891kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Conferência de imprensa sobre a apresentação do novo diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, no Ministério da saúde, em Lisboa, 23 de setembro de 2022. A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde, que irá coordenar a resposta nas unidades de saúde públicas, será composta por cinco órgãos e terá estatuto de instituto público de regime especial para garantir autonomia para emitir regulamentos e orientações. JOÃO RELVAS/LUSA
i

JOÃO RELVAS/LUSA

JOÃO RELVAS/LUSA

Fernando Araújo decidiu sair antes de uma rutura total. Forma como o Ministério pediu para prestar contas foi a 'gota de água'

Fontes próximas de Fernando Araújo revelam que a forma como foi tornado público o pedido de prestação de contas à DE-SNS precipitou a demissão. Previsível retirada de competências também contribuiu.

    Índice

    Índice

Ano e meio após de ter sido nomeado, e depois de muita contestação e polémicas, o diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, bateu com a porta e apresentou esta terça-feira a demissão à ministra da Saúde — Ana Paula Martins já aceitou o pedido e fez saber que será encontrada uma solução para a Direção Executiva do SNS, que terá como missão levar a cabo “efetivas reformas”.

O Observador apurou que foi a forma como o Ministério da Saúde tratou a questão do pedido de contas à Direção Executiva (sobre o trabalho realizado até agora) que precipitou a demissão de Fernando Araújo. Fontes ouvidas pelo Observador, próximas de Fernando Araújo, dizem que o facto de o pedido de um relatório com o trabalho feito pela DE-SNS ter sido feito em simultâneo com o anúncio público da ‘prestação de contas’, por parte do Ministério da Saúde, “não caiu bem” a Fernando Araújo e demonstrou “falta de cordialidade”.

Anúncio público do pedido de prestação de contas foi “falta de cordialidade”, diz fonte próxima de Araújo

Fernando Araújo não terá gostado que o Ministério da Saúde tivesse divulgado publicamente, numa nota enviada às redações, o pedido de prestação de contas feito à sua equipa e muito menos que essa divulgação pública tivesse sido feita ao mesmo tempo que o pedido chegava à sede daquele organismo, no Porto. “O facto de a ministra ter divulgado o pedido do relatório é um sinal público de ‘presta lá contas’, que não caiu bem” a Fernando Araújo, diz uma fonte próxima do ainda diretor-executivo, que já exerceu funções governativas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ministério da Saúde aperta o cerco e dá dois meses à Direção Executiva para explicar reforma das ULS e concentração de competências

“O diretor-executivo só soube da decisão da senhora ministra de requerer um relatório sobre a evolução das mudanças ao mesmo tempo que a notícia saiu na comunicação social. Foi uma falta de cordialidade e que levou ao pedido de demissão“, diz outra fonte próxima de Fernando Araújo.

No comunicado em que anuncia a demissão, o diretor-executivo do SNS deixa, aliás, uma crítica à atuação da tutela que, segundo Fernando Araújo, não informou previamente a DE-SNS sobre o pedido do relatório com as mudanças em curso, preferindo antes enviar o pedido àquela entidade ao mesmo tempo que remetia à comunicação social uma nota em que dava conta da solicitação. “Solicitaremos que a data de produção de efeitos da demissão seja o dia seguinte a apresentarmos o relatório da atividade exigido pela Tutela, do qual tivemos conhecimento por email, na mesma altura que foi divulgado na comunicação social”, sublinhou Fernando Araújo, numa crítica implícita à tutela.

"O facto de a ministra ter divulgado o pedido do relatório é um sinal público de ‘presta lá contas’, que não caiu bem"
Fonte próxima de Fernando Araújo

Recorde-se que, no último dia 18 de abril, o gabinete de Ana Paula Martins informou que tinha solicitado à DE-SNS, num prazo de 60 dias, um relatório sobre o “estado atual de todas as mudanças” em curso e com as principais medidas adotadas pela DE-SNS, nomeadamente no que diz respeito à reforma das Unidades Locais de Saúde e à concentração de competências na DE-SNS — duas reformas que o atual governo quer ver revertidas, pelo menos em parte.

Fernando Araújo, diretor executivo do SNS, apresenta demissão para não ser “obstáculo” às políticas do novo governo

A questão em torno do anúncio público do pedido do relatório terá sido a ‘gota de água’ que levou Fernando Araújo a tomar a decisão de sair mas não foi o único motivo. Outro dos fatores que fizeram pender o diretor-executivo para a demissão foi a questão da retirada de competências àquele organismo, uma intenção já assumida pelo governo, de modo reequilibrar a distribuição de funções entre os vários organismos na esfera do Ministério da Saúde.

Para já, pouco se sabe de concreto sobre as alterações que o Ministério da Saúde pretende introduzir na estrutura orgânica da DE-SNS. No Programa de Governo, o executivo de Luís Montenegro expressa a intenção de reformular a Direção Executiva, alterando a estrutura orgânica daquele organismo e as competências funcionais. No que diz respeito a último ponto, o objetivo do governo será o de retirar à DE-SNS algumas competências que lhe foram atribuídas e que esvaziaram em demasia os poderes de outras entidades, nomeadamente os da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), da Direção-Geral da Saúde — colocando a DE-SNS no centro do sistema.

Relação com Ana Paula Martins "arrefeceu" depois da saída do Santa Maria, garante fonte próxima do ainda diretor-executivo

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“O governo vai retirar à DE-SNS as competências que são da Direção Geral da Saúde, da ACSS, dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, tentando simplificar, definir o que fica num lado e do outro. Vão tentar não esvaziar tanto a ACSS e equilibrar as estruturas”, diz fonte próxima de Fernando Araújo, que revela que essas alterações, contrárias ao modelo defendido por Fernando Araújo (de concentração de competências numa só estrutura, no caso a DE-SNS) terão levado o médico e gestor a optar por prevenir futuros conflitos com Ana Paula Martins, apresentando a demissão.

“Havia fricção” entre a ministra da Saúde e Fernando Araújo

A redução de competências, com o reforço de poderes da ACSS, deve tê-lo feito pensar que iriam surgir problemas e a rutura iria certamente chegar. E deve ter pensado ‘É melhor sair pelo meu pé agora’”, revela a mesma fonte, que sublinha o “arrefecimento” progressivo da relação entre os dois desde o momento em que a Ana Paula Martins decidiu renunciar ao cargo de Presidente do Hospital de Santa Maria.

Havia uma tensão evidente desde a demissão de Santa Maria, havia fricção, o clima ficou frio”, diz um ex-governante ouvido pelo Observador, que considera que, neste quadro de retirada de poderes à Direção Executiva (associado à reversão parcial da reforma das ULS), Fernando Araújo “fez bem em demitir-se”. “Deixou espaço ao novo governo (que vem com uma nova orientação), salvaguardou-se e deixou espaço à ministra para imprimir uma nova marca”, sublinha.

A pesar na decisão de Fernando Araújo de apresentar a demissão do cargo terá estado também a reversão parcial que o governo pretende fazer à reforma das ULS. No programa de governo, o executivo de Luís Montenegro reafirma a intenção de “avaliar o desempenho das ULS, e rever a sua planificação com particular destaque para as que integram hospitais universitários”.

Com demissão, Fernando Araújo "salvaguardou-se e deixou espaço à ministra para imprimir uma nova marca"
Fonte próxima de Fernando Araújo

A medida vai ao encontro do defendido pela ministra da Saúde que, no final de 2023, anunciou a renúncia ao cargo de Presidente do Santa Maria, por discordar da extensão das ULS aos hospitais universitários, como o caso do Santa Maria. Ana Paula Martins explicou, já em janeiro, numa entrevista ao Público, que o modelo de ULS agrava o subfinanciamento destas unidades hospitalares, devido à aplicação de um financiamento por capitação e não tendo em conta a complexidade e os custos gerados pelos doentes tratados nestes hospitais.

Já Fernando Araújo não queria ver desvirtuada a reforma das ULS, que apresentou como “a maior reforma” alguma vez feita no SNS e que, sublinhava o ainda diretor-executivo, iria “alterar de forma profunda, do ponto de vista da organização, os cuidados de saúde”.

Ministra da Saúde aceita demissão de Fernando Araújo: “Infelizmente, a realidade tem revelado, a cada dia, uma situação muito difícil”

No entanto, a atual e o ex-ministro da Saúde têm entendimentos diferentes quanto ao que motivou a demissão de Fernando Araújo. Enquanto o gabinete de Ana Paula Martins fala — num comunicado divulgado ao início da tarde desta quarta-feira — num pedido de demissão “apresentado de modo voluntário e espontâneo”, Manuel Pizarro (que foi o titular da pasta durante o último ano e meio) escreveu, na rede social Facebook, ao início da manhã, que Fernando Araújo foi forçado a apresentar a demissão. “Não vou comentar as circunstâncias que o forçam a esta atitude“, escreveu o ex-ministro, realçando que o país “vai perceber rapidamente” a falta que Fernando Araújo faz. Manuel Pizarro elogiou ainda o diretor-executivo do SNS, porque diz ter “apreço e admiração […] pela sua verticalidade e pela sua independência”.

Governo prepara-se para simplificar estrutura da DE-SNS

Ao mesmo tempo que se prepara para retirar poderes à DE-SNS o governo quer também uma estrutura “mais simplificada”, o que vai invariavelmente implicar uma redução do quadro de pessoal e da comissão de gestão da DE-SNS. “Tudo indica que haverá uma redução da equipa, para uma coisa mais enxuta e menos pesada”, diz a mesma fonte.

A criação da Secretaria de Estado da Gestão da Saúde, entregue à gestora Cristina Vaz Tomé, é um indício de que o Ministério quer também recuperar parte dos poderes transferidos pelo anterior governo para a DE-SNS, nomeadamente as funções operacionais e de decisão estratégica. “A criação dessa Secretaria de Estado é um sinal político para dizer que dão importância à gestão. O Ministério terá muito maior interferência com a estrutura administrativa”, antecipa o mesmo ex-governante ouvido pelo Observador, que prevê que uma das competências que deverão voltar à Avenida João Crisóstomo (a sede do Ministério da Saúde) é a das nomeações dos gestores das unidades de saúde, nomeadamente das ULS.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.