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Diretores de escolas e associações de pais serão ouvidas pelo Governo antes de se tomar uma decisão definitiva

AFP via Getty Images

Diretores de escolas e associações de pais serão ouvidas pelo Governo antes de se tomar uma decisão definitiva

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Escolas fechadas. Ninguém quer mandar alunos até aos 12 anos para casa (mas falta consenso sobre secundário)

A grande divisão entre os especialistas está na faixa etária dos estudantes que frequentam o 3.º ciclo e o secundário. Governo terá de ponderar vários fatores para tomar uma decisão.

O confinamento, com escolas abertas, é suficiente para travar a pandemia? É. E fechar escolas poderia fazer baixar ainda mais o índice de transmissão? Podia. Espremido o que disseram os especialistas na reunião do Infarmed desta terça-feira, e como depois António Costa veio explicar (e resumir) aos jornalistas, o sumo lembra uma aula do professor Marcelo Rebelo de Sousa, nos tempos de comentador político. Ficou claro que fechar o país inteiro, escolas incluídas, terá efeitos maiores sobre a desaceleração da pandemia. Mas também é sabido que passar para o ensino à distância traz prejuízos para os alunos a vários níveis. O que deve então o Governo fazer?

O próprio primeiro-ministro assume que para tomar uma decisão política o Governo terá de pesar vários fatores, ouvindo diretores de escolas e associações de pais, indo além do que aconselham os especialistas. Durante a reunião, que depois de uma primeira parte pública decorreu à porta fechada, o consenso só foi possível sobre o que deve acontecer aos alunos mais novos.

“Todos os especialistas foram convergentes em que, relativamente a crianças mais pequenas, até aos 12 anos, nada justifica o fecho das escolas”, disse Costa, à saída da reunião no Infarmed onde se discutiu a evolução da pandemia em Portugal, na véspera de o Parlamento debater a renovação do estado de emergência. Nesta quarta-feira à tarde, depois da votação, o Conselho de Ministros anuncia o desenho das novas medidas de restrição que irão incluir um novo confinamento. O que vai acontecer às escolas é uma das dúvidas em cima da mesa.

“A dúvida está na faixa intermédia. Aí, as divergências entre especialistas foram muito grandes e a ponderação política terá de ter em conta outros fatores e outros atores”, disse o chefe de Governo, referindo-se a diretores e a encarregados de educação. Tanto os primeiros como os segundos já manifestaram ser contra o regresso ao ensino à distância.

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Durante a parte do encontro que decorreu à porta fechada, um dos principais defensores do fecho das escolas foi  Manuel Carmo Gomes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ao que o Observador apurou, o epidemiologista acredita que para travar a pandemia é fundamental que os alunos com mais de 12 anos passem para o ensino à distância.

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“Apesar de esta divergência existir, foi consensual que não é a escola em si que é um foco de infeção, mas que é mais um fator de movimentação, resultando um risco de infeção”, acrescentou ainda o primeiro-ministro.

Assim, argumentou António Costa, “o decisor político não vai poder tomar a decisão com base no que disseram os especialistas” e terá de usar a sua “própria inteligência e perceção”, esforçando-se por tomar decisões com base no melhor entendimento científico disponível.

"Se não fizermos nada, mantendo-se o Rt atual, o número de casos e hospitalizações vai continuar a aumentar de forma exponencial. Se implementarmos essas medidas por duas semanas, o Rt volta a aproximar-se de 1. Se for por um mês, já se começa a ver uma redução em todos os cenários. Quanto maior for o confinamento, maior será a redução da transmissão.”
Baltazar Nunes, Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA)

Mesmo com escolas abertas, transmissão do vírus baixa

Entre os nove oradores no Infarmed esteve o investigador Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). E foi claro: avançar para um novo confinamento, mesmo mantendo aulas presenciais, é suficiente para reduzir o índice de transmissibilidade e mantê-lo abaixo de 1.

O problema apontado pelo epidemiologista é outro e passa por não se tomarem medidas imediatas para travar o ritmo de transmissão (Rt) do vírus, que está atualmente em 1,22.

“Se não fizermos nada, mantendo-se o Rt atual, o número de casos e hospitalizações vai continuar a aumentar de forma exponencial. Se implementarmos essas medidas por duas semanas, o Rt volta a aproximar-se de 1. Se for por um mês, já se começa a ver uma redução em todos os cenários. Quanto maior for o confinamento, maior será a redução da transmissão”, sublinhou Baltazar Nunes.

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As contas do epidemiologista traduziram-se, em seguida, em vários cenários diferentes, com confinamentos também diferentes no que toca ao encerramento de escolas. As ponderações de Baltazar Nunes foram feitas tendo em conta a continuidade das aulas presenciais para todos os alunos, a passagem para o ensino à distância para maiores de 15 anos (ensino secundário) e ainda o encerramento total das aulas presenciais, tal e qual como na primeira vaga da pandemia, em março e abril de 2020.

“Um confinamento com as escolas em regime presencial é suficiente para trazer o Rt para baixo de 1”, frisou Baltazar Nunes, deixando um aviso no ar: a descida será maior se se optar pelo fim das aulas presenciais no secundário e, claro, será ainda mais acentuada se todos os alunos forem para casa.

Já Henrique Barros, presidente do Conselho Nacional de Saúde, frisou que as crianças em idade escolar “não são a locomotiva da infeção”. O epidemiologista frisou que o grupo etário que mais rapidamente chega ao pico da infeção são os jovens entre os 20 e os 29 anos e, apesar de nestas idades haver estudantes, não são eles os mais vulneráveis à doença. Henrique Barros garante que os estudos efetuados até agora em Portugal mostram que há “menos riscos” de contágio entre os jovens desta idade que frequentam instituições de ensino superior, ou seja, as pessoas com a mesma idade, “mas com menos instrução” estão mais expostas ao vírus.

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Falando concretamente sobre a possibilidade de fechar escolas, o epidemiologista disse ainda que “há uma ausência de surtos nos espaços escolares”, sejam escolas ou instituições de ensino superior. “Os contágios não ocorrem nas escolas, mas fora delas.”

Outras das preocupações com os mais novos prende-se com a ideia de que a variante do vírus que teve origem no Reino Unido (e que já chegou a Portugal) se propague mais facilmente entre os estudantes. Essa ideia “não tem evidência científica”, garantiu o microbiologista João Paulo Gomes, durante a sua apresentação.

A explicação é simples, argumentou o investigador do INSA, lembrando que as primeiras conclusões foram retiradas num momento em que as escolas não estavam confinadas: uma vez que esta variante tem uma maior carga viral é expectável que contagie mais pessoas e, consequentemente, mais jovens. E é por isso, por ser mais contagiosa e por as escolas estarem abertas, que se vê mais crianças infetadas e não porque elas sejam mais suscetíveis a esta variante, concluiu o microbiologista.

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