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Uma pessoa morreu e 30 ficaram feridas durante voo entre Londres e Singapura
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Uma pessoa morreu e 30 ficaram feridas durante voo entre Londres e Singapura

EPA

Uma pessoa morreu e 30 ficaram feridas durante voo entre Londres e Singapura

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Episódios com turbulência cresceram 55% em 40 anos. Mas caso do Boeing 777 foi fenómeno "totalmente imprevisível"

A chamada turbulência de ar limpo terá sido a causa do incidente durante o voo entre Londres e Singapura. Nestas situações, pilotos e passageiros "são apanhados de surpresa".

O voo SQ321, entre Londres e Singapura, já tinha entrado na décima hora de viagem esta terça-feira e nada fazia prever problemas. A luz de alerta para colocar os cintos de segurança há muito que tinha sido desligada e havia, por isso, quem circulasse livremente pelos corredores. O choque foi grande entre passageiros e tripulantes quando uma “turbulência severa” começou a fazer “tremer e inclinar” o avião da Singapore Airlines, um incidente que acabou por provocou a morte de um homem britânico de 73 anos — possivelmente por ataque cardíaco — e 30 feridos, dos quais seis com gravidade.

“Durante os poucos segundos em que o avião caiu houve uma gritaria terrível e o que pareceu ser um baque”, diz um dos passageiros. A companhia aérea explicou esta terça-feira que o aparelho perdeu 1.200 metros de altitude num minuto. “Vi objetos espalhados por todo o lado e muitos membros da tripulação feridos”, relatou em declarações à imprensa internacional outros dos 211 passageiros que seguiam a bordo de um modelo 777 da Boeing com 16 anos. Para já, há ainda muitas questões por responder sobre o incidente de turbulência, uma raridade na aviação pela morte de um passageiro.

Questionado pelo Observador sobre o caso, a Singapore Airlines remete para os comunicados disponibilizados nas redes sociais, em que diz estar a trabalhar com as autoridades para investigar o incidente. Já a Boeing remete esclarecimentos para a companhia aérea e para as autoridades locais de Bangkok, onde o avião aterrou de emergência. “Estamos em contacto com a Singapore Airlines sobre o voo SQ321 e estamos preparados para os apoiar. Estendemos as nossas sinceras condolências à família que perdeu um ente querido. Os nossos pensamentos estão com os passageiros e a tripulação”, referem numa resposta escrita ao Observador.

Os episódios de turbulência têm vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, segundo concluíram várias investigações. A duração total anual de turbulência severa aumentou 55%, de 17,7 horas em 1979 para 27,4 horas em 2020, segundo um estudo publicado no ano passado. Mas, afinal, o que provoca e como é detetada a turbulência? É imprevisível ou pode ser evitada?

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O que provoca a turbulência? É possível prevê-la?

De modo simples, a turbulência é um movimento instável do ar. Há essencialmente dois mecanismos que a produzem: fluxos de calor muito acentuados e mudanças muito rápidas na velocidade e direção do vento, diz ao Observador o climatologista Pedro Miranda, investigador do Instituto Dom Luiz. No caso do voo da Singapore Airlines, o aparelho foi afetado por “turbulência severa”, o terceiro grau mais elevado de uma escala de quatro (leve, moderada, severa, extrema), segundo uma classificação dos serviços meteorológicos dos Estados Unidos.

“[A turbulência de ar limpo] é totalmente imprevisível. Não se pode prever, não aparece em lado nenhum. Pilotos e passageiros são apanhados de surpresa.”
José Correia Guedes, antigo piloto da TAP

O comandante José Correia Guedes, antigo piloto da TAP, explica que durante um voo há três formas de turbulência que podem causar problemas: a turbulência térmica, orográfica e de ar limpo. A primeira acontece quando temos a formação de nuvens muito altas e cheias de energia e de correntes verticais, explicou no programa Resposta Pronta, da Rádio Observador. “Essa turbulência pode ser evitada porque aparece nos radares meteorológicos dos aviões. Nós conseguimos detetar as zonas de maior turbulência e evitá-las”, refere.

O segundo tipo ocorre na proximidade de montanhas. Isto porque, tal como as ondas do mar que rebentam numa praia, o ar também forma ondas quando encontra montanhas. A forma mais problemática é a chamada turbulência de ar limpo (clear-air turbulence, CAT na sigla em inglês), que acontece quando as aeronaves encontram ventos fortes e secos em voo a altitudes de cruzeiro. “Essa é totalmente imprevisível. Não se pode prever, não aparece em lado nenhum. Pilotos e passageiros são apanhados de surpresa. Acredito que tenha sido isso que aconteceu”, aponta.

Imagens mostram o local aproximado onde a turbulência foi sentida pelo avião

Nos casos de turbulência, explica o piloto Bruno Torcato, não há muito a fazer sem ser reduzir a velocidade do avião para a aconselhada pelo fabricante em caso de turbulência, avisar os passageiros para colocar de imediato os cintos e garantir que a cabine está o mais limpa e segura possível.

Há vários sites que já dão conta das previsões de turbulência que podem ser consultados pelos passageiros para o percurso dos seus voos. É o caso do Turbli ou o Aviation Herald, que já partilharam detalhes sobre o incidente do SQ321 e mapas sobre a posição aproximada em que o avião foi afetado por turbulência.

É comum haver feridos ou mortos em voos afetados por turbulência?

Não é muito frequente, mas acontece, diz o comandante José Correia Guedes. A título de exemplo, podemos olhar para o caso dos Estados Unidos. Entre 2009 e 2022, 163 pessoas (34 passageiros e 129 tripulantes) ficaram feridos com gravidade em episódios de turbulência durante voos, segundo dados da Administração Federal da Aviação norte-americana.

Há dois anos, 36 pessoas ficaram feridas num voo da Hawaiian Airlines depois de um episódio de turbulência severa num voo entre Phoenix e Honolulu. No total, 20 pessoas tiveram de receber assistência médica. Já em março do ano passado, um novo incidente provocado por turbulência severa acabou por provocar a morte de uma pessoa durante uma viagem de um avião privado entre New Hampshire e Virgínia.

Entre as lesões mais comuns durante estes incidentes contam-se lacerações, ossos partidos, ferimentos na cabeça, por vezes com perda de consciência. Também há casos de lesões no pescoço e nas costas. A principal causa? Não utilizar cinto de segurança durante a viagem.

Em declarações à agência Reuters, um passageiro que seguia no voo da Singapore Airlines relatou que esse foi o principal problema quando se sentiu o impacto da turbulência. “O avião começou a inclinar-se e a tremer. Comecei a preparar-me para o que estava a acontecer e, de repente, houve uma queda súbita e todos os que estavam sentados sem cinto de segurança foram lançados imediatamente contra o teto“, descreveu Dzafran Azmir à agência.

Mas é mesmo preciso usar o cinto em todo o voo?

É certo que o uso de cinto só é obrigatório em alguns momentos dos voos, desde logo a descolagem e a aterragem. No entanto, muitos aconselham o uso do cinto em permanência durante toda a viagem. “Sempre que estejam sentados, e mesmo que não haja turbulência, recomendamos absolutamente aos passageiros que mantenham os cintos apertados”, sublinha José Correia Guedes.

"Todos os que estavam sentados sem cinto de segurança foram lançados imediatamente contra o teto.“
Passageiro do voo da Singapore Airlines

“Às vezes os passageiros dizem que caíram 100, 200, 300 metros. Não é verdade. O avião caiu uma dezena de metros, mas a aceleração vertical é de tal forma brutal que pode mandar os passageiros de encontro ao teto do avião, e aí uma pessoa pode até partir o pescoço”, acrescenta.

Os aviões podem ficar danificados?

É raro. Isto porque, explica ao Observador o piloto Bruno Torcato, os aparelhos “estão muito bem preparados em termos estruturais”. “Não diria impossível, porque não é impossível, mas hoje em dia é muito difícil a turbulência provocar danos graves num avião”, aponta.

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Os aviões estão "muito bem preparados" em termos estruturais e é raro ficarem danificados devido a turbulência

NurPhoto via Getty Images

“Os danos que podem ocorrer são os provocados por objetos soltos dentro da cabine do avião. Os testes a aviões que são fabricados hoje em dia levam a limites estruturais muito grandes, muito para além daquilo a que normalmente estamos habituados e que enfrentamos no dia a dia”, esclarece.

Os céus estão a ficar mais turbulentos? A culpa pode ser das alterações climáticas

O número de casos de turbulência têm vindo a aumentar significativamente, apontam várias investigações. É o caso de um estudo publicado no ano passado pela Universidade de Reading, em Inglaterra, e que concluiu que a turbulência de ar limpo, que é invisível, aumentou devido às alterações climáticas.

Num ponto comum sobre o Atlântico Norte, uma das rotas de voo mais movimentadas do mundo, “a duração total anual de turbulência severa aumentou 55%, de 17,7 horas em 1979 para 27,4 horas em 2020”, descrevem os autores. No caso da turbulência moderada e leve também se verificou um aumento, respetivamente de 37% (70,0 para 96,1 horas) e 17% (466,5 para 546,8 horas).

"As companhias aéreas têm de começar a pensar em como lidar com o aumento da turbulência, que costa à indústria 150 a 500 milhões anualmente só nos EUA"
Mark Prosser, investigador da Universidade de Reading

Se o maior aumento se verificou na área dos Estados Unidos e do Atlântico Norte, os investigadores também descrevem um aumento significativo de turbulência nas rotas sobre a Europa, o Médio Oriente e o Atlântico Sul. “As companhias aéreas têm de começar a pensar em como lidar com o aumento da turbulência, que custa à indústria 150 a 500 milhões anualmente só nos EUA. Cada minuto adicional a viajar no meio da turbulência aumenta o desgaste da aeronave, bem como o risco de ferir passageiros e comissários de bordo”, sublinhava Mark Prosser, um dos autores do estudo, citado em comunicado.

A explicação para este efeito das alterações climáticas na aviação é simples: a atmosfera tem mais energia. “A turbulência precisa de uma fonte de energia. Num mundo mais quente, há mais energia no ar”, diz o climatologista.

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