para Alexandra Pinto é necessário haver investimento e isso só acontece se existir visibilidade.
As novas oportunidades de emprego que a economia azul vai trazer
A mesa redonda dedicada às oportunidades de emprego contou com a participação de Álvaro Sardinha, CEO e Fundador do Centro de Competências em Economia Azul (CCEA), Clara de Moura Santos, Vice-Presidente Operations & Maintenance na Principle Power, Diogo Moreira, responsável pela gestão de projetos e tecnologia do Instituto Politécnico de Viana do Castelo e pelo Programa “IPVC OCEAN” e Cynthia Zurita, gestora de Projetos Eólicos no sul da Europa, Médio Oriente e América Latina na DNV e Membro da Future Energy Leaders Portugal – FELPT.
Durante este painel, os convidados abordaram o tipo de empregos e as oportunidades que a economia azul e a energia eólica offshore podem criar. Para Álvaro Sardinha, as carreiras nesta área são gratificantes, porque são sempre de âmbito internacional, bem como desafiantes. De acordo com o CEO do CCEA, prevê-se que as eólicas offshore criem cerca de 14 mil empregos em Portugal.
Clara de Moura Santos considerou que a multidisciplinariedade é fundamental e, por isso, esta área precisa de pessoas com várias competências diferentes. Diogo Moreira concordou e referiu que os recursos humanos estão na base de tudo. Por isso, é preciso identificar os perfis de formação necessários para que se possa desenvolver ofertas formativas especializadas. Cynthia Zurita abordou, também, a necessidade de se ter diversidade de profissões e faixas etárias nesta área e disse que é preciso aproveitar as competências técnicas de outros setores.
A visão dos portos do litoral atlântico
A última mesa-redonda do dia dedicou-se ao ponto de vista dos portos e contou com as intervenções de Hugo Lopes, Diretor de Desenvolvimento e Sustentabilidade da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, SA (APDL), Martín Fernández Prado, Presidente da Autoridade Portuária da Corunha, Eduardo Feio, Presidente da Administração do Porto de Aveiro (APA) e Pedro Ponte, Diretor de Equipamento, Infraestruturas e Ambiente da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS).
Para Hugo Lopes, será fundamental capacitar os portos para responder de forma adequada ao desafio da energia eólica offshore. No entanto, é necessário perceber quais são as valências de cada porto, para que possam ser trabalhadas. Martín Fernández Prado voltou a reforçar a oportunidade que Portugal e Espanha têm para trabalhar juntos, já que só assim se poderá dar resposta à procura.
Eduardo Feio referiu a necessidade de se apostar na energia eólica offshore flutuante na Europa para se alcançar a independência energética e Pedro Ponte disse que os portos precisam de espaço, condições, empresas e pessoas capacitadas para conseguirem ter um ecossistema mais competitivo.
Os desafios para o futuro
O encerramento da Jornada ficou a cargo de Pablo Fernández, Diretor Geral de Planificação Energética e Minas da Junta da Galiza, que afirmou que Portugal e Espanha caracterizam-se por uma plataforma continental muito especial. Por isso, os dois países devem desenvolver a energia eólica offshore flutuante e, ainda que esses projetos tragam bastantes desafios, também representam uma oportunidade importante.
Luís Nobre, Presidente da Câmara de Viana do Castelo e Presidente do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular, também participou da cerimónia de encerramento, referindo a importância que o tema da energia eólica offshore tem, não só para a região, mas também para o país e para a Península Ibérica. O Presidente da Câmara concluiu dizendo que, para o município, a economia do mar é crucial e é um desafio coletivo, sendo necessário haver uma discussão entre todos os interessados.