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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Francisco Calheiros. "8% de desemprego? Em plena crise Covid isto é nada"

Despedimentos no setor em outubro e janeiro; a “quase ausência” do Turismo do Plano Costa e Silva e o orçamento “de ficção” que aí vem. A entrevista de Francisco Calheiros na Rádio Observador.

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Francisco Calheiros assume-se como uma pessoa “habitualmente otimista”. Mas a pandemia de Covid-19 que está, paulatinamente, a aniquilar o verão turístico em Portugal – com especial incidência no Algarve – está também a acabar com essa disposição. “Os números são tão dramáticos que eu pensei que não podiam existir”, disse o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, no “Sob Escuta”, o programa de grande entrevista da Rádio Observador.

Na conversa de quase uma hora – ainda antes de se saber da decisão do governo britânico de voltar incluir Portugal na “lista negra” do corredor aéreo – Francisco Calheiros já dava como certo que isso ia acontecer. Porquê? “Porque as indicações são as de que há poucos operadores britânicos a programar o golfe” para as próximas semanas. Ainda assim, garante que o “apetite” do turista estrangeiro por Portugal ainda está lá. O que depois gera situações “inaceitáveis” como se viu no aeroporto de Faro: magotes de pessoas a tentar passar pelo controlo do SEF. “Durante meses e meses nós tivemos isso no aeroporto de Lisboa e dissemos que isso ia acontecer no Algarve”, sublinha.

E não se furtou a temas ainda mais polémicos: a “ausência” do Turismo do plano de Costa Silva para a década, os despedimentos que se esperam no setor do Turismo em outubro e janeiro e mesmo a forma como o primeiro-ministro tem lidado com os seus habituais parceiros (PCP e Bloco de Esquerda) nas negociações para o Orçamento de 2021: Costa “não vai dar grande margem de manobra”. De qualquer forma, diz, da forma como a Covid muda a realidade, o próximo orçamento “é de ficção”.

“8% de desemprego no país? É nada”. Presidente da Confederação do Turismo no Sob Escuta

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[Ouça aqui a entrevista completa:]

Sabemos que em julho o turismo ainda teve uma queda brutal, na casa dos 70%. Já tem uma ideia clara de como foi o mês de Agosto, tinha dito que as perspetivas eram desanimadoras.
Vamos então fazer um enquadramento dos números, que são, de facto, dramáticos e que eu nunca pensei que pudessem existir. Eu começava pelo janeiro e fevereiro, porque são os dois meses antes do Covid e nós esquecemo-nos de quando achávamos que já não era possível crescer mais. Nos meses de janeiro e fevereiro, nas três componentes que nós analisamos – o número de hóspedes, o número de dormidas e as receitas – variaram entre mais 10 e mais 14%. Em março tivemos o primeiro mês Covid. Os números foram de menos 50%, em abril e maio foram de menos 95% – algo que toda a gente pensava que era impossível de existir – o mês de junho tivemos menos 85% e em julho, com os dados ainda provisórios, aponta de facto para uma diminuição em relação ao ano anterior de menos 65 a menos 70%. A Confederação logo em fins de abril fez uma primeira projeção com os seus stakeholders – e estamos a falar de uma projeção que envolveu as companhias aéreas, as centrais de reservas, os aeroportos, as agências, os hotéis, portanto, é algo que é muito sólido porque é exatamente aquilo que vai acontecer nas reservas.

E que resultado deu?
Em abril nós apontámos para 50 a 52% de quebra neste ano. Posteriormente fizemos um segundo estudo em fins de julho, princípios de Agosto em que este número aumentou 10 pontos (percentuais). Porquê? Por duas razões. Na altura ninguém pensava que a pandemia demorasse tanto e também ninguém pensava que o corredor britânico ficasse fechado tanto tempo. Portanto a última projeção que temos, que é de Agosto, aponta para quebras à volta dos 60%. Vamos fazer uma nova em outubro, que eu acho que não irá variar muito disto.

A última projeção que temos, que é de Agosto, aponta para quebras à volta dos 60%. Vamos fazer uma nova em outubro, que eu acho que não irá variar muito disto.

Mas aquilo que os operadores turísticos têm comunicado à confederação vai ao encontro destas estimativas?
A nossa estatística é exatamente o resultado daquilo que os operadores turísticos. Nós sabemos exatamente quantos voos estão programados, quantos movimentos vamos ter no aeroporto, quais as reservas das centrais de reservas. Isso tudo junto dá este número que estamos a compor. Repito: menos 60%, que é uma verdadeira alucinação.

O que se passou com o SEF no Algarve “é inadmissível”. E não é uma situação nova

Inglaterra retirou Portugal da lista negra, mas a ameaça mantém-se. A qualquer momento Portugal pode voltar a ser incluído na lista dos destinos que implicam uma quarentena para os turistas ingleses [A entrevista realizou-se antes de o governo britânico voltar a incluir Portugal nas lista, na tarde de quinta-feira, 10 de setembro]. Se voltarmos nas próximas semanas a ficar fora deste corredor aéreo, qual é que se prevê que seja o impacto, nomeadamente para o Algarve?
Eu temo que isso possa vir a acontecer, honestamente. Mas acho que o principal problema que isso nos acarreta – mais do que os números – é que nós fomos e somos conhecidos por ser um destino seguro. Tentámos passar a ideia de que somos um destino responsável do ponto de vista da higienização, da saúde pública. E é muito mau estarmos fora de um corredor turístico como o britânico. O impacto dos números já não é tão grande a nível nacional. O que é que nós vamos perder neste momento? A época alta do golfe no Algarve, que começa agora por volta de setembro e outubro. Mas nós temos indicações de que há poucos operadores britânicos a programar o golfe. O que isto quer dizer é que há uma expectativa da parte deles de que Portugal possa sair do corredor turístico, o que não é uma boa notícia.

E o número dos novos infetados estão na casa dos 600 novos casos por dia.
Acho que temos que ir até abril para encontrar um dia com esse número de infetados. Portanto como isto vai ser a média que eles vão atribuir das últimas duas semanas, por 100 mil habitantes, eu acho que não estamos a ir no bom caminho e portanto penso que hoje o governo britânico irá tomar uma nova posição. Infelizmente se calhar voltamos outra vez [à lista de exclusão]. Há aqui duas questões que são fundamentais de vermos, uma pela positiva e outra pela negativa. Pela positiva é que quando abriu o corredor turístico nós chegámos a ter dias com 50 voos diários, diretos para Faro. Ou seja, tudo está igual em termos da procura. É preciso é que eles possam vir.

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Continua a haver apetite por Portugal.
Exatamente. Eu não sei se tiveram a oportunidade de ver algumas reportagens… o contentamento das pessoas a chegar ao aeroporto, a chegar aos hotéis. Eles querem mesmo vir para cá.

Mas também vimos estruturas aeroportuárias pouco preparadas para receber o afluxo de turistas daquela maneira.
É verdade, tem toda a razão. Esta questão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras é uma questão inaceitável. É inadmissível, porque não é uma situação nova. Há meses, para não dizer há anos, que a Confederação do Turismo de Portugal tem alertado para essa situação. Esta situação já aconteceu em Lisboa, porque nós já tivemos – antes do Covid – uma baixa grande de turistas ingleses por causa do Brexit. Num ano perdemos 8% e convém não esquecer que o mercado britânico é o nosso principal cliente. Depois o mercado alemão. Os alemães achavam que estavam em recessão e com os alemães é direto, eles apertam logo. E portanto baixámos nos alemães, que é o nosso segundo mercado. E o que é que nós fizemos, e bem? Conseguimos substituir estas duas baixas por brasileiros, americanos, coreanos e canadianos. Qual é o problema destes quatro países? É tudo países não Shenghen. Portanto, teria tudo que passar pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Toda a gente sabia, incluindo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, que o corredor aéreo seria aberto naquele sábado, dia 22 de agosto, às quatro da manhã. Estávamos todos avisados.
Exatamente. Durante meses e meses nós tivemos isso no aeroporto de Lisboa e isso ia acontecer no Algarve. Não tenhamos ilusões. É um problema para o qual nós temos alertado, por mais do que uma vez, o governo e que tem que ser resolvido urgentemente: o problema do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Esta questão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras é uma questão inaceitável. É inadmissível, porque não é uma situação nova. Há meses, para não dizer há anos, que a Confederação do Turismo de Portugal tem alertado para essa situação. Esta situação já aconteceu em Lisboa.

O primeiro-ministro fez um apelo direto aos portugueses para fazerem férias cá dentro (isto na altura foi uma reação às listas negras da Grécia). Os operadores nacionais sentem que a pandemia os está a forçar mesmo a apostar no mercado interno, a diminuir essa dependência que têm para estes países emissores?
O mercado interno é o nosso principal mercado. Nós falamos do mercado inglês como número 1 ou no mercado alemão como o número 2, mas sempre no que diz respeito ao mercado externo. O nosso mercado divide-se em 30% de turistas internos e 70% de turistas externos e portanto já tem um peso extremamente significativo. O que é que eu acho que aconteceu? Acho que, por um lado, os portugueses que sempre apostaram em Portugal provavelmente terão apostado menos, por exemplo, em destinos como os Açores e a Madeira, por falta de transporte aéreo, mas investiram e foram maciçamente, por exemplo, para o Alentejo e para a Região Centro, porque poderiam estar com mais à vontade, com mais espaço e, portanto, investiram bastante. Por outro lado também, pela negativa, houve uma diminuição do rendimento dos portugueses – temos de ser claros – isso aconteceu desde o mês de março. E portanto houve muita gente que costuma viajar e que não o pôde fazer, mas por outro lado houve muitas pessoas que costumava ir para o estrangeiro e que fizeram férias cá. Não é no ano de 2020 que os portugueses descobriram Portugal, há muito que portugueses descobriram Portugal. No verão, por exemplo, é fortíssimo os portugueses no Algarve.

Mas há sinais muito interessantes, com várias zonas do país – nomeadamente no interior – que estão esgotadas nesta altura e que, em circunstâncias normais, não estariam. Há condições para que este segmento do interior continue nos próximos anos?
Essa escolha do Interior, do Alentejo e há uns anos do Norte vai continuar, mas ela tem vindo a crescer bastante nos últimos anos. Nós temos hoje resorts, turismo rural perfeitamente extraordinários. E, portanto, há cada vez mais portugueses a quererem descobrir o seu país e existem, de facto, condições bastante atractivas para se continuar a desenvolver.

Isso implicará mais investimento no interior?
Implicará, com certeza, mais investimento no interior. Agora, convém não esquecer uma coisa: situações como Algarve, Madeira, Lisboa e Porto têm uma dimensão completamente diferente. Isso é que temos que ter essa noção. Quando se cresce 10% de 100 é 10 e quando se cresce 10% de 10 é 1. Essa é uma questão que temos que ter em atenção porque, de facto, a maior zona turística que temos em Portugal é o Algarve e a Madeira, Lisboa e o Porto são referências extremamente importantes. O que está a acontecer em Lisboa neste momento é perfeitamente dramático.

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Em outubro e em janeiro vai haver muitos despedimentos no turismo. “Vão acontecer, obviamente”

Está a falar de um cenário dramático. Tem dados recentes sobre as falências no setor?
Nós não temos ainda números, mas vão acontecer com certeza. Vamos ter muito fecho de empresa e vamos ter, infelizmente, muito desemprego. A minha previsão é que vai haver aqui dois momentos. O momento de outubro, em que as empresas de turismo que estiveram a aguentar tudo para o verão – nomeadamente julho, agosto e setembro – e não houve verão, ou foi muito fraco, e portanto a partir de outubro vai haver empresas que não vão aguentar. Vai haver despedimentos. Vão acontecer, obviamente.

E o segundo momento?
O segundo momento será em janeiro porque, como sabe, todas as empresas que recorreram às linhas Covid ou ao layoff simplificado, etc há o prazo de não poder fazer reestruturações até janeiro. Em janeiro isso vai acontecer. No último Conselho Permanente de Concertação Social foram-nos dados os últimos dados de agosto, em que o desemprego cresceu 2%. Nós estivemos em fevereiro com 6% de desemprego. Nós neste momento estamos com oito vírgula qualquer coisa, com uma crise destas há seis meses. É evidente que tem sido muito o empresário a aguentar as suas empresas, muita linha Covid a ajudar e muito layoff simplificado. Não tenhamos dúvidas nenhumas.

Que balanço é que faz dessas medidas?
Dois momentos. É meu entendimento que o Governo esteve muito bem no início, muito bem. Ou seja, fez tudo o que deveria ter feito: confinou as pessoas, deu o layoff simplificado, que foi uma ótima medida, houve medidas de apoio à economia, inclusive uma série de medidas específicas de apoio ao turismo. Houve as linhas das micro empresas do Turismo de Portugal para as microempresas do turismo, houve as moratórias fiscais e as moratórias financeiras. Tudo o que havia para fazer. Definiu um modelo dinâmico e aberto. Acontece que, com o tempo, tudo isto passou e está a demorar muito mais tempo do que se pensava. Nós estamos com seis meses de Covid e não temos dúvidas nenhumas, infelizmente, que o setembro vai ser mau, o outubro vai ser mau, o novembro vai ser mau. E portanto, carece neste momento de haver outras medidas. E é isso que a Confederação tem feito chegar ao governo: é preciso novas medidas.

O Governo esteve muito bem no início. Fez tudo o que deveria ter feito: confinou as pessoas, deu o layoff simplificado, houve medidas de apoio à economa. (...) Acontece que, com o tempo, tudo isto passou e está a demorar muito mais tempo do que se pensava [a meter no terreno novas medidas]

Quer dar alguns exemplos?
Comecemos por um layoff simplificado que o governo acabou. Tem que repor o layoff simplificado. Esta medida de apoio à retoma… Mas qual retoma? Nós não estamos a ter retoma nenhuma… A medida para quem tem quebras de 70 ou 75% tem que voltar a ser o layoff simplificado. Segunda questão: as medidas de apoio às empresas esgotaram todas. O governo disse-nos que em outubro iria haver novas medidas… São fundamentais. Terceira questão: o Programa de Estabilidade Económica e Social (PEES) tem uma série de medidas de capitalização das empresas – sejam obrigações subordinadas, medidas de capital de risco, apoio às pequenas e microempresas etc. Mas têm que sair do papel, têm que vir cá para fora. E finalmente a velha bazuca europeia – da qual todos nós ouvimos ouvir falar todos os dias – é de facto fundamental, mas sejamos claros: a minha previsão é que ela não virá antes do segundo semestre de 2021. E até lá, como é que nós aguentamos?

Está a falar das dificuldades políticas da aprovação e da execução dessa bazuca.
Tem que haver uma forma em que nós possamos antecipar isso, que era para quando chegar já estarem os projetos a funcionar, porque falta muito tempo até julho de 2021. Inclusive nós estamos a preparar um documento para apresentar ao ministro Nelson de Souza [ministro do Planeamento, com a tutela dos fundos europeus] porque achamos que é fundamental haver um programa com dotação específica para o turismo, um setor em que temos necessidades perfeitamente concretas.

A Confederação do Turismo tem pressionado precisamente o governo para que insista com Bruxelas na criação dessa linha específica. Se a União Europeia criar esse apoio, quanto dinheiro é que seria necessário para o turismo português?
É um número difícil de dizer, porque ainda não fizemos sequer essas contas, mas os programas que nós estamos, neste momento, a montar e que esperamos ter ainda antes do final deste mês para apresentar exatamente ao ministro Nelson de Souza são uma série de programas que vão envolver toda a parte de Inovação, Produção, etc. Não estamos a falar de uma bazuca, mas sim de uma bazucazinha. O termo é bélico porque eu acho que estamos numa altura de guerra. Nós sabemos que as crises são cíclicas, mas esta aqui…

Esta não vem de um ciclo, vem de um agente externo.
Esta não vem de nada. Não veio nem de um ciclo, nem de um contraciclo. A única coisa que tem é que foi completamente transversal: não escolheu ninguém e atacou todos. E de facto era algo impensável… há hotéis em Lisboa pelos quais nós passamos hoje – hoje, seis meses depois – hotéis de referência em Lisboa de 300 quartos, todos fechados… É algo impensável, é algo que é inimaginável. E é a realidade que nós encontramos todos os dias.

Plano de Costa Silva? Dedica menos de uma página a um setor que vale 15% do PIB

Terminou há pouco tempo o período para dar contributos ao Plano para a década, o plano de António Costa Silva. O foco desse plano está claramente na indústria e nos transportes. Sente que o turismo ficou esquecido nesse plano de modernização?
Não sinto, tenho a certeza. A situação é muito clara…

O tema do turismo surge em três páginas num documento de 142.
Tem que mas mostrar… Não são 140 páginas, são 128, e não são três páginas para o turismo, é 80% de uma página.

É verdade. O capítulo que eu estava a referir de três páginas inclui o Turismo juntamente com a Cultura, o Comércio e os Serviços.
Ahhh, assim tem razão. Juntamente com a Cultura, o Comércio e os Serviços. Vamos por partes: foi pedido ao Dr. Costa e Silva para fazer esse estudo, sim senhor. Eu tenho pena, porque António Costa e Silva é uma pessoa referenciada, que todos conhecemos. Tenho imensa pena que não tenha tido tempo para poder falar com a Confederação do Turismo de Portugal. Todos sabemos também que desde a última crise de 2008, 2009 o setor que ajudou claramente o país a sair da crise foi o setor do turismo.

Talvez por isso António Costa Silva ache que o Turismo que está em velocidade de cruzeiro e que não é preciso tocar aí [na próxima década]? Ou seja, que o turismo já tem condições estruturais para sair da pandemia e voltar ao que era.
Não concordo. Há muita coisa que temos que fazer. Como você disse, e bem, aquilo está muito virado para a indústria e eu acho que há mais vida para além da indústria e ficou provado nestes dez últimos anos. Primeiro: não houve oportunidade de ter essa reunião, que eu acho que deveria ter havido. Segundo: foi produzido o documento. Recebemos o documento, lemos o documento com atenção, já o dissemos aqui. Ora se temos a falar de 120 e tal páginas e se ele diz que o Turismo representa 15% do PIB, então estaríamos a falar de 20 páginas para o turismo [no Plano].  E temos 80% de uma página. Mas o documento entrou em discussão pública e a Confederação fez um trabalho muito sério, na minha opinião. Perdemos bastante tempo para o fazer, demos um contributo muito grande. Foram cerca de 12 páginas, mas com tudo o que achamos que deveria corporizar. Ainda ontem recebi o convite da apresentação pública…

Tenho imensa pena que [Costa Silva] não tenha tido tempo para poder falar com a Confederação do Turismo de Portugal [na elaboração do Plano para a Década]. Todos sabemos também que desde a última crise de 2008, 2009 o setor que ajudou claramente o país a sair da crise foi o setor do turismo.

Na próxima terça-feira, dia 15…
E portanto estou muito muito expectante. Não irei falhar com certeza essa reunião, até porque a semana passada coincidiu com uma reunião da Confederação com o primeiro-ministro e o documento Costa e Silva foi novamente abordado. E aquilo que o primeiro-ministro me disse, e que me agradou bastante, foi que sabia que as recomendações que a Confederação tinha… que parte das recomendações estariam corporizadas no novo documento. Portanto não sei se estarão lá, mas eu estarei com certeza. Espero que não me aconteça nada porque tenho grande curiosidade de ver esta apresentação do documento de Costa e Silva.

Deixe-me só citar uma parte do plano – que pode vir a constar ou não na versão final. “É importante que o futuro que o turismo se desenvolva em maior articulação com outros setores da economia, evitando o recurso sistemático à mão de obra precária e desqualificada”. Revê-se nesta análise?
Não, não vou adjetivar mais. Poderia adjetivar, mas não…

Portanto o plano para a década no turismo é que o setor tem que se articular mais com outros setores – o que pressupõe que não o faz – e que recorre intensivamente a mão de obra precária e desqualificada. Isto é uma ideia de um passado que já não existe, ou isto é uma prática corrente?
O que eu diria era o seguinte: se calhar é exatamente ao contrário. As outras atividades é que têm de se articular com o turismo. O turismo é provavelmente, das várias atividades económicas, a que mais transversal é. Ainda hoje me surpreendo com algumas situações: no ano passado estava a ler numa revista um artigo do diretor-geral de uma marca portuguesa muito conhecida – não vou estar aqui a fazer publicidade – e que dizia que tinha tido o melhor ano dessa marca por causa do turismo. É evidente por causa do rent-a-car, que compra dezenas e dezenas de milhares carros. Portanto, o turismo é que é transversal. E portanto, para quem disse tantas vezes que estávamos muito dependentes do turismo… Nada disso. O que o turismo fez nos últimos dez anos foi fazer o seu trabalho e o que nós achamos é que se as outras atividades económicas tivessem crescido como o turismo, nós hoje em dia seríamos – já o disse mais do que uma vez – conhecidos como os tigres da Europa, a crescer aos 7 e 8% todos os anos. Isso é que era fundamental.

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E sobre a precariedade?
Não vou deixar de responder à questão sobre a precariedade no turismo ou salários. Já tivemos várias oportunidades de explicar que isso não é assim. Mas há uma questão pela qual nós não nos furtamos a responder. Também no turismo, e ainda bem que existe turismo, há muito emprego pouco qualificado. De facto há, pela própria definição da atividade. Ainda bem que há, porque se fosse só empregos muito qualificados – sabe qual é o grau de instrução que tem os portugueses? – se calhar teríamos um desemprego muito maior. Ainda bem que existe o turismo para poder empregar essas pessoas.

Mas aqui não é só uma questão de qualificação, e sim de precariedade, contratos precários.
Todas as pessoas que estudam isso confundem precariedade com sazonalidade. E não têm rigorosamente nada uma coisa a ver com a outra. Uma questão é a precariedade no emprego e todos nós sabemos que é uma situação bem diferente da sazonalidade. Existe sazonalidade no turismo? Claro que existe. O que é que tem sido feito, por exemplo, em relação ao Algarve? Um grande trabalho de combate à sazonalidade e o que é facto é que os grandes crescimentos no Algarve têm sido nos chamados ‘shoulders’, ou seja não vale a pena crescer mais em julho, agosto e setembro, porque está completamente cheio. Os crescimentos têm sido nas apresentações, por exemplo, de grandes marcas automóveis, o golfe. Estamos a crescer em outubro, em março e abril. Agora vamos ser claros, o mês de janeiro do Algarve nunca será igual, nem parecido, com o mês de agosto. Ponto final parágrafo. Os destinos de neve praticamente estão fechados no verão. É precariedade? Não, é sazonalidade.

No Turismo há irregularidades no layoff. “Haverá com certeza, não somos exceção”

Há sindicatos do turismo a denunciar que há várias empresas do setor que estão a pressionar os funcionários a trabalhar mais horas, mesmo estando em layoff, para evitar novas contratações. O setor do turismo é mais propenso a estas situações?
Haverá, com certeza, casos desses. Não somos exceção.

Tem conhecimento de casos concretos?
Não. Eu tenho uma tese de que há ótimos patrões e péssimos patrões. Ótimos trabalhadores e péssimos trabalhadores, ótimos jornalistas e péssimos jornalistas, é como em tudo. Esta é uma verdade de La Palisse. Haverá casos? Haverá, com certeza, mas serão obviamente uma minoria. Aliás, deixe que lho diga, é uma ideia que os sindicatos já deveriam ter ultrapassado. Estamos no século XXI, vamos modernizar-nos e olhar um bocadinho mais para a frente. Veja-se os exemplos dos sindicatos lá fora, que olham para a frente, muitos sindicatos estão no conselho de administração de muitas empresas a dar um imenso valor-acrescentado. O patrão é o que é… Eu tenho uma tese, aliás, em duas empresas em que sou acionista, numa a gestão tem 25% e noutra tem 33% – as empresas são muito de quem lá trabalha. São elas que produzem e portanto já não existe essa questão do patrão, do trabalhador…

Mas isso define o setor?
Haverá com certeza casos desses, não tenho dúvida nenhuma. E são casos que pressionam. Claro que sim. E haverá também o contrário. Agora não é essa a realidade das empresas de turismo que nós conhecemos muito bem. A Confederação é muito representativa. Temos, de facto, todas as atividades ligadas ao turismo, seja das agências de viagens, hotelaria, restauração, companhias aéreas, aeroportos, golfe. Tudo está lá representado. Temos uma noção muito clara e não é isso que acontece. Quando aconteceu agora esta questão do layoff, a Autoridade para as Condições do Trabalho, por indicação do Governo, e bem, reforçou muito os seus quadros e houve milhares e milhares de inspeções às empresas.

Haverá casos [de irregularidades laborais no Turismo]? Haverá, com certeza, mas serão obviamente uma minoria. Aliás, deixe que lho diga, é uma ideia que os sindicatos já deveriam ter ultrapassado. Estamos no século XXI.

E que resultado saiu dessas inspeções?
O último número que temos de autos levantados foi de 0,05%. Isto são números reais e que eu gostaria de ver os sindicatos a contestar. A ACT – que não é propriamente um organismo friendly – porque faz o seu trabalho, que é o que tem que fazer, mas durante a questão do layoff houve milhares de inspeções e os casos levantados foram nada. Essa é a realidade. Haveria três ou quatro empresas no meio dos milhares que fizeram? Houve. Há casos? Há, mas são perfeitamente insignificantes.

Vimos denúncias de grupos económicos que continuam a receber apoios apesar de terem hotéis encerrados etc. Isto prejudica a imagem do setor? Faz com que as pessoas, e especialmente os portugueses que têm acesso direto através da comunicação social a estas notícias, tenham menos apetite pela hotelaria tradicional e vá mais para os AirBnB ou os turismos rurais?
Acho que as pessoas já não ligam isso, para ser muito sincero. Essas acusações não tem ponta por onde se pegue, isso não tem qualquer lógica. Nenhuma. Eu acho que se deveria pensar de uma maneira um bocadinho diferente – que era o nós estávamos a falar há pouco – estamos a falar em dezenas e dezenas de hotéis que estão fechados. O que é que isto quer dizer? Neste momento estão em layoff simplificado ou no mecanismo de apoio à retoma. Quer dizer que os seus donos estão todos os meses a pôr do seu bolso dezenas e dezenas de milhares de euros – e nos grandes grupos são centenas e centenas de milhares de euros – para manter as unidades abertas e manter o emprego ainda vivo. Isso é que eu acho que nós deveríamos enaltecer e isso é o que está a acontecer. É que não é diminuir a atividade, é estar fechado. Mas quantos clientes têm? Zero. Mas continuam a pagar ordenados, continuam a pagar as contas de água, luz.

Numa crise como esta, 8% de desemprego é nada

Até ao dia… Como disse há pouco, chega outubro e janeiro e logo vem uma vaga de despedimentos.
Isso tem sido muito aquilo que nós temos tentado sensibilizar o Governo. Não é que o governo não saiba, claro que sabe, mas tem as suas opções. Agora o nosso desemprego está em 8%. É nada. Ainda bem, mas é nada.

Como assim? É ‘nada’ no atual contexto, ou não?
Quando tínhamos 6% era praticamente pleno emprego, não se encontrava ninguém para trabalhar. Portanto, há sempre aquelas questões de as pessoas que estão em mudança. Portanto é considerado que o nível de 4,5% ou 5% já é pleno emprego. Portanto 8% não é muito, e para a atual crise é nada. Na crise de 2008 e 2009, lembra-se até quanto é que chegou o desemprego?

Chegou a 17%. Mas rapidamente desceu.
E hoje em dia o que é que todas as pessoas dizem? Que estamos na maior crise das nossas vidas, que se calhar o desemprego vai para mais do que 17%.

Mas na altura não foram tomadas medidas tão rapidamente como foram tomadas agora. Nomeadamente as moratórias que têm segurado muitas empresas.
Pronto, mas é esse trabalho, que foi bem feito, que tem que se manter. Eu tenho uma opinião muito minha: acho que a principal calamidade – e berrei muito com isto em 2008/2009 – é o desemprego, é a pior coisa… Aliás, havia um filósofo francês que dizia ‘Nós estamos preparados para tudo menos para o desemprego. Para o frio, para a doença, para tudo menos para o desemprego’. É um ataque à dignidade humana. E portanto quando eu vejo não se utilizar o layoff simplificado – que é uma ferramenta ótima para as empresas e que é financiada especificamente pelo programa SURE da Comunidade Europeia para que se combata o desemprego, que não vai ao défice – e estamos a pôr em ação uma medida de apoio à retoma que é mais complicada, mais burocrática e mais cara, empurrando as empresas a fazer reestruturações e as pessoas irem para o desemprego. Esse sim que entra no défice, isso não faz qualquer sentido.

E percebe a razão de não se continuar com o layoff simplificado?
Não consigo. Dir-me-á que existem aqui equilíbrios, que temos um orçamento para aprovar. Eu não posso entrar em linha de conta com essas questões. Estas são realidades. O layoff é a grande medida. Isso era fundamental e nós explicamos isto até que a voz nos doa. Seis meses depois desta pandemia inacreditável estamos com 8% de desemprego. Isto só vem provar uma coisa: as medidas tomadas estavam certas. Se estavam certas não as mudem, é só isso que a Confederação do Turismo diz, mantenham assim. Eu já disse isto numa entrevista: “Não desistam do turismo”. Nós, os empresários não vamos desistir. Vamos fazer tudo o que for possível.

Quando eu vejo não se utilizar o layoff simplificado – que é uma ferramenta ótima para as empresas, financiada especificamente pela Europa e que não vai ao défice – e estamos a pôr em ação uma medida de apoio à retoma que é mais complicada, mais burocrática e mais cara, empurrando as empresas a fazer reestruturações e as pessoas irem para o desemprego... (...) Isso não faz qualquer sentido.

E isso traduz-se em quê?
Estamos atentos, estamos em cima, vamos lutar pelos fundos europeus, estamos permanentemente em contacto com o Governo. Há pouco falávamos do ministro Pedro Siza Vieira para as medidas do PEES, que é muito obra dele, as medidas de capitalização das empresas. Estamos permanentemente em cima disso para arranjar argumentos, instrumentos, ferramentas para não fecharmos, porque há uma coisa que é clara: as pessoas normalmente são otimistas, pessimistas ou realistas. Eu por definição sou otimista, mas não estou, não estou. Todos os indicadores que me chegam não são bons, mas tenho a certeza que esta crise vai passar, como qualquer crise. E é fundamental que nós mantenhamos esta oferta instalada, porque vejam o exemplo de há 15 dias: quando se abriu o corredor turístico britânico, eram 50 voos por dia para o Algarve, uma coisa que estava proibida. Eu não tenho dúvidas que, no turismo de lazer, quando tivermos vacina, quando as pessoas deixarem de ter medo de viajar, isto vai outra vez rebentar.

Se não tem havido a pandemia, “nem sei o pandemónio que seria este ano na Portela”

Passemos para o aeroporto e a TAP. Antes desta pandemia, o Francisco Calheiros tinha dito que seria urgente iniciar os trabalhos do novo aeroporto do Montijo para não comprometer o crescimento do turismo, mas entretanto veio a pandemia, que fez afundar o turismo. Mantém-se a urgência da construção do novo aeroporto?
Totalmente. Se não tem havido Covid este ano… nem sei o que seria o pandemónio do aeroporto da Portela… o que já se passava em janeiro e fevereiro era inacreditável. Guerras entre operadores, agências de viagens, companhias aéreas, a falta de slots… depois a 15 de março esta guerra acabou. E todos sabemos que um aeroporto — mesmo o Montijo — não se constrói em menos de três a quatro anos. Vamos projetar: 2020 é um ano desastroso; imaginemos que em 2021 começamos a recuperar; em 2022 voltamos a recuperar; e em 2023 estamos onde estávamos. Se o aeroporto não estiver construído, estamos iguais. E é muito difícil discutir estes projetos estruturantes na praça pública, como estava a ser feito o aeroporto. Já tive oportunidade de dizer ao ministro Pedro Nuno Santos que agora que infelizmente as primeiras páginas e os telejornais são ocupados permanentemente pelo Covid é a altura certa para arranjar uma solução para se poder construir o Montijo, junto do PSD ou das câmaras, que são as duas alternativas possíveis. A prioridade do Montijo mantém-se. Não podemos fazer tudo bem e depois os turistas não virem porque não têm onde aterrar. Isto é completamente absurdo.

Vê algum risco de o hub de Lisboa, que tem ligado vários continentes nos últimos anos, perder importância com a reestruturação que está a ser planeada para a TAP em Bruxelas. O que espera dessa reestruturação?
Eu conheço bem a TAP. Tem sido muito maltratada — e eu não concordo com praticamente nada do que se fez na TAP — a forma como foi vendida ou a reprivatização… mas ela aguenta tudo. Agora, a realidade é esta a TAP é muito importante para o turismo português. Dois exemplos: a aposta que a equipa brasileira chefiada por Fernando Pinto fez do Brasil e a aposta que esta equipa que está de saída fez dos Estados Unidos. Dito isto, eu tenho algum receio, porque, para manter esse hub, nomeadamente para os PALOP, para o Brasil e para os Estados Unidos, não pode existir uma “TAPezinha”. Uma “TAPezinha” não pode fazer hub.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Mas como é que a TAP pode passar a ser uma empresa viável — porque foi enquadrada nas empresas não viáveis mesmo antes da Covid — sem que haja uma reestruturação forte?
Essa reestruturação pode passar por variadíssimos aspetos…

Mas estamos sempre a falar de rotas, aviões e pessoas…
É preciso saber se a TAP não poderia ter a mesma performance com menos 10% das pessoas, não faço ideia. Mas a principal reestruturação que a TAP precisa é financeira, porque a realidade é como o Estado não podia lá por dinheiro, a TAP cresceu estes anos todos sempre sem capitais próprios. Esse é o problema crónico das nossas empresas. Portanto, precisa de uma reestruturação forte e provavelmente o que estava a ser negociado antes de tudo isto, que era, por exemplo, uma parceria em que a Lufthansa entrava no capital, o que fazia todo o sentido.

Eu tenho algum receio porque para manter esse hub – nomeadamente para os PALOP, para o Brasil e para os Estados Unidos – não pode existir uma “TAPezinha”. Uma “TAPezinha” não pode fazer hub.

“O próximo Orçamento é um orçamento de ficção”. E Costa já está a mandar sinais

O que é que espera do próximo Orçamento de Estado? Um orçamento de contenção?
Do que tenho lido, o que fixei é que o próximo orçamento é um orçamento de ficção. O que estamos a falar não tem qualquer aderência à realidade. Não vale a pena estarmos a pensar que Orçamento vamos ter. Vamos é pensar que performance nós podemos ter e isso vai depender da Covid. Vamos imaginar a seguinte situação: qual é a diferença entre haver uma vacina em janeiro ou em dezembro? É incomensurável, para o turismo é uma coisa incomensurável, são mil milhões de euros de receitas de diferença. Portanto, o que é que temos que estar preparados? Grande investimento nas empresas, um aproveitamento dos fundos europeus levado ao limite, não podemos perder nada. E temos de fazer reestruturações profundas das nossas empresas. E vamos admitir que isto demora um ano a passar. É necessário uma ponte através de medidas de lay off simplificado, de capitalização de empresas, para que se mantenham operacionais para quando isto passar. Vão ficar todos? Não. Vai ficar pelo caminho? Infelizmente sim, é o preço a pagar.

Mas o acerto de posições entre os partidos que apoiam o Governo — que pode ser maior ou menor — pode ou não significar um 2021 de grande de grande contestação nas ruas? É há pouco falávamos sobre os sindicatos. Considera que é uma possibilidade?
Eu acho que o primeiro ministro António Costa já começou a dar um bocadinho o sinal. O que disse é que não vai fazer acordos à direita. E que gostaria de fazer acordos à esquerda. E face à pergunta muito concreta — “mas se não for preciso aprovar um orçamento” — não tem problema nenhum, abre-se uma crise política e só temos que perguntar ao Presidente da República quando é que marca eleições. Portanto, eu acho que aqui não vai haver grandes grandes margens de manobra.

A própria urgência da Covid ajuda?
É evidente. Estamos em terreno muito pantanosos. São situações que não dominamos. Não estamos a falar de um produto que foi descontinuado, um preço que está caro, um design ultrapassado… não, é uma coisa que não conhecemos. E eu cada vez mais acho que vamos ter que ter a nossa vida normal, mudando todos os hábitos de higienização — isso é para continuar —, mas não aguentamos outra vez um confinamento como o que vivemos em março e abril. Agora, as crianças todas vão todas para o colégio. Vão aumentar as infeções? Vão. Vamos ter mais pessoas internadas? Vão. Provavelmente morrerá mais gente? Sim. Em vez de duas ou três pessoas por dia podem vir a morrer 20? Podem. Mas a alternativa é morrerem 100 mil de fome. Eu acho que isso nós temos que pesar no prato da balança.

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